(per)Seguidores

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Debate quinzenal e uma notícia de leitura muito dúbia

José Sócrates deixou Francisco Louçã sem resposta. Nem sobre o aumento do desemprego em 2011 nem sobre o caso da empresa que mais exporta em Portugal “e não paga um cêntimo” de impostos. Nem sobre o facto de a PT ir pagar “apenas” 0,1% de impostos pela operação da Vivo. O que o líder do Bloco de Esquerda queria provar, no debate quinzenal de hoje, no Parlamento, era simples: os trabalhadores é que pagam a crise e os grandes pouco ou nada pagam.
O deputado e líder bloquista perguntou sobre o impacto no desemprego às medidas extraordinárias que passam por cortes de salários e aumentos de impostos, mas o primeiro-ministro nada disse. No debate quinzenal, Sócrates admitiu algum efeito recessivo das medidas, mas nada disse sobre o desemprego. Louçã tirou a conclusão: “Ao nada dizer sobre o desemprego, está a dizer-nos que vai continuar a aumentar”.
Sobre a PT calculou que, se pagasse o imposto normal, a receita seria equivalente ao previsto do aumento de dois pontos do IVA. E Francisco Louçã deu o exemplo de uma empresa de consultadoria e auditoria sediada no offshore da Madeira, Wainfleet, com apenas três funcionários, com um volume de vendas 2900 milhões de euros. “Não tem pago um cêntimo sobre os seus rendimentos”. Disse o deputado do BE.
Na resposta, o primeiro-ministro apontou um “esquecimento” a Louçã: nada ter dito sobre a criação de um imposto sobre a banca nas medidas extraordinárias anunciadas na quarta-feira.
E fez uma promessa sobre os fundos de pensão da PT e é que nada custará aos contribuintes portugueses.
1 - Quando lemos o Título, não temos dúvidas de que houve um diálogo entre Sócrates e Louçã e que ambos falaram sobre quem paga a crise, mas fica a dúvida.
2 - Passando ao Lead (em que se tenta responder a 6 perguntas: quem, o quê, onde, quando, porque e como), que podemos considerar o resumo do corpo da notícia (e pode conter um Sub-lead), lemos de imediato que, “José Sócrates deixou Francisco Louçã sem resposta” e pensamos “das duas, uma”, ou Sócrates deixou o Louçã embasbacado, ou Louçã não respondeu às questões que Sócrates lhe colocou, por não ter resposta, ou por não ter tempo.
2.1 - O resto do Lead, ou Sub-lead, a confusão é idêntica porque seguimos com a mesma dubiedade, sem podermos tirar conclusões, sobre as questões discutidas, mas sobretudo, quem “ganhou” a quem.
2.2 - Na última frase do Lead, quando se diz que, ”O que o líder do Bloco de Esquerda queria provar…”, presume-se que queria, mas não provou (eventualmente porque não teve argumentos).
3 -Passando ao corpo da notícia, em que se deve desenvolver gradualmente a informação, cada vez mais elaborada e detalhada em cada parágrafo, apesar de cada parágrafo ser mais sucinto do que os parágrafos do Lead, no primeiro e segundo parágrafo está claríssimo que foi Sócrates que nada disse, sobre as questões e os argumentos de Louçã.
No terceiro e quarto parágrafo, percebe-se que a resposta de Sócrates a Louçã, foi “chutar para canto”, respondendo genericamente e sem qualquer quantitativo.
O último parágrafo termina com uma promessa de Sócrates, o que nos deixa também uma dúvida sobre a validade da mesma, já que o incumprimento de promessas tem sido o âmago dos mandatos do PM.
Resumindo, ou estamos atentos e lemos o artigo todo e mesmo assim não chega, ou corremos o risco de estarmos a ler o jornal de pernas para o ar, passando aos olhos do outros por analfabetos, ou por quem fez a notícia, por incautos. Em contrapartida, o jornalista corre o risco de ser classificado profissional ou casuisticamente.
E no final, quem ganhou? Sócrates ou Louçã? Sabemos lá…
Quem perdeu fomos todos nós!
Há muitas notícias muito mais claras do que esta, que sobre estas questões dão razão ao que Louçã disse.
Nota - Não tenho formação jornalística, mas sempre é bom estudar umas coisinhas, durante toda a vida...

Sem comentários:

Enviar um comentário