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sábado, 25 de agosto de 2012

Devagar e mal e coisa e tal… É só rir! “One year silly”…

A "Silly season" já não é o que era. Estamos a uma semana do fim de Agosto e a temporada pateta foi das mais sérias de sempre. Não fosse a Manta Rota, o Aquashow e as declarações de Marcelo na TVI, e quase não se dava por ela. Longe vão os tempos em que Cavaco interrompia as férias por causa do estatuto dos Açores. Façamos um pequeno resumo do que se passou, começando pelo fim.
João Quadros
No habitual comentário semanal na TVI, perante uma jovial Judite Sousa, Marcelo atribuiu a José Sócrates a autoria do imposto sobre o subsídio de Natal de 2011… Não há muito a dizer. Penso que o Alzheimer de Judite de Sousa - ao contrário do de Marcelo - é benigno. A idade não perdoa e Marcelo, que em tempos se limitava a confundir a sopa, agora também já confunde o nome do cozinheiro. Marcelo é um velho sabido. No fundo, o que ele quer é convencer-nos que já está suficientemente caquético para poder ser presidente vitalício da Fundação da Casa de Bragança, sem que sejam feitas comparações com Dom Duarte.
O resto da "Silly season" fica por conta de Passos Coelho.
Na Manta Rota, foi triste constatar que os calções dos seguranças do primeiro-ministro tinham um padrão mais moderno que os do próprio. Os calções de banho do PM são do tempo em que o país tinha uma Balança Comercial de Bens e Serviços positiva. O Renault Clio francês, a toalha Benetton laranja de 1982 e as havaianas, com a bandeira do Brasil entre os dedos do pé, usados por Passos, demonstram que o pin de Portugal também foi de férias. O primeiro-ministro quis convencer os portugueses que é um de nós, mas não jogou raquetes, não fez croquetes na areia antes de entrar para a água e não levou um "tupperware" com salgados - não engana ninguém.
Finalmente, temos a pequena cereja no bolo de arroz da patetice: o discurso no Aquashow. Ficámos a saber que faltam pouco mais que 130 dias para a retoma - aproveitem bem os vossos últimos tempos de recessão. Sofram enquanto podem que os maus tempos já pouco duram. É aproveitar que está quase a acabar. Depois, vem a alegria sem regabofe.
Foi a declaração "silly" das férias. Eu ri-me, e alguns deputados do PSD confessaram que, naquele momento, urinaram no Aquashow.
Penso que é mais fácil prever 2031 que 2013. No meu curto entendimento, o estado do país - enquanto espera pela troika e pelo fim das férias de Agosto - faz lembrar a divertida comédia, "Fim-de-Semana com o Morto". Num ambiente de praia, sol e biquínis, o PM e o ministro das Finanças arrastam o cadáver do país (de óculos de sol e bermudas), fazendo-o acenar de vez em quando às pessoas; para que julguem que ele ainda está vivo e de boa saúde. O problema são as moscas que não o largam. 
Pelo sim pelo não - não vá a retoma não retomar em 2013 - eu prefiro ter um plano B. Vou, agora, para o Aquashow preencher o Euromilhões a ver se tenho sorte - não custa nada sonhar.
João Quadros

Ecos da blogosfera - 25 ago.

Uma anedota velha (apátrida) define uma cultura?

O humor na Europa (5/10)
Durante o reinado de Nicolae Ceaucescu, os romenos contavam piadas para exorcizar o rigor da ditadura. Neste 5º episódio da sua série sobre o humor, Le Monde explica que hoje em dia, os habitantes de Bucareste se riem do capitalismo.
O socialismo é um quarto no qual está um gato preto que é preciso procurar e encontrar. O “socialismo multilateralmente desenvolvido”, um conceito prezado pelo antigo ditador romeno Nicolae Ceausescu (1918-1989), é um quarto preto no qual está um gato preto que é preciso procurar e encontrar. Por fim, o comunismo é um quarto preto que não contém nenhum gato preto, mas que é preciso procurar e encontrar. No tempo da ditadura, as piadas serviam de escapatória para o imaginário coletivo romeno.
Nos anos 80, os romenos, que passavam por um dos piores regimes do bloco comunista, exprimiam a sua revolta nas piadas que gozavam com tudo e todos: o Conducator “génio dos Cárpatos”, o partido comunista, as penúrias que abafavam o país e as falhas de um regime isolado do mundo e da realidade. Milhares de piadas circulavam de boca em boca, escapando assim à censura oficial de um país controlado pela Securitate, a terrível polícia política da ditadura.
Em dezembro de 1989, o regime do Conducator caiu como um castelo de cartas sob o peso da História, que soprava um vento de liberdade por detrás da cortina de ferro. O casal Nicolae e Elena Ceausescu é executado, após um processo sumário, e a Roménia começa uma longa transição que termina em 2.000, altura em que o país negocia a adesão à União Europeia.
Acordar violento
Pouco a pouco, os romenos reencontraram a prosperidade num país onde o crescimento económico registava uma média anual de 7%. As piadas e as troças foram esquecidas, era tempo de consumir, de comprar altas cilindradas e de regressar do supermercado com a mala cheia.
Mas os sonhos não duram para sempre e o acordar pode ser violento. Em 2008, os romenos tiveram de regressar à terra e a aterragem foi muito dura. A crise económica e financeira que atingiu a Europa obrigou a Roménia a aceitar a austeridade, o momento propício para o regresso em força das piadas. Desta vez, é o capitalismo selvagem que está na mira, segundo as piadas que circulam atualmente em Bucareste. Por exemplo:
Um romeno senta-se à beira de um lago e contempla-o. Um americano passa e pergunta-lhe:
- O que estás a fazer?
– Nada, estou a olhar para o lago.
– Podias pelo menos pegar numa cana de pesca e pescar.
– Para quê?, responde o romeno.
- Podes comer uma parte do peixe e vender o resto, assim ganhas alguns trocos.
– Mas para quê?, insiste o romeno.
- Com esse dinheiro, compras um barco e apanhas ainda mais peixes.
– Sim, mas para quê?
– És incrível, diz o americano, exasperado. Com esse dinheiro, compras um barco, empregas pessoas que vão pescar por ti. Assim tu ficas sem fazer nada, e podes vir para aqui contemplar o lago.
– Mas é o que já estou a fazer.
Uma piada digna de Tristan Tzara, o escritor que saiu da Roménia no início do século XX para Zurique e Paris e lançou o dadaísmo e o surrealismo.

Disciplina orçamental: trabalhar mais e ganhar menos?

Corolário indispensável da união monetária e fiscal, a união política evocada pelos dirigentes europeus e pela Constituição que os acompanha não será legítima, a menos que seja adotada de forma democrática. Para isso, deve passar por uma consulta pan-europeia, estima um colunista flamengo.
A Europa enfrenta 3 problemas gigantescos que se resumem à liquidez, solvabilidade e legitimidade. O problema de liquidez explica-se pelo facto de a Grécia, a Espanha, a Itália, Portugal e a Irlanda estarem cada vez mais à deriva. Devemos garantir que estes Estados são capazes de cumprir as suas obrigações financeiras.
É esta a mensagem que Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), se esforça para passar durante a sua conferência de imprensa no início de agosto. Deixou claro que o BCE tem, de facto, o poder necessário e que o utilizará. Reunir centenas de milhares de euros adicionais para evitar temporariamente que certos países vão à falência nunca esteve na base do problema.
No entanto, os países problemáticos têm uma dívida de tal forma elevada que ninguém está disposto a emprestar fundos sem impor condições insustentáveis. Esta perda de solvabilidade constitui o segundo problema. O Eurosistema deverá cobrir cerca de 2.500 mil milhões de euros de dívidas adicionais. Enquanto não conseguirmos encontrar uma solução para este problema, o nosso setor financeiro está virtualmente falido. Os bancos alemães têm cerca de 500 mil milhões de euros de dívidas no sul da Europa! Os franceses encontram-se ainda numa pior posição. E as dívidas destes bancos proveem em parte das dívidas dos aforradores destes bancos.
Regresso da confiança
De qualquer forma, a crise da dívida continuará a exercer uma pressão muito forte sobre as populações europeias. Por enquanto, esta pressão visará equilibrar os orçamentos, na medida em que não vale a pena tentar reduzir uma dívida quando tudo o que contribui para a sua acumulação persiste. Para não referir o facto de que é necessário eliminar progressivamente a dívida existente.
O crescimento económico poderia obviamente ajudar a melhorar a situação, e criar uma ligeira inflação, mas exige uma certa confiança. A confiança no futuro, um sentimento que, de forma geral, todos nós tínhamos desde a II Guerra Mundial. Para restabelecer esta confiança e para incentivar as populações a trabalhar mais e ganhar menos, os nossos políticos precisam de agir com legitimidade. Estes devem dispor de um mandato democrático, que possamos renovar a cada 5 anos.
Devem receber este mandato de toda a zona euro. Portanto, a União Europeia, ou pelo menos a zona euro, deve tornar-se uma união política. Esta união teria o poder de decisão no que diz respeito a todos os orçamentos de todas as administrações públicas subjacentes. Neste contexto rigoroso, os países e as regiões continuariam a ter a liberdade de cobrar impostos ou aumentar as prestações sociais. Estaríamos perante uma verdadeira reforma dos poderes políticos!
"Burocracia pós-democrática”
Na Alemanha, a Constituição proíbe expressamente a transferência dessas competências. No entanto, houve recentemente diversas personalidades políticas alemãs que se mostraram a favor de um referendo neste sentido, ainda que sem grande entusiasmo. Seguem desta forma o exemplo do filósofo octogenário Jürgen Habermas, cuja obra La Constituition de l’Europe (Gallimard) está agora disponível nas livrarias francesas.
Segundo a interpretação de Habermas, a constituição simboliza tanto a construção como o texto fundamental, o que abrange ambos os termos Konstituierung e Verfassung. Jürgen Habermas defende que devemos evitar que este projeto europeu repleto de esperança se transforme no oposto, nomeadamente numa “burocracia pós-democrática” vista pelos povos europeus como opressora e hostil.
A Europa deve voltar a ser um projeto positivo. A Europa é, aos olhos de Jürgen Habermas, o elemento indispensável de um mundo que podemos melhorar, enquanto cidadãos regidos pela ética. Se não salvarmos a Europa, o que restará de outros sonhos cosmopolíticos como a universalidade dos direitos humanos?
Na Alemanha, muito provavelmente haverá um referendo. Segundo Der Spiegel, poderá assumir 3 formas: uma votação sobre a modificação da constituição alemã, uma votação sobre as últimas decisões europeias (o pacto orçamental e o Mecanismo Europeu de Estabilidade – MEE) ou um referendo em toda a Europa sobre a possibilidade de se fazerem profundas modificações ao tratado.
Por outras palavras, um referendo sobre uma nova construção democrática do nosso Continente. Quem está disposto a lutar por isto? Comecemos por uma petição.
Alemanha - Manifesto por uma União mais democrática
A um ano das legislativas alemãs, 3 intelectuais pegam na pena para alimentarem o debate entre os sociais-democratas, a pedido do líder, Sigmar Gabriel. Um artigo de opinião publicado no Frankfurter Allgemeine Zeitung, intitulado “Oposição à democracia de fachada”, os filósofos Jürgen Habermas e Julia Nida-Rümelin e o economista Peter Bofinger defendem a convocação de uma Convenção Constituinte na Alemanha e a realização de um referendo sobre a Europa nos países da zona euro. Os autores, cujo texto desencadeou um aceso debate na Alemanha, pedem aos Estados que cedam mais soberania às instituições europeias para que estas tenham, finalmente, a legitimidade necessária para imporem a disciplina orçamental que garantirá um sistema financeiro estável.
Este movimento em direção a uma maior integração não se justifica apenas pela atual crise da zona euro. Justifica-se, igualmente, pela necessidade do político de se permitir a retomar as rédeas do fluxo que constitui o universo paralelo e fantasmagórico que os bancos de investimento e os fundos especulativos criaram ao lado da economia real que, ela sim, produz bens e serviços.
O objetivo é o seguinte: reforçar uma democracia dos cidadãos num Estado Providência e deixar a via de uma “democracia de fachada que se conforma aos mercados”. De facto, afirmam,
O sentimento, largamente difundido, de uma justiça ultrajada deve-se ao facto de, aos olhos dos cidadãos, os mecanismos de marcado anónimos exercerem agora uma influência política direta. A este sentimento junta-se a raiva, contida ou não, nascida da sua própria impotência. A isto se deve opor uma reafirmação do político.
Porque, num mundo globalizado, o regresso aos Estados-Nação não é uma opção, concluem os autores:
Renunciar à união da Europa seria retirarmo-nos da história do mundo.

Contramaré… 25 ago.

Durante 13 semanas, a equipe da Faculty of Medical and Health Sciences monitorou 60 homens obesos - porém saudáveis - que tentavam melhorar a sua condição física.
Em média, os participantes que fizeram 30 minutos de exercícios diários perderam 3,6 quilos em 3 meses e os que fizeram 60 minutos perderam apenas 2,7 quilos. Nos 2 grupos, a perda de massa corporal foi a mesma - 4 quilos.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O “Bobo dos Cortes” faz o papel do “Bobo da Corte”…

Sobre o futuro da RTP, uma fonte do gabinete do ministro Miguel Relvas adiantou que, "no caso do modelo que veio a público, além da redução dos cargos, há ainda um encaixe financeiro para o Estado".
O consultor do Governo, António Borges, considerou que a possibilidade de concessionar a RTP1 a investidores privados é um cenário “muito atraente”, mas assegurou que nada está ainda acordado sobre o futuro da empresa e sublinhou que a proposta é atraente porque levaria a RTP1 a “permanecer na propriedade do Estado”, sendo a licença entregue a um privado que teria de cumprir as “obrigações de serviço público”, recebendo para tal um apoio estatal “bastante inferior” ao actual.
"Qualquer solução para a RTP deve ser discutida de uma forma serena e deve ser naturalmente apresentada por quem tem responsabilidade para apresentar essa solução. Não foi nem um caso nem outro. António Borges não é responsável político por qualquer processo porque não é membro do governo. E portanto não só não devia ter sido António Borges a dizer o que disse, como aquilo que disse António Borges não é a melhor forma de começar um processo de privatização", declarou João Almeida, deputado do CDS-PP, continuando que "não é a primeira vez que António Borges tem uma intervenção destas" e, por isso, "espero que, como nas outras, o Governo ultrapasse aquilo que são as declarações de António Borges e reponha o processo no seu curso normal".
O PS lamentou hoje a falta de "algum formalismo democrático" do Governo, que faz com que "qualquer um possa anunciar o que quiser, quando quiser e substituir quem quiser", referindo-se às declarações de António Borges sobre a RTP.
O PCP mostra-se contra a concessão da RTP a privados, classificando esta hipótese como um “ato de destruição” da empresa de serviço público de rádio e televisão.
O Bloco de Esquerda está contra a possibilidade de a RTP ser concessionada a privados. O partido pede explicações ao primeiro-ministro e vai também chamar o ministro Miguel Relvas ao Parlamento.
António Pedro Vasconcelos, um dos responsáveis pelo manifesto contra a privatização da RTP, pede a intervenção do Presidente da República, Cavaco Silva, para travar o que considera ser “o maior atentado à soberania nacional desde o 25 de abril”.
Como se percebe, o assunto ainda não foi a Conselho de Ministros e todas as bocas brotam do gabinete do DOUTOR Relvas, que impavidamente continua a sua corrida contra a parede, com a mesma desfaçatez com que se certificou academicamente. E o grave é a nossa indiferença pela continuidade deste personagem no governo de um Estado de Direito!
Como se confirma, o mensageiro assegura que nada está acordado (nem nós andamos a dormir) o que significa que realmente o governo nada decidiu, se é que está informado da proposta brilhante destes dois cérebros (Relvas autodidata e Borges despedido do FMI), que vem atirar o barro à parede, a ver se cola.
Sub-repticiamente, Borges, “o despedido”, vem alegar como vantagem a continuidade da propriedade do Estado (o licenciado pagará aluguer?), que o “serviço público” vai ser obrigação do concessionário (o que não acontece atualmente), em troca de uns trocos do Estado, que será, seguramente, a soma das taxas (abusivas) que pagamos (e continuaremos a pagar a um privado?).
E daí, quer “o autodidata”, quer “o despedido”, considerem “atraente” o negócio (e não mentem) mas para os amigos públicos do PRIVADO…
Resumo perfeito da desmontagem da armadilha, recusando-se a morder o “isco”, até porque o CDS se opõe a este disparate e não confia mais no “Bobo da Corte” e muito menos nos “Bobo dos Cortes”… Ainda bem, que o CDS não tem ninguém do partido comprometido com a trapalhada e espera-se que vote contra, consistentemente…
Era bom que o PS ignorasse o mensageiro e contestasse a filosofia que se sabe que está na base da “proposta”, pensasse em lutar e votar contra “isto” e contra tudo o mais que de futuro provenha destes camartelos do Estado e fiéis fanáticos do neoliberalismo e que não conste do memorando da troika. E mesmo que conste, conhecidos os resultados e visíveis as consequências, a postura de Estado do PS deve ser a de rejeitar qualquer orçamento que inclua medidas, que a priori se reconheçam como destrutivas das condições sociais e económicas…
Pois! Não é preciso ser do PCP ou simpatizante para estar contra dar a “tubarões” do privado aquilo que é pertença de todos nós, há mais de 50 anos. Mas podiam falar no desinvestimento na Lusofonia, tão apregoada pelo governo, embora o “Bobo da Corte” possa vir a ser prejudicado nos seus interesses empresariais…
Pois! Não é preciso ser do BE ou simpatizante para estar contra dar a “tubarões” do privado aquilo que é pertença de todos nós, há mais de 50 anos. Mas em vez de chamar o “Bobo da Corte” ao Parlamento, deviam pedir um debate na RTP entre todos os partidos e o especialista “autodidata”, que deve ter feito uma disciplina sobre o assunto…
Ou Pedro Vasconcelos não conhece Cavaco Silva, ou está a dar-lhe a deixa para promulgar o maior atentado à soberania nacional desde o 25 de abril, porque os menores já ele os assinou há muito…
Mas como tudo isto é um fait diver e o mais que o “autodidata” inventará para DESVIAR AS ATENÇÕES dos resultados catastróficos das políticas de austeridade, da incompetência do governo e do aumento da dívida, já gastei paleio demais para ajudar à “missa”…
Borges, põe-te no teu lugar!
Relvas, Vai estudar!
PS – Com as doces condições anunciadas para o concessionário e as ligações (perigosas) do “Bobo dos Cortes” - António Borges acumula Jerónimo Martins e equipa governamental - dá para apostar que vamos ter um merceeiro a desistir da Saúde dos portugueses para lhes oferecer Serviço Público à frente da RTP, podendo poupar um balúrdio, só em publicidade…
Fotos: Relvas, Borges

Ecos da blogosfera - 24 ago.

Espanhóis adoram rir-se de si mesmos. Humor é isso!

O humor na Europa (4/10)
Torrente, o anti-heroi de uma série de televisão, faz as delícias dos espanhóis com o seu humor vulgar e libertador. Neste 4º capítulo sobre o humor na Europa, o jornal Le Monde debruça-se sobre esta caricatura extrema numa sociedade em crise.
Como pôde Torrente criar a saga cómica mais rentável do cinema espanhol? É difícil retratar este anti-herói sem multiplicar os insultos. Segundo o diretor, argumentista e ator principal, Santiago Segura “é um ser desprezível, mesquinho, mau cristão, repugnante, grosseiro”. Sem esquecer, racista, homófobo, misógino, tarado sexual…
Apesar disso, os espanhóis partem-se a rir com as aventuras deste polícia corrupto, capaz de abusar da mulher, bêbado e indolente, do melhor amigo, de tirar um gelado das mãos de uma criança ou de chantagear uma jovem casada por favores sexuais.
Sucesso histórico
No primeiro episódio, que saiu em 1998, os críticos observaram o retrato cínico de uma sociedade deteriorada, oriunda do franquismo, e perdoaram o humor vulgar, definindo-o como sátira social.
Em 2001, o filme "Torrente 2 – Missão em Marbella" tornou-se o maior sucesso da história do cinema espanhol, com mais de 5,3 milhões de espectadores. E, em 2011, no seu último filme, M. Segura pinta um quadro horroroso de uma Espanha em crise. Vemo-lo a meter-se na fila para a sopa dos pobres, a pedir na rua 2 euros para entrar numa cabine de uma sex-shop, a lutar com miúdos da rua para vasculhar no lixo…
O realizador convidou para a ocasião todas as estrelas da televisão e do futebol. “Ele transmite uma visão desesperada de uma Espanha que vive apenas e através do futebol, da televisão e da prostituição. Quase parece cinema político”, observa o crítico Jordi Costa, que realça as qualidades cinematográficas da obra: “Torrente é uma caricatura grotesca muito bem conseguida. Ele é um monstro do subconsciente espanhol, o nosso Mister Hyde coletivo…”
Usar e abusar dos trocadilhos
Os espanhóis adoram rir-se de si mesmos e Torrente, esse compatriota cheio de cultura popular, dá-lhes essa oportunidade. Adepto do Atlético de Madrid, equipa muito apoiada nos bairros operários, venera também El Fary, cantor de copla com muito sucesso nos anos 1970. Este queixa-se de que “está tudo de pernas para o ar”. Prova disso: “Os homossexuais podem casar-se!” Falando de seguida do único fator digno de elogios, o desporto e, mesmo assim… “Ganhámos o Campeonato Mundial de Futebol, mas isso não conta: os jogadores são todos do Barça!”
Além do sentido crítico, há também humor “regional” baseado nos clichés utilizados para criticar os habitantes de Andaluzia (simples), da Catalunha (forretas), etc. Encontramos também a herança do cine del destape (o cinema do despimento), essa série de filmes cómicos produzidos durante a transição democrática (1976-1982) que tirou partido do fim da censura em vigor no regime franquista, para mostrar – finalmente – corpos despidos. E Torrente usa e abusa de trocadilhos, como quando se vangloria de ter uma família de músicos: “A minha irmã toca violino e o meu pai viola…”
Nem todos os espanhóis se identificam com este humor escatológico e vulgar de Torrente e preferem o “post-humour”, um estilo mais refinado que causa perplexidade perante situações surreais, como Muchachada Nui ou Miguel Noguera. Mas Torrente não deixa de ser uma referência…

Ser diferente não faz ninguém ser melhor ou pior! OK?

Mais que as diferenças entre os desempenhos económicos dos países da UE, são os fossos culturais entre europeus que representam o principal obstáculo à criação de uma comunidade verdadeiramente homogénea. Não espanta, pois, que seja tão difícil construí-la.
Muitos tentaram unificar a Europa. Todos deram com a cabeça na parede: Átila, Carlos Magno, Napoleão, Hitler. A mais recente tentativa é a da União Europeia. Que não avança a golpes de espada, já que a Europa, depois de Hitler, se tornou um continente pacifista, adotando antes meios inofensivos, como a boa vontade, instituições comuns, leis e regulamentos. O euro foi a mais recente – e provavelmente a mais ousada – das iniciativas em prol de uma Europa unificada.
A origem do moderno projeto europeu é política, ainda que o foco tenha sido colocado, desde o início, sobre a economia. A comunidade do carvão e do aço visava retirar as indústrias necessárias à guerra do quadro dos Estados-nação, para evitar novos conflitos. As economias nacionais deviam reunir-se num mercado único sem fronteiras e convergir gradualmente umas para as outras.
O projeto não se baseava simplesmente no primado da economia, mas também na ideia de que a racionalidade económica deveria permitir a criação de um entendimento comum noutras áreas, a fim de criar um conjunto aparentado com os Estados Unidos da Europa.
A região mais complexa do mundo
A economia desempenhou, indubitavelmente, um papel decisivo para afastar a guerra da Europa e, nesse sentido, a cooperação europeia tem sido um enorme êxito, desde 1945. Mas a cooperação económica não basta para o que precisamos de construir hoje. A crise do euro veio ensinar-nos que essa cooperação tem algumas limitações, que são sobretudo históricas e culturais. Porque a Europa é, sem dúvida, a região mais complexa do mundo.
Num espaço relativamente pequeno, mais de 300 milhões de pessoas tentam formar uma união, quando não é necessário afastar-se muito para deixar de entender o que diz o vizinho, para encontrar pessoas que comem e bebem coisas desconhecidas, que cantam outras canções, que celebram outros heróis, que têm outra relação com o tempo, outros sonhos e outros fantasmas.
Ora, estas diferenças subjacentes raramente são invocadas. São mascaradas por um discurso em que todos os europeus aparecem naturalmente unidos perante o resto do mundo, quando um sueco terá provavelmente mais em comum com um canadiano ou um neozelandês do que com um ucraniano ou um grego. É provável que sejam principalmente as nossas diferenças culturais – e não políticas ou económicas – a fazer com que a história europeia esteja repleta de hostilidade e de violência, a começar pelas duas mais terríveis guerras que a humanidade já conheceu, as quais não foram, afinal, mais do que guerras civis europeias.
No entanto, tudo isso parece ter sido esquecido ou ignorado. Para não dizer desconhecido. De tal modo que o discurso europeu que nos impingem quotidianamente – a bandeira, Beethoven, a Eurovisão, etc. – pouco tem a ver com a realidade europeia. É um mero produto de propaganda, de um projeto que não quer ouvir falar de diferenças culturais ou mentais, que são, contudo, nitidamente mais profundas do que as diferenças materiais ou financeiras.
A Europa em que não queremos acreditar
Na realidade, foi preciso esperar pela crise europeia para abrirmos os olhos para o fosso que separa a retórica da realidade. Para nosso espanto, a crise revelou-nos pessoas que nunca pagaram impostos, que consideravam que os outros tinham obrigação de pagar as dívidas por elas e que acusavam de despotismo os que lhe estendiam a mão. Não sabíamos da existência de tais europeus e ficamos incrédulos. No entanto, essa é a realidade e vem de há muito.
Quem, para além dos especialistas, sabia há um ano o que é o clientelismo? Uma amiga minha é ministra desde o início do ano. Não é um Ministério de primeiro plano, mas quando lhe perguntei quantos funcionários permanentes estão na sua folha de pagamentos, respondeu 500.
500? Parece muito para um país como a Croácia. De quantos colaboradores precisaria para desenvolver a política que pretende levar a cabo?
A resposta cai como um raio: de 30. "E estás a pensar demitir os restantes 470?".
A ministra lança um olhar simultaneamente compreensivo e corrosivo ao simplório de a Norte dos Alpes, que sou eu (apesar de não ser loiro, sequer). Não. Porque não tenciona pôr a sua vida em risco. Especialmente porque tem um filho que vai para a escola a pé todos os dias. E um acidente pode acontecer a qualquer momento. Mesmo depois de a minha amiga deixar funções, cerca de 500 funcionários vão continuar todos os dias a ir para escritórios onde não os espera trabalho nenhum. Só os salários que recebem existem no mundo real.
É assim a nossa Europa. E repare-se que o Norte não é menos estranho que o Sul, e o Leste não o é menos que o Ocidente, e vice-versa. É tudo uma questão de ponto de vista. A Europa não é nem mais nem menos do que uma colmeia extremamente frágil, composta por especificidades culturais, históricas e mentais. Nenhum europeu se parece verdadeiramente com os outros. E, no entanto, preferimos encarar essa Europa não como uma colmeia, mas como um frasco de mel, pronto a consumir.

Contramaré… 24 ago.

Um sem-abrigo norte-americano foi morto a tiro por um grupo de 6 polícias, no Michigan. O episódio foi descrito como um “fuzilamento fardado”: foram disparados 46 tiros. Na origem estava uma pequena discussão entre as autoridades e Milton Hall, um já seu conhecido sem-abrigo que sofria de distúrbios mentais. O episódio ocorreu no dia 1 de Julho.
Os Estados Unidos manifestaram a sua tristeza pela morte de 34 mineiros em greve durante uma operação policial na África do Sul e expressaram confiança na capacidade do governo de investigar o massacre.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Gaspar, não te preocupes! A troika dar-te-á boa nota…

A Direção-Geral do Orçamento (DGO) publica hoje o boletim de execução orçamental com as receitas e despesas do Estado até julho.
Os números hoje divulgados assumem particular relevância porque o Governo já reconheceu que os resultados da execução orçamental aumentaram os "riscos e incertezas" quanto ao cumprimento do défice.
Os dados do 1º semestre vieram confirmar os receios do Governo uma vez que as receitas fiscais do Estado registaram uma queda de 3,1% face a igual período do ano passado, enquanto o Governo previa um crescimento da receita de 2,9%.
Aumento de gastos com subsídios de desemprego
A pressionar a execução do Orçamento está ainda a subida da despesa com prestações sociais e a quebra das contribuições para a Segurança Social. Ao mesmo tempo que se reduziam as contribuições, aumentavam, por exemplo, os gastos com subsídios de desemprego e de apoio ao emprego. Esta despesa cresceu 22,4% no 1º semestre deste ano.
Receitas a descer 
Num relatório sobre a execução orçamental para o 1º semestre de 2012, a UTAO assinala que "começaram a materializar-se os riscos identificados em documentos anteriores", que Vítor Gaspar já havia reconhecido em maio, admitindo que "a informação disponível sobre o comportamento das receitas" nos 5 primeiros meses do ano "não é positiva".
As contas do boletim da DGO que hoje serão apresentadas são calculadas em contabilidade pública (ótica de caixa). Já os números do défice considerados pela troika são calculados em contabilidade nacional (ótica de compromissos).
Os dados em contabilidade nacional apresentados pelo INE para o 1º trimestre apontavam para um défice de 7,9% do PIB enquanto o Estado português se comprometeu a apresentar este ano um défice inferior a 4,5% do PIB. 
No momento em que comento a notícia, ainda não foi divulgado o relatório, mas já há números, sabe-se lá de onde vieram… Furos no escape?
O que nos preocupa mais não é o Governo já reconhecer (humilde mente) que falhou no cumprimento do défice, mas o descartar de responsabilidade nas previsões (deles e dos troikanos) e avisar (como “amigo”) que os riscos aumentaram (para mais ladroagem) e as incertezas também (não acertam com a solução). Humilde mente!
Mas preocupante mesmo é o “falhanço” das previsões das receitas fiscais, que se traduz em 6%, tendo Gaspar e os troikianos apostado num aumento e tendo-se verificado uma descida, o que vem borrar a escrita e sujar o nome destes cartomantes… Humilde mente!
Qualquer ignorante sabia que a redução do consumo interno traria uma abaixamento de receitas, menos Gaspar e os troikianos… Humilde mente!
Qualquer ignorante sabia que as medidas de austeridade dariam origem à redução do consumo interno, ao encerramento de empresas, ao aumento estúpido do desemprego e à redução de receitas para a Segurança Social, menos Gaspar e os troikianos… Humilde mente!
Qualquer ignorante sabia que o desemprego obrigaria ao aumento de subsídios de subsitência (é chato deixar morrer gente à fome na Europa como na Etióia) menos Gaspar e os troikianos… Humilde mente!
Qualquer ignorante sabia, antes dos 5 primeiros meses, que tudo estava a correr mal, mas Gaspar e os troikianos precisaram desse tempo para concluírem (empiricamente) que a informação disponível não era positiva… Humilde mente!
Do défice nem vale a pena falar… Humilde mente!
Do aumento da dívida, só dizer que vai aumentar… Humilde mente!
O que nos safa é que umas contas são calculadas em contabilidade pública (ótica de caixa) e o défice é calculado em contabilidade nacional (ótica de compromissos)… Perceberam? Se não, digam: HUMILDE MENTE!
E Gaspar pode estar sossegado (e está!) porque já sabe que vai ter boa nota na execução do programa da troika, porque foi a troika que o fez, prevendo as “falhas das previsões” e o que querem é o deles, ou melhor, QUEREM O NOSSO, ou melhor, dos Funcionários Públicos e Aposentados… Humilde mente!

Ecos da blogosfera - 23 ago.

A piada é que ainda tem classe média e alta…

O humor na Europa (3/10)
A série televisiva Solsidan troça dos sonhos dourados da classe média. E o que diverte tanto os suecos é o facto de se identificarem com as personagens da série, escreve Le Monde, no terceiro episódio da sua série sobre o humor.
É óbvio que existem inúmeras piadas sobre os noruegueses ou o álcool, um tema há muito incontornável. O que é normal num país onde as bebidas alcoólicas são vendidas por funcionários em lojas estatais a suecos incapazes de se conterem.
No entanto, o que os suecos adoram ver são paródias inspiradas neles próprios: os sonhos dourados da classe média passaram a ser a nova receita do sucesso cómico. A série “Solsidan” (“Lado ensolarado”, um bairro verdadeiro) seduziu 1 em cada 4 suecos no canal privado TV4 desde 2010 e foi eleita a série cómica sueca mais popular de todos os tempos. Um feito inédito. A 3ª temporada está a ser produzida, a 4ª e 5ª já foram encomendadas.
“É a minha maior realização”, declarou Felix Herngren, autor, ator e realizador da série, no final da 1ª temporada. Uma associação partidária da esquerda chegou a organizar este inverno um safari de autocarro nessas terras da alta burguesia do bairro rico de Estocolmo e foi bombardeada com ovos por jovens burgueses rebeldes. Tem o seu quê de engraçado, não tem?
Geração irónica
Uma das chaves do sucesso, além do orçamento elevado para uma série deste tipo, reside no facto de as pessoas se identificarem com as personagens. A angústia da prestação, a lei de Jante que estipula que nenhum cidadão se deve achar superior, nem deve passar por mais do que aquilo que realmente é (embora na prática seja o contrário), as réplicas rápidas, o sentido crítico, “Solsidan” descreve o dia-a-dia de algumas famílias. Alex (interpretado por Felix Herngren) é um dentista aterrorizado pelos conflitos que voltam a assombrar a sua cidade natal, onde reencontra o seu amigo de infância, um empresário de sucesso. A paródia é ousada e faz jus à realidade.
Porém, não há referências políticas na série de Felix Herngren. Este assume, confessando ao Le Monde: “Pertenço à geração irónica. Os cómicos da velha geração criticaram imenso a minha – tem 45 anos – por não passar nenhuma mensagem política". Mas o público responde de forma positiva. "“Solsidan” fala das pessoas, dos nossos pequenos defeitos, da nossa geração, dos nossos problemas, da nossa relação com o consumismo, das normas da sociedade, dos vizinhos."
Temas sensíveis
O cómico, também realizador de anúncios publicitários, admite que continuam a existir tabus, mesmo num país tão pouco conservador. “As piadas sobre sexo não levantam qualquer problema num quadro íntimo, mas, enquanto cómico, seria acusado de optar pela facilidade e de não fazer o meu trabalho de autor. O feminismo é um assunto ainda mais sensível para se brincar.”
Sem pôr fim à “Solsidan”, Felix Herngren vai lançar-se num novo grande projeto juntamente com a empresa de produção Nice Drama: a adaptação para o cinema do romance de sucesso “O centenário que fugiu pela janela e desapareceu” de Jonas Jonasson. “Um livro hilariante”, diz Felix Herngren, que vê nele uma sátira da nossa época, onde tudo se resume ao estatuto e ao dinheiro, mas onde no entanto acabamos sós num lar de idosos. “E é muito libertador ver este velho a fazer o que lhe apetece.”

Quem é essa Ifigénia? E em que clube joga o Jonas?

Na altura em que o primeiro-ministro, Antonis Samaras, inicia uma ronda europeia, para pedir o abrandamento das condições do resgate da Grécia, o editorialista Nikos Konstandaras recorda os mitos da Antiguidade para explicar que não é atirando Atenas ao mar que se salvará o euro.
Muitos políticos estrangeiros, economistas e outros observadores levantaram a questão da possível saída da Grécia da zona euro (e talvez mesmo da União Europeia) e, por isso, essa questão domina o conjunto das discussões sobre o futuro do nosso país. As conversações que o primeiro-ministro, Antonis Samaras, terá esta semana com Angela Merkel, François Hollande e Jean-Claude Juncker não serão exceção. Se quisermos evitar falar diretamente do "sacrifício" da Grécia, é preciso, ainda assim, ver como cada uma das partes encara a ideia da saída do nosso país da zona euro e as consequências possíveis dessa saída.
Tragédia contra pragmatismo
É evidente que, como muitos outros problemas, os gregos e o núcleo duro das entidades financiadoras, designadamente alguns políticos e economistas alemães, dão mostras de uma diferença cultural neste domínio. Os gregos falam do sacrifício de Ifigénia, um ato que permitirá aos parceiros fazerem-se ao mar a caminho da salvação, construindo no entanto o seu futuro com base numa injustiça. Pelo seu lado, os "estrangeiros" parecem encarar a Grécia do mesmo modo que os membros da tripulação e os passageiros olhavam para Jonas, antes de decidirem deitá-lo borda fora, para se salvarem de uma terrível tempestade. Nós. Gregos, temos tendência a ver a dimensão trágica dos acontecimentos e a adotar um comportamento passivo.
A ideia de sacrifício é identificada com o sacrifício do inocente para benefício de todos: a vítima não tem qualquer envolvimento ou responsabilidade, para além da sua própria existência. No entanto, os nossos parceiros calvinistas entendem o esforço coletivo como a razão para o contributo de cada membro: os papéis não são previamente definidos, como no mundo da tragédia, e sim atribuídos com base em cada esforço individual. No nosso mundo, a vítima é aquele que, por uma razão independente das suas próprias responsabilidades, se destrói para servir os interesses obscuros dos outros; enquanto, para os nossos parceiros "pragmáticos", toda a gente é julgada pelo seu contributo para o conjunto.
Qual será, contudo, o resultado do sacrifício de Ifigénia, de Jonas, e que se passará após a eventual expulsão da Grécia da zona euro ou de outra instituição europeia? O sacrifício de Ifigénia tornou-se um símbolo da injustiça e da crueldade de muitos: manchou de sangue inocente a expedição contra Troia e fez condenar o chefe à morte, depois do regresso. A aventura de Jonas, que foi salvo quando Deus lhe enviou uma baleia para o guardar no seu ventre e o depositar em terra 3 dias mais tarde, é o símbolo do poder infinito de Deus (para os judeus, os cristãos e os muçulmanos) e da incapacidade das pessoas de escaparem à vontade do Todo Poderoso (como tentou Jonas, ao fugir à missão que lhe fora confiada).
Monstros, profeta e tripulação
Há duas versões do fim de Ifigénia. Na primeira, ela morre no altar; na segunda, é transportada, por intervenção divina, para um país estrangeiro, Tabriz, onde viveu entre os bárbaros. É mais ou menos o que nos espera, se sairmos do euro. Infelizmente para nós, a história de Jonas mostra que os passageiros agiram justamente, ao lançá-lo para fora do barco: de repente, o mar acalmou, eles foram socorridos por outros e, por último, Deus salvou a vida do profeta reticente em cumprir as suas ordens. Talvez seja isso que pensam aqueles que dizem que não estão tristes com a saída da Grécia da zona euro, considerando que seria graças à morte no altar, que, de repente, a crise acabaria e tudo correria bem.
Os mitos influenciam o nosso entendimento e, por vezes, a simplificação ajuda a ver com outros olhos problemas complexos e modernos. Basta ver as diferenças em relação à realidade. Hoje, todos nós devemos ter em conta os custos da eventual saída da Grécia da zona euro – para a Grécia, para os nossos parceiros e para as entidades financiadoras. Enquanto nos lamentarmos, dizendo que somos vítimas – uma espécie de nova Ifigénia – não assumimos o peso da responsabilidade de evitar o nosso sacrifício.
Aqueles que sonham que a Grécia seja "lançada ao mar" devem saber que esta não será salva por vontade divina, que a crise não terminará e que o mundo inteiro ficará a saber que, neste barco, se sacrificam pessoas. Vamos recolher muitos monstros, mas não para salvar quem se disser profeta, e sim para devorar os outros membros da tripulação. Até toda a gente desaparecer.
Diplomacia - O caminho do Calvário de Antonis Samaras
A semana de intensa atividade diplomática do primeiro-ministro Antonis Samaras – em 22 de agosto encontra-se, em Atenas, com o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker; no dia 24, estará em Berlim para se reunir com a Chanceler Angela Merkel e, no dia seguinte, reúne-se em Paris com o Presidente François Hollande – para conseguir um abrandamento do plano económico exigido à Grécia, começa sob maus auspícios, salienta o To Vima:
Não se passa um dia sem ouvirmos um responsável alemão dar-nos lições […] advertir-nos mais uma vez de que, enquanto não tivermos cumprido inteiramente as nossas obrigações, o caminho para a saída do euro se mantém aberto. […] Não veem, não compreendem que essa atitude agressiva contínua não ajuda a Grécia e alimenta um clima de tensões sociais e políticas que exacerba os problemas, em vez de os resolver? Os dirigentes europeus – e, em primeiro lugar, os alemães – devem compreender que […] o preço da derrocada do edifício do euro não seria doloroso apenas para os países do Sul da Europa, mas também para os do Norte…

Contramaré… 23 ago.

O arcebispo sul-africano e Prémio Nobel da Paz, Desmond Tutu, condenou o massacre de 34 mineiros em Marikana, criticando igualmente a indiferença dos novos-ricos face à pobreza e desigualdade no seu país. O falhanço de sucessivos governos em reduzir o desemprego e a pobreza, associado à galopante corrupção e à falta de liderança, levam as massas populares a sentirem um crescente sentimento de frustração.  

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A realidade arrasa inevitabilidade! Mas continuemos…

A Moody’s diz que Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha “alcançaram melhorias, mas ainda não resolveram totalmente os desequilíbrios externos desenvolvidos (...) no período anterior à crise”, e considera que “a correcção está no máximo a meio, dependendo do país em questão, e poderá levar vários anos”.
O cenário de mais alguns anos de ajustamentos para corrigir os desequilíbrios externos pode ser particularmente penoso para as populações destes países, que têm sofrido várias vagas de medidas de austeridade.
A agência faz também uma observação que não tem sido comum no discurso em Portugal sobre as origens da actual crise, centrado no endividamento do Estado. A causa dos “desequilíbrios acumulados” destes países é atribuída pela Moody’s ao “comportamento contrário à poupança nos seus respectivos sectores privados nacionais em vez de nos seus governos”.
A Moody's é uma das três grandes agências de notação de risco de crédito dos EUA e do Ocidente (a par da Standard & Poor’s e da Ftich), às quais tem sido atribuída parte da responsabilidade pela crise imobiliária nos EUA que desencadeou a crise financeira no final da década passada, devido a atribuírem notas elevadas – que pressupõem riscos mínimos – a produtos de crédito que depois se revelaram o chamado “lixo tóxico” no sistema financeiro.
Depois de uma morte anunciada em 2008, a Islândia ressuscitou e parece estar bem de saúde. Sem abrir mão dos apoios sociais, a Islândia reduziu a taxa de desemprego para 4,8% (há dois anos era de 9,3%) e, para 2012, está previsto um crescimento económico na ordem dos 2,4%. Um caso único, elogiado pelo FMI.
“O facto de a Islândia ter preservado o sistema social", apesar dos desafios económicos, é apontado por Daria V. Zakharova, chefe da missão do FMI na Islândia como "a maior conquista" do governo do país.
Depois de declarada a bancarrota em 2008, a Islândia recusou proteger os credores dos bancos cujas dívidas eram 10 vezes superiores à economia islandesa. A questão acabou por ir a referendo, em 2010, e mais uma vez a população assumiu um não redondo com mais de 90% dos votos, oque causou o pânico das instituições internacionais que reagiram com ameaças, mas o governo acatou a opinião popular. Entretanto, os responsáveis pelo colapso financeiro dos bancos estão a ser investigados.
Muitos analistas reagem a esta recuperação com pessimismo, defendendo que a surpreendente reviravolta do país não pode ser apontada como exemplo, uma vez que as lições da recuperação islandesa - com menos de 350.000 habitantes - não são aplicáveis a economias mais complexas.
No entanto, o caminho seguido por outros países europeus como Portugal, a Grécia e Espanha, que têm apostado em duras medidas de austeridade - aumento de impostos, cortes nas reformas e nos salários, privatizações em massa - prevalece a escalada do desemprego e a quebra do nível de vida e do bem-estar social e a saída da crise parece ainda longe.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou que não vai acusar o banco Goldman Sachs nem os seus executivos por alegada fraude financeira, depois de concluir uma investigação iniciada depois de ter sido divulgado um relatório pelo Senado norte-americano no ano passado que atribuía à empresa de Wall Street alegadas práticas indevidas levadas a cabo durante a crise financeira de 2008/09.
Em comunicado, o Departamento de Justiça norte-americano salienta "não haver uma base fiável para iniciar um processo penal contra a Goldman Sachs ou os seus funcionários".
Sem querer lavar o comportamento e avaliações das agências de rating e até dando-lhes crédito e competências para esta análise, por terem sido responsáveis pela responsabilidade do setor privado americano na génese desta CRISE, é de salientar o que todos sabemos há muito, mas que tem sido manipulado no discurso em Portugal sobre os responsáveis da atual crise, centrado e repetido na DÍVIDA DO ESTADO, enquanto essa causa ESTÁ MAIS DO LADO DO SETOR PRIVADO nacional e não dos seus governos, o que se repete em todos os países já intervencionados e naturalmente em todos os que estão na bicha.
Curioso(?) é que este PORMENOR não consta da maioria das notícias sobre o Relatório e sabemos nós porquê! Continuem a insistir que vivemos (TODOS) a acima das nossas possibilidades… É inevitável!
Contraditoriamente, inexplicavelmente e imoralmente, todos os poderosos surripiam dos bolsos mais frágeis, cêntimo a cêntimo, os montantes para saldar os rombos que só os privados teriam que pagar, simplesmente porque a dívida é deles…
E contra a inevitabilidade da solução imposta de austeridade (rapinanço), a favor da banca (privada) e dos seus acionistas, surge o exemplo da Islândia que recusou o caminho que o FMI nos impôs, sugerindo-o como exemplo a seguir para o crescimento.
Contraditoriamente, inexplicavelmente e imoralmente, o FMI continua a impor as medidas que sabe que não levam a lado nenhum, com o aumento de impostos, cortes nas reformas e nos salários, privatizações em massa, que pioram a situação dos “irresponsáveis”, prevalecendo a escalada do desemprego, a quebra do nível de vida e do bem-estar social e aumenta o prazo para a saída(?) da crise.
Entretanto e descredibilizando todo o sentido de justiça a nível internacional e perfilhando os autores e os atos desta tragédia multiplicada (pelo setor privado) os EUA anunciaram que não vão acusar o banco Goldman Sachs nem os seus executivos por alegada fraude financeira, por não haver uma base fiável para iniciar um processo penal. Mas na Islândia (por arrasto) houve bases fiáveis e os (ir)responsáveis estão a “dar com os costados na cadeia”…
E é isto! Responsáveis identificados, ilibados uns sem julgamento, condenados outros com julgamento, imposição de os “outros” pagarem os calotes dos responsáveis e aceites pelos lorpas, recusa desses pagamentos por corajosos, soluções que pioram a situação, mas com que insistem e elogios a quem seguiu caminhos opostos e que tiveram sucesso…
Contradições, contra lições…