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sábado, 26 de fevereiro de 2011

O melhor modo de promover a Lusofonia

Há anos que os nossos responsáveis políticos tentam descobrir, sem sucesso assinalável, o melhor modo de promover a lusofonia. A solução, afinal, era fácil: basta ser desarrumado. Espalhar uns discursos numa sala cheia de altos dignitários estrangeiros e esperar que um deles comece a lê-los por engano.
Os leitores que acompanham as reuniões do Conselho de Segurança da ONU (os que não acompanham estão a perder o que a vida tem de melhor, e vão acabar por chorar esse desperdício, no leito de morte) assistiram, esta semana, a um momento de grande prestígio para o nosso país. É certo que só durou três minutos e deveu-se a um engano bastante caricato, mas prestígio é prestígio. O ministro dos Negócios Estrangeiros indiano dirigiu-se à câmara, exprimindo o seu mais profundo regozijo por haver atualmente dois membros da comunidade lusófona naquele órgão. A lusofonia foi celebrada por um dirigente indiano com um entusiasmo que os dirigentes lusófonos não costumam exibir. A sala comoveu-se. Ao menos a parte da sala que não estava a dormir. Aquele apreço pelo português indicava a importância do nosso idioma, indicava a pujança da língua de Camões, e indicava também que tinha ocorrido um lamentável engano: o ministro dos Negócios Estrangeiros português tinha deixado o seu discurso em cima da mesa e o ministro indiano - que, como é evidente, não tinha ouvido o discurso do ministro português nem tinha escrito o seu - começou a lê-lo até que, três minutos depois, um dos seus assessores deu pelo erro e fez com que ele passasse a ler o discurso certo. Que, surpreendentemente, não fazia qualquer referência à comunidade lusófona, antes começando com uma citação de Gandhi. E foi assim que, pela primeira vez na História, alguém, numa intervenção pública, citou primeiro Luís Amado e depois o Mahatma.
O episódio, apesar de burlesco, consegue, ainda assim, ser edificante. Há anos que os nossos responsáveis políticos tentam descobrir, sem sucesso assinalável, o melhor modo de promover a lusofonia. A solução, afinal, era fácil: basta ser desarrumado. Espalhar uns discursos numa sala cheia de altos dignitários estrangeiros e esperar que um deles comece a lê-los por engano.
Por outro lado, trata-se de uma ocorrência que pode explicar alguns aspetos da nossa crise. Se um dirigente indiano pode ler discursos portugueses por engano, é possível que um dirigente português ande a ler discursos indianos sem se aperceber. Certas notícias recentes sugerem que Sócrates pode ter implementado, inadvertidamente, medidas indianas no nosso país. Ainda na semana passada se soube que, em 2010, os bancos tinham pago menos 55% de impostos do que em 2009, ano em que, no primeiro semestre, já tinham pago menos 30% de impostos do que no mesmo período de 2008. Esta situação de privilégio demonstra claramente que alguém introduziu por engano o sistema de castas na política portuguesa. Creio que é urgente acabar com este intercâmbio de discursos entre Portugal e a Índia. Por muito que isso prejudique a lusofonia.
Ricardo Araújo Pereira

Os académicos veem a Lusofonia através dos gabinetes?

A lusofonia é uma ideia de comunidade imaginada pelos portugueses com base numa visão neo-colonial de que o seu único elo de ligação é a língua de Camões, "apagando" as diferenças culturais, consideraram hoje alguns académicos em Macau.
"Considerar a lusofonia como uma mera organização que tem como único elo de ligação a cultura e a língua é uma das estratégias pelas quais considero que a lusofonia ainda não é uma realidade", defendeu Maria Baptista, da Universidade de Aveiro, durante a conferência "A Lusofonia entre Encruzilhadas Culturais" na Universidade de São José, em Macau.
Ao observar que os povos falantes de português "não falam precisamente a mesma língua e são culturalmente muito diferentes, ao contrário do que a maior parte dos portugueses julga", a académica sublinhou que a ideia de se "pertencer à mesma pátria porque se tem a mesma língua é um dos estereótipos mais perigosos e um dos obstáculos à construção da lusofonia".
"Os portugueses imaginam-se no centro de uma comunidade que só existe na sua imaginação" e às quais os restantes membros se sentem pouco vinculados, disse, salientando que a "sensibilidade portuguesa é muito pouco pós-colonial e que este é um caminho que tem de ser percorrido" para se "ir fazendo a lusofonia", designadamente através da via poética e artística, sugeriu.
Para Teresa Cruz e Silva, da Universidade Eduardo Mondlane, de Maputo, o conceito de lusofonia "exclui uma parte dos cidadãos dos países denominados lusófonos", já que em muitos deles, como Moçambique, o português não é falado pela maioria da população, apesar de ser a língua oficial.
Por isso, Pedro Martins, da Universidade de Siena, Itália, defende que a lusofonia "compreende não só os oito países de língua oficial portuguesa, mas todos os que contactam com aquelas culturas e falam português, mesmo que não vivam em países lusófonos".
"Estamos a tentar construir uma comunidade lusófona e não uma identidade, porque este é um conceito em crise que remete para um nacionalismo exacerbado, para uma vontade política imposta aos outros", realçou Maria Baptista, secundada por Teresa Silva, para quem este tema está "envolto num clima de suspeições devido à história das relações políticas entre Portugal e as antigas colónias".
"A lusofonia só pode ser entendida dentro de um contexto plural, de diferentes culturas que se encontram e se entrecruzam", considerou, enquanto Pedro Martins alertou que seria bom "trabalhar-se para um espaço comum com a consciência das diferenças", já que a lusofonia "é uma comunidade que tem de ser trabalhada para que não seja uma utopia".
A lusofonia poderá contribuir para a "promoção de um diálogo entre os países que têm contacto com a língua portuguesa", mas também poderá "apagar as culturas das ex-colónias e relevar a cultura portuguesa enquanto berço linguístico, sociedade dominante, língua única e gramaticalmente correta", acrescentou o académico.
Perante esta encruzilhada cultural, a dificuldade será, para Pedro Martins, "manter a coesão" face ao natural desenvolvimento dos países lusófonos, que fará com que "as diferenças e distâncias entre eles sejam cada vez mais e maiores".
Sendo um defensor não muito militante da Lusofonia, e tendo já publicado aqui todo o tipo de conceitos sobre o tema, fiquei “aterrado” com a visão que nos é dada por estes três académicos, que parecem longe da praxis da lusofonia, hoje, e por ser retratada num território que a China elegeu como plataforma desta identidade, pelas razões exatamente opostas às  defendidas pelos palestrantes.
Eu começaria por dizer que quase todos os pressupostos estão errados e daí a conclusão estar do avesso.
Considerar a lusofonia como uma mera organização que tem como único elo de ligação a cultura e a língua, é exatamente o que ninguém pensa, a não ser quem o diz.
Dizer-se que a maioria dos portugueses julga que todos os países lusófonos falam precisamente a mesma língua e que não são culturalmente diferentes, é quase dizer que a maioria dos portugueses pensa que os nos países lusófonos somos todos caucasianos… A maioria dos portugueses e muitos andaram forçosamente pelo “Império”, sabe, por experiência, que isto é uma falácia.
A Lusofonia exclui uma parte dos cidadãos dos países denominados lusófonos só porque não falam português? Se relacionarmos esta premissa com as ex-colónias, deve-se incluir, pela mesma razão, todos os portugueses que a iliteracia exclui da compreensão da língua portuguesa. E as culturas? E este conceito esboroa-se quando se quer alargá-lo a todos os que contactam com aquelas culturas e falam português, mesmo que não vivam em países lusófonos. Pois claro!
E a identidade lusófona não impede, antes reforça um nacionalismo ímpar e aberto à aculturação, preferencialmente pela comunidade lusófona.
Mas a maior blasfémia que não adjetivo, é dizer-se que a Lusofonia quer, ou pode apagar as culturas das ex-colónias e relevar a cultura portuguesa enquanto berço linguístico, sociedade dominante, língua única e gramaticalmente correta. Se assim fosse, seria o governo e os intelectuais portugueses que estariam à frente dessa “guerra neo-colonial”, o que não acontece (por falta de visão) e que é conduzida pela China, pelo Brasil e até por Angola, que por absurdo nos estariam a colonizar em vários campos, inclusive através da língua. Então a língua portuguesa falada e escrita em Portugal não está enriquecida com tantos vocábulos de quase todas as ex-colónias? Absurdo!
Finalmente, dizer-se que a Lusofonia só pode ser entendida dentro de um contexto plural, de diferentes culturas que se encontram e se entrecruzam, que é preciso ir fazendo, é uma coisa sensata, realista e fiel ao momento, coisa que nunca será conseguida apenas pela via poética e artística, via utópica e meramente académica, que tem sido a “prática”, que não nos levou a lado nenhum, muito menos à Lusofonia.
Amanhã, num discurso de D. Ximenes Belo, que publicaremos, teremos uma visão mais abrangente e mais positiva, que quem foi um ex-colono.
Que me perdoem os académicos, mas fora dos gabinetes vê-se melhor o mundo…
Nota - Talvez esta minha discordância.acalorada tenha a ver com as Correntes d'Escritas, que decorrem há 4 dias e a que tenho assistido religiosamente e em que se vê, na prática, que a diversidade e a autonomia cultural entre escritores dos países lusófonos (e hispânicos) é respeitada, aplaudida e aculturada.

Álvaro Santos Pereira vs João Rodrigues ou DESMITOS vs Ladrões de Bicicletas

Álvaro Santos Pereira do DESMITOS e Ladrões de Bicicletas de João Rodrigues são dois dos blogues da minha lista, que consulto diariamente e a que dou bastante destaque nos “Ecos da blogosfera”, sobretudo por me parecer que não são facciosos (ou se o são, são qb) embora ambos sejam do contra e por isso, …
Com ou sem intervenção internacional, mas provavelmente de forma mais musculada se a UE e o FMI vierem mesmo a emprestar dinheiro ao País, a austeridade parece estar para ficar. Portugal não está só e as virtudes e defeitos desta estratégia estão a ser debatidas um pouco por todo o mundo.
Será que esta austeridade é mesmo necessária para sair da crise? Este é debate que o massa monetária propõe durante a próxima semana. O Frente-a-Frente é um novo modelo de debate dinâmico online que convoca a participação dos leitores a partir de duas posições: o "Sim" de Álvaro Santos Pereira e o "Não" de João Rodrigues.
Álvaro Santos Pereira é professor na Universidade Simon Fraser no Canadá, e João Rodrigues, é investigador da Universidade de Coimbra (CES). Ambos são bloguers prolíferos: Santos Pereira no DESMITOS e João Rodrigues no Ladrões de Bicicletas.
Hoje chegam os argumentos iniciais e com eles fica aberto o espaço de comentários e de votação. Na quarta-feira, os convidados apresentarão os contra-argumentos. O debate continua até quinta-feira, dia 3 de Março, às 17 horas. Sexta-feira faremos as contas e a análise da semana. Bem vindos.
Álvaro Santos Pereira: "A austeridade é necessária, mas não é suficiente"
1. Portugal enfrenta três grandes e difíceis crises: uma crise das finanças públicas, uma crise de competitividade, e uma gravíssima crise de endividamento externo. Todas estas crises estão relacionadas, mas são de tal modo profundas que os nossos parceiros europeus e os mercados internacionais pensam que não conseguiremos melhorar as nossas finanças públicas sem uma continuação da política de austeridade.
2. Ainda assim, será a austeridade mesmo necessária para Portugal sair da crise? Sim e não. Ou seja, a austeridade é necessária, mas não é suficiente. A austeridade é necessária para combater os desequilíbrios das contas públicas e o endividamento ao exterior. Sem um combate sem tréguas ao nosso elevado défice orçamental e à nossa dívida pública explosiva, não é difícil imaginar um cenário em que o financiamento da economia nacional poderia ser posto em causa, o que, por sua vez, daria azo a uma crise económica e financeira bem maior do que a actual. Por isso, a austeridade é, de facto, necessária para evitar que tal aconteça.
3. O problema não é a austeridade, mas a maneira como nós a temos implementado. Primeiro, andamos a promover uma austeridade a conta gotas, que só tem prejudicado a economia nacional. Segundo, a austeridade devia ser feita do lado das despesas e não através do aumento de impostos. Ou seja, a austeridade devia ser feita cortando na gordura do Estado, nos consumos intermédios, nas despesas dos milhares de entidades e organismos públicos que constituem a nossa Administração Pública, e nos apoios que o Estado concede a determinados grupos económicos e a toda a espécie de grupos de interesse. Isto é, a austeridade devia ser feita contra o despesismo do Estado e não contra os funcionários públicos ou contra os contribuintes portugueses.
4. Um problema adicional é que, apesar da austeridade, continua a não haver consolidação orçamental e as despesas públicas continuam a crescer com pouco controlo. Não há igualmente uma estratégia definida para o combate da nossa dívida pública crescentemente explosiva. Não há um real plano de contenção da dívida das  empresas públicas (que já totaliza mais de 24% do PIB). Não há uma estratégia plurianual abrangente para o desastre financeiro anunciado que são as parcerias público-privadas (que nos irão custar mais de 2,5 mil milhões de euros por ano a partir de 2013). E não há qualquer tentativa de evitar o recurso a desorçamentações descaradas e à contabilidade criativa. Em suma, a nossa política de finanças públicas está num desnorte total. Com um governo assim, quem é que precisa de especuladores para nos atirar para os braços do FMI? E é por isso que é absolutamente vital mudarmos de rumo o quanto antes.
5. Todavia, e como já disse, a austeridade não chega. Uma política de austeridade que não leve em consideração os nossos problemas de competitividade está condenada ao fracasso. Porquê? Porque não é difícil imaginar um cenário em que a recessão criada pela nossa austeridade a conta-gotas provoque uma diminuição drástica das receitas fiscais, o que só agravará ainda mais os desequilíbrios das contas públicas, aumentando, mais uma vez, a tentação de introduzirmos ainda mais austeridade. Por outras palavras, para que a austeridade seja bem sucedida, é fundamental que um combate implacável ao despesismo do Estado seja contrabalançado por políticas que ajudem a economia a recuperar da crise e da estagnação. Sem isso, e sem retoma económica não há austeridade que nos valha.
João Rodrigues: "Austeridade permanente? Não, obrigado "
1. Depois de uma quebra de 2,7%, em 2009, o PIB português registou uma recuperação, em 2010, de 1,4%, apenas possível porque Portugal só se juntou tardiamente ao clube da austeridade liderado pela Grécia e pela Irlanda.
2. A Grande Recessão, iniciada num sistema financeiro liberalizado e disfuncional, não se transformou na Grande Depressão devido ao peso do Estado e dos seus estabilizadores automáticos (sobretudo a quebra das receitas), mas o seu lastro é visível no desperdício de uma taxa de desemprego que atinge os dois dígitos.
3. Não satisfeitos pela factura apresentada aos contribuintes pelos efeitos dos desvarios do sistema financeiro, os mesmos mercados pediram, em 2010, um segundo pagamento através do aumento das taxas de juro da dívida pública, em especial nos países periféricos. A política económica de austeridade, desenhada para aplacar a pressão dos mercados, já fracassou neste intento.
4. Tirando a predação realizada por interesses privados, visível por exemplo nas ruinosas parcerias público-privadas, a situação das finanças públicas depende fundamentalmente do andamento da economia e por isso a sua situação continuará a prazo periclitante, apesar do esforço para aumentar impostos indirectos regressivos e para cortar nos salários e nas despesas sociais.
5. Qualquer que seja o modelo de aplicação e a distribuição do seu fardo, o resultado da austeridade é a recessão e a continuação do aumento do desemprego, sem perspectiva de crescimento futuro. As políticas de austeridade fazem do trabalho, dos salários directos e indirectos, a principal variável de ajustamento à crise. Assim não se criam os empregos de que necessitamos porque não se resolvem os dois problemas que travam o investimento: o acesso ao crédito e as expectativas de evolução da procura.
6. As políticas de austeridade esquecem adicionalmente que é impossível um esforço simultâneo de poupança pública e privada sem uma contracção da economia, particularmente num contexto de défice externo estrutural, reflexo de uma integração económica dependente do país e que se traduziu na perda de instrumentos de política, sem que instrumentos de compensação robustos tivessem sido criados à escala europeia.
7. Neste contexto, as políticas de austeridade, que também são uma imposição de um centro europeu apostado em defender os seus bancos, só podem ser contrariadas por uma aliança dos PIGS. Estes devem usar a ameaça de uma reestruturação da dívida por si organizada como instrumento de pressão para que se gere uma solução europeia para um problema que é europeu porque partilhamos moeda e mercado.
8. Assim, a transformação do fundo europeu, criado em Maio, num pacote de estímulo económico, o que pressuporia baixar as taxas de juro e acabar com condicionalismos que destroem as economias, seria um primeiro passo. A consolidação orçamental só se pode realizar num contexto de crescimento e isso pressupõe proteger os países de mercados financeiros por reformar. Isto também implicaria a prazo criar dívida pública europeia e aumentar o orçamento europeu, o que corrigiria o estrutural desequilíbrio no governo económico do euro.
9. Adicionalmente, as periferias devem reconquistar instrumentos de política industrial e comercial para debelarem os défices permanentes nas suas relações com o exterior. Isto poderia passar por permitir a suspensão temporária das exigentes regras do mercado interno europeu de forma a possibilitar uma politica de crédito e outros apoios direccionados aos sectores inovadores nacionais e alguma protecção face às importações. Sem uma alternativa à austeridade, o destino do país é claro: um empobrecimento desigual.

Ecos da blogosfera – 26 Fev.


Jairo de Brito (poeta brasileiro)


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Não há bem que sempre dure… para os mesmos!

O Governo indiano tem sido incapaz de controlar a inflação. Os sindicatos do país estão a aproveitar o vazio dos partidos políticos para se fortalecerem novamente.
Há anos que não se via uma manifestação assim. Cerca de 100.000 pessoas encheram as ruas de Nova Deli para protestar contra o aumento dos preços dos alimentos e o desemprego. O Governo indiano tem mais um gigantesco problema a juntar aos escândalos de corrupção que vão estalando no país.
A razão pela qual o agricultor Rishi Pal veio do Punjab para denunciar o executivo resume-se a isto: "Os pobres não estão a conseguir alimentar as suas famílias", disse.
A inflação de dois dígitos no preço dos produtos alimentares – 18% em Dezembro passado, mas, apesar de tudo, a descer desde então - está a atingir muitos, e sobretudo os que menos têm. Isto num país onde, segundo o Banco Mundial, 41% dos mais de 1.000.000.000 de habitantes vivem abaixo do nível de pobreza.
"Recebemos 100-125 rupias (1,6 a 2 €) por dia. Como vamos sobreviver com isto se os preços estão tão altos?", lamenta-se Kailash Sain.
O descontentamento com o executivo é tal que a manifestação incluiu membros da ala mais à esquerda do próprio Congresso, no poder, reflectindo o mal-estar criado com o aumento dos preços.
Os sindicatos estão a preencher o vazio que não foi tomado por nenhum partido político neste momento.
O aumento dos preços foi o rastilho para as revoltas no Médio Oriente e Norte de África. Na Índia, não se trata de derrubar um regime autocrático. Mas isto também não significa que a democracia indiana esteja livre de dificuldades. A corrupção também esteve ontem na boca dos manifestantes.
Na Índia, os trabalhadores recebem 1,6 a 2 € por dia. Na maioria dos países emergenetes, sobretudo no Oriente, os salários não diferem muito.
Esta é a explicação única e evidente para a origem do MILAGRE ECONÓMICO, que passa por cima de todos os Direitos Humanos e outro tipo de escravidão, de que as GRANDES EMPRESAS OCIDENTES tiram partido, sem qualquer moral que os impeça desta exploração de outros povos, empobrecendo, com conhecimento prévio, que estão a empobrecer os seus próprios cidadãos.
Há umas empresas que se recusam a esta exploração do homem, que se classificam como socialmente conscientes, mas…
Afinal, é a pobreza que sofre DESLOCALIZAÇÃO.E sabe-se que nos países do Médio Oriente e Norte de África, cujas “revoluções” são aplaudidas pelo Ocidente, ninguém olha para o espelho.
Mas, na Grécia, a contestação continua:
Os trabalhadores do setor público na Grécia iniciaram no passado dia 23 uma greve geral de 24 horas em rejeição às medidas de austeridade implementadas pelo Governo frente à crise financeira.
O desemprego foi convocado pela Confederação dos Sindicatos de Servidores públicos Públicos (Adedy) e a União de Servidores públicos Civis, os maiores sindicatos do país, que agrupam uns 2.500.000 filiados.
Os inconformados manifestam o seu descontentamento com a política de poupança e os cortes sociais impostos pelo Executivo grego em meados de 2010 para reduzir o défice público e esperam que o Governo reconsidere o plano anticrise concebido como moeda de mudança para ter acesso ao resgate da União Europeia e do FMI, avaliado em 110 mil milhões de euros.
A rejeição ao severo plano de cortes motiva protestos quase diários, entre outros, à alta de impostos, a fusão de empresas, o incremento da idade de aposentação e o congelamento de salários.
Esta greve geral é a primeira em 2011, depois das 6 organizadas pelos sindicatos do setor público em 2010.
Confrontos entre e policias antidistúrbios explodiram em Atenas, durante a manifestação. Os policias posicionados diante o ministério das Finanças, lançaram gases lacrimogéneos para fazer os manifestantes retrocederem, que por sua vez jogaram todo o tipo de objetos, principalmente coquetéis molotov.
Já não se sabe se são os países árabes que se inspiraram na Grécia, ou é a Grécia que insiste com os olhos nos países árabes…
As causas, embora não pareça, são as mesmas (salários insuficientes para sobreviver) embora os números não sejam iguais, mas os efeitos deverão ser os mesmos, se a Ciência (também a Social) não for um embuste.
Austeridade, para que te quero! E afinal para que serve?

Preços dos combustíveis: entender o inacreditável?

O preço médio da gasolina 95 nas bombas está quase igual ao que estava há dois anos, apesar do petróleo estar mais barato.
Ver o vídeo abaixo (surrealismo puro).
O pedido de investigação ao mercado dos combustíveis, por parte da ACP, foi negado pela Autoridade da Concorrência. A AdC confirmou, em comunicado, que não vai proceder a nenhuma investigação, considerando não haver "indícios de violação de regras de concorrência", em relação ao lançamento do posto da Galp em Setúbal.
Aqui até parece que é a AdC que está a falar…

Comissão Europeia diz que ACP não apresentou queixa em Bruxelas.
A Comissão Europeia, citada pela AdC, considera "não existirem razões para desenvolver quaisquer diligências ou desencadear uma investigação relacionada com o mercado dos combustíveis líquidos em Portugal". A posição de Bruxelas consta de um comunicado emitido hoje pela AdC, cujo presidente é Manuel Sebastião, em que o regulador reage à acção interposta pelo Automóvel Clube de Portugal no Tribunal Administrativo de Lisboa, na qual o ACP exige que o regulador investigue a abertura do posto Galp Base, um posto de abastecimento ‘low cost' em que o preço dos combustíveis está próximo do preço praticado nas bombas de gasolina dos hipermercados.
Aqui já se entende quem falou, mas é inacreditável a sobserviência.
O líder do BE, Francisco Louçã, acusou hoje a AdC de constituir "um bloqueio para impedir qualquer investigação sobre a subida sistemática dos preços dos combustíveis".
Questionado sobre a decisão da AdC de que não vai abrir uma investigação ao mercado dos combustíveis em Portugal, Francisco Louçã afirmou: "Ela não existe, é um bloqueio para impedir qualquer investigação sobre a subida sistemática dos preços dos combustíveis em resposta a processos de concentração oligopolítica, de manipulação dos preços do mercado", disse.
Aqui é Francisco Louçã a falar…
O líder do CDS-PP, Paulo Portas, defendeu hoje a realização de um estudo independente que «ponha a nu o fracasso» da AdC, acusando o regulador de “subserviência” relativamente aos interesses instalados.
“Só há uma coisa a fazer: um estudo independente que talvez ponha a nu não apenas as más práticas que protegem os interesses dominantes no setor dos combustíveis e ponha a nu também o fracasso da Autoridade da Concorrência, porque precisamos de uma boa AdC e de um regulador forte, corajoso, incómodo se necessário e não o que temos”, afirmou Paulo Portas.
Aqui é Paulo Portas a falar…
Se tiver paciência e quiser testemunhar a entrevista mais surrealista que já se viu e os argumentos menos convincentes para justificar os preços e sucessivos aumentos dos combustíveis, veja o vídeo, mas tem que ter fé. É a isto que se chama DOGMA.

Outro contraditório com os dedos nas feridas...

É, por estes dias, incontornável ouvir falar (ou até escarnecer) da “geração parva”, da “geração à rasca” ou de outras etiquetas geracionais que, periodicamente, enxameiam a comunicação social e o espaço virtual.
Na base do debate, está sobretudo a letra da canção “Parva que Sou”, do grupo Deolinda, que já detinha músicas interessantes e que andam de boca em boca, como Movimento Perpétuo Associativo, a qual reza coisas interessantes como
“Agora sim, damos a volta a isto!
Agora sim, há pernas para andar!
Agora sim, eu sinto o optimismo!
Vamos em frente, ninguém nos vai parar!
Agora não, que é hora do almoço...
Agora não, que é hora do jantar
(…) Agora não, que me dói a barriga...
Agora não, dizem que vai chover...
Agora não, que joga o Benfica...
e eu tenho mais que fazer... “, 
concluindo, magestaticamente com um “Vão sem mim, que eu vou lá ter...”.
Pois, o grupo da vocalista Ana Bacalhau acaba de inventar o hino de toda uma geração, que rapidamente se identificou com a letra da mais recente criação do grupo, de titulo “Parva que sou”. Não é a geração rasca, embora esteja à rasca; é a já apelidada “geração parva”. O mais curioso e paradoxal é que se trata de uma música que nem sequer está editada e que foi interpretada apenas nos espectáculos dos Coliseus de Lisboa e do Porto.
Mas a letra caiu absolutamente no goto da maioria dos presentes, saltou para os telemóveis, os blogues, o facebook, o youtube. Não há hoje quem não ouça falar da canção escrita pelo músico Pedro da Silva Martins: citada, recitada, parafraseada, a propósito de tudo e de nada, até caricaturada (os castiços Homens da Luta contrapõem “Esperto que eu sou”).
Porque é que tantos jovens se identificam com o teor de uma canção apenas e a transformam no seu hino geracional?
Pura e simplesmente porque retrata, de um modo cruel e realista, a vida e a desesperança de milhares de jovens portugueses, nos dias de hoje. Jovens, até à casa dos 30 anos, na sua maioria licenciados, muitos com mais altas qualificações, mas reduzidos à precariedade, com remuneração escassa ou apenas prolongando estudos e estágios para enganar o desemprego.
Como referia o Público de 13 de Fevereiro, os diplomados precários mais do que duplicaram nos últimos 10 anos. Se em 2000, eram 83.000, hoje já ultrapassam os 190.000, o que é arrepiante. E com tendência a crescer para números impensáveis: basta esperar pelo próximo ano lectivo, que vai desaguar em dispensas de professores e na impossibilidade de acesso aos contratados…
São jovens sem presente, mestres em tecnologia alimentar a vender pipocas no cinema, agrónomos a vender electrodomésticos, licenciados em letras a trabalhar nas caixas dos supermercados.
Jovens qualificados sem férias, sem sistemas de saúde, sem direitos sociais, sem horas extras pagas. Jovens sem perspectivas, que não abandonam a “casinha dos pais”, obviamente, por falta de condições financeiras, que não de vontade, que adiam os projetos de vida, o casamento, os filhos, para as calendas. Jovens cujo diploma académico apenas dá acesso à vida de escravo, como bem expressam os Deolinda.
De quem a culpa? De ninguém, à partida, porque em Portugal ninguém é responsabilizado por coisa nenhuma. A culpa é dessa coisa informe, sem começo nem fim, sem rosto nem cartão de cidadão, que é o que se chama habitualmente sistema político e económico. De um sistema de ensino que qualifica as pessoas, mas não garante saídas profissionais, abandonando-as num patamar do género “cada um que se desenrasque, o mercado é que deve funcionar”, como manda a selvática cartilha liberal que os nossos governantes (estes e os outros) sabem recitar na perfeição, quando não os afeta a eles e aos seus séquitos.
Quando tal acontece, fazem leis especiais que cubram a situação específica do filho do secretário de Estado, da neta da porteira ou do genro do motorista. Sistema de ensino, enfim, que concede “canudos” que não servem para nada, não tendo aplicabilidade alguma. Uma vez mais, ninguém é responsável por enganar e ludibriar centenas de alunos universitários que investem em cursos, no ensino público ou no particular, que não vão dar a lado nenhum.
A culpa é também da economia que não responde nem tem capacidade de absorver os mais habilitados, preferindo pagar salários de escravos para baixas qualificações. Finalmente, da famigerada crise de que se não lobriga o fim. Todavia, economia e crise são bodes expiatórios de costas largas a que todos recorrem quando convém, mas que não explicam nem de perto nem de longe muitas das entorses de que sofre o presente deste país, em particular.
Esta é, então, a geração sacrificada pelos excessos cometidos pelas anteriores, o mor das vezes sem a mínima consciência de que estavam a hipotecar o futuro. E ninguém sai imune dessa culpa colectiva de termos transformado o futuro dos nossos filhos numa selva sem leis, sem regras e sem uma luz ao fundo do túnel. Mas haverá sempre alguém mais responsável que outros, embora, como é da praxe, os decisores sejam os primeiros a lavar as su(j)as mãos de Pilatos…
Esta geração dos “quinhentos euros” parece que tarda em vingar-se do mal que estão a fazer-lhe. Aliás, só no seio de um povo acomodado, brando de costumes e habituado a não reagir, como o português, é que uma geração com este desconforto não degenera em revolta, na busca de uma afirmação social, cultural e económica que lhe está vedada.
Anuncia-se uma manifestação para 12 de Março, organizada pelo grupo Protesto da Geração à Rasca, um movimento que se diz 'apartidário, laico e pacífico', para demonstrar o descontentamento de milhares de jovens portugueses precários.
Como referiu por estes dias o sociólogo Manuel Villaverde Cabral, “é difícil ultrapassar a viscosidade da nossa situação política mas oxalá que venham para a rua e isso contribua para uma reforma política sem a qual Portugal vai a pique”. Os políticos que se acautelem, porque a força dos movimentos sociais há muito que se libertou e autonomizou dos condicionalismos dos sistemas partidários, em Portugal, como em outros tantos lugares do mundo!
Artur Coimbra

Ecos da blogosfera – 25 Fev.

Do DESMITOS


Atualizada às 9:30 de 25/02/11

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A impunidade dos (presumíveis) puníveis

A Operação Furacão voltou ontem a ser abordada no julgamento do BPN. A primeira testemunha chamada pelo Ministério Público, o inspector tributário Paulo Silva, revelou que uma fuga de informação no seio da investigação da Operação Furacão atrasou em mais de 2 anos a descoberta das fraudes no BPN.
Os responsáveis do BPN foram alertados para o arranque da Operação Furacão em 2005, o que lhes permitiu esconder documentos que teriam, logo nessa altura, desencadeado uma investigação autónoma às irregularidades cometidas no banco, o que só veio a acontecer no final de 2008, altura em que o BPN foi nacionalizado.
Além de tudo, teve de haver “corrupção”, ou tráfico de influências…
E agora se compreende a amnésia geral que deu a todos os VIP daquele Banco, que mesmo assim, ou depois destas informações, continuam a passear-se, impunemente pelo mundo (quem sabe se também por Portugal) e até parece mais difícil encontrá-los do que a Bin Laden.
Vigarizam, roubam, mentem, corrompem, gozam com tudo e todos e ainda estão em liberdade.
E TODOS TEM NOME! Que país que nos calhou e que concidadãos ganhamos na rifa…
O Grupo SLN, que era o dono do BPN até à sua nacionalização, detinha o Banco Insular em Cabo Verde e criou mais duas entidades naquele país africano, o Banco Sul Atlântico e o Banco Fiduciário Internacional, revelou hoje uma testemunha.
"O objetivo final do Banco Sul Atlântico era fazer a cativação de fundos de clientes angolanos e servia também para ser mais uma passagem entre o BPN e o Banco Insular", disse no tribunal Paulo Jorge Silva, inspetor tributário de Braga.
Em 2001, além da compra do Banco Insular ao grupo Fincor, José Vaz Mascarenhas, antigo presidente do banco cabo-verdiano e um dos arguidos no julgamento do caso BPN, lançou o Banco Sul Atlântico "para criar ainda maior opacidade na relação entre o BPN e o Banco Insular", reforçou a testemunha.
E como se vê, HÁ NOMES!
"Em 2007 houve uma denúncia do Montepio sobre o Banco Insular feita junto do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) por causa das contas que o banco cabo-verdiano tinha no Montepio", revelou aos jornalistas a fonte, que pediu para não ser identificada.
A mesma fonte considerou que as investigações ao caso BPN poderiam ter começado "muito mais cedo", lembrando que o desaparecimento de documentos que ligavam o BPN ao Banco Insular por causa de uma fuga de informação no âmbito da Operação Furacão impediu acelerar o processo.
Comprova-se que afinal o BdP sabia da vigarice, mas… O responsável, que deveria ter fiscalizado os factos, de imediato, ou mesmo antes, não o fez, com as “desculpas” que todos ouvimos e como prémio, subiu uns patamares, até vice-presidente do BCE, quem sabe para fazer o mesmo… Se antes só nós estávamos tramados, agora está a Europa.
Bem feito! Só exportamos quem não nos faz falta, mas só depois de constatarmos, com provas dadas…
Actualização às 20:45
BPN: DIAP arquivou inquérito a fuga de informação