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sábado, 8 de junho de 2013

A Fatinha cala investigadora para dar “brilho” a jovem


A propósito deste “acontecimento nacional”, que deu origem a muitos diálogos e debates no Facebook, dos quais eu não fiquei de fora, deixo aqui umas trocas de galhardetes, que exprimem o que penso sobre a questão (de fundo), que emerge dos comentários aos comentários, alterando os nomes dos “opositores”, pelo direito à privacidade e porque nada acrescentaria à substância…
Joãozinho - A Sr.ª Dr.ª é que se vê bem que nunca fez nada da vida a não ser funcionária pública. Um dia destes vai reclamar junto da Troika que lhe estão a cortar no vencimento e depois escreve uma cartinha à ONU a reivindicar os seus direitos.
Miguel Loureiro - Quando o puto diz que é melhor ganhar o ordenado mínimo do que estar desempregado, revela que tal conceito social do trabalho e do homem, é de adolescente...
Talvez fosse melhor ler o livro de Raquel Varela.

Joãozinho - Só pela forma como ela aborda a questão com o dito "puto" nem vale a pena perder 5 minutos com ela, quanto mais ler um livro.
Glorinha - Não parece nada ser um conceito de adolescente, antes pelo contrário, ou será que vc (Miguel Loureiro) pertence ao enorme grupo dos que tudo querem e nada fazem?!!!
Miguel Loureiro - Glorinha, se não me conhece não me avalie! Caso contrário dá-me o direito de a avaliar e adjetivá-la. Se não entendeu o meu comentário, paciência, mas eu explico. Quando o título do vídeo é: Rapaz de 16 anos destrói doutorada, não se está a valorizar o "rapaz" mas a tentar destruir a "doutorada", que tem um livro que desmascara todos os falsos paradigmas entre o trabalho, os impostos, os direitos, o Estado Social, etc... o que incomoda muita gente, que nada fazem e tem tudo. Entendeu?
Miguel Loureiro - Joãozinho, entre "puto" e "rapaz" a diferença não é nenhuma, a não ser que queira ver.
No comentário anterior já me referi ao livro e não lhe bastarão 5 minutos, a não ser que seja o tempo que tem disponível para estudar coisas sérias...
De resto não menosprezei o puto, nem avaliei o seu trabalho (meritório), apenas quis desfazer uma afirmação recorrente, defendida por defensores dos assaltos deste governo (até lhes chegar ao próprio bolso) e comentadores colados à coligação, de que mais vale trabalhar e ganhar pouco do que não ter emprego. Já o Sr. De Lapalisse diria o mesmo, ou como o povo diz, "mais vale um pássaro na mão do que 2 a voar"... E se pagassem menos do que o OMN, ainda era melhor! Muito melhor!
Miguel Loureiro - Pronto! Cá está a VERDADE(?)!
Leiam!: https://www.facebook.com/rtp/posts/454453707981897 (entretanto retirada e que desmentia a estória do Martim…)
Joãozinho - Meu caro Miguel, eu não disse que me bastariam 5 minutos para ler o livro, o que disse, e reafirmo, é que não perco 5 minutos com a Raquel Varela e muito menos a ler um livro seu. A questão não está em saber de onde vem a roupa mas sim ver a reacção da Exma. Sr.ª Dr.ª a um jovem com iniciativa (até porque naquele momento também ela não poderia saber de onde vinha a roupa). Larguem a função publica, abram empresas, dêem empregos (no mínimo o próprio) e depois sim façam criticas. É que o seu amigo Ferreira, dono da verdade, fala de mentirosos, diz que é fácil e que basta um PCzito. Fazer é que não faz e largar o Estado também não larga!
Miguel Loureiro - Meu caro Joãozinho, eu entendi que não gasta 5 minutos a ler alguém que lhe desfaça as crenças e paradigmas. Enquanto se contenta com a reação da doutorada e não se interessa de onde vem a roupa, quem a faz, quanto ganha, a que preço é vendida por cá... pronto! Estamos longe...
Pelo seu apelo ao empreendedorismo (gostou desta palavra mais cara?) presumo que seja praticante e que tenha criado muitos empregos, porque é o que não fazem os instalados, os ortodoxos do "Menos Estado...”), os motores da Economia Nacional e os estruturantes de uma sociedade rica e de bem-estar. O Sistema implodiu!
O Ferreira (o da página apagada) não é meu amigo (penso), mas também penso que não perdeu 5 minutos a consultar as "mentiras"...
Quanto ao Prós e Prós, já foi chão que deu uvas e a Fatinha sempre lá estará para deixar falar quem ela quer, mas só vê quem quer.
Joãozinho - Meu caro Miguel sou efectivamente praticante. Já criei vários empregos entre os quais o meu. Abdiquei do certo pelo incerto, corri riscos e investi capital que angariei do meu trabalho e esforço sem pedir nada a ninguém e muito menos ao Estado. Deste modo, não são pseudo-intelectuais de esquerda que me desfazem crenças e paradigmas. Já passei da crença à prática. Se um dia decidir fazer o mesmo e tiver essa coragem então falamos.
Miguel Loureiro - Joãozinho, quando fala em pseudo-intelectuais de esquerda (não sabia que a Ciência e a Matemática tivessem ideologia), quer dizer que é um intelectual de direita? Parabéns por ter defendido o seu, que eu já fiz muito por mim e pelos outros, e a diferença de idades não me permite acompanhá-lo. No entanto como o Joãozinho, nunca pedi dinheiro a ninguém e estão a sacar-me para pagar as fraudes da banca e as asneiras da "verdadeira direita".
Paradigmas...
Joãozinho - Meu caro Miguel, na minha opinião as asneiras de que fala não têm a ver com ideologias de direita, nem de esquerda mas sim com pessoas sem princípios. Aliás, basta ver que vários começaram no PCP ou no MRPP e acabaram líderes do PSD. Todos os sistemas eventualmente podem funcionar, o problema é o "Homem" (ou pelo menos alguns deles). Um abraço.
Miguel Loureiro - Joãozinho, eu referia-me ao livro da Raquel Varela. Mas sobre as conversões de alguns políticos, que foram do PCP e do MRPP para o PSD e estão no top, se reparar estão a por em prática medidas políticas da extrema-esquerda: nacionalizações, "apropriação" da propriedade individual, reforço dos aparelhos dos partidos, redução de salários, manipulação dos media... Como vê há muita falta de ideologia (de ideias) nessas pessoas e não é navegando à costa e por interesses pessoais que vamos a lado nenhum... Ou todos juntos, ou em grupo, mas sempre como Estado, que somos, e democraticamente, fazendo o que o povo precisa para a tal sociedade digna e de bem-estar (mínimo).
E agora o contraditório da investigadora, que também tem direito ao tempo de antena que a Fatinha não lhe deu…
Raquel Varela responde à polémica em que se viu a medir forças com um empreendedor de 16 anos. Conclui que nem todos os empreendedores são exploradores, nem todos os desempregados são mandriões.

Ecos da blogosfera – 8 jun.

Solidariedade, igualdade de oportunidades, equidade!

A crise que atravessamos mostra que há quem se saia melhor do que os outros e modifique as regras em seu proveito. A Europa deve saber resistir a este estado de espírito, enquanto responde aos desafios industriais que se colocam à sua frente, frisa um editorialista romeno.
Manchester United, FC Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique, Borussia de Dortmund, todos clubes que registam receitas excecionais e que se podem dar ao luxo de pagar aos jogadores salários anuais de vários milhões de euros. Os montantes de certas transferências elevam-se a várias dezenas de milhões de euros, conduzindo à concentração dos “valores” num grupo restrito de clubes.
Foi por este motivo que foi criada a Liga dos Campeões, uma competição de clubes ricos. Segundo a teoria económica da aglomeração, dos rendimentos em crescimento e das assimetrias de informação e de posição, estabeleceu-se um desequilíbrio entre alguns clubes europeus e o resto, que não para de aumentar de dia para dia.
A Liga Europa é a 2.ª liga europeia, à qual têm acesso clubes menos ricos, por vezes até clubes romenos. Simultaneamente, há cada vez mais clubes a enterrarem-se em dívidas.
Utilizei estes exemplos tirados do modelo económico do meio desportivo para ilustrar fenómenos muito presentes ultimamente: a erosão da classe média, o aumento das desigualdades de rendimentos e, sobretudo, o estatuto privilegiado do setor financeiro.
Dicotomia redutora
Isso explica-se pela globalização galopante (que favorece as atividades económicas nos países onde a mão-de-obra é barata), o desenvolvimento de novas tecnologias da informação e de políticas públicas – como a desregulamentação dos mercados financeiros – que sobrestimaram a capacidade dos indivíduos em adaptar-se às mudanças rápidas do mercado do trabalho e subestimaram o papel da indústria enquanto suporte do desenvolvimento tecnológico.
A profunda crise atual reabre não apenas questões relativas à necessidade de uma regulamentação e de uma supervisão adequadas dos mercados financeiros, como também a necessidade de melhorar um tipo de economia que aposta demasiado na infalibilidade dos mercados e ignora os aspetos sociais e a equidade.
Com crise presente em pano de fundo nos Estados Unidos e na Europa, ocorre atualmente um debate público aceso em torno do papel do Estado na economia, defendendo cada partido a sua posição. A direita pede menos Estado e menos despesas públicas (incluindo a diminuição de contribuições e de impostos); a esquerda chama a atenção para a necessidade de bens públicos e de equidade. Uma dicotomia que tem muitas vezes um efeito redutor.
Na Europa, os países escandinavos têm dívidas públicas e défices orçamentais relativamente baixos, mas despesas públicas bastante elevadas. Simultaneamente, a corrupção e a procura de uma renda monopolista (rent-seeking) são fenómenos muito raros e não é por acaso, uma vez que esses países sobressaem pelo seu poder institucional. Uma das consequências desta situação é o facto de a síndrome “The winner takes it all” [o vencedor fica com tudo] não estar tão presente. Os que apoiam o desaparecimento do Estado-Providência não compreendem que o Estado moderno está indissociavelmente ligado à sua dimensão social, que não podemos regressar ao capitalismo do século XIX para responder aos desafios do século XXI.
A UE e o desafio da conciliação
Num discurso dirigido ao Parlamento Europeu, onde apelou a uma união bancária e uma federação de Estados (etapas do resgate da zona euro), o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, evocou esta experiência a favor do modelo europeu. Mas também é verdade que os países desenvolvidos devem reformar os seus sistemas de assistência social, ajustar os serviços públicos aos recursos disponíveis e promover melhores práticas em termos de governança pública.
Como se deve encarar uma sociedade em que a maioria dos cidadãos com pequenos e médios rendimentos pagam as suas contribuições e impostos, enquanto os que dispõem de rendimentos elevados utilizam todos os tipos de “escapatórias” possíveis na legislação?
O grande desafio para a União Europeia será saber conciliar os elementos da rede institucional que protegem a coesão social e o capital social, com medidas que estimulam o empreendedorismo, o relançamento da indústria e a educação. No meio dessas pretensões encontramos aspetos relacionados com a ética, a igualdade de oportunidades dos cidadãos e a solidariedade.
Nos Estados Unidos, a luta contra o terrorismo divulgou certas práticas à margem da lei, na verdade, ilegais, de bancos assim como de cidadãos com rendimentos elevados. Mas o grande problema ético não pode ser resolvido apenas com a identificação dos que fogem ao fisco. Estamos perante uma nova revolução industrial. Mas poderá esta gerar um aumento da produtividade na Europa? O problema é que este tipo de revolução, se viesse a acontecer, deixaria de ser apenas o apanágio do Ocidente industrializado.
“The winner takes it all”, enquanto leitura unilateral da realidade, entra em conflito com o funcionamento das economias modernas, na medida em que a redistribuição (as transferências fiscais) protege a coesão social, equipara as oportunidades e ajuda a atenuar certas disparidades regionais. A esperança vem do facto de que a responsabilização individual e um estilo de vida mais modesto não entram em conflito com conceitos como a solidariedade, a igualdade de oportunidades, a equidade, o fair-play, etc.

Contramaré… 8 jun.

O ministro das Finanças justificou a quebra na atividade económica com as más condições meteorológicas vividas na 1.ª metade do ano, lembrando que a contração do PIB português, que segundo o INE foi de 4% no 1.º trimestre, foi motivada, em parte, pela quebra do investimento na construção. E justifica:  O investimento foi “adversamente influenciado pelas condições meteorológicas do primeiro trimestre que afectaram a actividade da construção.”

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A face não democrática do poderio mundial!

Está aí mais um encontro Bilderberg, que começa esta quinta-feira e que se prolonga até domingo. Há muitas dúvidas e poucas certezas sobre estas reuniões, que levam quase 6 décadas. Há 4 portugueses envolvidos este ano.
Afinal, o que é o grupo Bilderberg? Há quem lhe chame o Governo do mundo, capaz de orientar o rumo da economia, de influenciar governos e empresas e de condicionar a evolução de preços e transacções. Há quem digo que tudo isto é feito sem transparência democrática e até mesmo através de acções obscuras.
No sentido inverso, há quem garanta que não, que não passa de um grupo de reflexão, uma associação de elites - um "lobbie", é verdade, mas sem outros fins que não a discussão dos problema do mundo.
Para lá das dúvidas - tão bem geridas há 59 anos -, há a certeza de que o grupo não tem existência formal, nem organigrama. As reuniões são sempre fechadas à comunicação social e não são publicitadas nem promovidas.
Nos encontros do Clube de Bilderberg (site oficial) estão presentes alguns dos homens mais poderosos do mundo ou seus representantes, mas apenas da Europa, Estados Unidos e Canadá. Ainda assim há registo de algumas excepções para russos, japoneses e chineses - gradualmente, a partir da década de 70.
O assento está garantido a banqueiros, milionários, donos das maiores companhias petrolíferas, magnatas da comunicação social, membros de algumas casas reais, presidentes de multinacionais - com destaque histórico para a indústria automóvel - e políticos - sejam eles presidentes, primeiros-ministros, ex-governantes ou funcionários europeus.
A reunião deste ano, que começa esta quinta e que acaba domingo nos arredores de Londres, vai ter 4 portugueses: Paulo Portas, António José Seguro, Durão Barroso e Francisco Pinto Balsemão. Vão ser dos poucos a saber realmente o que se passou lá dentro.
O primeiro português e o mais influente
O primeiro português a participar num encontro Bilderberg foi o embaixador Marcello Mathias, em 1963, 9 anos após a 1.ª reunião do grupo. Ainda assim, a grande referência portuguesa é Francisco Pinto Balsemão, que marca presença ininterrupta desde 1981, sendo mesmo apontado como membro da cúpula dirigente da organização.
Foi o próprio Francisco Pinto Balsemão que organizou o único encontro realizado em Portugal, num hotel de luxo no concelho de Sintra, em 1999. É também ele que escolhe e convida anualmente os participantes portugueses.
Ao todo, somando já a estreia de António José Seguro este ano, já são 69 os lusos que passaram por estes encontros, sendo que, alguns mais do que uma vez.
Durão Barroso, por exemplo, cumpre esta semana a sua 4.ª participação e Paulo Portas vai para a 2.ª. Para trás ficam as 4 vezes de Franco Nogueira, as 3 de Vítor Constâncio e António Guterres e as 2 de Medeiros Ferreira, de Artur Santos Silva, de Faria de Oliveira, de Jorge Sampaio, de Ricardo Espírito Santo Salgado e António Borges.
O início
O 1.º encontro do grupo decorreu na cidade holandesa de Oosterbeek, em Maio de 1954. O palco da reunião foi o Hotel Bilderberg, nome que ficaria para sempre como designação do grupo.
O anfitrião – e considerado por isso o fundador – foi o príncipe Bernhard da Holanda, que contou desde logo com uma fortíssima presença de elementos ligados à casa Branca e ao Governo inglês.
Tendo como base os países da NATO, o objectivo era aproximar a Europa Ocidental e os Estados Unidos, lançando para a mesa a ideia de um futuro comum - os primórdios da globalização.
A ideia vingou e os encontros passaram rapidamente a ser dominados e geridos pelo império Rockefeler. Com raríssimas excepções, o grupo tem reunido pelo menos uma vez por ano, sempre em unidades hoteleiras de luxo e nos mais variados locais - dos 2 lados do Atlântico.
Conheça AQUI a lista de convidados do encontro de Bilderberg de 2013.
Não é preciso um governo mundial para haver governação global. Porque a governação global não é feita de regulações centralizadas por instituições de escala mundial mas sim da definição de modelos de regulação e da adoção de um quadro ideológico de referência que dispensam amarrações institucionais.
José Manuel Pureza
Robert Cox, um dos vultos maiores da reflexão académica contemporânea sobre relações internacionais, sintetiza no conceito de "nebulosa" essa autoria difusa da governação global. Define-a assim: "Uma elite indeterminada de influentes e de agências que partilham um bloco de ideias e que desempenham em conjunto a função de governação. A política e a doutrina são desenvolvidas e difundidas através de conclaves não oficiais (por exemplo, a Comissão Trilateral, as conferências de Bilderberg, as cimeiras económicas anuais de Davos, etc.) e de organismos intergovernamentais e de peritos: os comités da OCDE, o Banco de Pagamentos Internacionais de Basileia ou as cimeiras do Banco Mundial e do FMI." E acrescenta: "Não há um processo de decisão formal, há sim um conjunto complexo de redes interligadas que criam uma ideologia económica comum e que injetam este produto consensual nos processos nacionais de decisão. A nebulosa é simultaneamente externa e interna aos Estados."
É pois nesse espaço informal e nebuloso que se define o que é good governance e o que não o é. E essa informalidade é o rosto não democrático do poder mundial. As ideias, os modelos, os discursos, as escolhas, as cumplicidades, são inoculados nos "líderes" nesses espaços imunes ao contágio da exigência democrática.
O Clube de Bilderberg - como a Comissão Trilateral ou o Forum de Davos - não tem que ser visto como sinónimo de conspiração obscura para poder ser avaliado politicamente. Embarcar em exercícios estilo Código Da Vinci na leitura da influência destes atores dá preferência à novela sobre a política. Desde 1954, o Clube de Bilderberg reúne elites políticas, empresariais e militares. Com discrição, sem holofotes, sem povo e com muito poder - o poder do contágio, o poder da modelização do olhar e do discurso, o poder da limitação da escolha política. Bilderberg é o centrão em escala mundial. E é para facilitar a perpetuação do centrão que manda - na finança, nos media, na produção de senso comum, na elaboração de políticas - que o clube serve.
António José Seguro participa com Paulo Portas na conferência de Bilderberg de 2013. Sendo um convite de Francisco Pinto Balsemão, é uma escolha do secretário-geral socialista. E é uma escolha francamente preocupante para quem quer dar densidade programática concreta a uma alternativa de esquerda ao atual Governo das direitas em Portugal. Acreditar que António José Seguro seja convidado para sensibilizar os CEO e os estrategas de Bilderberg para os graves problemas do emprego e do crescimento na Europa é o mesmo que acreditar que um simpatizante da não-violência converterá uma claque de futebol organizada à tolerância e ao fair play. Não, sabidamente Seguro participa no exercício anual de densificação de uma rede de poder. Só isso. E isso tem um enorme significado.

Ecos da blogosfera – 7 jun.

Para não se ficar refém da manipulação, por outros…

Ao viver numa sociedade bastante idealizada em relação à realidade nua e crua dos seus membros, o ser humano paga um alto preço por tal discrepância.
Armando Correa de Siqueira Neto
Informações genéticas obrigam-no a sobreviver e a aperfeiçoar-se a fim de se tornar apto e a dar continuidade à espécie através da sua descendência. Logo, o choque é inevitável frente às normas e leis que tentam regular os comportamentos sociais. Duas poderosas forças se enfrentam e disso pode decorrer evolução, conflito e, nos casos extremos, significativos desajustes psíquicos.
A luta inicia-se de forma sutil através do psiquismo e da funcionalidade cerebral. Tal combate estabelece-se entre as funções mais antigas (anatomicamente, o sistema límbico e as emoções, por exemplo) e as mais recentes (neocórtex e o planeamento e o controlo). Se há boa comunicação entre o antigo e o novo, ou seja, entre o lado original animalesco e o lado que busca a civilização, é possível resultar bons avanços. De contrário, o mal-estar revelará a presença de discórdia que, se canalizada irrefletidamente para os comportamentos, pode gerar desacordo social. A brutal inconsciência nocauteia a mirrada consciência.
Vale destacar que é fundamental cobrar o desenvolvimento das potencialidades humanas, sobretudo a autonomia intelectual e a ética que levem a pessoa a observar o que é bom para si e para outrem. É assim que se pode extrair maiores e melhores resultados para o bem-estar do indivíduo e da comunidade. Pois se a acomodação reina, as trevas se sobrepõem à luz. No entanto, ao mencionar cobrança e extração do progresso humano, urge agregar outros itens cruciais: o adequado investimento na educação cuja aprendizagem exige estratégias voltadas para a aquisição do saber e, notadamente, à prática da reflexão. Adquirir conteúdo apenas é ter a chave; processá-lo reflexivamente é abrir a porta.
Então, o que se percebe de forma gritante no convívio social é, de um lado, pesada exigência sobre o controlo dos comportamentos, e, de outra parte, pouca oferta de qualidade educacional que valorize o conteúdo, a crítica e a autonomia, que podem, gradativamente, formar gente com ideias próprias e a capacidade de assumir as inerentes responsabilidades cidadãs como o exercício político, que atinja a democracia consciente e responsável, em detrimento do ato eleitoral meramente mecânico e inconsequente e a malfadada passividade, dentre outros aspetos.
Sem a educação civilizadora o homem permanecerá indefinidamente escravo de si mesmo e refém da manipulação ardilosa de outros homens. Porquanto, deve-se lutar voraz e incessantemente em favor das políticas que favoreçam a educação de qualidade para que os reflexos de tal empreendimento beneficiem futuras gerações que, ao olharem para o seu passado, entendam claramente que a intervenção madura é o caminho para libertar o homem e o tornar um transformador pleno da sociedade.

Já todos batem no Zé Manel… Irá reinar em Belém?

Desde há anos que a Comissão apresenta repetidas recomendações aos Estados-Membros sobre as reformas a pôr em prática, para manter a economia à tona de água. Mas as capitais dos Estados preferem obedecer às pressões dos mercados e às disposições dos planos de salvamento, minando assim a autoridade e a credibilidade do executivo europeu.
Saber o que precisa a Europa é relativamente simples. Precisa de reformas na periferia e de estímulos para compensar, em Bruxelas, Berlim e onde for possível; de uma união bancária completa e de um BCE que funcione como balcão único de último recurso. As instituições europeias deram alguns passos nesse sentido.
No entanto, no que se refere a um plano de reformas tem faltado ousadia para ir mais longe: a Comissão acaba de recomendar à França que reforme o seu sistema de pensões, à Holanda que rebente a bolha imobiliária, à Alemanha que reforce a procura, à Bélgica que corte na despesa, à Eslovénia que ajude os seus bancos e à Espanha que continue a fazer quase tudo isso ao mesmo tempo, como aqueles equilibristas que mantêm no ar uns 20 pratos, fazendo-os girar sobre paus flexíveis.
Tudo isso faz sentido. Só há um problema: quase ninguém está disposto a seguir esses conselhos, no prazo e na forma desejados. Há anos que Bruxelas vem pedindo coisas semelhantes e ninguém mexeu um dedo, a não ser sob a pressão insuportável dos mercados ou no âmbito de um resgate, no qual os conselhos passam a ser exigências.
Um problema de credibilidade
Nas gavetas da Comissão acumulam-se, ano após ano, recomendações parecidas. Nenhum país fez muito caso delas, apesar do sistema de regras e sanções que hoje é mais forte do que nunca. As capitais sabem que, no fim, as decisões são do Conselho Europeu: dos Governos. Além disso, na prática, aprovar essas reformas coloca sérios problemas políticos, como o agravamento do desemprego e da recessão e um mal-estar crescente em toda a Europa.
"Bruxelas tem um problema de credibilidade, devido ao seu passado distante: os incumprimentos do Pacto de Estabilidade por Berlim e Paris. E, sobretudo, devido ao seu passado recente: as suas receitas foram um desastre, a sua obsessão pelo défice não teve em conta que o verdadeiro problema era a competitividade e o excesso de austeridade atirou a zona euro para a recessão. Como poderiam as capitais não ser reticentes a aplicar as reformas, face à deceção causada por esta recessão autoinfligida?", interroga-se uma fonte do Governo francês.
As receitas da equipa [do presidente da Comissão, José Manuel Durão] Barroso só avançam quando os mercados apertam o cerco ou quando há resgates. Bruxelas lança uma mensagem dupla: menos austeridade e mais reformas. A Comissão afirma que isso dá flexibilidade à política económica; os seus críticos alegam que se trata de permissividade, na ausência de um rumo claro.
Há mais margem de manobra para os países de procederam a ajustamentos, mas também para aqueles que não os fizeram. E, quando os realizaram, foi em troca de reformas difíceis de aplicar e com consequências para a recuperação. A Holanda adiou-as, evocando um pacto social para não piorar a recessão. A França não aceita conselhos de Bruxelas, segundo François Hollande. E, na Alemanha, em plena pré-campanha, nenhum partido incluiu no seu programa nada de parecido com as recomendações de Bruxelas.
Livre interpretação
Passando em revista recomendações de outros anos, vemos que o grau de cumprimento é baixo, exceto em países resgatados ou pressionados pelo mercado. A França só realizou uma reforma laboral, e apenas quando conseguiu negociá-la com os parceiros sociais: as restantes reformas continuam no tinteiro. A Itália e a Espanha começaram a proceder a ajustamentos após um ultimato do BCE, mas sempre de má vontade: Berlusconi fez marcha atrás e Rajoy não cumpriu 4 de cada 7 reformas prometidas. Desta vez não é diferente: "Os países vão interpretar estas recomendações da maneira que melhor lhes convier", resume Mujtaba Rahman, do Eurasia Group.
No passado, a Alemanha realizou de facto reformas a seguir à unificação, mas à custa do não cumprimento do plano de estabilidade e prejudicando a credibilidade de Bruxelas. A Comissão tenta recuperá-la desde então. "Bruxelas apostou em normas mais rígidas, mas não é evidente que esse sistema funcione. É isso que está em jogo agora e as capitais imputam-lhe a culpa por tudo", refere uma fonte europeia.
O tempo está contado em Bruxelas: esta Comissão está quase de saída (a um ano das eleições europeias) e a sua relação com Paris e Berlim não está num período bom. A França e a Alemanha têm sido pródigas em críticas a Bruxelas e, poucas horas depois das recomendações, anunciaram o seu próprio roteiro para o que a Europa deve fazer. O eixo franco-alemão regressa sempre.

Contramaré… 7 jun.

Angela Merkel defendeu, que os esforços que estão a ser feitos pelos Estados-membros "não são em vão" e que "as reformas estão a mostrar os primeiros sucessos" em países como Irlanda, Portugal, Espanha e até Grécia.
Merkel, que na próxima segunda-feira efectua uma visita oficial a Portugal, lembrou ainda que o esforço das reformas levado a cabo por estes países está a ser acompanhado pela "solidariedade da União Europeia", apontando designadamente o recente lançamento do novo mecanismo permanente de resgate.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Os erros que o FMI cometeu, é ele que paga ou eu?

O Fundo Monetário Internacional (FMI) deverá admitir na sexta-feira que cometeu erros “grosseiros” na forma como lidou com a crise da dívida na Grécia nos últimos 3 anos.
Num documento classificado como “ultraconfidencial”, que o jornal The Wall Street Journal diz ter lido, os técnicos da organização dirigida por Christine Lagarde assumem que o FMI “subestimou” os “estragos” que as suas políticas poderiam causar à economia e à sociedade gregas, acabando, assim, por reconhecer que as doses excessivas de austeridade acabaram por se traduzir num agravamento contínuo de uma recessão económica que não se sabe quando irá terminar.
Mesmo assim, o Fundo Monetário Internacional assinala que nem tudo foi mau no processo grego. E salienta que a intervenção atempada na Grécia, em conjunto com a Comissão Europeia e com o BCE, foi fundamental para evitar que a crise da dívida alastrasse a outros países e provocasse uma crise continental.
O Fundo Monetário Internacional desenhou a receita, mas os efeitos secundários parecem estar a ultrapassar as expectativas e vai deixando avisos e fazendo correcções, alertando que as medidas de austeridade que estão a ser adoptadas por alguns países da Zona Euro, como Portugal e Grécia, podem tornar-se social e politicamente insustentáveis e sublinha agora a necessidade de o ajustamento orçamental ser feito a um ritmo que consigam suportar, porque os países europeus em causa não conseguirão cumprir as reformas de ajustamento exigidas.
No actual contexto de fragilidade, implementar as medidas correctas pode não ser suficiente para restaurar a confiança dos mercados, sublinha-se, pelo que o FMI pede um apoio claro da Zona Euro aos membros sob resgate. 
Num sinal à Alemanha, a instituição sedeada em Washington considera que os países devem continuar o ajustamento e pedir, se necessário, apoio ao Fundo de Estabilização do euro.
O FMI advertiu os países sob resgate para os efeitos sociais das medidas de austeridade e cabe agora às autoridades portuguesas aproveitar, ou não, diz o presidente do Conselho Económico e Social (CES).
Vai ser muito difícil a “troika” tomar a iniciativa de alterar os termos do acordo de ajuda financeira a Portugal, pelo que vão ter de ser as autoridades portuguesas a aproveitar a deixa do FMI, se assim o quiserem.
“O FMI percebeu que o programa que está a ser implementado em Portugal tem erros de concepção à partida. Se as autoridades portuguesas entenderem que o programa está bem como está, não é da parte deles que vai haver agora proposta de alteração”, defende Silva Peneda, presidente do CES, sublinhando que “há mais flexibilidade por parte do FMI e mais rigidez da União Europeia”.
O mesmo defende o antigo governador do BdP, Silva Lopes, para quem a posição assumida pelo FMI de pouco vale face à intransigência alemã. “O facto de o FMI ter essas posições, mostra que há quem veja o que se está a passar. A Alemanha, que dita as posições da parte europeia, porque fornece a maior parte do dinheiro, não quis, até aqui, flexibilizar nem um centímetro. Do lado europeu, era donde devíamos estar a receber mais apoio, não era do FMI, mas infelizmente é ao contrário”, sustenta.
É bonito e fica bem a gente de bens reconhecer as asneiras, mas mais bonito é arcarem com as responsabilidades!
Admite-se, que uma instituição com “técnicos de primeira água”, como é o FMI, venham assumir “erros de cálculo” que levaram à aplicação de doses excessivas de austeridade à Grécia (e a Portugal, e à Irlanda), que degradaram continuadamente a situação económica desses países, dando origem a uma recessão que não sabem quando acabará? Admite-se que fiquem só por este mea culpa, sem que sejamos ressarcidos dos esbulhos ou, pelo menos, a alterarem, unilateral, os princípios ativos desse “remédio”?
Se foram detetados efeitos secundários, que nós já sabemos que são insustentáveis, social e politicamente (isto dirá respeito ao governo e oposição), também sabemos que só com outro ritmo as consequências no quotidiano serão suportáveis e que pelo caminho que as coisas vão, nunca o país conseguirá cumprir os compromissos. E não é preciso ser técnico, nem é de agora que sabemos o óbvio…
Consola-nos muito saber que, apesar de tudo errado, evitamos a crise nos outros países do continente… Um Modelo!
Mas antes do mais, o que preocupa o FMI é que esta fragilidade (destruição das estruturas criadoras de riqueza), já não funciona para restaurar a confiança dos mercados marimbando-se para o desprezo demonstrado pelos cidadãos… Vão bugiar!
E ainda por cima, reconhecem “legitimidade” à Alemanha para nos conduzir, por onde lhes dá mais jeito… Democrático!
Como qualquer um de nós entenderia, diz o Presidente do CES, que cabe agora às autoridades portuguesas aproveitar, ou não, a abertura para do FMI para um novo desenho, já que a troika nunca o fará, até porque ficaram muito mal na fotografia… A ver vamos o comportamento do governo, que se queixou do 1.º desenho, que fez outro desenho, pior do que o 1.º e terá que se esmerar na pintura, para vermos se o povo gosta… O “bom aluno”, afinal, só copiou!
Por seu lado, Silva Lopes assume que o que o FMI diz pouco interessa porque é a Alemanha (que manipula a CE e o BCE), que fornece a maior parte do dinheiro, embora haja quem diga que os alemães não gastam um cêntimo e esteja a mamar como uma bezerra… Contradições!
O que desde logo fica provado é que tudo estava errado, os sintomas, o diagnóstico, a receita, a eficiência dos técnicos e a eficácia dos instrumentos…
E perante estas criancices, só alguém da igualha deles nos pode aliviar o lombo, antes que nos vejam os ossos, e para tal só há um (com todas as culpas no cartório), o Vítor(ioso)… Quem havia de dizer!
Mas agora TEM QUE SER OU NÃO SER, e essa é a questão!
Ficamos à espera das retificações aos retificativos, porque “chegou o momento do investimento, repito, depois do (des)ajustamento chegou o momento do investimento (nas pessoas)”
Atualização às 21:00
Entretanto, a Alemanha “responde”, pela voz da CE:

Ecos da blogosfera – 6 jun.

O cidadão não quer, ELES SONHAM e a obra aborta…

A chanceler e o Presidente desejam instaurar um governo da zona euro. A ideia corresponderia a uma alteração da estrutura da UE, considera a imprensa dos 2 países. Desde que o entendimento entre os 2 seja duradouro.
Angela Merkel e François Hollande reconciliaram-se. O “contributo franco-alemão”, anunciado em 30 de maio, assinala a adesão da chanceler alemã às propostas do Presidente francês sobre a governação da zona euro. Para o diário económico Les Echos,
é a primeira vez que Angela Merkel adota tão claramente a tese francesa sobre a necessidade de cooperação em matéria de políticas, com vista a fazer convergir as economias.
No seu editorial, o jornal Le Monde especifica as medidas contidas no texto:
A zona euro vai dotar-se de um presidente a tempo inteiro, que será encarregado de coordenar as políticas orçamentais e sociais dos 17 membros da união monetária europeia. Trata-se de mais um passo no sentido da integração da zona euro. Esta dota-se da “segunda vertente”, tão cara a Jacques Delors. Um e outro avançam [para a cooperação] com segundas intenções. Para a Alemanha, essa evolução deve favorecer as reformas de estruturas destinadas a restabelecer a competitividade da Europa. Para a França, o governo económico deve contrabalançar o peso do Banco Central Europeu (BCE).
Na Alemanha, as reações da imprensa são pouco entusiastas.
A Spiegel Online refere que o Presidente francês optou pela “via da brandura” relativamente à chanceler alemã. O site deste semanário mostra-se no entanto cético quanto à tangibilidade de tal “viragem”, apesar de Hollande “se esforçar por estabelecer um entendimento franco-alemão”.
Para o Handelsblatt, o desejo de Angela Merkel e de François Hollande de criar o cargo de presidente a tempo inteiro e de pôr em prática um orçamento independente para a zona euro dá a impressão de “uma secessão secreta da zona euro em relação à UE”:
A maior surpresa é a criação de uma comissão separada para a zona euro, dentro do Parlamento Europeu, que teria a seu cargo o controlo democrático das novas estruturas da união monetária. Globalmente, a zona euro dá um enorme passo no sentido de cortar o cordão umbilical com a UE. Para o primeiro-ministro britânico, David Cameron, que tentou com todas as suas forças evitar este tipo de evolução, esta quinta-feira deve ter sido uma quinta-feira negra.
Por seu turno, o Frankfurter Allgemeine Zeitung considera que François Hollande se tornou, desde há muito tempo, um “mestre em duplicidade”:
Na cena europeia, afirma o seu empenho nas reformas e no rigor orçamental, mas, quando se trata do seu país, não tolera os conselhos da Comissão Europeia. A longo prazo, isso não vai funcionar. A ofensiva europeia de Hollande só será coroada de êxito, quando ele se revelar um parceiro fiável.

Contramaré… 6 jun.

A recessão é agora mais profunda, já que na 1.ª estimativa do INE a queda homóloga prevista era de 3,9% (-0,3% em cadeia), sendo que o valor é também pior do que o antecipado pela Comissão Europeia nas recentes previsões de primavera (-3,7%). A contração de 4%, em termos homólogos, é a maior desde o 1.º trimestre de 2009, pelo que esta é a maior recessão em 4 anos.
O INE justifica a má performance com a queda do investimento, que baixou 16,8%, provocando uma contração mais ampla da procura interna. Já o consumo privado encolheu 4,3%.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

As DÚVIDAS sobre os métodos de se pagar a DÍVIDA…

Portugal está a caminhar na direcção certa, mas isso não chega para ter a certeza de que o seu plano de ajustamento vá resultar. Quem o diz é o economista Nouriel Roubini, conhecido pelas suas previsões económicas pessimistas, que discursou ontem no "European Day", que decorre em Wall Street, Nova Iorque. "Portugal tem vindo a fazer as suas reformas estruturais, mas está a sofrer de fadiga da austeridade, e isso começa a ver-se nas ruas", afirmou o economista.
Roubini destoou do tom optimista que marcou a conferência, na qual Portugal foi apresentado como exemplo de um processo de ajustamento bem-sucedido.
Falando sobre a redução dos défices comerciais, que é usada pelos defensores da austeridade para sublinhar o sucesso destas políticas, o economista disse que “a redução é estrutural apenas em parte”, pois a “maior parte dessa redução resulta do colapso dos mercados internos, que estão em recessão”.
Roubini admite que “a austeridade é necessária”, mas diz que o seu efeito recessivo tem de ser considerado e que os seus critérios de aplicação devem ser melhor definidos. “Muitas medidas de consolidação têm efeitos recessivos. As reformas estruturais, que são necessárias, também têm efeitos recessivos. Por isso, deve reduzir-se a austeridade fiscal quando se fazem reformas estruturais”, explicou.
O economista defende que há uma separação entre o que se passa nos mercados financeiros, que têm tido bons desempenhos devido à existência de liquidez, e a economia real. “Este desequilíbrio não pode continuar para sempre. As forças da gravidade económicas vão forçar uma correção (...) Ainda não existe uma bolha financeira, mas se esta situação continuar, dentro de 1, 2, 3 anos há a possibilidade de um crash”, defendeu. Ainda assim, Roubini admite que “a situação na Europa melhorou significativamente”.
“Há um ano estávamos todos preocupados com o fim da zona euro, isso hoje já não acontece”, disse, enunciando vários motivos, entre os quais uma mudança de discurso em Bruxelas e Berlim e o lançamento do Programa de Transações Monetárias Diretas e do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira.
O comissário europeu do Emprego, László Andor, afirmou que a atual crise demonstrou que a austeridade pode ter sido a resposta necessária a curto prazo, mas piorou a situação e não pode ser a solução para o futuro. Contudo, defendeu que "muitos Estados-membros" ainda precisam de consolidar os seus orçamentos e sublinhou a importância de "melhorar o 'design' da UEM, com mais solidariedade" entre os 27.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que a maior economia do euro, a Alemanha, não se deve exceder na consolidação orçamental, o mesmo é dizer que o país deverá “evitar excessos” no que toca à austeridade, isto porque, ao contrário de Portugal, o seu desempenho orçamental está melhor do que o previsto.
Diz Roubini que vamos na direção certa, mas que não há garantia de que a coisa vai dar resultado (para os cidadãos, pensamos todos), o que não parece muito coerente, embora contrariasse os restantes oradores, que apontaram Portugal como exemplo de bem-sucedido (para os especuladores, pensam eles)…
E tudo isto é ainda mais contraditório, quando reconhece que estamos a sofrer de fadiga da austeridade, que se vê nas ruas, sem imaginar o que poderia ver nas casas (dos cidadãos)…
E começamos a ficar com a dúvida sobre o que significa “sucesso” e quem dele beneficia, porque todos os indicadores penhoram o futuro do país, enquanto o quotidiano dos cidadãos piora a cada promessa de melhoria, sempre adiada…
E esta dúvida cresce (ou esclarece-se) com a constatação de Roubini, quando diz que muitas medidas de consolidação (vulgo, austeridade) têm efeitos recessivos (vulgo, mais pobreza), bem como as reformas estruturais (vulgo, baixa de salários e mais desemprego), também têm efeitos recessivos (vulgo, mais pobreza), acabando por reconhecer que os mercados financeiros vão de vento em popa, em detrimento da economia real, que vai de mal a pior e a continuar assim, mais ano menos ano, teremos um crash… Então o que é que produz riqueza?
Mas tenhamos calma, que a Europa (num estado terrível) melhorou bastante, apesar de os cidadãos terem tido mais do que uma recaída (retificativa) por ano, estando agora eles numa situação terrível…
Por outro lado, vem o comissário europeu do Emprego dizer (só agora?) que a austeridade piorou a situação e não pode ser a solução para o futuro, embora por cá o futuro seja mais do mesmo, sugerindo que para além da austeridade é preciso melhorar o desenho (o do Gaspar), com mais solidariedade (mais dinheiro, menos juros e mais tempo) entre os 27… Isso é que era bom?
Entretanto, ficamos a saber, que na Alemanha também se pratica austeridade (por isso as desigualdade cresceram brutalmente durante a crise), o que justifica uma das maiores contestações no “1 de junho”, em Frankfurt - 5.000 pessoas protestam em Frankfurt contra a troika -, por estarem também a ser espoliados, com a justificação (oficiosa) de estarem a contribuir para a “siesta” dos sulistas…
No fim desta lengalenga toda, vem a Standard & Poor's, uma das más da fita, dizer que “autoriza” que a “consolidação orçamental” seja aliviada, que ninguém será punido por isso. Ninguém, quer dizer, os países, os bancos e as grandes empresas, porque o cidadão não vê nada e daí as dúvidas…
As dúvidas serão sempre, para nós, uma certeza, quanto mais falam, mais cortam, mas tudo há-de melhorar, nunca se sabendo para quem…
Não é a dúvida metódica, é a dúvida do método da dívida…

Ecos da blogosfera – 5 jun.

Apoiar guerras civis e vender armas, sim! E foragidos?

A Itália é acusada de ter dado dinheiro a migrantes africanos para estes partirem para a Alemanha. Um escândalo? Não, considera o jornal “Die Zeit”: é a consequência de uma política que consiste em fechar os olhos ao drama dos refugiados e em transferir a responsabilidade para outros países.
Portanto, hoje, os maus da fita são os italianos. Contudo, estes limitaram-se a meter €500 na mão de alguns refugiados líbios, antes de os mandarem para a Alemanha. Agora, há um bando de sem abrigo que vivem espalhados pelas ruas de Hamburgo, incomodando seriamente as autoridades municipais. Mas onde deveriam eles viver? Em tendas? Em abrigos? Quem vai pagar a conta? E, acima de tudo: como vamos livrar-nos deles, o mais rapidamente possível? Porque, claro, “o regresso ao país é a única opção”, como se apressou a declarar o responsável pelos assuntos sociais [do município de Hamburgo], Detlef Scheele.
Deveríamos estar gratos aos mauzões dos italianos por terem despachado estes pobres líbios para Hamburgo. Obrigaram-nos a encarar a realidade de frente e nós merecemos que assim fosse. Porque a política de asilo alemã, ou, mais precisamente, a ausência quase total de uma política de asilo digna desse nome na Alemanha, é uma vergonha.
Porque Hamburgo, como toda a Alemanha, tem tido a vida muito facilitada. É tão confortável estar longe das tragédias humanitárias deste mundo, tão tranquilizador saber que há tantas fronteiras a separar-nos delas, que as contemplamos de longe, a tremer, quando não as ignoramos por completo. Tristes destinos os dos norte-africanos que desembarcam nas praias italianas, quase afogados, dos afegãos esfomeados que se apinham na fronteira entre a Grécia e a Turquia, das centenas de milhares, ou talvez milhões, de sírios que fogem para a Turquia, para o Líbano ou para a Jordânia, para escapar à guerra civil! Mas o essencial é que não cheguem até nós.
Azar dos países que dão para o mar
Há anos que a Alemanha e os países do centro geográfico da Europa se entrincheiram por trás do regulamento dito “dos países terceiros”: um texto inatacável do ponto de vista jurídico, mas pérfido e moralmente condenável. Qualquer pessoa que chegue, com o estatuto de refugiado, a um desses países terceiros – ou seja, todos os Estados-membros da UE e muitos dos países vizinhos – fica proibida de ir mais longe. A Alemanha tem a obrigação de não aceitar nenhum pedido de asilo apresentado por esses indivíduos, visto que estes já estão em segurança. Resultado: os países que têm a infelicidade de se situarem nas proximidades de regiões em crise ou à beira de um mar que, levados pelo desespero, os refugiados tentam atravessar, têm de resolver o problema sozinhos.
Acontece que os líbios e outros não vão parar a Itália por se sentirem especialmente bem ali. Vão lá parar simplesmente porque a Itália é o país da Europa de acesso mais fácil. O objetivo destes indivíduos é a Europa. E é por isso que toda a Europa se deve preocupar, coletivamente, com a sua sorte.
A finalidade é alcançar uma justa repartição de encargos, – pode ler-se nos documentos da UE. Na realidade, a maior parte dos países preferiria livrar-se de encargos. A política europeia de asilo trai os ideais da UE. Nem vestígios de responsabilidade comum ou de um projeto humanista nesta matéria. As autoridades de Bruxelas, e muito especialmente a agência de proteção das fronteiras, Frontex, esforçam-se sobretudo por repelir para mais longe os refugiados e por fazer recuar cada vez mais as fronteiras da fortaleza Europa. Essas autoridades financiam barreiras de segurança e centros de detenção na Turquia, para o problema ser resolvido longe, sem sequer atingir os Estados-membros.
Triagem de refugiados nos campos
E o que faz a Europa, o que faz a Alemanha, perante a situação catastrófica dos refugiados da Síria? Nada, pouco ou menos que pouco. Durante um ano e meio, o ministro do Interior [alemão], Hans-Peter Friedrich, recusou-se mesmo a acolher sírios em território nacional. Foram precisos os protestos incansáveis do representante dos direitos humanos junto do Governo federal para, na primavera, convencer Hans-Peter Friedrich a deixar entrar 5.000 refugiados em território alemão – mas não antes do mês de junho e apenas órfãos ou pessoas que tivessem família na Alemanha, e cristãos de preferência. Os felizes eleitos estão a ser sujeitos a triagem nos campos de refugiados sírios. Centenas de milhares continuarão nesses campos.
Um erro funesto e vergonhoso
Evidentemente que mandar vir todos os refugiados do mundo para Hamburgo, de um dia para o outro, não é solução. Mas há um meio-termo entre o acolhimento sem discernimento e o barramento atual.
Diga-se de passagem que o regulamento “dos países terceiros” se inspira no compromisso alemão sobre o direito de asilo, que data de 1992 e que ainda hoje é denunciado pelos defensores dos direitos humanos. Durante as negociações, alguns centros de acolhimento de requerentes de asilo foram incendiados, na Alemanha. Foram mortos estrangeiros, vítimas da xenofobia alemã, enquanto a política protegia o país dos refugiados: é, ainda hoje, um erro funesto e vergonhoso. Chegou a hora de o corrigir.
Contraponto - “Não é a Europa que imaginávamos”
“A Itália envia-nos refugiados africanos”, indigna-se o Bild em primeira página. O tabloide considera isso “escandaloso” e estima que a Itália age desta forma “porque já não consegue lidar com o fluxo de refugiados provenientes do Norte de África. […] Não é a Europa que imaginávamos”.
“Várias centenas de refugiados chegaram a Hamburgo e à Baviera, a maioria sem domicílio fixo porque não têm o direito de trabalhar, de receber prestações sociais ou ser alojados, explica o Bild, que não fica descansado pelo facto de os refugiados serem reconduzidos para Itália. Porque é a Alemanha que deverá pagar os voos de regresso.
Do lado italiano, La Stampa realça que o documento original enviado pelo ministério alemão do Interior aos serviços regionais da imigração, no dia 27 de março, “não mencionava qualquer incentivo por parte das autoridades italianas aos imigrantes para que estes se dirigissem para a Alemanha”, apenas “que deviam abandonar o país por iniciativa própria”.