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sábado, 10 de dezembro de 2011

Ecos da blogosfera – 10 dez.

63 anos de Direitos Humanos! Direitos quê?

"Como seres humanos a nossa grandeza reside não tanto em ser capazes de refazer o mundo… mas em sermos capazes de nos refazermos a nós mesmos”. - Mahatma Gandhi
O conceito de direitos humanos faz-se historicamente, assumindo diferentes abordagens e perspectivas, gerando diferentes posturas e compreensões. Nasce, contudo, a partir da consciência e da necessidade de preservar a vida e tudo o que nela está imbricado. Ao longo dos tempos, o conceito foi sendo construído culturalmente como se os portadores destes direitos fossem sempre os outros, aqueles que estão numa situação de extrema indignidade, nunca a gente (eu, você e nós). Há, então, a necessidade de compreender melhor o conceito de direitos humanos para que dele nos sintamos parte.
Sob o ponto de vista da compreensão histórica, os direitos humanos constituem-se a partir do reconhecimento, muito antes de constituírem faculdade de um ou de outrem. A defesa da vida, que também defesa da dignidade humana, engloba o que a humanidade, através de muita luta e conquista, reconheceu como direitos humanos. O que vem a ser a dignidade humana? É difícil definir, mas entendemos quando ela falta a alguém (como aquilo que define a própria noção de humanidade, enquanto condições mínimas, básicas e elementares para sermos gente). O nosso quotidiano está repleto de infinitas realidades de indignidade, basta ativar a nossa sensibilidade e o nosso olhar.
A mesma cultura que nos fez acreditar que os direitos humanos não são os nossos direitos de ser gente também alimentou a falsa ideia de que, ao afirmamos os direitos das pessoas, estaríamos a abrir mão dos seus deveres. Sempre nos fora dito que temos mais deveres a serem cumpridos do que direitos a serem gozados, usufruídos. Muitas vezes entenderam-se direitos como privilégios de uma classe social, povo ou nação, em detrimento dos demais. Ocorre que, a cada direito que conquistamos, naturalmente, sem dizê-lo, está imbricado o nosso dever. Direitos e deveres chegam juntos, não existem separados como muitos supõem.
Mas como criar identidade com os direitos humanos? É preciso considerar-se e aos outros a partir da condição de portadores de direitos, de liberdade, de dignidade, ao mesmo tempo diferentes e iguais uns em relação com os outros. O que todos temos em comum é o facto de que somos humanos e comungarmos das mesmas necessidades. Todos, como eu e você, são seres humanos, portadores de algo sagrado e inegociável: a vida da gente. Neste sentido, as nossas diferenças ou semelhanças não podem ser critérios para auferir dignidade para um ou para outrem.
Desconhecemos outra maneira de mudar culturalmente conceitos ou ideias senão pela educação. A educação em direitos humanos significa educar para a democracia, dando oportunidade a que os cidadãos tenham noção dos seus direitos e deveres e que lutem por eles. É o papel da escola, e da educação, contribuir para a compreensão do mundo, para uma melhor inserção nele. A cultura dos direitos humanos promove condições em que ocorram a tolerância, o diálogo, a cidadania, a diversidade. Deve também permitir a liberdade de organização e luta aos grupos organizados em torno dos seus direitos. Deve exigir um Estado protetor e promotor de direitos humanos, e não violador da vivência da cidadania e das liberdades. A consciência, quando transformada em luta (diária, quotidiana, permanente), é que garantirá a exigibilidade dos nossos direitos.
Educação em direitos humanos não é só um conteúdo a ser ensinado, mas pressupõe, antes de tudo, a vivência de valores e atitudes que cultivem a preservação da vida, das singularidades e das diferenças. Para mudarmos atitudes e conceitos precisamos ser motivados, sensibilizados e estimulados a compreender o ser humano nas suas diferentes situações e realidades.
A dignidade, da qual somos portadores, abre horizontes para perceber e acolher a necessidade do outro. Eu, você e nós conquistaremos a felicidade quando pudermos compartilhar a vida plenamente, na humanidade que reside em cada um e cada uma de nós, sendo iguais no facto de possuirmos diferenças e termos as mesmas necessidades.
Prof. Nei Alberto Pies, Ativista de direitos humanos

Contramarés sem contrapé… 10 dez.

O Parlamento do Japão aprovou acordos de cooperação em energia atómica com a Jordânia, Rússia, Coreia do Sul e Vietname firmados antes do acidente na central nuclear de Fukushima, que permite a exportação de tecnologia nuclear japonesa para estes 4 países, apesar de, a nível nacional, o Governo ter assegurado que empreenderá políticas para reduzir a dependência das centrais atómicas e atualmente, com a crise nuclear despoletada em Fukushima, mantém parados 85% dos seus reatores nucleares por questões de segurança ou manutenção.

Compromissos, que não comprometem ninguém…

Hoje é o “Dia Internacional dos Direitos Humanos”
Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada pela Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 e em 1950 proclamou o dia 10 de dezembro como o “Dia Internacional dos Direitos Humanos”.
A Assembleia da República de Portugal, reconheceu a importância da Declaração Universal dos Direitos do Homem e em 1998 aprovou uma Resolução na qual institui que o dia 10 de Dezembro passa a ser considerado o “Dia Nacional dos Direitos Humanos”.
Se se quiser dar ao trabalho, no resumo abaixo verifique você mesmo o resultado destes 63 anos de esforços de uns e os “esforços” de outros e faça o balanço, em Portugal, ou no Mundo…
Este é o meu.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ecos da blogosfera – 9 dez.

Os media oferecem-nos enlatados sem fiscalização…

Escultura com latas
As primeiras imagens das câmaras de videovigilância do dia 14 de maio, no hotel Sofitel, foram divulgadas pela BFMTV, estação francesa que mostra os últimos passos de Dominique Strauss-Kahn no hotel onde se suspeita ter ocorrido a violação da empregada Nafissatou Diallo. Os vídeos exibem manobras que, segundo o canal, indiciam a prática de uma encenação, para “assassinar” politicamente o diretor do FMI.
O diretor do FMI dirige-se à receção para fazer o pagamento e abandona o hotel. Já na rua, é visível que entra num táxi. E a partir daqui as imagens mostram algumas incongruências, em comparação com as explicações dadas pelos “atores” das cenas.
Dois seguranças são captados nas imagens. A cadeia televisiva analisa também o registo áudio da queixa à polícia e exibe um estranho festejo dos dois seguranças, que justificam esse festejo (aparente sinal de “missão cumprida”) com um resultado desportivo de que acabavam de tomar conhecimento. No entanto, àquela hora, não terminou nenhum jogo.
A tese de encenação de uma agressão sexual foi abordada, quando Dominique Strauss-Kahn se defendeu das suspeitas que sobre si recaíam. O diretor do FMI, que acabou detido no próprio dia em Nova Iorque, era visto em França como uma figura com perfil político. Era apontado como um poderoso futuro adversário de Nicolas Sarkozy.
O grupo Accor, proprietário do hotel Sofitel, desmente qualquer envolvimento numa cena que teria como objetivo destruir politicamente Strauss-Kahn, através de uma falsa violação de uma empregada. Certo é que, a confirmar-se esta teoria de conluio, foram empregados do hotel que representaram a cena.
Os dois seguranças (um dos quais é o autor do telefonema para a polícia) afirmaram que não se recordam das razões que os levaram aos festejos. Nafissatou Diallo aparece nas imagens e, a determinada altura, parece relatar o episódio de abuso sexual a esses seguranças.
Cada vez mais parece constatar-se que a violação existiu, mas que aponta para outros violadores, das melhores normas de disputa eleitoral ou financeira, que uns dizem ser do partido de Sarkozy e outros dizem que ser dos estrategas do dólar.
Parece que isto é assunto de “revistas cor de rosa” mas não podemos esquecer que os presumíveis conspiradores (até prova que os culpabilize) são altas figuras da política internacional, que nos (des)governam e estão reunidos neste momento para decidirem sobre a continuidade da mesma estratégia.
E "isto" vem mostrar (a comprovar-se o complot) o tudo de que ELES são capazes para levarem as suas boas intenções para além do limite, para bem da sua comunidade, a que os cerca, que não é seguramente o povo…
Quando teremos os media a darem-nos notícias da realidade, assente em investigação própria, sem serem eco de tramóias em que até eles caem?

Contramarés sem contrapé… 9 dez.

O ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, reafirmou o compromisso do governo português “na afirmação da RTP como estação da lusofonia”, durante uma conferência em Maputo. “Este é um trabalho que tem sido fomentado ao longo dos últimos anos. É importante que a afirmação da língua portuguesa como instrumento económico jamais ultrapasse a base da nossa relação, o que a língua portuguesa sempre simbolizou como instrumento cultural” no mundo, disse Miguel Relvas.

Até as Agências de “rating” estão contra a austeridade!

A Standard & Poor’s causou alvoroço, com as suas ameaças de descida de notações. Mas a agência estava apenas a dizer a verdade.
Para um arquicrítico das agências de notação de crédito, não era momento que se perdesse.
Mal a Standard & Poor’s (S&P) sugeriu uma possível descida da notação da zona euro, saltou logo Christian Noyer, a espumar. "As agências de notação alimentaram a crise em 2008 e podemos questionar-nos se não estão a fazer o mesmo na atual crise", declarou o governador do Banco de França.
Noyer, que acumula funções como membro do conselho de gerência do Banco Central Europeu, pode ter razões para protestar, mas, hoje, poucas organizações do mercado financeiro atraem o opróbrio da S&P, da Moody e da Fitch.
Com ou sem razão, as Três Grandes [agências de notação] têm uma reputação de inoperantes no mundo financeiro – do género de gritar "fogo" quando a casa já está a cair e, em seguida, para ajudar, mandar gasolina para cima.
Assim, argumentam os críticos, não só as agências não deram pela aproximação da crise de 2008, como ainda lhe mandaram combustível para cima, atribuindo notações de AAA aos próprios pacotes de hipotecas tóxicas que deitaram abaixo a economia mundial.
"Argumento de motivação política não colhe"
Agora, prossegue a acusação, também não deram pela crise da zona euro. E mais: precisamente quando Angela Merkel e Nicolas Sarkozy pareciam estar, finalmente, a entender-se, a S&P lançou nova granada. Para Noyer, a situação tomou um rumo mais sombrio. Insinuando uma gigantesca conspiração, acusou a S&P de mudar de "metodologia", estando agora "mais interessada em fatores políticos e menos nas questões essenciais".
"Disparate", é a resposta da S&P. Como assinalou Kathleen Brooks, diretora de investigação da Forex.com: "Os Estados Unidos não querem nem que a Europa vá por água abaixo nem que a crise da dívida cresça em espiral e se descontrole mais do que já está, muito menos num ano eleitoral. Da mesma forma, os chineses contam com a Europa para o seu crescimento, portanto o argumento de motivação política realmente não colhe."
Em vez disso, os críticos podem ter de chegar a uma conclusão mais desagradável. A de que, apesar dos seus defeitos, a S&P desta vez acertou. E não só. Apesar de poucos quererem acreditar, a agência até tem um historial melhor sobre a dívida na zona euro do que muitos profissionais do mercado financeiro.
Em primeiro lugar, a decisão de segunda-feira [5 de dezembro]. Claro que o momento foi uma provocação. Mas a S&P é descarada. A prioridade, diz, era avisar para uma potencial descida de notação em 15 das 17 nações da zona euro – incluindo a Alemanha –, antes do início da crucial cimeira da UE, na quinta-feira [8 de dezembro].
"Está a esgotar-se o tempo para uma solução política"
Respondendo aos críticos, na terça-feira, Moritz Kraemer, analista sénior da dívida na S&P, explicou: "Acreditamos que os riscos sistémicos da zona euro aumentaram significativamente nas últimas semanas e estamos preocupados com o impacto sobre a capacidade de crédito, se a cimeira não produzir uma resposta eficaz e credível. Com grandes montantes de dívida a terem de ser refinanciados no primeiro trimestre de 2012 e com a zona euro a entrar novamente em recessão no primeiro semestre, está a esgotar-se o tempo para uma solução política.”
A S&P citou 5 fatores entrecruzados para a sua atitude – "aperto das condições de crédito" nos bancos da zona euro; "prémios de risco mais elevados num número crescente de países da zona euro"; "discordâncias sistemáticas" entre os decisores políticos europeus; “crescimento do endividamento” dos governos e das famílias; e "risco crescente de recessão".
Não saiu nenhum melhoramento prático do bate-papo "Merkozy" de segunda-feira, nem um potencial alarido sobre uma maior união fiscal. A S&P também tem reservas razoáveis sobre o programa de reformas de Angela Merkel: "À medida que a economia europeia abranda, um processo de reformas com base num pilar de austeridade fiscal, isolado, arrisca-se a ser autodestrutivo.”
Nada disso devia surpreender os mercados financeiros. Nem a análise de que uma maior integração fiscal também vai deixar os países com notação AAA – Alemanha, França, Holanda, Finlândia, Luxemburgo e Áustria – presos aos mais perdulários.
Agências de notação podem piorar uma situação já má
Como Nicolas Veron apontou em outubro numa exposição para o círculo de análise Bruegel de Bruxelas, apesar de as críticas de que as atuações de “rating” podem desencadear "mudanças negativas no consenso dos investidores... é pouco frequente que as descidas de classificação surpreendam os mercados – geralmente, eles preocupam-se em acompanhar o sentimento de degradação do mercado, e não em precedê-lo. Quando as agências fazem antecipações, muitas vezes os investidores não lhes ligam muito, como aconteceu quando a S&P começou a baixar a classificação da Grécia, em 2004”.
O que introduz o segundo ponto. A S&P baixou pela primeira vez a notação da Itália em julho de 2004, rapidamente seguida pela da Grécia e de Portugal. Naquela época, os mercados da dívida mal diferenciavam os riscos de crédito entre os membros da zona euro. É verdade que a S&P, como os seus principais rivais, foi muito lenta a detetar a grande crise. Mas, pelo menos inicialmente, antecipou-se aos mercados financeiros.
Uma crítica mais pertinente é que as agências de notação podem piorar uma situação já má. Como Veron assinalou, isso deve-se a que as referências a agências estão "integradas" em "disposições contratuais e regulamentares... Assim, apesar de as agências argumentarem que as suas classificações são meras opiniões... podem ter um efeito mecânico, se o resultado dessas previsões, por exemplo, resultar na venda forçada de ativos" – uma questão que o comissário europeu para os Mercados Financeiros, Michel Barnier, está a tentar resolver.
Na verdade, uma descida de notação por parte da S&P das nações cujos créditos tem em observação poria em perigo o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, o mecanismo de salvação da zona euro. A sua notação AAA depende de países com “ratings” semelhantes a apoiá-lo. Noyer não iria gostar. Mas isso não é problema da S&P.
OPINIÃO
As agências não se deixam impressionar com a austeridade.
Em crónica no Guardian, Ann Pettifor, diretora do grupo britânico de análise económica PRIME [Policy Research in Macroeconomics], argumenta que a ameaça de descida de notações da S&P "reflete apenas a recusa dos políticos em reparar o deteriorado sistema bancário global". Segundo ela, os políticos europeus:
...Recusam-se determinadamente a focar as soluções para a crise num sistema bancário que não funciona. Foram convencidos de que o sistema financeiro não deve ser melhorado; não deve ser tributado; e acima de tudo, não deve ter de enfrentar a ira dos mecanismos de mercado. Em compensação, os contribuintes da zona euro devem garantir todas as perdas dos bancos privados, que emprestaram a famílias, empresas e governos da UE.
A fim de financiar a recuperação do sistema bancário privado, a UE recorre a uma cultura de poupança e austeridade:
Mas, como a S&P vê tão claramente como qualquer menino no meio da multidão, a ‘austeridade’ não tem substância económica. A austeridade está a destruir o investimento e o emprego, e, portanto, os rendimentos. Sem emprego, os indivíduos, as famílias, as empresas e os governos ficam privados de dinheiro. Sem rendimentos do trabalho, os governos não podem cobrar impostos e os bancos não podem cobrar o pagamento das dívidas. Assim, os bancos enfrentam falências e aumentam os défices orçamentais. Não é complicado.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ecos da blogosfera – 8 dez.

Já nos chegava Merkozy e agora ainda vem o Obama…

Barack Obama, enviou à Europa o seu secretário do Tesouro, Timothy Geithner, para se reunir com os principais protagonistas na crise da dívida, de cuja solução depende cada vez mais o seu próprio futuro político, que sem recuperação económica e aumento sensível do emprego, as possibilidades da sua reeleição em novembro de 2012 são pequenas.
Um colapso da zona do euro abortaria sem remédio a descolagem da economia dos EUA, mais pela onda desestabilizadora que atingiria o sistema financeiro americano. Uma via para colocar em prática seria emprestar dinheiro ao FMI para que empreste aos estados em dificuldade.
Washington pretende pressionar os líderes europeus, em especial a Alemanha, de que são necessárias soluções corajosas e urgentes. O secretário de Estado do Tesouro norte-americano mostra-se confiante em relação às recentes medidas adotadas no seio da Zona Euro.
Geithner evidenciou a importância do plano franco-alemão de reforma dos Tratados, apresentado segunda-feira, que pressupõe um endurecimento da disciplina orçamental nos países da Zona Euro.
O secretário do Tesouro norte-americano está confiante quanto aos progressos europeus para resolver a crise da dívida.
“Sublinhei até que ponto é importante para os Estados Unidos e para o resto do mundo que a Europa seja bem sucedida” e “estou confiante em que vá ser bem sucedida”, disse Timothy Geithner e disse também estar certo “de que vai ser construída uma barreira de protecção suficientemente forte” para impedir a propagação da crise na Zona Euro.
O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, disse que o Federal Reserve (o banco central) não tem planos para repassar recursos ao FMI, com o objetivo de reforçar um FEEF. Geithner afirmou que está "muito encorajado" pelas reformas até agora executadas pelas nações europeias.
A Alemanha esfriou as expectativas do mercado sobre a reunião europeia de quinta e sexta-feira ao dizer que "vê o encontro com pessimismo".
As afirmações vindas de Berlim bateram de frente com o otimismo do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner.
Já nos bastava ELA a meter o bico onde não é chamada e em defesa dos interesses alemães e do seu futuro político para agora vir Obama mandar um mensageiro para tratar de assuntos estritamente americanos e também do seu futuro político.
Com a Europa e principalmente com os interesses dos cidadãos europeus, nem uma nem outro estão preocupados… “Não querem que ninguém morra, mas querem que o seu negócio corra…”
E vem mais um estrangeiro pressionar os líderes europeus para decidirem já e com “coragem” (traduza-se: mais austeridade!), elogiando as medidas adotadas(?), avalizando a “direção” franco-alemã (sem legitimidade democrática), como se a Europa fosse mais um Estado americano… Isto está a ficar bonito!
Para além das pressões, ou por causa delas, o americano confia que vai haver uma solução para a crise europeia, a que eles deram origem (é bom nunca esquecer), porque é importante para os EUA e o mundo (embora só olhem para o seu umbigo) e não querem levar de novo e de ricochete com vírus que propagaram…
Estes tecnocratas estão todos a ficar crentes, só não dizem quais são os deuses e os ídolos…
Como uma das medidas, que dizem ser a mais rápida e viável, é usar o FMI para emprestar dinheiro, diretamente aos Estados, para o que é preciso mais dinheiro dos países associados e os EUA são os maiores contribuintes, o enviado de Obama faz manguitos e insiste nas “propostas” que liquidam a soberania dos países europeus e dos próprios países…
Afinal, o mensageiro (o espião que veio à crise) não trouxe mensagem nenhuma, só veio assistir ao jogo e aplaudir, se o resultado lhes for favorável…
E no fim de tanto otimismo propalado durante dias e dias por Merkozy, vem agora dizer, mais uma vez, que ainda não é desta, porque descobriram, só agora, que nem todos os países são parvos e já lhes viram o jogo, com trunfos na manga…
Como já dizia o Samora Machel, “um negócio em que não ganham todos, não é negócio” e o jogo em causa é mesmo e só negócio, viciado desde o princípio, com a arma do euro… O CDS, quando era eurocético sempre avisou que isto iria acontecer. E agora?
Haja fé, da parte dos “líderes”, que os cidadãos já se “agnosticaram”…
Amanhã tudo na mesma, para pior, ou para melhor…

Contramarés sem contrapé… 8 dez.

A introdução de portagens nas três antigas SCUT do Norte rendeu à Estradas de Portugal (EP) no primeiro ano de cobrança cerca de 85 milhões de euros.
O pagamento de portagens nas 3 concessões do Norte, Grande Porto, Costa de Prata e Norte Litoral, aconteceu a 15 de outubro de 2010 e, segundo a EP, o tráfego registou uma descida de 37% nos últimos 12 meses.

Lá se vão os anéis! Depois o que podemos empenhar?

Para reduzir a sua dívida, o Governo português lançou um amplo programa de privatizações. Brasileiros, chineses e angolanos são hoje os principais candidatos à compra de empresas nacionais.
Do lado de lá estão gigantes como as estatais Eletrobras e Cemig (Brasil), a China Three Gorges e State Grid (China), ou ainda a Sonangol (Angola). Todas oriundas de países de economias em crescimento acelerado e potências emergentes. Do lado de cá, estão empresas de dimensão modesta à escala mundial, com acionistas descapitalizados, num país em dificuldade extrema, a quem um acordo de assistência financeira impôs um agressivo pacote de privatizações.
Brasil, China, Angola – e também Alemanha e Reino Unido – são os países de origem dos principais candidatos, para já, às privatizações em curso ou à venda de ações ou participações do Estado.
EDP e REN são as operações que estão em cima da mesa, mas para 2012 está prevista a privatização da Galp, TAP, ANA, CP Carga e CTT. Não por acaso, são as empresas que mais se internacionalizaram e cujo valor é realizado em grande parte no exterior que suscitam maior interesse.
Os países que têm dinheiro
A questão, portanto, é: porquê estes países e não outros? A resposta, à partida, é simples: são os que têm dinheiro. É uma questão de preço e, para colossos como o Brasil ou a China, são mesmo vendas a preço de saldo. Angola é um caso à parte, que envolve outro tipo de interesses além dos financeiros, bem como a Alemanha e o Reino Unido.
"O investimento angolano em Portugal tem uma componente política forte, como afirmação daquele país no mundo lusófono de onde no futuro espera tirar dividendos económicos", diz António Ennes Ferreira.
Mas o professor do ISEG adverte que esta é também uma forma de legitimar os capitais angolanos, menos escrutinados em Portugal, e de entrar à boleia em outros mercados. O risco, dada a falta de transparência, é o de nunca se saber claramente qual é a identidade de quem investe. Angola investe, mas só dinheiro. Não há know-how associado.
Com a Alemanha (que concorre à EDP) e a quem o primeiro-ministro estendeu o tapete, o processo é outro. Se a este país pode interessar associar-se a Portugal em África, onde tem escassa penetração, para Portugal é um "um negócio" europeu, uma maneira de agarrar os alemães e comprometê-los com o país nesta fase difícil da crise europeia. "É uma visão de curto prazo", comenta o general Loureiro dos Santos. "Portugal está refém da Europa e interessa-lhe o mais possível estabelecer ligações fora do continente para recuperar a sua autonomia".
Ambições políticas e económicas
Brasil e China são os dois grandes gigantes, ambos com ambição de potência global. Mas são casos diferentes. Para o Brasil, cujo investimento em Portugal tem décadas, a diferença está no volume e na entrada em força do Estado brasileiro, política mas também empresarialmente.
"Há um substrato de apoio político claro", afirma o embaixador brasileiro, Mário Vilalva, repetindo as palavras que a Presidente Dilma Rousseff disse a Passos Coelho: "É do nosso interesse que Portugal saia desta crise o mais rapidamente possível".
O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) apoia ativamente o processo de internacionalização das empresas brasileiras, que olham para Portugal como um mercado-trampolim para a Europa. Por outro lado, o alvo são sobretudo empresas "interessantes" com mercados globais, como é o caso da Cimpor (onde entraram em 2010), da EDP e até da RTP, cuja presença nos PALOP pode ser um atrativo.
Quanto à China, conta a oportunidade de entrar em mais um mercado europeu (e vulnerável), com ligações únicas à África lusófona, aceder a tecnologias e (porque não?) conseguir contornar ou impedir algumas barreiras protecionistas.
"Não se pode esquecer também o objetivo chinês de agilizar as suas empresas no mercado global, num processo de aprendizagem e captação de quadros", afirmou o investigador Miguel Santos Neves.
O interesse na EDP é exemplar. Empresa líder nas renováveis (e a China tem um vasto plano de reforço de eficiência energética) com presença forte no mercado americano e brasileiro, a EDP é quase um íman. De uma assentada, alcançam dois fins: ganham competências técnicas e entram em mercados onde o seu peso já começa a suscitar anticorpos.
A Portugal, cujo interesse prioritário é neste momento "encaixar receita", não será porém indiferente quem ganha esta corrida. Mas o que parece estar a desenhar-se, é que, de uma forma ou de outra, brasileiros, chineses e angolanos serão quem vai dar as cartas nas últimas privatizações portuguesas.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Ecos da blogosfera – 7 dez.

O dragão ainda bota fumo, mas já menos fogo…

A população oficial chinesa que vive abaixo da linha da pobreza vai passar de 26,8 milhões para 100 milhões de pessoas, depois de o governo chinês anunciar que vai adoptar os padrões de linha da pobreza nacional, os mesmos usados pela ONU - indivíduos que vivem com menos de 1 dólar por dia.
Até ao momento, Pequim considerava pobre e, portanto, candidato a receber ajuda do Governo, aquele com receitas inferiores a 0,53 dólares, mas a partir de agora entrarão nesta classificação os que vivem com menos de 0,98 dólares.
Embora a China seja a segunda economia mundial em termos de produção total (PIB), a renda per capita chinesa ainda é muito baixa devido aos números da sua população, o que a situa por volta do 100º posto no ranking de nações do planeta.
O governo chinês divulgou o Programa para Alívio da Pobreza Rural da China (2011-2020), definindo um aumento de investimentos voltados para bolsas de pobreza no país.
O programa dá prioridade a áreas extremamente pobres do Oeste, bem como o Tibete.
O fundo soberano chinês quer investir em infraestruturas na Europa e Estados Unidos, disse o presidente da China Investment Corporation (CIC), Lou Jiwei. "As infraestruturas na Europa e nos Estados Unidos necessitam de muito mais investimento", escreveu.
A CIC gere uma carteira de 400 mil milhões de dólares (299,5 mil milhões de euros).
A China pretende concentrar-se na expansão das exportações para os mercados emergentes e reforçar a sua competitividade para fazer face às perspetivas pessimistas sobre o comércio global em 2012, devido à fraca procura dos Estados Unidos e Europa e aumento dos custos de produção na China.
Como se vê, o milagre chinês não é bem milagre e talvez esteja por essas bandas a fonte dos neo paradigmas dos direitos sociais e do trabalho.
Bastou mudar uma variável, de 0,53 dólares/dia, pelo trabalho, para 0,98 dólares, para quadruplicar estatisticamente o número de pobres. Se fossem a aplicar o conceito europeu, de 1/3 do ordenado médio do país, quantos serão? Afinal onde está o milagre?
Tendo em conta a emergência económica do país, quer dizer que alguém anda a arrecadar o preço da exploração do trabalho e dos baixíssimos salários. Aliás, quando se fala que a renda per capita é muito baixa, dever-se-ia justificar a emergência nesse pilar. Se todos os países pagassem tão pouco, os países seriam mais ricos, os ricos seriam mais ricos ainda e os pobres mais pobres ainda. E é esse o caminho por onde querem levar, o ocidente e o mundo, aproximando-nos da China, em vez de forçarem a China a aproximar-se dos nossos valores... 
Louvável é o reforço de medidas de investimento para as regiões mais pobres, embora seja notório que o Tibete seja uma das incluídas, por razões que a política desconfia… A economia é uma arma!
Entretanto, se não há peixe no nosso mar, há que procurá-lo noutros “oceanos”, principalmente onde não há “barcos” e os “pescadores” se afogam em mágoas…
É a mundialização de um país, a quem muitos países oferecem benesses demais e permitem a circulação de produtos sem qualidade e sem o controlo que exigem aos seus industriais e comerciantes…
E à cautela, depois da compra de infraestruturas na Europa e EUA, ambos necessitados de dinheiro líquido e de pão para a boca, há que vender para quem tem dinheiro, os outros países emergentes (com salários também baixos), se estes lhes facilitarem a vida e quiserem ser fazer parte das suas conquistas…
E como se vê, não há milagre que sempre dure, nem comunismo que não se disfarce…

Contramarés sem contrapé… 7 dez.

O Partido Socialista manifestou o seu "repúdio" pelo comportamento do governador do BdP, que na semana passada "desrespeitou" o deputado João Galamba , e sugeriu que Carlos Costa faça "um pedido de desagravo".
Numa discussão relativa à exposição da banca à dívida soberana portuguesa, o governador irritou-se com as interrupções do deputado, acusando-o de "ignorância" e "má fé intelectual" num registo pouco habitual em audiências nas comissões parlamentares.

Sermão para os cristãos, novos no PODER…

Entrevista ao Padre Jardim Moreira – texto de Cesaltina Pinto
É um padre que não se cansa de remar contra a corrente. Luta por um plano de erradicação da pobreza que vá além do assistencialismo e da esmola. Pretende a participação da sociedade civil e do próprio excluído na busca de uma solução. Faz duras críticas à Igreja por esta não partilhar os seus bens e demonstra como a associação Igreja/Estado nas IPSS pode ser.
Há 20 anos que o Padre Jardim Moreira, 69 anos, preside à EAPN Portugal, Rede Europeia Anti-Pobreza. E há cerca de 40 anos é pároco em 2 das mais pobres freguesias do Porto: S. Nicolau e Vitória. Aqui tem a gestão de 7 centros sociais, tendo "inventado" para alguns, um sistema de "apadrinhamento", de modo a reunir financiadores da sociedade civil e voluntários. Deste modo, consegue acolher crianças dos 6 aos 10 anos, que não estão abrangidas por qualquer acordo com o centro regional de Segurança Social.
Quanto à EAPN Portugal, conta já com 18 núcleos distritais e ganhou, em 2010, o prémio dos Direitos Humanos atribuído pela Assembleia da República pelo trabalho desenvolvido. São vários os grupos a trabalhar com populações excluídas, de onde resultam políticas orientadoras para as instâncias decisoras.
Porque é que se meteu nestas coisas?  
Tinha pedido ao Bispo que me desse uma zona pobre e descristianizada. Ele deu-me o pior que tinha: S. Nicolau, primeiro e Vitória, depois. Na altura, para ir à Ribeira tinha de ir escoltado. Corria o risco de me darem um empurrão e deitarem-me ao rio! Pus-me a pensar: estou todo entusiasmado com a renovação teológica do Vaticano II mas ninguém quer ouvir. Não vale a pena. Comecei a estar mais atento às escrituras e concluí: a fé sem obras é morta, não vale a pena. Então, há que ir ao encontro das pessoas e começar a fazer o levantamento sociológico. Quais são os grandes problemas desta gente? Os idosos e as crianças abandonadas...
Qual é o seu objetivo?
O mais importante é que se assuma a partilha e a corresponsabilidade para a construção de uma nova sociedade, fraterna e mais justa. É esta consciência, lenta e progressiva, de que temos de mudar de mentalidade, de assumir uma corresponsabilidade e construir também a nossa própria segurança. Porque a segurança dos outros e dos pobres é também a nossa segurança.
O Cristo que a Igreja celebra e adora no altar é o mesmo que está esfarrapado na rua ou na criança abandonada a jogar à bola. É preciso não desvirtuar isto. "Tudo que fizeres ao teu irmão mais pequenino e mais pobre é a mim que o fazes". A fé cristã não pode deixar de identificar o Cristo místico, do altar, com o Cristo real, humano, vítima de situações da sociedade em que está inserido. A minha postura é a de servir, com a consciência de que sirvo a Deus servindo os irmãos.
Sei que muitos dizem: "eh pá, você tem menos devoções na igreja". Mas onde está a Igreja? A Igreja é a casa ou são as pessoas? São as pessoas! O templo vivo de Deus são as pessoas. Vamos fazer devoções a quem? Ao gato? Ou cuidar das pessoas diretamente e tratá-las?
"O assistencialismo humilha aqueles que recebem"
Não gosta das políticas assistencialistas...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ecos da blogosfera – 6 dez.

Há pano para mangas e para muitos manguitos!

Portugal foi abençoado por um "amplo consenso interno" entre os principais políticos, que reflete o apoio popular ao programa, afirmou o ministro das Finanças, Vítor Gaspar. "Nós somos bastante abençoados por um consenso amplo interno na necessidade de ajustar", disse no instituto de estudos internacionais Chatham House.
O ministro falava a propósito da capacidade de Portugal cumprir os objetivos estipulados pelo programa de assistência financeira acordado com o BCE, CE e FMI.
Ficamos a saber que Vítor Gaspar é crente, não se sabe de que religião, mas em que há uns que são mais abençoados do que outros…
Ficamos a saber que Vítor Gaspar confunde Portugal com os portugueses, porque são eles os “abençoados”, por terem sido convencidos a um voto de silêncio, de cilícios e de resignação…
Ficamos a saber que Vítor Gaspar confunde “bênção” com a “mansidão”, resultado da teoria do medo, induzida pelas medidas da “inevitablilidade”…
Ficamos a saber que Vítor Gaspar confunde “consenso” entre políticos da maioria com o apoio popular…
Ficamos a saber que Vítor Gaspar está convencido que os portugueses são do tipo da “mulher do malandro”, que gosta de “apanhar e calar”…
E tem razão! Mas ficamos a saber que quem foi “abençoado” com um povo assim, foram os governos de há 20 anos, inclusive o dele.
Se não, vejam-se algumas notícias, só de hoje, que correspondem a situações, que deveriam levar à insurreição de um povo, que não tivesse sido abençoado:
Claro que tudo isto, AINDA é resultado do governo anterior, porque este ainda não fez nada para melhorar, porque tem piorado…
Claro que este governo tem sido abençoado com a solidariedade dos menos pobres em favor dos “mais desfavorecidos”, em resultado do seu bom trabalhado e das promessas que devem ter feito de ir a Fátima em Audis topo de gama…
Claro que esta recessão é controlada, porque foi uma das garantias deste governo e vai resultar, no fim de 2012, num boom de riqueza nunca visto, mas para os mesmos…
Claro que a redução do consumo interno tem diminuído como programado por este governo, como medida preventiva contra a obesidade e nem o aumento das marcas brancas (dos maiores supermercados) evita a queda de facturação, reduzindo assim as desigualdades que a OCDE denuncia…
Claro que estes trocos não atrapalham a contabilidade orçamental, desde que seja distribuídos por gente de bem e patriótica, porque se fossem cair no bolso de gente da oposição seria ajudar o inimigo…
Claro que depois de pagas as faturas do SNS com o excedente encontrado debaixo do “colchão” e com o conta quilómetros quase a zero, este rigor do ministro da Saúde, famoso como gestor e o silêncio dos “otários”, só pode ser por uma bênção do divino…
Claro que às vezes há responsáveis que assumem a responsabilidade da missão que lhes foi incumbida e atrevem-se a salvaguardar os direitos do abençoado povo e a falar em sua defesa, até o Tribunal Constitucional decretar que não tem razão, mas não sobre tudo o que a Constituição nos garante…
Claro que não sendo os espanhóis cidadãos portugueses e por isso não sendo abençoados, não ficam calados com as medidas dos governos portugueses e queixam-se a quem de direito, embora a Comissão Europeia venha a fazer o papel do nosso Tribunal Constitucional e…
Realmente não falta pano para mangas, mas falta-nos coragem para fazermos manguitos a quem diz que temos um consenso amplo interno na necessidade de ajustar…
Só nos falta vislumbrar um amplo consenso governamental sobre a necessidade de ajustar as medidas de austeridade dentro de critérios de justiça social, direitos constitucionais e equidade…
Só tivemos azar em não termos um Governo de Portugal, também abençoado!

Contramarés sem contrapé… 6 dez.

A Alemanha e a França reagiram hoje discretamente à ameaça da agência de "rating" Standard & Poors de baixar a nota máxima de triplo A às duas maiores economias europeias, colocando-as em perspetiva negativa. "Tomamos conhecimento da perspetiva negativa da Standard & Poors", refere uma declaração conjunta da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente francês, Nicolas Sarkozy.

Cada um com a sua…

O QUE É... INTERPRETAÇÃO
É captar indícios e transformá-los em verdades corporativas.
Por que se diz que um artista "interpreta" uma melodia ou uma peça de teatro? Porque ele está a transformar num desempenho audível ou visível o que o autor da peça supostamente estava a imaginar quando a compôs. É por isso que uma partitura pode variar uma barbaridade quando executada por dois músicos diferentes: cada um deles está "interpretando" o que, na sua percepção pessoal, passava pela cabeça de quem a criou.
A mesma coisa acontece na vida prática: não raramente, uma versão de alguém para um facto acaba por se tornar "a verdadeira", mesmo quando o autor ou causador do facto insiste em desmenti-la. Esse fenómeno está na própria origem do verbo "interpretar": ele teve origem no latim e no sânscrito, e significa "espalhar (algo) dentro de um grupo". Se esse algo é ou não "a verdade", aí já é outra história.
E por falar em vida prática, uma das figuras mais inocentes - e, ao mesmo tempo, mais nocivas - na fauna das organizações é o “intérprete corporativo”. Ele é uma espécie de despachante de rumores que age por conta própria. O intérprete tem uma função normal dentro da empresa, como todos os seus colegas têm. Mas o que o diferencia dos demais é o facto de ter delegado a si mesmo uma missão adicional: a de manter a empresa informada sobre o que realmente está a acontecer. E o problema aí é esse realmente, porque o intérprete não tem acesso às informações, apenas capta indícios e transforma-os em factos consumados. Daí o “intérprete corporativo” ser um inocente, já que não se beneficia pessoalmente das coisas que espalha. Mas é, ao mesmo tempo, altamente nocivo, já que as suas versões podem causar estragos consideráveis.
“Intérpretes corporativos” existem em todas as empresas. Eu nunca trabalhei numa que não tivesse, pelo menos, um. Eles são muito convincentes, iniciam as suas frases com um "Você já soube?" - e então contam histórias mirabolantes sobre os bastidores da empresa. E como é que eles sabem de tanta coisa? "Sei de fonte limpa", afirmam. Ah...
Então, o “intérprete corporativo” estava nos sanitários da empresa, a lavar as mãos. Aí, na última retrete, toca um telemóvel. "Alô", alguém atende lá dentro, e o “intérprete corporativo” imediatamente reconhece aquela voz. É o Dr. Nelson, o gerente. O “intérprete corporativo” ainda não sabe, mas está no lugar certo na hora certa: do outro lado da linha está o big boss do Dr. Nelson, a querer saber por que os resultados andam tão maus. O “intérprete corporativo” não sabe quem está a falar, nem qual é o assunto, mas não lhe será difícil deduzir. E ouve atentamente a conversa (ou melhor, ouve só as respostas que o Nelson vai dando):
- É, está difícil...
- Estou a tentar, não é falta de esforço.
- Está a acabar com o meu humor...
- Olha, eu acho que essa situação não se vai resolver, é um problema crónico.
Aí, o “intérprete corporativo” sai de fininho dos sanitários, encontra um grupinho no corredor e pergunta:
- Vocês sabem por que o Dr. Nelson anda tão mal-humorado ultimamente?
Opa, aquilo era uma revelação e tanto, principalmente após o “intérprete corporativo” afirmar que ouviu tudo da boca do próprio. O pessoal então cala-se para ouvir. E o “intérprete corporativo” olha para os lados, pede sigilo absoluto, curva-se para a frente e sussurra:
- Prisão de ventre. E das crónicas!
Artigo escrito por Max Gehringer publicado na Revista VOCE SA.