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sábado, 31 de dezembro de 2011

SE NÃO TIVERES AQUILO A QUE TENS DIREITO...

Contramaré… 31 dez.

Os romances "O Remorso de Baltazar Serapião" e "A Máquina de Fazer Espanhóis", do escritor português, valter hugo mãe, entraram para a lista dos melhores livros do ano pelo jornal brasileiro O Globo, que recorda que valter hugo mãe desembarcou no Brasil em julho passado como um autor completamente desconhecido e voltou como um escritor consagrado entre os leitores brasileiros. A conquista deu-se durante a Feira Literária de Paraty, a Flip, onde o escritor português seduziu o público com um discurso emocionado sobre a sua relação com o Brasil.

Se prometer, CUMPRA!

10 promessas para 2012...
1) Não arranjar problemas;
2) Encarar os desafios;
3) Concentrar-se no trabalho;
4) Fazer exercício;
5) Ajudar o próximo;
6) Cuidar dos amigos;
7) Estar preparado para dias difíceis;
8) Descansar mais;
9) Sorrir sempre;
10) Acreditar que nada é impossível.
Recebido por mail

Ecos da blogosfera – 30 dez.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Contramaré… 30 dez.

A directora-geral do Orçamento, Maria Eugénia Pires, apresentou a sua demissão ao ministro das Finanças, Vítor Gaspar, por discordância com algumas das políticas orçamentais seguidas pelo actual Governo e já se despediu da sua equipa, a quem explicou as razões que a levaram a sair, informando que vai abandonar o cargo no final do ano, ou seja, na próxima semana.

Se quer ser FELIZ, tome lá "mais cinco"!

Cada ano é um momento de renovação e um tempo para auto-reflexão. 365 dias passaram com muitas experiências emocionais e de auto-definição. A vida encontrou este ciclo para vivermos momentos em pleno e dar-nos espaço para discernir o que queremos manter e que desejamos deitar fora.
Mais uma vez, este ano não é diferente do costume. Vamos refletir sobre o nosso último ano, tanto individual como coletivamente, e escolher sabiamente o que serviu para o nosso crescimento e o que não ajudou. Vamos ficar mais conscientes sobre as nossas escolhas e decisões e alegrarmo-nos com a beleza de um novo ciclo de 365 dias para experimentar uma aventura mais gratificante.
1) Fale menos, reflita mais
Palavras, enquanto incrivelmente necessárias, não são tão essenciais quanto o poder que carregam. Quando nos é dada a oportunidade de refletir um pouco mais sobre os nossos pensamentos, podemos de verdade dar-lhes os meios mais adequados para viajarmos de dentro para fora. Partilhar pensamentos é uma grande responsabilidade, já que fornece um caminho para verdade de cada um. Arranje um pouco mais de tempo para refletir sobre os seus pensamentos de modo a que, quando a sua voz encontra a forma mais adequada para os compartilhar, eles saiam como processos de cura e pedras de construção.
2) Preocupe-se menos, ame mais
Este ano, dê a si próprio um espaço para amar, mais do que para se preocupar. As preocupações não ajudam ninguém, nem ajudam em nada. As preocupações são a expressão de que o Ego perdeu o controlo. Traga mais fé e mais confiança para o bom da vida como a natureza alinha sempre com a excelência. O caminho pode não ser sempre claro para a mente (onde as preocupações tem origem), no entanto, é sempre claro para o coração (onde existe o amor).
3) Contenha-se menos, expresse-se mais
Qualquer tipo de retenção emocional é simplesmente uma vida a que não foi dada a oportunidade de se expressar. Esta é uma energia poderosa que, quando fica contida pode em última instância tornar-se uma energia criativa para consumir a própria substância mortal e diminuir a vibração interior. A auto-expressão é a essência do Ser Humano. É um direito incontestável da Alma e do propósito desta experiência.
4) Julgue menos, perdoe mais
Lembre-se de uma coisa: A Vida que você observa é a sua Vida. O que vê de fora é o que sabe de si mesmo, interiormente. Julgamentos e críticas são feridas profundas que é preciso estar disposto a abrir para que possa trazer a cura. O perdão é o primeiro medicamento que deve ser administrado após a auto-consciência lhe mostrar claramente a situação.

5) Faça menos, seja mais
Embora fazer seja o que nos é solicitado, antes de tudo somos Seres Humanos. O nosso lado empreendedor nada pode fazer corretamente a menos que antes tenha "sido" e começado a entender o que este não-Ser significa. Neste novo ano, tente dar um pouco mais espaço para o seu lado do Ser para que realmente fortaleça a sua parte empreendedora. Não só expandirá a sua experiência, mas mais, assim sentir-se-á muito mais alinhado com o seu objetivo.

Ecos da blogosfera – 29 dez.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

É pena, que ainda haja Estados com PENA de MORTE


Mapa dos países com PENA DE MORTE - Legenda:

Azul - Abolida para todos os crimesVerde - Legalizada para crimes cometidos apenas em circunstâncias excepcionaisLaranja - Abolida na prática, mas legalVermelho - Pena de morte legalizada
As autoridades japonesas não ordenaram a execução de nenhum condenado à pena de morte em 2011, um facto inédito desde 1992. Nos corredores da morte do Japão estão 129 prisioneiros. Nenhum deles pode ser executado nos últimos dias do ano.
A moratória de facto nas execuções é motivada pelas decisões dos ministros do Partido Democrata do Japão, que se sucederam na pasta da Justiça este ano.
A lei determina que um condenado à pena capital deve ser executado nos 6 meses posteriores à confirmação da pena em última instância, mas a decisão final cabe ao ministro da Justiça, que deve assinar a ordem da execução.
Já era tempo de um país, dito, civilizado engrossasse o número daqueles que dão tanto valor à vida, que não disfarçam com moralidade um acto tão animalesco. Já nos bastam as calamidades naturais e as calamidades artificiais geradas pelos homenzinhos com poder usurpado e do poder associado.
No Japão, onde a morte tem massacrado a população de formas tão violentas e em massa, faz impressão que a aplique individualmente, mas também faz impressão que depois de serem vítimas da bomba atómica, tenham centrais nucleares, o que recentemente aumentou a matança. Esperemos que por isso e daqui para a frente, os ministros da Justiça não assinem mais ordens de execução, ou que o governo abula de vez este insulto a humanidade.
A pena de morte encontra-se abolida para todos os crimes em quase todos os países da Europa, na Oceania, no Canadá, no México e em 14 estados dos Estados Unidos.
O Brasil, o Chile e o Peru ainda mantem a pena de morte para alguns crimes, por exemplo, traição em tempos de guerra.
A pena de morte para crimes comuns ainda se mantem em 36 estados dos Estados Unidos, na Guatemala e na maior parte do Caribe, da Ásia e da África.
Em alguns países (como os a laranja, no mapa acima) é bastante peculiar, pois legalmente mantem a pena de morte, mas já não executam ninguém há bastante tempo, grupo em que parece integrar-se o Japão.
Em 18 de dezembro de 2007, a Assembleia Geral das Organização das Nações Unidas aprovou, por 104 votos a favor, 54 contra e 29 abstenções, uma moratória da pena de morte. O documento adverte claramente os países que aboliram a pena de morte a não a reintroduzirem.

Contramaré… 29 dez.

Devido às novas regras que condicionam o acesso aos privados, os utentes do SNS têm que esperar 106 dias para fazerem exames médicos nos hospitais públicos. Os números do Ministério de Saúde revelam que, em Agosto, a média de espera era de 96,4 dias, tendo passado em Setembro para 105,7 dias, o equivalente a cerca de 3,5 meses.

Haja ESPERANÇA, temos FÉ e abunda a CARIDADE…

As Virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade
Nas grandes crises, o primeiro capital a recuperar e fortalecer é a esperança de ultrapassar as circunstâncias adversas a caminho de um novo futuro.
Na circunstância da União Europeia, que teve na realidade americana semelhanças difusas, o tempo dedicado a reuniões institucionais sem conclusões, a reuniões não institucionais de figurino equívoco, a declarações de responsáveis rapidamente lidas como desabafos, multiplica-se enquanto dura e cresce o tempo de espera dos europeus. No mesmo dia pode receber-se de fonte oficial o anúncio da data do fim da crise, que rapidamente é traduzido para ponto de viragem, e depois para princípio do fim.
Se isto acontece num debate que não fará história, o incidente será esquecido, mas já as coisas são diferentes e graves quando os órgãos institucionais da União parecem remetidos para simples destinatários das cogitações de dois chefes de governo dos países membros, a Alemanha e a França, que vão fazendo crescer a lembrança do directório, um modelo que sempre destruiu a Europa, mas sem adiantarem uma directiva que torne claro o pensamento final para o qual esperam adesão.
De facto, a única coisa que dia-a-dia fica mais clara é que o Tratado de Lisboa não é um instrumento susceptível de ser racionalizado no que respeita à distribuição de competências, uma questão que não foi resolvida pelo exercício, o que também seria possível acontecer segundo a experiência de alguns países. Mas as coisas não são mais claras nos Estados Unidos, onde democratas e republicanos já não disputam o Yes, we can, que distribuiu um fugaz anúncio de melhor futuro pelo mundo ocidental durante o período de debate eleitoral que levou Obama à presidência. Como era previsível, a clarificação das responsabilidades internacionais desenvolvidas pela Administração anterior parece ocupação suficiente, que até agora não permitiu assumir que a crise do Ocidente não é apenas europeia.
Por tudo, se a perda de tempo pelos decisores políticos deixar aprofundar os riscos que atingem o projecto europeu, não estará no horizonte apenas um mundo sem voz da Europa, estará um Ocidente que definitivamente terá de recordar os que de longe avisaram sobre a sua hora de decadência. Algum governo, algum órgão da União, alguma voz europeia que desperte para a liderança que falta, tem de fazer compreender aos príncipes que nos governam que o tempo perdido é o tempo dos outros, e que perder o tempo dos outros é destruir o futuro de todos.
A resignação a uma entidade sem rosto chamada mercado, que tem um credo que fala pelas estatísticas, traduz-se num alienar de responsabilidades que remete para uma situação de redundância os tratados e sedes de gestão internacional, e que leva analistas a falar de anarquia quando pretendem caracterizar a situação. A referência, por vezes desculpabilizante, ao globalismo dominante acentua essa conclusão desanimadora, e faz reparar em que tal invocação ainda não levou a reunir-se nem a Assembleia Geral da ONU nem o Conselho Económico e Social. Talvez o que aconteceu na UNESCO, onde os EUA voltaram à regra, que já ali invocaram no passado, de que não podem estar numa organização onde quem paga não manda e quem manda não paga, também esteja a ser paralisadora dessas instâncias.
Entretanto, os responsáveis europeus poderão, em cooperação, lembrar-se de que os europeus esperam, que as conclusões da última cimeira não fortalecem a esperança, e que o desespero é o ponto final de tais situações. Por isso foi tão inquietante o procedimento, fora do quadro legal, dos aparentes candidatos a directores da União, esquecidos de que foi essa ambição que, em todos os casos, levou à guerra.
A questão do euro tornou-se o ponto de articulação do projecto de unidade, e a clareza não foi implantada. Acresce o risco de uma Europa sem Inglaterra, e indiferente às ameaças à paz.
Não é fácil reconhecer que a divisão entre ricos e pobres não continua como linha de fractura do discurso da unidade europeia.
De facto, os europeus continuam à espera, a mais fatigante das perspectivas.
Adriano Moreira

Ecos da blogosfera – 28 dez.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

HACKERISMO: Um contra-poder contra o PODERIO

O ataque deste fim-de-semana à Stratfor pôs em evidência as debilidades do servidor deste think tank norte-americano para a segurança internacional, mas também o problema de identidade dos Anonymous. Quem são, não se sabe. Nem se consegue confirmar quando alguém diz agir em nome do grupo e dele não faz parte. É o que está a acontecer.
O sistema informático da Stratfor foi violado durante o Natal. Um grupo de hackers conseguiu entrar e aceder a uma lista de assinantes da publicação deste think tank, que reúne e analisa informação de todo o mundo. Foram recolhidos nomes, e-mails, palavras-chave, números de telefone, moradas e cartões de crédito.
A lista com alguns destes dados foi publicada online. Mas só depois de os atacantes terem usado alguns dos cartões de crédito para contribuir com somas avultadas para instituições de caridade como a Cruz Vermelha e a Save The Children, num valor total superior a 1.000.000 de dólares. Nessa lista encontram-se dados de dois portugueses, o general Loureiro dos Santos e Mário Tomé, antigo deputado da UDP.
O ciberataque foi publicitado como obra dos Anonymous e assim noticiado em todo o mundo. A autoria foi pouco depois desmentida, através de um comunicado que explica as razões por que a Stratfor não poderia ter sido alvo de um ataque dos Anonymous: “Como fonte mediática, o trabalho da Stratfor é protegido pela liberdade de imprensa, um princípio que os Anonymous muito estimam”.
“A Stratfor é uma agência de informação open source, que publica relatórios diários sobre os dados recolhidos na Internet aberta. Os hackers que dizem pertencer aos Anonymous distorceram esta verdade, a fim de promover a sua agenda oculta, e alguns ‘Anons’ morderam o isco”, lê-se no comunicado publicado no domingo.
Ontem, segunda-feira, o cibernauta @Kilgoar publicou um outro texto em que sublinha a diferença entre dois grupos de hackers – os Anonymous e o Antisec, a que pertence Sabu, o principal autor do ataque à Stratfor. As críticas têm sido muitas no Twitter, onde outros hackers o acusam de não entender a “sensibilidade” dos Anonymous.
No texto de segunda-feira, Kilgoar argumenta que "as intenções de Sabu e da sua equipa são cada vez mais obscuras" e questiona os restantes Anonymous sobre se devem ou não permitir que se continue a usar o nome do grupo para este tipo de ataques. A sua posição é clara: vota contra. “[Estas] não são acções de anarquistas justos, mas de criminosos oportunistas”, sublinha.
Sabu, por outro lado, acusa os detractores de o odiarem. “Ignorem estes idiotas. Odeiam-me por muitas razões, mas sobretudo porque não me conseguem parar”escreveu no Twitter. Num novo comunicado, publicado nesta terça-feira, o autor do ataque à Stratfor sugere mesmo uma ligação entre os hackers que o repudiam e a empresa, cujos “funcionários estão bem versados em contra-informação”.

Na segunda-feira, a Stratfor alertou os clientes, que têm as suas contas suspensas, para a possibilidade de os seus dados estarem a ser utilizados segunda vez por apoiarem publicamente a empresa, sediada em Austin. Hoje, o site da Stratfor continua offline.

A Stratfor fez ainda saber que a sua lista confidencial de clientes, que inclui agências e departamentos governamentais e intergovernamentais, bancos de crédito e de investimento ou empresas multinacionais, está segura. A Marinha portuguesa, por exemplo, faz parte dessa lista. Os responsáveis pelo think tank informaram que os hackers acederam apenas a uma lista de assinantes do seu boletim informativo.
No meio da confusão política, económica e financeira em que o mundo vive nos dias que correm, por abuso de 1% de cidadãos e sacrifícios consequentes para os restantes 99%, tal situação de impasse e prepotência desta maioria, em muitos países tem emergido muitas convulsões sociais, surgido movimentos cívicos, pacifistas (que tem tido respostas violentas do poder), e nada mais natural do que o aparecimento de outros movimentos de cariz variado e mais radicais.
É o caso dos “Anonymous” e o “Antisec”, que usando a arma mais à mão e que melhor dominam, a Internet, como hackers de 1ª categoria, vão desferindo golpes em instituições nacionais e multinacionais, por um lado com o objetivo de mostrar os “calcanhares de Aquiles” dos sistemas de segurança, criando-lhes insegurança e por outro lado compelidos por um sentimento de reparação das injustiças, tipo “Robin dos Bosques”, sacando aos ricos para darem aos pobres.
Os media, como dependentes do poderio, até já lhes chamam “ciberterrotistas”, deixando de lado o comportamento dos especuladores, a quem deveriam chamar de “mercadoterroristas”, bem como do colaboracionismo dos políticos, a quem deveriam chamar de “democratoterroristas” e ainda a banca, geradora e instigadora do consumismo que engordou a crise, a quem deveriam chamar de “bancarrotaterrorista”…
Se estamos em guerra, a moralidade tem que ser a da guerra e os senhores do mundo conhecem-na bem, porque é a ausência de ética que tão bem exploram e que devem aceitar de quem lhes quer e tem as armas para os vencer, ou resistir…
A ética quando nasceu foi para todos e quando de um lado a ética não conta, para o outro contentor a regra tem que ser a mesma, ainda que continue a haver desproporcionalidade de meios… E no caso, nem há derramamento de sangue, nem “sofrimento” que ultrapasse 1% da população mundial.
E quem não gosta do Robin dos Bosques, ou do Zé do Telhado?
Histórias de encantar, que até as crianças compreendem e querem imitar…
Os think tanks, ou “tanques de pensamento”, são instituições que têm o papel de ajudar a formular o pensamento de uma sociedade em diversas áreas – como política, relações internacionais e meio ambiente, por exemplo – através de livros, artigos, editoriais e outros trabalhos. Geralmente, os think tanks reúnem diversos tipos de académicos, como sociólogos, advogados, cientistas políticos e outros tipos de especialistas.
Os “think tanks” são muito importantes nos Estados Unidos, mas há alguma resistência ao trabalho de alguns deles, já que são financiados por partidos políticos ou por corporações que direcionam um pensamento supostamente neutro para determinados interesses.

Contramaré… 28 dez.

O Presidente do INEM garantiu que Aguiar da Beira, Loulé e Macedo de Cavaleiros vão continuar a dispôr de meios aéreos. Isso acontecerá mesmo que os helicópteros estacionados nessas autarquias deixem de operar à noite. Os voos nocturnos passam a ser assegurados pelos helicópteros que estão em Lisboa e no Porto, mas os médicos contestam a decisão.

Resgate aos bancos e Dívida à troika são ilegítimas?

Éric Toussaint* não está optimista, mas tem uma visão diferente da actual crise e do que fazer para sair dela.
O politólogo e professor universitário belga esteve recentemente em Lisboa para ajudar a lançar a Iniciativa por uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública. Experiência não lhe falta:
É presidente do Comité para Anulação da Dívida do Terceiro Mundo e fez parte da equipa que realizou, entre 2007 e 2008, a auditoria sobre a origem e destino da dívida pública do Equador, ao serviço do novo Governo de esquerda do país, num processo que levou ao julgamento de vários responsáveis políticos e à decisão unilateral de não pagar parte da dívida equatoriana. Acredita que o mesmo pode acontecer na Europa. Mas isso implica romper com as exigências da troika.
Depois das decisões que saíram da última cimeira europeia, acha que a crise da dívida está próxima do fim?
Esta é uma crise que vai durar 10 ou 15 anos, porque o problema fundamental não é a dívida pública, mas sim os bancos europeus. E não estou a falar dos pequenos bancos portugueses ou gregos. O problema é que os grandes bancos – Deutsche Bank, BNP Paribas, Credit Agricole, Société Generale, Commerzbank, Intesa Sanpaolo, Santander, BBVA – estão à beira do precipício. Isso é muito pouco visível no discurso oficial. Só se fala da crise soberana, quando o problema é a crise privada dos bancos.
Está a referir-se à exposição dos bancos à dívida pública de alguns países do euro?
Não, não é a exposição à dívida soberana, mas sim a derivados tóxicos do subprime [crédito de alto risco]. Está a ocultar-se que todo o conjunto de derivados adquiridos entre 2004 e 2008 continuam nas contas dos bancos, porque são contratos a 5, 10 ou 15 anos. Só quando o contrato chegar ao fim é que se vai descobrir a amplitude da toxicidade e das perdas, visto que as contas actuais dos bancos mostram esses derivados avaliados, não ao valor de mercado, mas ao valor facial, do contrato. Foram, aliás, esses problemas com os activos tóxicos que geraram os da dívida soberana. Em 2008, quando os bancos deixaram de conceder crédito entre si, o investimento mais seguro era comprar títulos da dívida soberana e os mais rentáveis eram da Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália. Então, os bancos compraram muitos títulos para substituir os derivados que tinham. Agora, têm os dois, porque não conseguiram desfazer-se dos primeiros. Mas é totalmente falso dizer que o problema actual é a dívida soberana. É a soma dos dois.
Há, contudo, uma crise da dívida, que obrigou a Grécia, Portugal e a Irlanda a pedir ajuda. Como é que avalia a resposta que foi dada para estes países com os planos da troika?
Esses planos vão piorar a situação desses países, isso é absolutamente claro. A redução maciça das despesas públicas e do poder de compra da maioria da população vai diminuir a procura e as receitas fiscais e provocar ainda mais necessidade de o país se endividar para pagar a dívida. Tanto a política da troika na Grécia, Irlanda e Portugal, como a política da Comissão Europeia e dos países do Centro, como a Alemanha e a França, vai provocar mais recessão. A própria Alemanha vai ter problemas, porque precisa de ter quem compre os seus produtos.
Qual seria a solução? Uma reestruturação da dívida?
Em Portugal a reestruturação está muito na moda, mas não gosto dessa palavra. Na história da dívida, a reestruturação corresponde a uma operação totalmente controlada pelos credores. Quando o devedor quer tomar a iniciativa, tem de suspender os pagamentos da dívida, para obrigar os credores a sentarem-se à mesa e discutir condições. Uma reestruturação é o que a troika vai fazer na Grécia, impondo um corte de 50% na dívida dos bancos privados, em troca de mais austeridade no país. Contudo, sem redução da dívida à troika, que se tornou o maior credor da Grécia e, ainda por cima, privilegiado, este tipo de reestruturação só alivia de maneira conjuntural o pagamento da dívida. Não é uma solução de verdade.
Que solução seria essa?
Sei que esta ideia está fora do debate público, mas, para mim, se um país quiser sair desta crise, tem de romper com a troika. Tem de dizer: senhores, as condições que nos impõem são injustas e não nos servem a nível económico.
Mas se Portugal ou outro país disser isso, não terá de sair da zona euro?
Não acho que seja automático, mas é claro que é complicado. A Alemanha beneficia com o euro, pelas suas exportações e inclusive pelos empréstimos a Portugal. Quando vai financiar-se ao mercado, a Alemanha paga 1%, mas empresta a Portugal a 5%. Não é generosidade, é um bom negócio para a Alemanha. O que Portugal precisa é de uma política soberana em que o Estado declarasse não querer sair da zona euro, mas dissesse que as condições impostas pela troika são inaceitáveis para os cidadãos e para o interesse do país. Caso contrário, a troika só fará mais exigências, que não permitirão ao país sair da situação em que se encontra. Se Portugal disser não à troika, esta seria obrigada a sentar-se à mesa e renegociar a dívida e as condições que impõe. E não me parece que a troika queira a saída de um país do euro.
Como se insere neste processo a auditoria à dívida pública?
A auditoria é um processo promovido sobretudo por cidadãos para romper o tabu da dívida soberana, que nunca se discute nem se analisa. Até pode ser má, mas há que pagá-la, porque uma dívida paga-se sempre, quando, na realidade, tanto ao nível de um particular, de uma empresa ou de um Estado, uma dívida ilegítima, ilegal ou imoral é uma dívida nula. E há toda uma vasta história de anulação e suspensão dessa dívida.
O que é uma dívida ilegítima?
A ilegitimidade é um conceito cuja definição não se encontra no dicionário. É a forma como os cidadãos interpretam, de forma rigorosa, o respeito aos princípios da nação, da construção do país e do direito interno e internacional. Uma dívida ilegítima é, por exemplo, uma dívida contraída porque o Estado favoreceu uma pequena minoria, reduzindo impostos sobre as grandes empresas multinacionais ou as famílias mais ricas, que assim diminuíram a sua contribuição para as receitas fiscais, obrigando o Estado a endividar-se. Esta contra-reforma fiscal aconteceu em toda a Europa e também nos EUA, com o anterior presidente, George W. Bush. Os resgates aos bancos são outro exemplo. O custo de ajudar os banqueiros, que foram totalmente aventureiros, desviando os depósitos dos seus clientes para investir no subprime, implicou um aumento da dívida soberana, que é totalmente ilegítimo. Não podiam ter sido resgatados dessa forma, os grandes accionistas não deviam ter sido indemnizados.
A dívida à troika também é ilegítima?
Sim. Foi uma dívida contraída para impor um desrespeito aos direitos económicos e sociais da população. Há uma chantagem da troika, que dá crédito para pagar aos credores, que são eles próprios e os bancos dos países do Centro europeu, e, em contrapartida, exige austeridade. Não há dúvida: é uma dívida ilegítima.
Organizou uma auditoria à dívida do Equador... O que Portugal poderia retirar desse exemplo?
É uma situação diferente. No Equador, o novo presidente tinha sido eleito com o mandato de fazer uma auditoria da dívida pública, de modo a definir que parte era ilegítima e não seria paga.
Vê possibilidade de isso acontecer na Europa?
Com uma mudança de Governo, sim. Não pode ser um Governo que defende os acordos com a troika a fazer uma auditoria à dívida. O descontentamento das populações pode abrir caminho a isso, mas não sei quando é que uma mudança desse tipo pode ocorrer na Europa. Os latino-americanos viveram 15 a 20 anos de neoliberalismo e de aceitação do pagamento da dívida soberana. Espero que não demoremos 20 anos na Europa.
Ou estes técnicos conceituados, que contraiam a ortodoxia são esquerdistas(?) por não estarem no sistema, ou os são “ortodoxos” são de direita(?) por viverem do e no sistema, porque não dá para entender estes últimos e percebe-se facilmente os primeiros.
Já era tempo de os media mudarem de comentadores, porque o que todos eles dizem (sempre os mesmos, do mesmo cantão) é aquilo que não queremos ouvir e pelos vistos há razões que outros poderiam ajudar o PM na recuperação da esperança perdida.
Ou este senhor é louco, ou a comunicação social o cala, por pensar que a sua “loucura” pode ser contagiosas…
*Éric Toussaint - doutor em Ciência Política da Universidade de Liège e Paris VIII, presidente da CADTM Belga, membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial e da Comissão presidencial de auditoria da dívida (CAIC) do Equador, membro do Conselho Científico da ATTAC França, autor dos livros: Um olhar no espelho retrovisor. A ideologia neoliberal das origens até hoje (Cherry, 2010), O Banco do Sul e a nova crise internacional (CADTM-Syllepse, 2008), Banco Mundial: o golpe de Estado permanente (CADTM-Syllepse-Cetim, 2006 ), Finança contra o povo (CADTM-Syllepse-Cetim, 2004). Co-autor com Damien Millet de livros: Crise, que crise? (Aden-CADTM-Cetim, 2010), 60 perguntas 60 respostas sobre a dívida, o FMI e o Banco Mundial (CADTM-Syllepse, 2008) e O tsunami de dívida (CADTM-Syllepse, 2005). Próximo livro a ser publicado em Junho de 2011: Vida ou Dívida, Aden-CADTM, 2011 (obra coletiva coordenada por Damien Millet e Eric Toussaint).

Ecos da blogosfera – 27 dez.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Apesar de desaparecida no silêncio noticioso…

Ao rejeitarem, num referendo, o resgate dos seus bancos tóxicos e o pagamento da dívida externa, os cidadãos islandeses mostraram que é possível fugir às leis do capitalismo e tomar o destino nas próprias mãos, escreve um historiador espanhol.
Desde Óscar Wilde que é sabido que um mapa sem a ilha da Utopia é um mapa que não presta. No entanto, que a Islândia tenha passado de menina bonita do capitalismo tardio a projeto de democracia real, sugere-nos que um mapa sem Utopia não só é indigno que o olhemos, como também um engano de uma cartografia defeituosa. O farol de Utopia, quer os mercados queiram quer não, começou a emitir ténues sinais de aviso ao resto da Europa. 
A Islândia não é a Utopia. É conhecido que não pode haver reinos de liberdade no império da necessidade do capitalismo tardio. Mas é sim o reconhecimento de uma ausência dramática. A Islândia é a prova de que o capital não detém toda a verdade sobre o mundo, mesmo quando aspira a controlar todos os mapas de que dele dispomos.
Com a sua decisão de travar a marcha trágica dos mercados, a Islândia abriu um precedente que pode ameaçar partir a espinha dorsal do capitalismo tardio. Por agora, esta pequena ilha, que está aquilo que se dizia ser impossível por ser irreal, não parece desaparecer no caos, apesar de estar desaparecida no silêncio noticioso. Quanta informação temos sobre a Islândia e quanta temos sobre a Grécia? Porque é que a Islândia está fora dos meios que nos deviam contar o que acontece no mundo?  
Uma Constituição redigida por assembleias de cidadãos
Até agora, tem sido património do poder definir o que é real e o que não é, o que pode pensar-se e fazer-se e o que não pode. Os mapas cognitivos usados para conhecer o nosso mundo sempre tiveram espaços ocultos onde reside a barbárie que sustenta o domínio das elites. Esses pontos obscuros do mundo costumam acompanhar a eliminação do seu oposto, a ilha da Utopia. Como escreveu Walter Benjamin: qualquer documento de cultura é, ao mesmo tempo, um documento de barbárie.
Estas elites, ajudadas por teólogos e economistas, têm vindo a definir o que é real e o que não é. O que é realista, de acordo com esta definição da realidade, e o que não o é e, portanto, é uma aberração do pensamento que não deve ser tida em consideração. Ou seja, o que se deve fazer e pensar e o que não se deve. Mas fizeram-no de acordo com o fundamento do poder e da sua violência: o terrível conceito da necessidade. É preciso fazer sacrifícios, dizem com ar compungido. Ou o ajuste, ou a catástrofe inimaginável. O capitalismo tardio expôs a sua lógica de um modo perversamente hegeliano: todo o real é necessariamente racional e vice-versa.
Em janeiro de 2009, o povo islandês revoltou-se contra a arbitrariedade desta lógica. As manifestações pacíficas das multidões provocaram a queda do executivo conservador de Geir Haarde. O governo coube então a uma esquerda em minoria no Parlamento que convocou eleições para abril de 2009. A Aliança Social-democrata da primeira-ministra, Jóhanna Sigurðardóttir, e o Movimento Esquerda Verde renovaram a sua coligação governamental com maioria absoluta.
No outono de 2009, por iniciativa popular, começou a redação de uma nova Constituição através de um processo de assembleias de cidadãos. Em 2010, o governo propôs a criação de um conselho nacional constituinte com membros eleitos ao acaso. Dois referendos (o segundo em abril de 2011) negaram o resgata aos bancos e o pagamento da dívida externa. E, em setembro de 2011, o antigo primeiro-ministro, Geeir Haarde, foi julgado pela sua responsabilidade na crise.
Qualquer mapa da Europa devia ter o ponto de fuga na Islândia
Esquecer que o mundo não é uma tragédia grega, em que a roda do destino ou do capital gira sem prestar atenção a razões humanas, é negar a realidade. É óbvio que essa roda é movida por seres humanos. Tudo aquilo que pudermos imaginar como possível é tão real como aquilo que os mercados nos dizem ser a realidade. A possibilidade e a imaginação, recuperadas na Islândia, mostram-nos que são tão certas como a necessidade pantagruélica do capitalismo. Só temos de responder a esse chamamento para descobrir o logro em que nos pretendem fazer acreditar. Não há outra alternativa, clamam. Por acaso, algum dos que nos anunciam sacrifícios se deu ao trabalho de rever o seu mapa do mundo?
A Islândia demonstrou que a nossa cartografia tem mais coisas do que aquelas que nos dizem. Que é possível dominar, e aí reside o princípio da liberdade, a necessidade. A Islândia, no entanto, não é um modelo. É uma das possibilidades do diferente.  A tentativa da multidão islandesa de construir o futuro com as suas decisões e com a sua imaginação mostra-nos a realidade de uma alternativa.
Porque a possibilidade da diferença proclamada pela multidão é tão real como a necessidade do mesmo que o capital exige. Na Islândia decidiram não deixar que o amanhã seja ditado pela roda trágica da necessidade. Continuaremos nós a deixar que o real seja definido pelo capital? Continuaremos a entregar o futuro, a possibilidade e a imaginação aos bancos, às empresas e aos governos que dizem fazer tudo aquilo que realmente pode ser feito?
Todos os mapas da Europa deviam ter a Islândia como sua saída de emergência. Esse mapa deve construir-se com a certeza de que o possível está tão dentro do real como o necessário. A necessidade é apenas mais uma possibilidade do real. Há alternativa. A Islândia recorda-no-lo ao proclamar que a imaginação é parte da razão. É a multidão que definirá o que é o real e o realista usando a possibilidade da diferença. Deste modo, não acalentaremos consolo de sonhadores, mas baseemo-nos sim numa parte da realidade que o mapa do capital quer apagar completamente. A existência de Utopia daí depende. E com ela, o próprio conceito de uma vida digna de ser vivida.

Contramaré… 27 dez.

O dono de uma pastelaria de Braga queixou-se de "perseguição", depois de ter sido detido 16 vezes em 3 meses pela GNR por se encontrar dentro do estabelecimento uns minutos para além do horário de funcionamento. Sempre que isso acontece é detido e levado no carro da GNR até ao posto da GNR no Sameiro, onde passa "à volta de uma hora" no preenchimento do auto de notícia.

Os media pensarão que somos todos broncos?

O nome não me era estranho. Eu já o vira de relance em algum jornal ou revista. Mas não me interessei. Aquele nome, para mim, não passava de um bolso vazio. Eu não tinha a menor ideia do que havia dentro dele. Sou seletivo nas minhas leituras. Leio gastronomicamente. Diante de jornais e revistas eu comporto-me da mesma forma como me comporto diante de uma mesa de bufet: provo, rejeito muito, escolho poucas coisas. Concordo com Zaratustra: “Mastigar e digerir tudo - essa é uma maneira suína.“
Aquele bolso devia estar cheio de coisas dignas de serem comidas – caso contrário não teria sido oferecido como banquete nas páginas amarelas da VEJA. Mas eu não comi. Aí um amigo me enviou via e-mail cópia de uma crónica do Arnaldo Jabor, a propósito do dito nome – crónica que eu li e gostei: sou amante de pimentas e jilós.
Senti-me parecido com o Mr. Gardner, do filme “Muito além do jardim”, com Peter Sellers. Mr. Gardner jamais lia jornais e revistas. Aproximei-me então da minha assessora e perguntei-lhe, envergonhado, temeroso de que ela tivesse visto o dito filme, e me identificasse com o Mr. Gardner. “Natália, quem é Adriane Galisteu?” Esse era o nome do bolso vazio. Ela deu uma risadinha e me explicou. À medida que ela explicava, as coisas que eu tinha lido começaram a fazer sentido, e eu lembrei-me de uma estória que a minha mãe me contava: uma princesinha linda que, quando falava, de sua boca saltavam rãs, sapos, minhocas, cobras e lagartos... Terminada a explicação, fiquei feliz por não ter lido. Lembrei-me de uma advertência de Schopenhauer: “No que se refere às nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante. Essa arte consiste em nem sequer folhear o que ocupa o grande público. Para ler o bom uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos... Muitos eruditos leram até ficar estúpidos.” Existirá possibilidade de que a leitura dos jornais nos torne estúpidos?
O que está em jogo não é a dita senhora, que pode pensar o que lhe for possível pensar. O que está em jogo é o papel da imprensa. Qual a filosofia que a move ao selecionar comida como essa para ser servida ao povo?
A resposta é a tradicional: “A missão da imprensa é informar”. Pensa-se que, ao informar, a imprensa educa. Falso. Há milhares de coisas a acontecer e seria impossível informar tudo. É preciso escolher. As escolhas que a imprensa faz revelam o que ela pensa do gosto gastronómico dos seus leitores.
Os jornais são refeições, bufet de notícias selecionadas segundo um gosto preciso. Se o filósofo alemão Ludwig Feuerbach estava certo ao afirmar que “somos o que comemos”, será forçoso concluir que, ao servir refeições de notícias ao povo os jornais estão a realizar uma magia perversa sobre os seus leitores: depois de comer eles serão iguais àquilo que leram.
Faz tempo que parei de ler jornais. Leio, sim, movido pelo espírito da leitura dinâmica, apressadamente, deslizando os meus olhos pelas manchetes para saber não o que está acontecendo, mas para ficar a par do menu de conversas estabelecido pelos jornais. Muita coisa importante e deliciosa acontece sem virar notícia, por não combinar com o gosto gastronómico dos leitores. Se não fizer isto ficarei excluído das rodas de conversa, por falta de informações. Parei de ler os jornais, não por não gostar de ler, mas precisamente porque gosto de ler. As notícias dos jornais são incompatíveis com os meus hábitos gastronómicos: leio bovinamente, vagarosamente, como quem pasta... ruminando. O prazer da leitura, para mim, está não naquilo que leio mas naquilo que faço com aquilo que leio. Ler, só ler, é parar de pensar. É pensar os pensamentos de outros. E quem fica o tempo todo a pensar o pensamento de outros acaba por desaprender a arte de pensar os seus próprios pensamentos: outra lição de Schopenhauer. Pensar não é ter as informações. Pensar é o que se faz com as informações. É dançar com o pensamento, apoiando os pés no texto lido: é isso que me dá prazer. Suspeito que a leitura meticulosa e detalhada das informações tenha, frequentemente, a função de tornar desnecessário o pensamento. Pensar os próprios pensamentos pode ser dolorido. Quem não sabe dançar corre sempre o perigo de escorregar e cair... Assim, ao entupir-se de notícias – como o comilão grosseiro que se entope de comida – o leitor livra-se do trabalho de pensar.
Confesso que não sei o que fazer com a maioria das notícias dos jornais: entendo as palavras mas não entendo a notícia. Penso: se eu não entendo a notícia que leio, o que acontecerá com o “povão”? Outras notícias só fazem explicitar o que já se sabe. Detalhes, cada vez mais minuciosos, das tramóias políticas e económicas (de um Maluf, de um Jader), nada acrescentam ao já sabido. Esse gosto pela minúcia escabrosa deriva da pornografia, que encontra os seus prazeres na contemplação dos detalhes sórdidos, que são sempre os mesmos, como o comprovam as salas de “imagens eróticas” da Internet. A dita reportagem sobre a tal senhora e as notícias sobre Jader e Maluf atendem às mesmas preferências gastronómicas. Será que as notícias são selecionadas para dar prazer aos gostos suínos da alma? Por outro lado, há os suplementos culturais que, para serem entendidos, é preciso ter doutoramento. Para o povão, o futebol...
No final da sua crónica o Arnaldo Jabor dá um grito: “Os órgãos de imprensa devem ter um papel transformador na sociedade...” Dizendo do meu jeito: os órgãos de imprensa têm de contribuir para a educação do povo. Mas educar não é informar. Educar é ensinar a pensar. Os jornais ensinam a pensar? Repito a pergunta: Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos?
Rubem Alves (Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 02/09/2001)

Ecos da blogosfera – 26 dez.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A carta de Passos Coelho para o Menino Jesus…

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, considera que os portugueses têm motivos para ter esperança e que o seu esforço irá valer a pena, quando o Governo antecipa que 2012 seja marcado por reformas estruturais focadas na "democratização da economia".
"Aproveitemos, pois, esta quadra natalícia para recobrar o fôlego para as grandes tarefas que nos aguardam. Neste Natal temos razões para olhar de frente o futuro com esperança porque sabemos o que queremos. E porque sabemos que os portugueses têm sido corajosos e que o seu esforço vai valer a pena", declarou Pedro Passos Coelho na mensagem de Natal difundida este domingo.
Sublinhando que "um dos objectivos prioritários do programa de reforma estrutural do Governo consiste precisamente na recuperação e no fortalecimento da confiança", o primeiro-ministro afirmou que "com mais confiança vem mais solidariedade, mais democracia, mais justiça e mais vitalidade social".
"Para construir a sociedade de confiança que queremos temos de reformar a Justiça, temos de tornar muito mais transparentes a máquina administrativa e as decisões públicas, temos de abrir a concorrência, agilizar a regulação e acelerar a difusão de uma cultura de responsabilidade no Estado, na economia e na sociedade", indicou o primeiro-ministro.
Pedro Passos Coelho acentua que "2012 será um ano de grandes mudanças e transformações", sendo que "a orientação geral de todas essas reformas será a democratização da nossa economia".
"Queremos colocar as pessoas, as pessoas comuns com as suas actividades, com os seus projectos, com os seus sonhos, no centro da transformação do País. Queremos que o crescimento, a inovação social e a renovação da sociedade portuguesa venha de todas as pessoas, e não só de quem tem acesso privilegiado ao poder ou de quem teve a boa fortuna de nascer na protecção do conforto económico", declarou Passos Coelho.
Nota prévia – não ouvi a homilia, por não ser crente, nem praticante, só li os vários relatos, unânimes e acríticos, razão porque até poderei ser demagogo, até o futuro me desmentir.
A primeira “verdade” anunciada e já requentada é que 2012 será um ano de grandes mudanças e transformações, dando continuidade às grandes mudanças e transformações já impostas em 2011, dentro da mesma filosofia e prática política de cilindrar a classe média para proteger a banca, os empresários e a classe política.
A segunda verdade, verdadeira, é que neste Natal o governo tem razões para olhar de frente o futuro com esperança porque sabe o que quer (implantar um capitalismo neoliberal, frio, musculado e implosivo da estrutura social), que é tudo ao contrário do que prometeu, só por imposição da troika, que até já tinha esboçado um memorando antes das promessas eleitorais.
A terceira verdade (que é mais um desejo/pedido) é dizer que sabe que os portugueses têm sido corajosos (mansos, covardes e acomodados) o que lhe permite pensar e que o seu (dele) esforço vai valer a pena para atingir as metas ocultas…
A primeira falácia é dizer que um dos objectivos prioritários da reforma estrutural (despedimentos, confiscos e assistencialismo temporário) do Governo consiste na recuperação e no fortalecimento da confiança (quando houve), sendo a primeira medida este béu béu de “padre cura”.
A segunda falácia silogística é acreditar que vai aumentar a tal confiança, que só por si (milagre de Natal) vem mais solidariedade (com a banca e os criminosos do setor), mais democracia (não haverá referendos, as greves constitucionalmente garantidas serão condenadas por razões económicas e as manifestações serão protegidas pelas forças de segurança) mais justiça (os correlegionários do BPN e BPP vão ser julgados) e mais vitalidade social (através da ação da Caritas e das filhas das “Popotas”).
A terceira falácia será a democratização da nossa economia (muitos continuarão a pagar as dívidas de alguns com muitas mais posses e culpas exclusivas no cartório), tendo essas reformas como orientação geral o desenho já feito este ano, esboçado por quem não tem jeito, nem inteligência para tais habilidades.
Moral da história: QUER que o crescimento, QUER que a inovação social e a renovação da sociedade venha não só de quem tem acesso ao poder, ou de quem nasceu na protecção do conforto económico. QUER…
Do que se leu e ouviu nos extratos, fica-se com a ideia de que o PM ainda está na oposição, não se lembra que é ele o responsável pela (in)atividade política dos últimos 6 meses e pede “prendinhas” ao Menino Jesus com uma fé “infantil”, que denuncia a falta de maturidade para as funções…
Podia ter aproveitado para renunciar ao subsídio de férias e de Natal dos próximos anos…
As outras homilias, quer de D, Policarpo, quer de D. Cavaco, estruturaram-se nos mesmos valores, de consolar os pobres, incutir-lhes a “esperança” de que o nosso fado é falta de património material, que convém preservar para eles terem a quem pregar…
"A mensagem foi realista porque não ignora a exigência do próximo ano e as promessas que Portugal vai ter de cumprir. É realista também porque tem consciência - o primeiro-ministro refere-o - dos sacrifícios que muitos portugueses estão a fazer neste momento, e salientou os mais novos e os mais velhos como alguns dos que estão a sentir esses sacrifícios", considerou João Almeida, porta-voz e vice-presidente da bancada parlamentar do CDS-PP.
A fé de quem quer acreditar é tão grande, que o presidente do falido “Os Belenenses” (que o vai recuperar com a tática do PM) conseguiu descortinar algo de real nas “medidas” anunciadas pelo seu guru, sem se esquecer que os mais novos e os mais velhos estão a ser sacrificados, mas sem dizer em favor de quem…
Também podia ter aproveitado para anunciar a renúncia dos deputados do partido ao subsídio de férias e de Natal dos próximos anos…
"É uma mensagem que se pode resumir a um conjunto de palavras falsas, que soam a mentira aos ouvidos dos portugueses", disse Jorge Cordeiro, da comissão política do PCP, num comentário às palavras de Pedro Passos Coelho.
Segundo o comunista, "no centro das preocupações não está o país nem os portugueses, como o primeiro-ministro quis fazer crer. Estão os interesses dos grupos financeiros, da banca, dos grandes grupos económicos".
Não foram palavras falsas que PPC proferiu, foram ideias travestidas de desejos natalícios, que acabam no dia de Ano Novo…
Também podia ter aproveitado para anunciar a renúncia dos deputados do partido ao subsídio de férias e de Natal dos próximos anos…
O PS afirmou hoje "esperar mais contrição" no discurso de Natal do primeiro-ministro, "pelas promessas não cumpridas e pela insensibilidade que o Governo revelou em tantas medidas" que concretizou desde que tomou posse, disse o secretário nacional do partido, João Ribeiro, que sublinhou que Pedro Passos Coelho "cumpriu o ritual, a tradição das mensagens de Natal", mas disse que "esperava mais". "Esperava que o primeiro-ministro, mais do que dizer o que deve ser feito, fizesse. Um primeiro-ministro faz, não anuncia", vincou.
Claro que não compete ao PM dizer o que deve ser feito (isso dizemos todos, até os deputados da oposição), mas dizer o que fez e que vai fazer, como e quando e quem serão os prejudicados e os beneficiados.
Também podia ter aproveitado para anunciar a renúncia dos deputados do partido ao subsídio de férias e de Natal dos próximos anos…
O dirigente e eurodeputado do BE, Miguel Portas, alegou que "o Governo projeta modificar em 2012 as fórmulas de cálculo das pensões de reforma…", o que não foi referido por Passos Coelho na mensagem, na qual este se comprometeu a "honrar os compromissos" e questionou onde está o "ataque aos núcleos de privilégios injustificados" de que falou.
O BE não tem razão ao dizer que PPC não vai honrar os compromissos, porque vai, mas só os que assumiu (mais 50%) com a troika. Os ataques aos privilégios também serão atacados (por imposição da troika), aos Funcionários Públicos, à classe média e aos “mais desfavorecidos”, que levaram o país ao patamar do lixo reciclável…
Também podia ter aproveitado para anunciar a renúncia dos deputados do partido ao subsídio de férias e de Natal dos próximos anos…