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sábado, 11 de janeiro de 2014

O poderio no Poder ou o poder do Poderio?

José Luís Arnaut foi escolhido para integrar o conselho consultivo internacional da Goldman Sachs.
As funções do ex-ministro passam por dar “aconselhamento estratégico à empresa num alargado leque de negócios, regiões, políticas públicas e assuntos económicos, com um foco particular em Portugal e nos países africanos de língua portuguesa", referiu a Goldman Sachs em comunicado.
Está a gerar polémica a nomeação para o conselho consultivo internacional da Goldman Sachs de José Luís Arnaut, ex-ministro no Governo de Durão Barroso, ex-secretário-geral do PSD e é membro do conselho de administração da REN.
O PS fala em confusão entre a política e negócios. Lembra que o ex-ministro interveio em privatizações como a dos CTT, em que o Banco é acionista.
José Luís Arnaut passa a ser o 2.º português, depois de António Borges, ocupar um cargo de relevo num dos bancos de investimento mais poderosos do mundo. Vai substituir Mario Monti, ex-primeiro-ministro italiano.
O jornal "Expresso" adianta que nas negociações dos swaps com o Estado, a firma de advogados de Arnaut representou os interesses de bancos como o Goldman Sachs e o JP Morgan.
“Deus os faz, eles se juntam”, um ditado a copiar?
Conheça os colegas do português José Luís Arnault no conselho consultivo internacional da Goldman Sachs:
Robert Zoellick – Presidente (americano) do International Advisory Board da Goldman Sachs e ex-presidente do Banco Mundial;
Claudio Aguirre - Banqueiro espanhol é um dos sócios-fundadores e atual presidente do Altamar Private Equity;
Erik Åsbrink - Antigo ministro das Finanças sueco;
Efthymios Christodoulou - Economista e banqueiro grego, foi governador do banco central do seu país. Também passou pelo Banco Mundial, pelo FMI e foi eurodeputado;
Charles Curran - É um empresário australiano, filantropo, antigo corretor de bolsa e ex-presidente do mercado de valores de Sydney. Fundou o Vincent's Hospital's Curran Foundation e integra o European Australian Business Council;
Charles de Croisset - Antigo presidente do Crédit Commercial de France e foi também vice-presidente do Goldman Sachs Europe;
Guillermo de la Dehesa - Economista espanhol trabalhou vários anos para o FMI e no Banco Mundial. Foi secretário de Estado de Economia e Finanças;
Vladimír Dlouhý - Político e economista checo, depois de ter sido ministro da indústria e do comércio da República Checa quis, sem sucesso, ser presidente daquele país, em 2013;
Walter W. Driver Jr. - O norte-americano foi presidente da firma de advogados King & Spalding LLP entre 1970 e 2006;
Lord Griffiths of Fforestfach – (O inglês) foi conselheiro da antiga primeira-ministra Margaret Thatcher;
Victor Halberstadt - Economista holandês, professor de economia do setor público na Universidade de Leiden. Foi Presidente do Instituto Internacional de Finanças Públicas e Chairman of the International advisory board at DaimlerChrysler AG;
Otmar Issing - Alemão, foi economista principal no Banco Central Europeu e também fez parte da comissão executiva do Bundesbank;
Roberto Junguito - Economista colombiano, 2 vezes ministro das Finanças e Crédito Público. Ministro da Agricultura, diretor do Conselho do Banco central da Colômbia, diretor-executivo colombiano do FMI e presidente da Federação Colombiana de Seguros;
Ian Macfarlane - Economista australiano, governador do Banco Central da Austrália entre 1996 e 2006;
Axel May - (De nacionalidade não encontrada) é o director-geral da Harald Quandt Holding GmbH, faz parte da administração do Centennium Capital Partners e é também diretor da Vontobel Asset Management, Inc;
Tito Mboweni - Foi governador do Banco Central da África do Sul entre 1999 e 2009. Membro fundador da Mboweni Brothers Investment Holdings;
Enrico Vitali - Sócio diretor da Tremonti, Vitali, Romagnoli, Piccardi e Associati. Membro do Conselho Consultivo da BlueGem Capital Partners LLP. Diretor da HOPA S.P.A. e diretor da Cementir SpA. Membro do Conselho de Revisores Oficiais de Contas e do Conselho de administração de vários bancos e empresas italianas.

Ecos da blogosfera - 11 jan.

Ganhando o céu rapinando a terra…

Há católicos tão bem, tão bem, tão bem, que tratam Deus por tio. De facto, chamá-Lo pai seria ficar automaticamente irmã, ou irmão, dessa gentinha pé-descalço e malcheirosa que vai à Cova da Iria de xaile e garrafão. Tratá-Lo por Senhor seria reconhecer-se de uma condição servil, que está muito bem para as criadas e para os chauffeurs, mas que não é compatível com quem é, há várias gerações, gente de algo.
Gonçalo Portocarrero de Almada 
Os sobrinhos de Deus gostam muito de Jesus, porque Ele é superfantástico: andou sobre o mar e fez montes de coisas giríssimas. Gostam tanto d’Ele que até Lhe perdoam o ter sido carpinteiro, pormenor de gosto duvidoso, que têm a caridade de omitir, sempre que, ao chá, falam d’Ele. Também têm muita devoção ao Espírito Santo: à família do banco, claro, pois conhecem-na toda da Quinta da Marinha e de um ror de sítios muito in, que tudo o que é gente frequenta.
Alguns foram a Fátima a pé e acharam o máximo. Levaram uns ténis de marca, roupa desportiva q. b. e um padre da moda. Rezaram imenso, tipo um terço, sei lá. O resto do tempo foi à conversa, sobretudo a cortar na casaca de uns quantos novos-ricos, um bocado beatos, que também se integraram na peregrinação (já agora, aqui para nós, mais por fervor aos sobrinhos de Deus do que a Nossa Senhora, mas note-se que isto não é ser má-língua, mas a pura verdade, à séria).
Têm imenso gosto e casas estupendas. Quando olham para um crucifixo em pau-santo, com imagem de marfim e incrustações de prata, são capazes de reconhecer o estilo, provavelmente indo-europeu, identificar a punção, pela certa de algum antigo joalheiro da Coroa, e a data, até porque, geralmente, é igualzinho a um lá de casa, ou muito parecido ao da capela da quinta. Só não vêem o Cristo, nem a coroa de espinhos, nem as chagas, que são coisas de menos importância.
Detestam essas modernices do abraço da paz ou da Igreja dos pobres, mas não é que tenham nada contra os pobres, apenas receio de doenças contagiosas.
Também não são muito fãs do senhor prior, nem do Papa Francisco, simplórios de mais para os seus gostos sofisticados. Mas derretem-se quando se cruzam, nalgum cocktail, exposição ou concerto na Gulbenkian, ou em São Carlos, com alguém que os fascine pelo seu glamour, pela sua cultura, pela sua inteligência ou poder porque, na realidade, o principal santo da sua devoção é o príncipe deste mundo.
Uma só coisa aflige os sobrinhos de Deus: que o céu, onde já têm lugar reservado, esteja mesmo, como se diz no sermão das bem-aventuranças, cheio de maltrapilhos. 
1) Qualquer relação com a realidade não é coincidência, mas um azar dos diabos.
Não só católicos, mas também cristãos, de cá ou de qualquer outra latitude, procuram ganhar o céu rapinando na terra, trilhando os caminhos espinhosos de servir os outros, fazendo política…
Metade dos atuais membros do Congresso dos Estados Unidos, democratas ou republicanos, são milionários, o que ocorre pela 1.ª vez na história da instituição, segundo uma organização que avalia a influência do dinheiro na política.
Pelo menos 268 dos 534 congressistas atualmente na Câmara dos Representantes e no Senado teve em 2012 um rendimento líquido igual ou superior a 1.000.000 de dólares (cerca de 732.000 euros), segundo as declarações anuais obrigatórias.
O rendimento líquido médio é de 1.008.767 dólares mas, em alguns casos, o rendimento eleva-se a centenas de milhões, segundo a análise divulgada pelo Center for Responsive Politics (CRP) no site 'OpenSecrets.org'.

Contramaré… 11 jan.

O ajustamento da CES passa a afectar todas as pensões acima dos 1.000 euros brutos. Medida afecta pensionistas do público e do privado e o corte para os que até eram poupados vai até aos 47 euros.
O plano B do Governo para tapar o buraco de 388 milhões de euros será pago sobretudo pelos pensionistas do Estado que, além de serem os principais penalizados pela contribuição extraordinária de solidariedade (CES), também vão descontar mais 1% do salário para a ADSE e para os subsistemas dos militares e das forças de segurança.
Quase 60% (262.577) do total dos aposentados do Estado terão um duplo corte na sua pensão em 2014.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Afinal havia outra(s)…

Medidas do Memorando de Entendimento executadas “de forma bruta e abrupta” revelaram-se “pouco eficazes”, considera o presidente do CES.
O presidente do Conselho Económico e Social (CES) apontou 6 erros que justificam “o desfasamento” entre as metas previstas e o executado no âmbito do programa da troika em Portugal, que teve como consequência “uma desestruturação da sociedade”.
Numa intervenção proferida na Comissão do Emprego e Assuntos Sociais, no Parlamento Europeu (PE), em Bruxelas, no quadro do programa da troika aplicado em Portugal, Silva Peneda afirmou que “o programa nasceu imbuído de 6 erros maiores que têm muito a ver com o desconhecimento da realidade da economia portuguesa”.
O 1.º erro apontado prende-se com “uma inadequada caracterização da crise” por parte dos credores internacionais, que subestimaram os “profundos desequilíbrios estruturais” num país cuja economia assenta em pequenas e médias empresas “muito fortemente descapitalizadas”.
O 2.º erro, foi que a troika “não teve em devida conta os elevados níveis de endividamento das empresas e das famílias”.
O 3.º e 4.º erro apontado foi a negligência perante o peso da procura interna e o forte impacto negativo da sua redução sobre o crescimento e o emprego.
O 5.ª erro foi a implementação de uma “Reforma do Estado confinada à lógica da redução mais ou menos indiscriminada da despesa”, focada nos cortes salariais dos funcionários públicos e na redução das reformas.
Por último, o 6.º erro prende-se com “a escassez de tempo para a execução do programa”.
O Governo e a troika optaram pela aplicação, num curto período de tempo, “de um conjunto de medidas executadas de forma bruta e abrupta que se revelaram pouco eficazes, porque não asseguraram o mínimo de estabilidade e de coerência entre as diferentes políticas”.
Para além destes 6 erros, Silva Peneda lembrou, perante os eurodeputados, que Portugal iniciou o programa “com um desequilíbrio interno visível, não só no elevado défice público, mas também no próprio desemprego (na ordem dos 9%) e ainda um desequilíbrio externo elevado (com um défice de cerca de 10% do PIB”, cujas consequências foram a forte contenção da procura interna e a subida da taxa de desemprego.
“Estas são as razões que, na minha opinião, explicam que o resultado do programa se tenha materializado num sistemático desfasamento entre o previsto e o executado”, mas “mais grave é que a execução do programa tem vindo a provocar uma preocupante desestruturação da sociedade, com o esbater de uma classe média, tendência que, a manter-se, irá ter as mais graves consequências no funcionamento de uma economia social de mercado”, acrescentou.
Silva Peneda reprovou ainda as barreiras impostas pela troika no quadro da legislação laboral e, em particular, nos processos de contratação colectiva, “através da forte restrição à publicação de portarias de extensão, o que conduzirá inevitavelmente à desregulação do mercado de trabalho”.
Ontem, com base numa notícia mal estruturada, fiz alguns comentários sobre declarações do presidente do CES, que apontavam para incoerências (suas) e contradições (com análises do governo), que sem as negar, quero precisar, para não ser injusto.
Com base neste artigo, que relata o mesmo acontecimento, mas com uma sinopse mais rigorosa, depreende-se que as críticas sobre o desenho da troika e a obra do governo são mais abrangentes, mais coerentes com o que sempre tem dito e mais consistente na defesa da doutrina social-democrata.
E o que sobressalta destas declarações, num tempo em que o governo regozija com o fim da recessão e o princípio da “recuperação”, é Silva Peneda dar mostras de não acreditar minimamente no discurso oficial e manter as mesmas críticas que sempre fez, que nos conduziram a um beco sem saída, cuja “solução” não teve os resultados previstos, nunca terá e que as previsões da troika caíram todas por terra, enterrando toda a população de um país, desestruturando toda a sociedade, com o esbater da classe média, empobrecendo-a, aumentando o número de pobres e criando mais riqueza entre os mais ricos, contra uma economia social de mercado.
Entretanto, os governantes vão “deitando foguetes e apanhando as canas”, sem que ninguém do executivo ou dos partidos da coligação demonstrem acordo com as críticas, ou contrarie as suas conclusões…
Isto é (mesmo) ideologia (de pacotilha)!

Ecos da blogosfera - 10 jan.

Tenha calma, que para (quase) tudo há promoções…

Bill Rielly tinha tudo: uma licenciatura tirada em West Point, uma posição de executivo na Microsoft, uma fé forte, uma excelente vida familiar e muito dinheiro. Até se dava bem com a família da mulher! Assim sendo, porque tinha tanto stress e ansiedade que mal conseguia dormir à noite?
Trabalho com ele há muitos anos e ambos acreditamos que a sua experiência pode ser útil a outros indivíduos capazes e determinados.
Greg McKeown
A certa altura, nenhum grau de sucesso parecia suficiente para Bill. Em West Point, aprendera que a maneira de resolver problemas era perseverar através de toda a dor. Mas esta abordagem não parecia funcionar na redução do seu stress.
Quando terminou a sua 2.ª maratona, alguns minutos mais lento do que o objetivo programado, sentiu que tinha falhado. Para “corrigir” as coisas, correu outra maratona apenas 5 semanas mais tarde. O seu corpo rejeitou a ideia e demorou mais 1 hora do que na corrida anterior.
Finalmente, a mulher convenceu-o a tentar perceber o que estava, realmente, a provocar-lhe o stress e ele passou os anos seguintes a procurar formas de encontrar mais prazer na jornada. Neste processo, descobriu 5 ferramentas. Cada uma delas era bastante básica, mas em conjunto mostraram ser capazes de lhe mudar a vida e permitiram o seu êxito posterior como executivo da Apple.
Respirar - Começou com um passo pequeno, fazendo 3 respirações profundas de cada vez que se sentava à secretária. Percebeu que o ajudava a relaxar. Depois de estas 3 respirações se tornarem um hábito, aumentou para alguns minutos por dia. Percebeu que estava mais paciente, mais calmo e vivia mais o momento. Agora, faz esta respiração 30 minutos por dia. Assim restaura as suas perspetivas, ao mesmo tempo que consegue olhar para uma questão ou problema de uma maneira diferente e lembrar-se de novas soluções. Os exercícios de respiração profunda fazem parte, há milhares de anos, das práticas de ioga, mas pesquisas recentes realizadas no Massachusetts General Hospital, da Universidade de Harvard, documentam o impacto positivo deste tipo de respiração na capacidade do nosso corpo para lidar com o stress.
Meditar - A primeira vez que Bill ouviu falar de meditação, achou que era uma coisa para hippies. Mas ficou surpreendido ao perceber que reconhecia alguns dos que a praticavam: Steve Jobs, Oprah Winfrey, Marc Benioff e Russell Simmons, entre outros. Animado, começou com 1 minuto por dia. A sua meditação consistia em “body scanning”, que implicava concentrar a sua mente e energia em cada secção do corpo, da cabeça aos dedos dos pés. Pesquisas recentes de Harvard mostraram que meditar durante um tempo tão curto como 8 semanas pode, na verdade, aumentar a matéria cinzenta em partes do cérebro responsáveis pela regulação emocional e pela aprendizagem. Por outras palavras, quem medita aumenta o controlo emocional e o poder cerebral.
Ouvir - Bill descobriu que, se se concentrasse em ouvir as outras pessoas tal como se concentrava quando meditava, a sua interação tornava-se imediatamente mais rica. A outra pessoa podia sentir, de uma forma quase física, que ele estava a escutar e formava mais rapidamente um laço com ele. Quase imediatamente, a vida se tornava mais rica e significativa. Como provou o professor Graham Bodie, ouvir é, por excelência, um comportamento positivo na comunicação interpessoal.
Questionar - Não significa fazer perguntas a outras pessoas, mas sim questionar os pensamentos criados pela nossa mente. Só porque a nossa mente cria um pensamento, não quer dizer que ele seja verdadeiro. Bill adquiriu o hábito de se perguntar “Este pensamento é verdadeiro?” E, caso não estivesse completamente certo de que o era, abandonava-o. Como ele próprio explicou: “Agradece à tua mente por ter tido esse pensamento e vai em frente. Achei isto libertador porque me forneceu uma saída para os pensamentos negativos, uma válvula de escape que eu antes não tinha”. A técnica de questionar os pensamentos foi popularizada por Byron Katie, cuja experiência e investigação mostram que existe poder em reconhecer, em vez de reprimir, os pensamentos negativos. Em vez de tentar ignorar alguma coisa que acreditamos ser verdade, questionar permite-nos sempre encarar os nossos pensamentos “frente-a-frente” e tirar-lhes o crédito quando são falsos.
Ter um propósito - Bill comprometeu-se a viver com um propósito. Não tanto um Propósito de Vida, mas algo mais simples. Comprometeu-se a fazer com propósito o que quer que estivesse a fazer. Fazer uma coisa e só uma coisa. Se decidisse ver televisão, via realmente televisão. Se estivesse a tomar uma refeição, aproveitava o tempo para desfrutar dela. Há pesquisas que confirmam a sua experiência. Em “A Pace Not Dictated by Electrons: An Empirical Study of Work Without Email” (Um ritmo não ditado por eletrões: Um estudo empírico do trabalho sem email), Gloria Mark e Armand Cardello citam provas que sugerem que os trabalhadores da área do conhecimento verificam o email até 36 vezes por hora. O resultado é um aumento do stress. Conceder a cada atividade a atenção total assegura que se está a viver a experiência naquele momento, de maneira total.
Para Bill foi importante ter começado com passos muito pequenos, porque não se pode combater o stress de uma maneira stressante. Muitas vezes tentamos provocar mudanças através de puro esforço e pomos toda a nossa energia numa nova iniciativa. Mas não se pode vencer a tensão usando as mesmas técnicas que a criaram.
Pelo contrário, a solução é fazer menos do que sentimos querer fazer. Se lhe apetecer respirar profundamente 2 minutos, faça-o apenas 1. Se está pronto para passar um dia a ouvir realmente as pessoas com toda a atenção, faça-o apenas durante a próxima reunião. Permita-se ficar cheio de vontade de repetir. O que pretende é desenvolver um hábito sustentável: uma abordagem isenta de stress, para reduzir o stress.
Greg McKeown é o autor do livro Essentialism: The Disciplined Pursuit of Less (Crown Business, publicação prevista para a Primavera de 2014). Aconselha executivos em Silicon Valley e dá conferências um pouco por todo o mundo. É um Jovem Líder Global do Fórum Económico Mundial

Contramaré… 10 jan.

As pensões entre mil e 1.350 euros vão sofrer um corte que pode variar entre 35 e 47 euros, de acordo com as novas regras da Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) anunciadas pela ministra das Finanças. As pensões acima de 4.611 euros levam um corte maior face ao que estava previsto. Para os restantes pensionistas o corte é igual.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Não há consenso que remedeie um mau desenho…

O presidente do Conselho Económico e Social (CES) afirmou que a "responsabilidade" dos sucessivos desvios das previsões macroeconómicas de 2012 cabem ao FMI e à Comissão Europeia que impuseram a Portugal um programa "mal desenhado".
"A responsabilidade fundamental do programa de 2012 cabe ao FMI e à CE e à forma como foi imposto um modelo perfeitamente desadequado à realidade da economia portuguesa", afirmou Silva Peneda, uma ideia já expressa pelo CES no parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2012. No seu entender, o programa de ajustamento elaborado pela 'troika' falhou, uma vez que "esqueceu a realidade do país".
"O CES foi a primeira entidade que referiu que o programa da 'troika' foi mal desenhado e dissemos ao Governo que atacar 2 objetivos da mesma forma - o desequilíbrio externo e o défice orçamental - era impossível num prazo tão curto", afirmou Silva Peneda perante os deputados.
Com base na aplicação do programa, em 2012 "acentuou-se a diminuição da procura interna, houve um desequilíbrio interno e por causa desta redução da procura e da recessão o défice não foi atingido", sublinhou. Defendeu, por isso, numa altura em que se fala da saída da 'troika' em maio deste ano, a elaboração de um programa de médio prazo, a 10 anos, que deverá contar com o consenso de todos os quadrantes da sociedade.
"Os problemas da economia portuguesa continuam, apesar da saída da 'troika'. Se não houver consenso, serão os credores a impor regras. Ou temos capacidade para decidir o que queremos ou será a União Europeia a ditar as regras", disse.
Advogando a necessidade de "tempo, coerência entre as políticas e consenso político e social", Silva Peneda apelou aos deputados para que alcancem um consenso nesta matéria.
Silva Peneda tem sido um exemplo de coerência, quer nas críticas que tem feito, quer na defesa da doutrina social-democrata, o que me animou a trazê-lo de novo à ribalta, para acentuar tal virtude, que não anda muito por aí. Mas ao ler estas declarações, reparei que há qualquer coisa que não bate muito certo…
Quando o presidente do CES diz que a troika é a responsável (fundamental) pelo programa de 2012 e pela forma como foi imposto um modelo perfeitamente desadequado à realidade da economia portuguesa (como se mandassem construir no Algarve casas para a neve), até parece que não se trata de matéria técnica, mas de outro tipo de opção, talvez política, que foi aceite por políticos (governo) baseada em argumentação “puramente” teórica. E a incoerência está precisamente na aceitação de técnicos com funções governativas, que não foram capazes de contrariar, tecnicamente, as políticas impostas…
E se o CES foi a primeira entidade que referiu que o programa da troika foi mal desenhado, antes houve muito leigo que já tinha há mesma conclusão, sem qualquer bagagem técnica, mas usando apenas contas de matemática simples e raciocínios básicos. Ninguém tinha, não tem, nem nunca terá a presunção de pensar que se pode pagar em 3 anos o que se acumulou em excesso durante 30 anos. E toda a gente sabia, pensava e dizia, que o tal desenho acentuaria a diminuição da procura interna, que provocaria recessão e dificultaria atingir-se o défice anunciado… A contradição está no facto de Silva Peneda repetir isto, numa altura em que nos dizem que estamos a ficar bem e ficaremos melhor…
Mais dececionante é o apelo ao consenso (subconsciente cavaquista?) com a sentença de que se não houver serão os credores a impor regras. Mas não são os credores, através dos seus testas de ferro da troika que nos impuseram o tal desenho mal amanhado, só por serem os “donos da bola”? Então não dizem que não podemos decidir o que queremos e só podemos aceitar os gatafunhos dos homens de preto? Ou será que consenso quer dizer concordância dos partidos da oposição com as malfeitorias dos partidos da situação? Já todos sabemos quem manda e quem obedece e por que nos dizem que tem que ser assim. É inevitável! Ou não é?
Finalmente, a CES vem falar de mais tempo, coerência entre as políticas e consenso político e social.
Mais tempo? Claro!
Coerência entre as políticas? Com quê e com que objetivo?
Consenso político? Já falamos…
Consenso social? Urgente!
E quem é o sujeito? O cidadão? OK!
Os mercados? Não, obrigado!

Ecos da blogosfera - 9 jan.

Salvar o Euro e/ou deixar morrer a União Europeia?

Quando o Presseurop foi lançado, em 2009, ninguém pensava que o euro poderia vir a desaparecer e que a própria União Europeia corria o risco de se desintegrar. Um processo que o Presseurop seguiu através do olhar da imprensa europeia e que contribuiu para informar mais os europeus sobre o seu continente e a criar um projeto de espaço público europeu.
Dia após dia, ao longo dos últimos 4 anos e meio, o Presseurop ajudou-nos a perceber o que estava a acontecer na Europa. Foi um contributo fundamental. Instalados no dia-a-dia da crise, e tentando não tropeçar nos múltiplos obstáculos que ainda subsistem no nosso caminho, esquecemo-nos de olhar para trás e refletir sobre o que nos aconteceu nos últimos 5 anos. Se o fizéssemos, lembrar-nos-íamos de que, em 2008-2009, a palavra “crise” não nos assustava. Sabíamos que a construção da União Europeia foi impulsionada por crises. As crises abalam as bases do estabelecido, demonstram a inviabilidade do statu quo, tornam visível a necessidade de mudar as políticas e revelam que as instituições se tornaram obsoletas. Paralelamente, criam os espaços de onde surgem as visões do futuro e os líderes que as formalizarão. Muitos de nós pensam que uma crise não só nos uniria como nos permitiria integrar muito mais estreitamente a União. Por que temos a sensação de que, desta vez, não foi exatamente assim? O que foi que não funcionou como devia?
O elemento mais importante é a falta de flexibilidade da União, quando se trata de absorver o choque gerado pela crise financeira. A UE é, antes de mais, uma “união de regras”. Mas, como ficou demonstrado, essas regras eram, em especial no domínio da governação do euro, inexistentes, incompletas ou claramente desadequadas, porque proibiam que os Estados-membros ou as suas instituições adotassem as medidas (como a recapitalização direta dos bancos ou a compra de dívida) que teriam permitido à UE tornear a crise.
Os Estados Unidos, que como sabemos estão na origem da crise financeira, adotaram, logo em outubro de 2008, o programa TARP (Troubled Asset Relief Program) destinado a recapitalizar os bancos, e, em seguida, já com o Presidente Obama, um programa de estímulo massivo à economia. Nos 2 casos, as divergências partidárias e ideológicas foram postas de lado, em favor da eficácia das medidas de combate à crise. As coisas não podiam ser mais diferentes deste lado do Atlântico. 6 anos depois da queda do Lehman Brothers, os europeus ainda estão a discutir o seu próprio programa TARP (a união bancária), e fazem-no com prazos e mecanismos tão complexos e alongados no tempo que levam a que se duvide da sua utilidade real para superar esta crise. Entretanto, as medidas de estímulo foram ridículas ou insuficientes. Os resultados estão à vista de toda a gente: os EUA estão a sair da crise e a Europa continua estagnada.
Por conseguinte, a UE, que ocupou quase uma década a preparar o Tratado de Lisboa, verificou que nada do que constava desse Tratado servia para fazer frente a uma crise que, em algumas ocasiões, assumiu um caráter existencial. Reformar as regras do jogo do euro, para as adaptar à nova realidade, foi uma tarefa exasperantemente lenta, em especial numa situação de fragmentação política e institucional e de falta de liderança. Nesta crise, a UE inovou em termos institucionais e políticos, mas também improvisou de uma forma perigosa. Em momentos chave, como o 1.º resgate da Grécia e a intervenção em Chipre, ficou-se com a impressão de que a UE estava a atirar uma moeda ao ar, fechando os olhos.
Ao fim e ao cabo, a UE foi tomando, sempre à beira do abismo, as decisões necessárias para defender o euro e lançar as bases para um futuro de estabilidade. Estamos a sair da crise, sim, mas estamos a fazê-lo lentamente e divididos, porque uma estrutura flexível absorve os golpes, mas uma estrutura rígida parte-se ou fica com fissuras. A brecha mais evidente e mais urgente é a que separa as elites dos cidadãos. Mas não é a única, porque esta crise também separou o Norte do Sul. E está igualmente a originar divisões difíceis de superar entre membros e não membros da zona euro. São estas fissuras e tensões centrífugas, que põem em jogo a sua sobrevivência real, que a União tem que fechar. Se não o fizer, chegará a uma situação em que o euro terá sido salvo, mas o projeto europeu estará seriamente em causa.
As próximas eleições europeias estão já a pôr em evidência o paradoxo que é o facto de, precisamente quanto mais legitimidade política se torna necessária para se completar a união económica e monetária, maior é o descontentamento dos cidadãos e maior é a desconfiança em relação à UE. Se for capaz de conciliar democracia e eficácia, a União terá um futuro brilhante. Mas essa brecha não se fechará “comunicando melhor” e, sim, “ouvindo mais” os cidadãos e assumindo responsabilidades perante eles. A integração europeia está irreversivelmente politizada nos Estados-membros, mas não em Bruxelas. A solução é mais política, e não mais tecnocracia, para que os cidadãos recuperem em Bruxelas a capacidade de fazer política que perderam a nível nacional. A união de regras está bem, mas do que precisamos é de uma união de políticas. Quem tem medo da política? Sem uma opinião pública informada, a Europa não pode existir. Durante os últimos anos, graças ao Presseurop, saímos dos nossos redutos nacionais e construímos um espaço público europeu. Agradecemos-lhe por isso e esperamos que volte em breve!
Esperamos ainda que o Presseurop ressuscite para voltar a ser o Pentecostes do cidadão europeu…

Contramaré… 9 jan.

O secretário do Tesouro norte-americano, Jack Lew, que falava numa conferência de imprensa conjunta com o ministro das Finanças francês, Pierre Moscovici, em Paris, defendeu que a zona euro deve aplicar estímulos para favorecer o crescimento económico, como ocorre nos Estados Unidos.
Por sua vez, Moscovici assinalou que tem um ponto de vista “muito convergente” com o do seu homólogo norte-americano sobre a necessidade de “um crescimento sólido” na Europa, com um equilíbrio entre o ajustamento das contas públicas e os estímulos ao crescimento, que passa por um calendário “flexível” para os programas de redução do défice.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Estes é que vivem acima das “nossas” possibilidades!

A dívida das famílias na Suécia está a aproximar-se de um limite crítico a partir do qual há o risco de reduzir a eficácia de qualquer política económica, considerou o presidente do banco central, Stefan Ingves.
Esta dívida, alimentada pelos preços elevados do imobiliário, atinge actualmente 170% do rendimento anual disponível. O banco central prevê que seja de 178% em 2016.
“É preciso evitar que ultrapasse os 180% e levar a que diminua lentamente ao longo de vários anos”, declarou Ingves. “Se não controlarmos a dívida, isso significa que a política económica terá de ser totalmente dedicada aos problemas de endividamento e não permitirá dar resposta a outras questões importantes”, acrescentou.
O dirigente do Banco da Suécia, que tenta desde há meses chamar a atenção para este problema, apelou a um grande debate nacional sobre o mercado do imobiliário, marcado nas grandes cidades por um ritmo demasiado lento da construção.
Num país onde o desemprego é relativamente baixo, em relação ao resto da Europa, e onde a maioria dos habitantes são proprietários, as famílias continuam a endividar-se para comprar casa, aproveitando as taxas de juro baixas.
Ao ritmo de crescimento actual, a dívida das famílias suecas às instituições financeiras vai ultrapassar o limiar simbólico de três biliões de coroas (cerca de 338.000 milhões de euros) antes de meados de 2014.
Quando nos acusam de termos vivido acima das nossas possibilidades, estávamos crentes que outros cidadãos de outros países estivessem atentos ao assédio dos bancos, mas pelo que se lê, os suecos não leem notícias sobre Portugal…
Tendo em conta que na Suécia cada família gasta 170% do que ganha por ano (não encontrei comparação com Portugal) e com tendência a gastar ainda mais, se ganham muito mais do que nós (não deve haver dúvidas) quer dizer que nominalmente gastam muitíssimo mais do que nós, e por isso vivem muitíssimo acima das nossa possibilidades…
Mas por lá vão avisando, para não chegarem ao que nós chegamos, sem vivermos acima das nossas possibilidades, com a preocupação de não porem em risco as questões importantes, que devem ser a manutenção dos direitos sociais de que gozam.
Também lá, é o mercado imobiliário que leva ao endividamento das famílias às instituições financeiras “aproveitando” as taxas de juro baixas que os bancos oferecem para a compra de casa, até chegar a hora do “passem para cá a massa” que os nossos cofres estão vazios…
Não deixa de ser preocupante, que depois das bolhas imobiliárias, que também já pairam sobre os países emergentes, mais as manigâncias da banca, ameacem um dos países mais ricos do mundo… Nem a banca e os mercados descartam a estratégia, nem os cidadãos deixam de cair na mesma esparrela…
Ou isto é telecomandado ou as cabeças do povo estão a ficar com as pilhas descarregadas…
Parece que os ciclones estão a deslocar-se para a periferia norte.
A sorte dos suecos é que tem a tradição de bons governantes, acima das possibilidades dos nossos…

Ecos da blogosfera - 8 jan.

Não reaja fugazmente às notícias, interiorize-as…

O tempo é uma dimensão pitoresca, pois pode ser percebido conforme o gosto do freguês. Se a experiência é boa, o tempo voa. Se é desprazerosa, dura uma eternidade. Para o jovem, custa a passar. Para o idoso, anda a galope. Tempo de trabalho para a aposentadoria, então, nem se fala. Para aquele que labuta, e não gosta do que faz, diz-se comumente: “Dá 10 da noite, mas não chega o fim da tarde”. Quem dormiu tarde (sem contar a bebedeira da noite anterior) e precisa madrugar para enfrentar o cabo da enxada: que sina! O tempo é, pois, muito, pouco, bom, ruim, marcante, insignificante, coerente, insensato...
Armando Correa de Siqueira Neto
Todavia, há um intervalo de tempo que merece a nossa mais profunda reflexão. Refiro-me aos 60 segundos de duração das nossas preocupações relacionadas com as penúrias que assolam o planeta. Ou seja, os jornais estampam a tragédia e sentimo-nos mal e pensamos, por exemplo, acerca da pobreza que desnutre outros seres humanos - em 2014, o total de pessoas subnutridas deverá superar a marca de 1.000 milhões, conforme a estimativa da ONU. Tal atenção por nós dispensada dura geralmente 1 minuto. Em seguida, sem qualquer cerimónia, voltamo-nos para as amenidades, e, em alguns casos, às queixas pessoais sobre todo o tipo de situação que chateia, tal como a falta de dinheiro para comprar um novo telemóvel (o 4.º ou 5.º, talvez), um ténis mais incrementado (apesar de já existirem outros tantos no armário), uma bolsa que combine com a sandália creme (afinal, o que os outros vão achar?), entre outros.
Assistimos atónitos aos noticiários que revelam os desmatamentos florestais, o uso desregrado da água e a sua provável escassez futura e sobressaltamos o ânimo, apontando o dedo da culpa para todos os lados (menos para nós próprios), num gesto de revolta, que dura... Sabe quanto? 60 segundos!
Lá está o tempo novamente, na sua elasticidade mais breve. Mas preferimos gastar as nossas energias e a boa carga horária com a mesquinhez pessoal. Tal consumo, infelizmente, rouba a cena na qual deveria, de forma equilibrada, permitir maior quantidade de tempo para a essencial ponderação que deve eleger assuntos inquestionavelmente mais relevantes.
Não se pretende aqui, contudo, encorajar o abandono das atividades pensantes corriqueiras. É sugerido que haja um pouco mais de dedicação ao direcionar o foco das preocupações para a análise dos problemas que fazem substancial número de pessoas terem uma miserável qualidade de vida. E, para tanto, é devido ultrapassar os infrutíferos 60 segundos da atenção dirigida a tais questões, ampliando o tempo e a capacidade de se pensar criticamente. É preciso ir além das notícias e formar conceitos próprios cujo incómodo decorrente é capaz de estimular a auto cobrança e, em maior escala, a cobrança sobre o Estado com o passar do tempo.
Ah! O tempo. Tão bem estudado como pobremente aproveitado. Porquanto, quem sabe se alguns minutos de reflexão o levem a mudar de postura a propósito dos acontecimentos globais?
Não demore, o tempo urge.

Contramaré… 8 jan.

Chega este mês ao fim o regime de exclusividade da patente do Viagra® em Portugal, o que permite que a mesma substância activa do comprimido azul possa começar a ser vendida como genérico. Nessa modalidade já há 2 medicamentos prontos a ser comercializados para o tratamento da disfunção eréctil.
A sociedade portuguesa de Andrologia diz que a alternativa ao Viagra® a preços mais baixos é uma boa notícia. Esta mudança é um alívio para quem por falta de dinheiro não tinha acesso ao medicamento de marca e optava por alternativas de segurança duvidosa.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Um retrato feito do país das nossas "bidon-ville"…

Ainda ontem pedia a economistas que nos explicassem esta redução do défice e o consequente aumento da dívida, eis senão quando deparo com uma resposta vinda de França, que mais não é do que um retrato da nudez das políticas dos nossos governantes e da troika e da máquina de fazer pobres, que ensaiam em laboratório…
Vale a pena ler.
Portugal é um país exangue. O desemprego oficial, que se aproxima dos 20%, tem diminuído ao longo dos 2 últimos trimestres "em favor" de uma baixa da população ativa. Isto é o fruto de uma emigração em massa cujos fluxos atingem ou excedem os dos anos 60, que viu um grande êxodo de portugueses, fugindo da miséria, da ditadura e da guerra colonial (1). Metade dos desempregados não recebe subsídio de desemprego e são milhares de pessoas excluídas do rendimento mínimo de inserção, dos abonos de família ou do complemento social velhice.
Cristina Semblano
É que, embora não estando em guerra, Portugal está, sob a égide da troika, no seu 3.º ano de economia de guerra, apesar de (ou por causa de) os resultados económicos calamitosos das políticas cometidas durante 3 anos. Porque Portugal é um país onde, podemos dizer, com a precisão de uma experiência conduzida em laboratório, que os milhares de milhões de euros de sacrifícios impostos à população não tiveram nenhum efeito sobre a dívida cujo progresso é vertiginoso nem sobre o défice, sistematicamente revisto em alta em cada avaliação da troika.
É no entanto, munido dos resultados desta experiência, que Lisboa acaba de apresentar o orçamento mais austero da história da democracia desde 1977. O ajustamento orçamental representa 2,3% do PIB e faz-se essencialmente pelo corte direto sobre os salários dos funcionários e sobre as pensões da função pública.
Nestas condições, só o governo pode fingir acreditar que, apesar da nova redução drástica do rendimento disponível das famílias a que conduzirá inevitavelmente o "seu" orçamento, o consumo privado e o investimento vão estar lá para apoiar a sua hipótese de crescimento de 0,8%. Tanto mais que a violenta carga fiscal de 2013 será mantida e que 2014 vai ver novas reduções nos gastos com a educação, a saúde e transferências sociais. Restam as exportações, mas estas dependem da procura externa.
Como em toda a economia de guerra, a que prevalece em Portugal só faz perdedores. Enquanto apenas os funcionários e os aposentados da função pública contribuem com 82% do esforço de guerra em 2014, não é pedido aos bancos e aos monopólios de energia senão uma contribuição excecional de 4%, e o governo se tenha ainda dado ao luxo de baixar em 2 pontos o imposto sobre as empresas que tem como objectivo reduzir para 19% ou 17%, em 2016, em conformidade com o sacrossanto princípio neoliberal da criação de um clima propício ao investimento. Há outros vencedores da crise, a começar pelos credores a quem se destina, em 2014, a título de juros, um "tesouro escondido" equivalente ao orçamento da saúde. É para estes credores que os sacrifícios são exigidos ao povo de um dos países mais pobres e mais desiguais da UE. É para eles que se fecham escolas, que são racionados medicamentos, que se limita o acesso aos cuidados de saúde de uma parte da população e que se vende bens públicos em leilões.
As políticas de austeridade violentas mantêm-se por elas próprias: geram a sua própria intensificação, supostos remédios para o défice de que elas ajudaram a cavar. Cada euro de défice "poupado" em Portugal resultou numa perda de € 1,25 do PIB e um aumento de 8,76 euros da dívida; é assim que os credores estão garantidos de ter sempre uma dívida para financiar.
Como outros países sob a intervenção "efetiva" da troika, para falar apenas deles, a dívida portuguesa não é racionalmente reembolsável. Não é o resultado de desvios de um povo que viveu acima das suas possibilidades, mesmo que os especialistas do FMI insistam na necessidade de reduzir o salário mínimo em Portugal, que é de 485 euros brutos por mês, um dos mais baixos da zona do euro e da UE.
País semiperiférico, com uma economia de baixo valor acrescentado e muito dependente do estrangeiro, Portugal "pagou" a sua adesão à zona euro, por uma quase estagnação da sua economia, de modo que a dívida pública não conheceu uma trajetória ascendente desde a crise financeira e as transferências significativas do orçamento do Estado para apoiar a economia e salvar os bancos. Não podendo voltar-se para o Banco Central Europeu (BCE) para assegurar o seu financiamento, Portugal tornou-se, depois da Grécia e da Irlanda, a 3.ª vítima da especulação dos mercados financeiros, que abriu o caminho para a intervenção troika.
Depois de 2 anos e meio e milhares de milhões de euros de sacrifícios impostos à sua população, Portugal é um país mais pobre, voltou para a taxa de natalidade do final do século XIX e a emigração em massa da era da ditadura. A sua população, uma das mais velhas da EU, diminui. A sua dívida em relação ao PIB aumentou em quase 25 pontos e o seu défice não está contido. Os credores representados pela troika já avisaram do montante dos cortes de despesas que são necessários fazer em 2015, enquanto o "Memorando" termina em junho de 2014.
Seja na forma de um novo plano de "resgate" ou de outra, e no quadro atual das instituições europeias, Portugal permanecerá sob o domínio da troika e a sua população será submetido a novas dificuldades. Já é uma outra Grécia e, se houvesse dúvidas, a imagem destas mães portuguesas forçadas a abandonar as suas crianças em instituições sociais, enquanto recém-chegados fazem a sua entrada no clube dos milionários, bastaria para o demonstrar.
(1) Avalia-se em 120.000 o número de portugueses que emigraram em 2012, ou seja, um êxodo de 10.000 pessoas em média por mês, para uma população de cerca de 10.500.000 de habitantes.
Tradução minha

Ecos da blogosfera - 7 jan.

Estão a gozar com a tropa ou somos muito(s) burros?

O período do ajustamento da troika, entre 2011 e 2014, será claramente marcado por uma redução do défice feita à custa de um aumento da dívida pública. Esta transferência de encargos correntes para o futuro está patente nas contas oficiais: em média, por cada euro a menos no défice, a dívida pública engorda à razão de 1,1 euros nestes 4 anos.
A estratégia seguida é da responsabilidade do Governo e da troika, que optaram por limpar contas correntes e ajudar o sector bancário, atirando os encargos financeiros para o stock da dívida (dinheiro que terá de ser pago no futuro e que agrava a fatura com juros). No caso do Banif, por exemplo, cuja ajuda de 700 milhões de euros agravou o défice de 2013 de 5,5% para 5,9%, as Finanças ainda insistem em reclassificar a despesa na dívida pública, contestando uma decisão do Eurostat. A decisão final sobre este tópico em concreto só será conhecida este ano, eventualmente no final de março, no reporte regular dos défices excessivos.
Segundo cálculos, em 2013, em contabilidade nacional, por cada euro a menos no défice, a dívida engordou 7,3 euros. Este ano, o ritmo vai abrandar, mas ainda assim por cada euro a menos no défice irá parar à dívida mais 50 cêntimos. O ritmo volta a piorar em 2015, quando se espera que cada euro poupado no défice leve a mais 1,3 euros de endividamento.
Mas o Governo não está sozinho nessa responsabilidade. É que a dívida também tem subido na secretaria. As autoridades estatísticas europeias e o Instituto Nacional de Estatística têm obrigado a reclassificar muitas operações e entidades dentro do perímetro da consolidação orçamental ao longo dos últimos anos. Desde 2010, inclusive, que as referidas reclassificações se intensificaram, e é de esperar que 2014 seja marcado por mais encargos que farão engordar o endividamento.
Como explicou o Conselho das Finanças Públicas (CFP), “a aplicação, a partir de 2014, do recém-aprovado SEC 2010 [regulamento europeu], levará à integração de mais empresas públicas no perímetro das administrações públicas. Segundo estimativas do CFP, essa reclassificação poderá implicar a inclusão na esfera da dívida pública de pelo menos 1/4 da dívida das empresas atualmente fora do perímetro das administrações públicas”.
“O impacto na dívida dependerá da decisão final quanto aos critérios fixados, da situação financeira das empresas públicas e da posterior avaliação pelo Eurostat. Com base em dados da Direção-Geral do Tesouro (DGTF) referentes a 2012, o CFP estima que o valor central do impacto na dívida poderá ascender a aproximadamente 3,4% do PIB”. Ou seja, há mais 5.500 milhões de euros prestes a entrar no rácio da dívida. Isto num ano em que este indicador passa a ser central na avaliação dos investidores à sustentabilidade das finanças públicas nacionais.
Governo admite revisão de 2010 para a frente
No Orçamento do Estado para 2014, as Finanças também admitem o risco de a dívida crescer devido à entrada de “um número adicional” de empresas no perímetro de consolidação das administrações públicas. O Governo avisa mesmo que a entrada em vigor do SEC 2010 irá “retroagir, em termos de séries estatísticas, a 2010”.
Algumas das empresas mais relevantes fora do perímetro oficial são: CP (dívida de 3.700 milhões de euros), Carris, EDIA (Alqueva), EGREP, A Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP), Parque Expo e Parpública, holding que além da sua própria dívida de 5.300 milhões detém a Águas de Portugal (dívida de 3.000 milhões de euros) e a TAP (1.000 milhões).
Segundo o Banco de Portugal, o universo total das entidades não reclassificadas tinha uma dívida de quase 20.000 milhões de euros no final de outubro. O Governo dizia menos: cerca de 16.300 milhões no final de junho.
Numa altura em que o rácio da dívida não para de engordar - ultrapassa já os 127% do produto interno bruto (PIB) ou 211.400 milhões de euros no fim de dezembro de 2013 -, uma decisão como aquela do Eurostat será mais um rude golpe sobre a sua sustentabilidade e a credibilidade do País, já que o novo pacto europeu obrigará a reduzir o rácio até 60% em 20 anos. E torna mais difícil a pretensão de regressar aos mercados abertos de financiamento e sair do programa de resgate em junho deste ano.
Quanto mais elevado for o rácio da dívida, mais penoso será para os portugueses, pois à luz do pacto europeu serão exigidos cortes de despesa ainda maiores (ou atrasará a redução de impostos). Para reduzir a dívida, o Tesouro deve alcançar excedentes orçamentais de forma a não ter de pedir empréstimos adicionais.
Já todos sabemos que não há nenhuma racionalidade na realidade que vivemos e já sei que corro o risco de fazer comentários à merceeiro, mas se em 2013 (o melhor ano com ténues progressos) se por 1 euro abatido ao défice, acrescentamos 7,3 euros à dívida, que raio de sucesso é este?
Se é o próprio Banco de Portugal que vem dizer que a inclusão do défice de empresas públicas que não entravam na contabilização da dívida é de quase 20.000 milhões de euros, o que a aumenta em 3,4% do PIB, depois de optaram por limpar contas correntes e ajudar o sector bancário, atirando os encargos financeiros para o stock da dívida, que raio de truque é este?
Se o rácio da dívida já ultrapassa os 127% do PIB no fim de dezembro de 2013 e continuará a aumentar, seja a que ritmo for, que raio de “solução" é esta?
Se o novo pacto europeu vai obrigar a reduzir o rácio até 60% em 20 anos e as medidas, da responsabilidade do Governo e da troika, dão origem a mais dívida, quantos séculos são precisos para chegarmos à meta? Mas que raio de gozo é este?
Já disse muitas vezes que sou um leigo em economia, mas já agora, pedia aos meus amigos economistas que traduzissem estas charadas para português de café, com desenhos se for preciso, só para não ficar com a ideia de que sou idiota…
E em nada nos consola saber que o Governo não está sozinho nesta responsabilidade, porque a maior responsabilidade é nossa!
Será por causa destas desassombradas assombrações, que estão a decorrer inquéritos ao trabalho (sujo) das troikas?
Mas sendo assim, nem são precisos inquéritos…
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