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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Parece contraditório, mas é diversidade, é LIBERDADE

Leonardo Boff
Séculos de guerras, confrontos, lutas entre povos e conflitos de classe estão a deixar-nos uma amarga lição. Este método primário não nos fez mais humanos, nem nos aproximou mais uns dos outros e muito menos nos trouxe a tão ansiada paz. Vivemos em permanente estado de sítio e cheios de medo.
Alcançamos um patamar histórico que, nas palavras da Carta da Terra, “nos conclama a um novo começo”. Esta nova consciência está a mostrar um caminho a seguir: entender que todas as coisas são interdependentes e que mesmo as oposições não estão fora de um todo dinâmico e aberto. Tal perspectiva holística vem influenciando os processos educativos.
Temos um mestre inolvidável, Paulo Freire, que nos ensinou que devemos aprender a dizer “sim” a tudo aquilo que nos faz crescer. Frei Clodovis Boff acumulou muita experiência a trabalhar com os pobres no Acre e no Rio de Janeiro. E agora, face aos desafios da nova situação do mundo, elaborou um pequeno decálogo daquilo que poderia ser uma pedagogia renovada:
1 - Sim ao processo de consciencialização, ao despertar da consciência crítica e ao uso da razão analítica (cabeça).
Mas sim também à razão sensível (coração), onde se enraízam os valores e de onde se alimentam o imaginário e todas as utopias.
2 - Sim ao sujeito colectivo ou social, ao nós criador de história.
Mas também sim à subjectividade de cada um, ao eu biográfico, ao sujeito individual com suas referências e sonhos.
3 - Sim à praxis política, transformadora das estruturas e geradora de novas relações sociais, de um novo sistema.
Mas sim também à prática cultural (simbólica, artística e religiosa), transfiguradora do mundo e criadora de novos sentidos ou, simplesmente, de um novo mundo vital.
4 - Sim à acção macro ou societária, aquela que age sobre as estruturas.
Mas sim também à acção micro, local e comunitária como base e ponto de partida do processo estrutural.
5 - Sim à articulação das forças sociais sob a forma de estruturas unificadoras e centralizadas.
Mas sim também à articulação em rede.
6 - Sim à crítica aos mecanismos de opressão, à denúncia das injustiças e ao trabalho do negativo.
Mas sim também às propostas alternativas, que instauram o novo e anunciam um futuro diferente.
7 - Sim ao projecto histórico, ao programa político concreto que aponta para uma nova sociedade.
Mas sim também às utopias, à busca de uma vida diferente, de um mundo novo.
8 - Sim à luta, ao trabalho, ao esforço para progredir.
Mas sim também à gratuidade assim como se manifesta no jogo, no tempo livre, ou na alegria de viver.
9 - Sim ao ideal de ser cidadão, de ser militante e lutador, sim a quem se entrega, cheio de entusiasmo e coragem, à causa da humanização.
Mas também sim à figura do companheiro, do amigo.
10 - Sim a uma concepção analítica e científica da sociedade e das estruturas económicas e políticas.
Mas sim também à visão sistémica da realidade, vista como integrada nas suas dimensões: pessoal, social, ecológica, planetária, cósmica e transcendente.”
Leonardo Boff - Teólogo, professor e membro da Comissão da Carta da Terra

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