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sábado, 18 de agosto de 2012

Os responsáveis pela crise que a paguem! SOZINHOS!

Para fazer face à dívida soberana, os governos carregam nos impostos da classe média. No entanto, são maus investimentos feitos pelos mais ricos – banca, imobiliário, dívida soberana – que estão por trás da atual crise. Daí a ideia, que o liberal Der Tagesspiegel apoia, de pôr as grandes fortunas a entrar com dinheiro.
Uma vez mais, este ano, o dirigente do Partido Social-Democrata [alemão], Sigmar Gabriel associou-se aos sindicatos para exigir impostos mais altos para os mais ricos, a fim de distribuir mais equitativamente o fardo da crise. Para ele, trata-se de "patriotismo social". Do outro lado do espetro político, os democratas-cristãos e os liberais apressaram-se a criar uma frente para proteger as famílias mais abastadas, acusando-o de estar a recuperar um velho refrão do socialismo. O debate assume tons cansativos de disputa eleitoral.
Mas é uma interpretação errónea. Há muito tempo que as disparidades na distribuição dos rendimentos e da riqueza, que se acentuaram nos últimos anos, deixaram de ser uma simples questão de igualdade. Na realidade, essas disparidades são uma das principais causas da crise atual.
Com uma riqueza cada vez maior concentrada nas mãos de uma pequena minoria, uma proporção crescente do produto nacional alimenta a procura de investimentos financeiros, e já não de bens e serviços. A população abastada da Europa investe o dinheiro em títulos de bancos, atividades imobiliárias e obrigações estatais, emitidos na Irlanda, Portugal, Grécia ou Espanha, acompanhados de suculentas taxas de juros. E assim, financiou gigantescos maus investimentos – habitações e autoestradas vazias, equipamentos aberrantes [profusão de estádios de futebol, por exemplo] – que esses países nunca poderiam criar por si mesmos.
Salvar o património dos mais ricos na Europa
Basicamente, os empréstimos dos fundos de apoio da zona euro são utilizados para ajudar estes Estados e os seus bancos a permanecer solventes para poderem cumprir a dívida para com maus investidores. Não são os alemães (ou os holandeses, finlandeses, etc.) que estão a apoiar os gregos, irlandeses ou espanhóis, mas os contribuintes da classe média que estão a salvar o património dos mais ricos da Europa.
Para além disso, os detentores de altos rendimentos contribuem pouco para o financiamento dos orçamentos nacionais. Os países da zona euro criaram realmente uma união monetária, mas nunca estabeleceram uma política fiscal comum. Em vez disso, envolvem-se numa corrida a baixas de impostos para atrair capital. Resultado: os impostos sobre rendimentos de capital caíram para os níveis mais baixos de que há registo, enquanto, à escala europeia, as fortunas dos particulares aumentaram para níveis equivalentes a 2 ou 3 vezes as dívidas nacionais.
Assim, pretende-se que os mais ricos contribuam para o pagamento dos maus investimentos. Só que esta questão é demasiado importante para ser tratada no quadro de uma campanha eleitoral nacional. É preciso, finalmente, exigir a alteração da atual política de "salvação", que não é correta.
Até agora, os funcionários dos programas de recuperação da UE apenas exigem dos países em crise uma redução das prestações sociais e uma subida dos impostos, à custa das classes médias. Entretanto, os armadores gregos, os magnatas do imobiliário irlandês e multimilionários espanhóis não pagam praticamente impostos e colocam o seu dinheiro em paraísos fiscais. A prioridade de quem quer salvar o euro devia ser lutar contra estas discrepâncias. Assim, os representantes da impopular "troika" europeia ainda podiam tornar-se heróis.
Até que enfim, que sem estatísticas (falsas), sem gráficos (manipulados), sem desenhos (para enganar bacocos) e sem argumentos (falaciosos), tim-tim por tim-tim, se denunciam os responsáveis, as causas e os efeitos de uma crise concertada entre o poder económico e financeiro, com a complacência político-ideológica.
O que não faz sentido é a solução apontada de que os mais ricos (os responsáveis) devem CONTRIBUIR para o pagamento dos seus maus investimentos, porque apenas reduz a carga da classe média inocente, sem impor a penitência apenas aos “pecadores”…
Tendência - Reação contra os ricos torna-se global
“Nunca é muito bom sinal quando os políticos começam a apelar ao patriotismo dos contribuintes”, escreve Gideon Rachman no Financial Times, depois de o Governo francês ter anunciado, pela voz do ministro Pierre Moscovici, que vai subir a taxa máxima de imposto sobre os rendimentos para 75%.
É um equívoco descrever a administração Hollande como dinossauros socialistas. A verdade é que o novo Governo francês está no extremo de uma nova tendência mundial: uma reação internacional contra a riqueza que está a reformular a política da Europa aos EUA e à China. [...]
O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na campanha para as eleições de novembro, tem vindo a capitalizar politicamente as suas promessas de taxar “milionários e multimilionários”, enquanto classifica o seu rival republicano, Mitt Romney, como o representante das elites que não pagam impostos. […]
Assim, esse género de mudança é suscetível de provocar uma reação política. Os políticos ocidentais, de Barack Obama a François Hollande estão a tentar captar e canalizar esse novo estado de espírito... Se este novo clima endurecer, pode marcar o fim de uma era de baixa de impostos, desregulamentação e desigualdade crescente, que começou no final de 1970, com a ascensão de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, no Ocidente e de Deng Xiaoping na China...

Ecos da blogosfera - 18 ago.

E por que não assinarmos um “Testamento Vital”?

A Finlândia prepara-se para o rebentamento de uma crise cambial à medida que sobem as tensões na zona euro e não tolerará mais deslizes nos resgates ou uniões financeiras pela calada, noticia The Daily Telegraph na primeira página.
O diário cita uma entrevista com o ministro dos Negócios Estrangeiros finlandês, Erkki Tuomioja, em que o governante disse:
Há um consenso sobre o facto de um colapso da zona euro ser mais caro a curto e médio prazo do que a gestão da crise. Não há regras para sair do euro mas é apenas uma questão de tempo. Ou sai o Sul ou sai o Norte porque esta camisa de forças em que está metida a moeda única causa sofrimento a milhões de pessoas e está a destruir o futuro da Europa. É uma completa catástrofe. Por este andar, vamos ficar sem dinheiro. Mas, na Europa, ninguém quer ser o primeiro a sair do euro e a arcar com a culpa toda.
Na Áustria, uma entrevista com Michael Spindelegger, vice-chanceler, ministro dos Negócios Estrangeiros e líder do partido conservador ÖVP, salpica a primeira página do Kurier, sob o título “Batoteiros fora da zona euro”. O ministro disse ao diário de Viena:
Precisamos de mais mecanismos para expulsar alguém da união monetária; os países que não respeitam os compromissos. Se essas regras existissem, já teríamos sentido as consequências.
No entanto, os especialistas consultados sobre a proposta de Spindelegger, disseram ao jornal que uma saída da Grécia teria “custos imprevisíveis” para a UE e o risco de um colapso do euro “porque a exclusão atinge sempre os mais fracos e, em qualquer altura, todos podem ser o mais fraco”. Este comentário foi feito 2 semanas depois de Markus Söder, ministro das Finanças da Baviera ter dito, também numa entrevista, desta vez ao Bild, que a Grécia devia abandonar a zona euro ainda este ano.
Dizem os finlandeses (os “verdadeiros” e os “falsos”) que alguém tem que sair da Eurozona, ou o Sul ou o Norte, ou TODOS (digo eu), exatamente porque esta camisa de forças em que estamos todos metidos por causa da moeda única, que só beneficia os mais ricos, mais fortes e mais espertos, causa sofrimento a milhões de pessoas e só por isso. E se esta iminência pode levar à destruição da União Europeia, que seja o mais rapidamente possível!
O que se passa é realmente uma completa catástrofe, mesmo para quem está de fora da zona do desconforto e o receio que os persegue é o de poderem vir a ficar sem dinheiro, situação que nós conhecemos…
Por sua vez, os austríacos descartavam já a Grécia (e os gregos), mas como não há regras, nem processo para se sair do euro e há um relatório (não publicado, ou eu ainda não o consegui apanhar) que conclui que a saída da Grécia fica mais cara do que as “ajudas” para a sua permanência (daí as tranches autorizadas, depois das ameaças que as precedem), que acabaria previsivelmente no colapso do euro, o que para além de atingir os mais fracos (que diriam todos: Não pagamos!), tornaria assim os fortes também em fracos…
Mas parece que vai havendo um consenso crescente e generalizado sobre o colapso da zona euro, mais cedo do que mais tarde, se não antes das eleições na Alemanha (só em 2013), possivelmente depois, por razões e interesses exclusivos dos alemães e outros falsos europeistas.
Assim sendo, por que não aprovarem JÁ o "Testamento Vital" para a moeda única para podermos viver TODOS com DIGNIDADE?

Todos queremos exportar. E quem (se) importa?

Para combater a crise, a Espanha inspira-se no modelo alemão e aposta no excedente comercial através da exportação. Ao aumentarem substancialmente, essas vendas ao estrangeiro trazem uma ligeira esperança – fraca, em comparação aos 5.500.000 de desempregados do país.
O Governo de Mariano Rajoy não se enganou e, em busca de um substituto de crescimento para alavancar a indústria do turismo e preencher o vazio deixado pela devastação em que se encontra o setor da construção, faz do apoio às exportações uma prioridade nacional.
Pode até mesmo sonhar com a transformação da Espanha numa espécie de Alemanha do Sul, com uma economia assente nas principais joias da indústria do mundo inteiro e um denso tecido de pequenas e médias empresas, decididamente voltadas para o exterior.
“A única via de recuperação económica da Espanha é o mercado externo”, reconheceu igualmente Jaime Garcia-Legaz, secretário de Estado do Comércio Externo e economista, em declarações feitas em junho passado.
De facto, as exportações espanholas subiram 17% em 2010 e 15% em 2011, um desempenho notável que viu a sua competitividade internacional diminuir progressivamente após a adoção do euro e cuja economia, que assentava em grande parte nas PME, foi atingida, há 4 anos, em pleno voo pelo rebentamento da bolha imobiliária.
Melhor ainda, este bom desempenho continua em 2012, fazendo de Espanha o único país da zona euro que, tal como a Alemanha, conseguiu manter, nos últimos anos, a sua quota de exportações mundiais de bens e serviços, quota essa que diminuiu em França, Itália e mesmo nos Estados Unidos.
O país deve estes bons resultados a algumas empresas, como o gigante das telecomunicações Telefonica, ao grupo petrolífero Repsol, aos bancos Santander e BBVA, às construtoras ACS e Ferrovial e também à Inditex, à Mango e à Puig, nos têxteis e perfumes, que são competitivas nos mercados mundiais.
Desenvolver a marca “Espanha”
Estas empresas fizeram, durante a última década, esforços importantes para melhorarem a sua produtividade. Entraram em novos mercados antecipando, assim, a conjuntura de crise económica espanhola e, agora, podem contar com uma recuperação de competitividade conseguida com a moderação salarial provocada por um desemprego próximo dos 25% e pelos planos de austeridade sucessivos que têm sido postos em prática desde 2010.
Não admira, por isso, que o Governo de Mariano Rajoy esteja também a seguir este caminho. Desde há várias semanas que não há conferência de imprensa ou intervenção pública do primeiro-ministro e dos membros do seu Governo sem que se oiça uma frase de louvor ao modelo alemão e ao bom desempenho das exportações espanholas.
Mariano Rajoy até nomeou, em julho, um alto-comissário encarregue de desenvolver a marca “Espanha” no estrangeiro. Carlos Espinosa de los Monteros, que também é vice-presidente da Inditex (Zara, Massimo Dutti, etc.), tem como missão unificar os esforços das empresas exportadoras e projetar uma imagem positiva do país a nível internacional. Também lhe foi pedido que divulgasse os sucessos nacionais dentro do país, para “dar o exemplo”.
O mesmo aconteceu com a diplomacia espanhola, que foi muito recentrada no aspeto comercial. O ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Garcia Margallo, um antigo eurodeputado especialista em questões económicas tem, assim, antes de mais, um papel de representante de luxo ao serviço dos interesses das grandes empresas do país.
O caminho é ainda longo
Estes esforços apoiam-se, agora, numa base sólida. A Espanha, que entrou na crise com um grande défice comercial em relação ao resto da União Europeia, goza atualmente de um excedente e a parte das suas exportações na riqueza nacional subiu para cerca de 20% do produto interno bruto (PIB), um nível comparado ao de França.
Mas o caminho é ainda longo. Na Alemanha, cerca de 1/3 da atividade assenta nas exportações. “As nossas exportações são muito afetadas quando, como acontece agora, as economias do Velho Continente abrandam”, reconhece Garcia-Legaz. A solução? “Desbravar novos mercados, fora da União Europeia”, preconiza o secretário de Estado do Comércio Externo.
Por outro lado, as empresas exportadoras representam apenas uma parte do trabalho assalariado em Espanha. E o setor não tem a dimensão suficiente para absorver os cerca de 5.500.000 de desempregados espanhóis, dos quais 1.500.000 vêm da construção civil.
As PME, que empregam mais de 15.000.000 de pessoas e podem representar uma porta de saída, lutam, elas próprias, por se virarem para a exportação. Não conseguem os financiamentos necessários para se desenvolverem no estrangeiro. Especialmente junto dos bancos espanhóis em fase de recapitalização e que, em alguns casos, lutam pela sua própria sobrevivência.
Atualmente, uma PME espanhola paga, em média, 5,62% de taxa de juro por um empréstimo a 3 anos inferior a 250 mil euros, segundo os números do instituto de estatística europeu Eurostat. Uma empresa alemã financia-se a 4,4%, em média, e em França a taxa desce para 3,23%. O governo de Rajoy já prometeu ajudar as PME mas, até agora, ainda não juntou os atos às palavras.

Contramaré… 18 ago.

Um eurodeputado húngaro de extrema-direita, conhecido pelos seus ataques anti-semitas, foi obrigado a demitir-se do partido Jobbik depois admitir publicamente que ele próprio é judeu. Os avós maternos de Csanad Szegedi estiveram entre os sobreviventes do Holocausto. O político de 30 anos apresentou desculpas à comunidade judaica da Hungria pelas suas palavras e prometeu visitar o campo de concentração de Auschwitz, onde a sua avó materna esteve durante a II Guerra Mundial.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Nem de perto, nem de longe se pode comparar…

Nas primeiras imagens de uma deliciosa comédia de Ernst Lubitsch, A 8.ª Mulher do Barba Azul, vê-se um homem bem vestido a olhar a montra de uma loja na Riviera francesa. Franze o sobrolho quando lê este aviso: “Falamos alemão. Falamos italiano. Falamos inglês. Compreendemos americano.” Gary Cooper (é ele o actor) entra na loja e quando lhe perguntam “o cavalheiro, o que deseja?”, responde: “Pajamas.” Claro que era um americano. Porque se fosse inglês teria dito “Pyjamas”. Teria dito? De quantas maneiras poderá dizer-se uma mesma palavra? E de quantas nos é possível escrevê-la? As diferenças entre línguas, e particularmente entre variantes de uma mesma língua, têm sido ao longo dos séculos motivo de curiosidade ou de humor, mas nunca de conflito. São tão naturais como tudo aquilo que as fez nascer. Já agora: pijamas (que em Portugal se escreve com “i”) não é inglês nem “americano” – é uma palavra de origem persa.
Vem isto a propósito da mais recente “inovação” em matéria linguística. Num artigo recente, o economista italiano Edoardo Campanella (ver PÚBLICO de 8 de Agosto) defende “a adopção de uma língua comum” na União Europeia. Isto não teria que rejeitar as línguas existentes, que ele reconhece serem muitas (só em Itália, o seu país natal, há uns 20 dialectos regionais), mas levaria a que as línguas de cada país fossem para uso caseiro, sendo que em termos internacionais se usaria uma língua comum. Qual, ele não diz, mas só vê benefícios.
Voltemos a Lubitsch. O filme é de 1938, vésperas da II Guerra Mundial. Ora não foi por questões linguísticas que a Europa se emaranhou em vergonhosas carnificinas. Pretender, hoje, que uma “língua comum” serviria para aliviar preconceitos ou para agilizar a circulação no espaço europeu, é demasiado pueril. Língua internacional, não só à escala europeia mas mundial, já existe de forma natural e não precisa de substituto: é o inglês. Não o inglês culto, de Chaucer ou Shakespeare, mas uma amálgama tosca que toda a gente, mal ou bem, vai sabendo pronunciar ou, em última instância, até escrever. No Webster’s Inglês-Português, por exemplo, o “dilema” de Lubitsch resolve-se de forma prática escrevendo “pajamas, o mesmo que pyjamas” ou “pajamas, pyjamas = pijamas”. A matriz inglesa e a variante americana válidas, na escrita, ressalvando-se o país de uso. Aliás, mesmo sem ir até à estante, a Wikipedia faz o favor de nos informar que “muitas regiões, como o Canadá, Austrália, Índia, Nova Zelândia, África do Sul, Malásia, Singapura e o Caribe, desenvolveram as suas próprias variantes da língua”. Da inglesa, naturalmente.
Antes de Campanella, as ideias de “língua comum” não se recomendam. A novilíngua de Orwell, no seu 1984, trazia os traços do totalitarismo mais sombrio. E o esperanto, querendo ser uma língua de fácil aprendizagem para toda a população mundial (sem substituir as existentes, o que a aproxima da sugestão de Campanella), acabou por morrer. Línguas artificiais não vingam. E, no entanto, é sempre com o argumento da facilidade que o disparate linguístico se insinua.
Em Abril passado, na Bienal do Livro de Brasília, o escritor Ondjaki disse em voz alta o que muitos outros já terão pensado: considera-se um autor “de expressão angolana” e não portuguesa, como paternalmente o designam. Aquilo de que Ondjaki se queixa tem raízes num disparate idêntico ao de Campanella: a lusofonia. Ora a lusofonia não existe, tal como não existirá nunca uma “eurofonia”. São duas faces semelhantes de uma mesma farsa, inventadas para unir à força o que só encontra unidade forte na diferença. Se alguma coisa existe, no universo que usa a língua portuguesa como matriz (dela fazendo derivar riquíssimas variantes), é a uma polifonia: de vozes, de pronúncias, de diferenças iniludíveis. O actual acordo ortográfico, feito à revelia desta evidência, nasceu do mesmo absurdo que a “eurofonia” utópica de Campanella.
Pajamas, pyjamas, pijamas? Metro, metrô, andante? Sim, e depois? O mundo vive mais facilmente com isto do que com unidades feitas à custa da falsidade e da mentira torpe. A democracia fica mal de botas cardadas, sobretudo quando marcham sobre o que ainda nos resta de inteligência.
Nuno Pacheco
Nota - Quando dou a palavra a outros não costumo confrontar essas opiniões, nem o vou fazer. Mas porque sou lusófono e defensor da lusofonia em todas as vertentes imagináveis, sinto vontade de dizer que, no caso, parece-me estar a confundir-se lusofonia com “lusografia”, por um lado e por outro se está a querer comparar uma realidade que nasceu e cresceu naturalmente durante anos e anos, com uma virtual “ideia maluca”, inexequível, inútil e politicamente perigosa. E pronto!

Ecos da blogosfera - 17 ago.

Já estamos meio cozidos? Ou não?

História da rã (que não sabia que estava a ser cozida)
Da alegoria da Caverna de Platão a Matrix, passando pelas fábulas de La Fontaine, a linguagem simbólica é um meio privilegiado para induzir à reflexão e transmitir algumas ideias.
Olivier Clerc*, nesta sua breve história, através da metáfora, põe em evidência as funestas consequências da não consciência da mudança que infeta a nossa saúde, as nossas relações, a evolução social e o ambiente.
Um resumo de vida e sabedoria que cada um poderá plantar no próprio jardim, para desfrutar dos seus frutos.
Imagine uma panela cheia de água fria, na qual nada, tranquilamente, uma pequena rã.
Um pequeno fogo é aceso debaixo da panela e a água começa a aquecer muito lentamente e a rã não se apercebe de nada!
Pouco a pouco a água fica morna, o que a rã acha bastante agradável e continua a nadar.
A temperatura da água continua a subir...
Agora a água está mais quente do que a rã pode apreciar, começa a sentir-se um pouco cansada, mas, não apesar disso, não se assusta.
Agora a água está realmente quente e a rã começa a achar desagradável, mas como já está muito debilitada, suporta e não faz nada.
A temperatura continua a subir, até que a rã acaba simplesmente cozida e morta. 
Se a mesma rã tivesse sido lançada diretamente na água a 50º, com um golpe de pernas teria saltado imediatamente para fora da panela.
Isto mostra que, quando uma mudança acontece de um modo relativamente lento, escapa à consciência e não desperta, na maioria dos casos, qualquer reação, oposição ou revolta.
Se olharmos para o que tem acontecido na nossa sociedade há algumas décadas, podemos ver que estamos a passar por uma lenta mudança no modo de viver, a que nos vamos adaptando. Uma quantidade de coisas que nos teriam horrorizado há 20, 30 ou 40 anos, tornaram-se pouco a pouco banais e hoje apenas incomodam ou deixam completamente indiferente a maior parte das pessoas.
Em nome do progresso, da ciência e do lucro, são efetuados ataques contínuos às liberdades individuais, à dignidade, à integridade da natureza, à beleza e à alegria de viver; efetuados lentamente, mas inexoravelmente, com a constante cumplicidade das vítimas, desavisadas e agora incapazes de se defenderem.
As previsões para o nosso futuro, em vez de despertar reações e medidas preventivas, não fazem outra coisa a não ser a de preparar psicologicamente as pessoas a aceitarem algumas condições de vida decadentes, aliás, dramáticas.
O martelar contínuo de informações, pelos media, satura os cérebros, que já não conseguem distinguir as coisas...
Quando falei pela primeira vez destas coisas, era para um amanhã. Agora, é para hoje!
Se não está, como a rã, já meio cozido, dê um saudável golpe de pernas, antes que seja tarde demais.
Consciência ou cozido, tem de escolher!
*Olivier Clerc, nascido em 1961 na cidade de Genebra, na Suíça, é escritor, editor, tradutor e conselheiro editorial especializado nas áreas de saúde, desenvolvimento pessoal, espiritualidade e relações humanas. É também autor de Médecine, religion et peur (1999) e Tigre et l’Araignée: les deux visages de la violence (2004).
Recebido por mail

E nós é que somos “preguiças” subsidiodependentes!

"Pobre mas sexy", a capital alemã é um centro criativo e vanguardista e vive dos subsídios pagos pelos outros 'Länder'. Para a população de Berlim ser assalariado é uma angústia e o subsídio universal uma esperança. Retrato mordaz traçado pelo bloguista Don Alphonso.
O meu amigo H. sente-se angustiado, porque chegou a uma idade crítica e está a aproximar-se o momento em que a economia real o incluirá na categoria dos "trabalhadores idosos". No entanto, em Berlim, com alguma habilidade, é possível chegar a meio da casa dos 40 anos sem nunca ter exercido uma atividade regular. H. não faz parte da massa de eternos adolescentes que montam projetos gratuitamente: trabalhou nos meios de comunicação. Quando o conheci, em Berlim, há cerca de 8 anos, H. vivia sem pensar no futuro e gastava sem fazer contas.
Hoje, é dono de bens imobiliários, retomou os estudos e sente-se angustiado. E, por se sentir angustiado, defende a criação de um subsídio universal. Este permitir-lhe-ia viver com maior liberdade, afirma. E evitaria que todos os outros sofressem a opressão de trabalhar em troca de um salário miserável. Para si, o subsídio universal seria uma libertação de ordem psicológica. Continuaria a trabalhar a sério. Quer simplesmente libertar-se do medo irracional que sente.
Uma ameaça para o Estado social
1.000 euros líquidos: é o mínimo necessário para se viver um mês, em Berlim. É o que se ouve dizer. Por mais poupado que se seja, será preciso que alguém – o Estado, o patrão, a família ou os amigos – arredonde as contas.
A wiki de Christian Heller, pioneiro da era digital, permite fazer uma ideia, quase ao cêntimo, do número de dias que um jovem se pode aguentar, alimentando-se apenas de chocolate, espetadas de frango e sopa instantânea. Quando a entrada de dinheiro é maior que o previsto, é altura de comprar os novos produtos da Apple e de publicar entradas no Twitter. Quando já não há entrada de dinheiro, discute-se na Internet se será melhor tentar esquecer com erva ou com cerveja. A rotina profissional da geração dos pais é um modelo degradado – é o que se pensa.
Secretário-geral do Partido Pirata e natural de Berlim, Johannes Ponader está familiarizado com este tipo de postura. As opiniões sobre a sua pessoa divergem e ele próprio considera-se como "alguém que faz mexer os segmentos da sociedade". Outros consideram-no uma ameaça ao Estado social. Porque Johannes Ponader não é apenas um defensor inflamado do subsídio universal: chegou ao cargo que ocupa por ter prometido ao partido dedicar 40 horas semanais do seu tempo a esta atividade não remunerada. Apesar de o subsídio de desemprego de longa duração ter sido instituído para incitar as pessoas a regressarem rapidamente ao mercado de trabalho, Johannes Ponader considera-o uma ajuda financeira destinada ao partido. "O Estado paga-me para eu poder viver e o meu compromisso político é consequência do facto de viver."
Berlinenses versáteis e oportunistas
O facto de ouvirmos esta posição do Partido Pirata sobretudo em Berlim talvez tenha igualmente a ver com o estado em que a cidade se encontra: Berlim (des)funciona desde 1945 com base no princípio do subsídio universal ou, para utilizar a expressão corrente, da "repartição dos recursos entre os Länder".
Quer se trate do aeroporto de Berlim ou dos escândalos que envolvem bancos regionais, dos comboios suburbanos ou da incapacidade da cidade de tornar as ruas praticáveis no inverno, Berlim vive num estado permanente de insolvência não declarada e depende, ano após ano, de transfusões dos Länder mais ricos, cujo desempenho e cuja produtividade de "pequeno-burgueses" são olhados de alto: o filósofo da era digital Michael Seemann escreveu um artigo que falava do "sistema de valores de uma sociedade obnubilada pelo desempenho e afogada numa ética protestante do trabalho". Considerada ultrapassada, a província é desdenhada – o que, no entanto, não a isenta de ter de pagar a contribuição para a sua agitada capital.
No seu excelente romance Mandels Büro [O escritório Mandel, não traduzido em português], Berni Mayer traça o retrato dos berlinenses versáteis e imobilistas. Os heróis do livro perdem os seus meios de subsistência e decidem tentar a profissão de detetive, mas veem-se rapidamente ultrapassados. A maior parte das suas tentativas não dão em nada e todos estes pequenos fracassos acabam por destruir a amizade que os une e por a transformar numa mera coabitação sem compromisso. O único elemento realmente fiável do romance é o Audi A8 amarelo, fabricado na Baviera. As convicções, as relações humanas e os sentimentos são apenas moeda de troca. A Berlim do romance é uma "bad bank" cínica, na qual toda a gente espera o próximo plano de salvamento para receber o seu dinheiro e recomeçar tudo de novo. E, se este não chegar, procurarão outra coisa.
Uma cidade em pousio
Veja-se o caso de Sascha Lobo. Depois dos seus insucessos na nova economia, este bloguista alemão quis abrir uma empresa de promoção de blogs, com o objetivo de profissionalizar a blogosfera alemã. Essa empresa funcionou tão bem como os comboios suburbanos de Berlim. Sascha Lobo iniciou-se na escrita, com textos que, por exemplo, apresentavam o Second Life como um modelo comercial. Foi publicado um romance sobre as suas experiências na nova economia mas, a menos que queiramos ser maus, mais vale não falar das pessoas da editora Rowohlt. No entanto, Sascha Lobo comparece sempre nos congressos e explica ao seu público até que ponto está atrasado face a um futuro que será digital.
Toda a gente quer seguir as pisadas de Sascha Lobo, ter, como ele, um lugar ao sol e na Spiegel Online [na qual escreve crónicas], toda a gente quer escrever apresentações ou fazer o que for preciso para chegar aos tais 1.000 euros mensais, enquanto espera a instituição do subsídio universal.
O meu amigo H. falou-me das suas angústias e do subsídio universal, quando nos encontrámos no sul da Alemanha, antes de partir para Itália. Em Hall [perto de Innsbruck], falámos de bolos e de bacon no sul do Tirol. Por último, quando chegámos à margem do Lago de Garde, discutimos se ele poderia deixar de viver em Berlim, depois de ter vendido os seus bens imobiliários. Se não poderia, simplesmente, ficar à beira do lago e fazer qualquer coisa que soubesse realmente fazer. Talvez isso fosse uma maneira de exorcizar o medo e de levar este apóstolo do subsídio universal a abandonar aquela cidade deixada ao abandono, mas que sabe muito bem quem deve meter a mão no bolso para arredondar os 1.000 euros.

Contramaré… 17 ago.

A polícia sul-africana abriu fogo sobre um grupo de mineiros que se encontravam em greve matando 18. Além dos mortos diversas pessoas ficaram feridas.
O incidente ocorreu perto da mina de Lonmin PLC e foi acompanhada em direto pela televisão. Para acabar com a greve a polícia enviou para o local 3.000 operacionais.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Muitos perdem e só um ganha, como nos Casinos…

Apesar de os especialistas alertarem para uma recessão em setembro, por enquanto, é o “excedente das exportações alemãs que inquieta a OCDE”, titula Der Standard. Este ano, a organização prevê que o valor das exportações alemãs ultrapasse em 200 mil milhões de euros – ou seja, 6% do PIB – o valor das importações. Ainda mais do que a China ou o Japão. O problema é que Berlim contribui assim para os desequilíbrios económicos no continente europeu e a Comissão Europeia poderá chamá-la à atenção, adianta o Financial Times Deutschland.
Em fevereiro, Bruxelas já tinha encoberto os pecados alemães elevando o limiar de alerta do excedente da balança comercial para 6% do PIB. Desta vez, isso não acontecerá, estima o FTD, que prevê nomeadamente que a UE irá recomendar à Alemanha que invista no setor dos serviços, para relançar o consumo e reduzir assim o fosso com as exportações.
Escandalizado por ver a economia alemã a ser alvo de críticas, o Frankfurter Allgemeine Zeitung relança o debate sobre esses “alegados desequilíbrios” onde “tanto os excedentes como os défices são problemas com a mesma dimensão”:
Quando os países produzem, permanentemente, défices comerciais e acumulam dívidas no estrangeiro, significa que as coisas não melhoraram. Foi assim que a periferia do euro deslizou para a crise. O seu défice comercial representa a sua falta de competitividade. Os excedentes alemães, por outro lado, refletem a força e a estrutura da economia. O país produz bens necessários no estrangeiro. O que não constitui um problema.

Mais uma vez, confessando incompetência para compreender este sucesso alemão, terei que fazer as chamadas “perguntas do macaco”, mesmo que ninguém me dê respostas, porque sei que não as há, a não ser por razões que não tem nada a ver com economia...
No gráfico acima, que se reporta a 5 de Janeiro de 2010, vê-se que a Alemanha é um dos países da UE onde o Salário Mínimo (que naquele país não existe formalmente) é dos mais altos.
Sabemos que, desde essa data e mercê dos programas da troika impostos em troca das “ajudas”, os ordenados nos países intervencionados baixaram, o que aconteceu também em Portugal.
Sabemos que nos países “ajudados” a carga anual de trabalho é superior à da Alemanha, ao contrário dos períodos de férias.
Sabemos que não há “especialista” nestas coisas, de cá ou da estranja, que não diga, aconselhe e imponha cortes nos salários nos PIIGS e aos seus trabalhadores, para reduzir os custos de produção, “logicamente” para melhorar a competitividade, atrair investimento e aumentar as exportações, alavanca da economia.
Sabendo-se estas coisas simples ficam as perguntas:
Se na Alemanha os ordenados são dos mais altos, os produtos não saem mais caros do que nos países onde a mão de obra é mais baixa?
Se o preço do trabalho na Alemanha é mais caro do que na maioria dos países da UE, como é que conseguem investidores, mesmo alemães?
Se o produto final sai mais caro do que nos outros países por que arranjam quem lhes compre e cada vez mais?
Já sei que vão pensar e dizer que a produtividade… Mas não são os portugueses da Autoeuropa considerados os mais produtivos do grupo, que por acaso é alemão?
Constatando-se que os resultados mais visíveis dos planos da troika são as falências, em catadupa, das empresas produtoras, mesmo das exportadoras, teremos que concluir que a eliminação das empresas concorrentes ajuda (obriga) a comprar-se o que se precisa onde existe, mesmo que a coisa fique mais cara do que se fosse produzida nos respetivos países. Parece lógico!
Quer dizer que depois da eliminação da frota pesqueira e da agricultura (no nosso caso), através de subsídios “compensatórios” para tal e agora com a eliminação das empresas industriais, com base em argumentos falaciosos e consequências dramáticas para a economia e os cidadãos, acaba-se com a concorrência em todas as áreas, obrigam-nos a importar dos países com mão de obra mais cara, por não haver alternativa, ou dão-nos como alternativa a aquisição de produtos chineses, de qualidade mais do que duvidosa e não controlada.
Se não troquei as voltas a mim mesmo, já percebi! Tem tudo a ver com a concorrência, ou melhor, com a eliminação da dita. Assim também eu… Só se estão a esquecer que retirando dinheiro aos cidadãos dos países com mais dificuldades, primeiro cai o comércio interno, mas depois cai o externo, a não ser que nos voltem a emprestar dinheiro, nem que seja para comprar mais submarinos…
Deve haver muita coisinha abaixo do nível da água, para além dos salários…

Ecos da blogosfera - 16 ago.

Não foi uma ação lícita, mas foi uma ação aceitável...

O Robin dos Bosques espanhol
O presidente da Câmara da cidade espanhola de Marinaleda, Juan Manuel Sanchez Gordillo, foi ovacionado por roubar comida de supermercados e entregar aos pobres, nas últimas 3 semanas.
Gordillo afirmou que os mantimentos furtados foram entregues às famílias mais atingidas pela crise económica europeia. Embora o prefeito continue impune, 7 pessoas foram presas por participarem da onda de roubos. O grupo entrava nas lojas, enchia os carrinhos e saía do local, discretamente, sem pagar.
Sanchez Gordillo possui imunidade política, mas disse que ficaria feliz em renunciar a ela para poder ser preso como os outros. "Existem pessoas que não têm o que comer. Este século 21 é pura desgraça".
Gordillo, que foi ovacionado pela população, ainda alegou que o seu objetivo é chamar atenção para a situação da Espanha cuja taxa de pobreza subiu mais de 15% desde 2007.
O presidente do parlamento espanhol, Alfonso Alonso, condenou a atitude do presidente da Câmara e afirmou que a situação económica não é desculpa para se tornar um Robin Wood.
O regime ordenou a detenção de Sanchez Gordillo da UI por assaltar supermercado

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Nota do discurso: 9 valores (não chega à positiva).

1. Tanta expectativa na comunicação social e por parte dos comentadores políticos face ao discurso de Passos Coelho no encerramento da Festa do Pontal só poderia redundar numa tremenda e angustiante desilusão.
Em primeiro lugar, Passos Coelho nunca iria antecipar as suas ideias fortes para a rentrée do partido, pois tal poderia significar dar uma vantagem aos seus opositores políticos.
Em segundo lugar, Passos Coelho reserva para o discurso de encerramento da Universidade de Verão da JSD, no início de Setembro, a divulgação daquelas que serão as traves-mestras do orçamento de Estado para 2012.
Sendo assim, a primeira conclusão que retiramos é que o discurso de Passos Coelho no Pontal não correspondeu às expectativas mediáticas que foram sendo criadas.
2. Posto isto, vejamos como correu o discurso. Primeiro quanto à forma; seguidamente, quanto ao conteúdo, à substância. Ora, quanto á forma, foi um discurso primário: sem coerência lógico-argumentativa, nem unidade interna argumentativa. Passos Coelho foi elencando as suas ideias, sucessivamente, conforme se ia lembrando: raramente se notou uma articulação de ideias ou um raciocínio lógico estruturado. O discurso foi, em resumo, uma amálgama de ideias, desde a economia à responsabilidade individual dos portugueses, sem qualquer conexão entre elas. O discurso perdeu, assim, em eficácia comunicativa. Passos Coelho deveria ter feito um discurso mais sucinto, mais fluido, mais escorreito - escolher, por exemplo, duas ideias fortes que marcassem. Como faz o seu parceiro de coligação Paulo Portas, que certamente já lhe deve ter dado algumas dicas.
Irresponsabilidade de Passos?
3. No que respeita á substância, o discurso de Passos Coelho merece 4 notas:
1) Passos Coelho - finalmente! - saiu do armário. De facto, o discurso de hoje mostra uma inversão do discurso de Passos Coelho no que respeita ao assumir descarado da sua orientação ideológica. Até então, Passos Coelho negava que a aplicação do programa da troika representasse a aplicação de um programa ideológico-programático igualmente perfilhado pelo Governo. O Governo nunca assumiu que a troika era apenas uma bengala para aplicar o seu programa (supostamente) neoliberal. Esta noite, Passos Coelho referiu expressamente que se identifica com o programa da troika, com o imperativo de ir para além das exigências da troika: o programa ora aplicado é para ser levado a sério e não admite retrocessos. Portugal não voltará, segundo Passos Coelho, ao modelo anterior. Tendo em que conta que o governo refere que não tem margem de manobra política e se limita a aplicar o programa da troika, isto significa que o Governo entende que o futuro de Portugal deve ser escrito exactamente como a troika manda. Sem reservas. Ora, só que este discurso não deve ser partilhado pelo outro partido da coligação: é que Paulo Portas - eu lembro-me - só subscreveu o memorando de entendimento colocando reservas...
2) Em segundo lugar, mais uma vez, a economia esteve ausente do discurso de Passos Coelho. Dir-se-á que Passos Coelho mencionou a reforma do Código de Insolvência, da lei da concorrência e outras reformas estruturais sem as nomear. Mas é curto. Muito, muito curto. Para já, é estranho que Passos Coelho fale muito do futuro no discurso - e na área económica se limite a falar do passado. Do pouco (muito pouco) que já fez. Mas alguém acredita que é a lei da concorrência que vai aumentar o PIB nacional e diminuir o desemprego em Portugal? Sobre o desemprego, Passos Coelho não referiu uma única palavra. No entanto, Passos Coelho não se coibiu de prometer que em 2013 não haverá uma recessão. Ora, esta promessa, atendendo à actual conjuntura económica, carecia de maiores explicitações por parte do Primeiro-ministro. Porque das duas, uma: ou é um acto de irresponsabilidade que poderá sair politicamente caro; ou é uma afirmação feita com convicção e dados seguros. Passos não quis comprometer-se quanto aos meios (ou seja, as medidas económicas a adoptar); mas comprometeu-se com o resultado. O que não joga com a atitude de precaução política constante de Passos Coelho;
3) Passos trouxe para o discurso o tema da meritocracia. Ora, muito bem, se fosse verdade que os portugueses sobem na vida pelo seu mérito, seria de aplaudir esta referência de Passos Coelho. O problema é que nós sabemos que não é assim: os especialistas, os compadres de Miguel Relvas continuam a dominar o Estado. E um Primeiro-ministro que mantém Miguel Relvas como braço direito não pode falar de seriedade ou de mérito;
4) Passos Coelho, por fim, já deixou antever o qeu vai acontecer: os impostos vão aumentar como resposta à decisão do Tribunal Constitucional. Os portugueses, as empresas, a economia portuguesa não vão aguentar. Ninguém percebe que os limites já foram ultrapassados há muito?
O texto já vai longo. Uma nota final para acrescentar que o aspecto positivo que encontrei no discurso de Passos prende-se com as fundações: Passos garantiu que não vai ceder a pressões na decisão de extinguir as fundações que se revelam contrárias ou inúteis para o interesse público.
João Lemos Esteves

Contramaré… 16 ago.

Foi literalmente aos molhos que os funcionários da sede nacional do CDS-PP levaram nos últimos dias de Dezembro de 2004 para o balcão do BES, na Rua do Comércio, em Lisboa, um total de 1.060.250 euros, para depositar na conta do partido. Em apenas 4 dias foram feitos 105 depósitos, todos em notas, de montantes sempre inferiores a 12.500 euros, quantia a partir da qual era obrigatória a comunicação às autoridades de combate à corrupção.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Palavras da IURP - Igreja Universal do Reino do Pontal

Na chegada à Festa do Pontal, que marca a rentrée política do PSD, o primeiro-ministro Pedro Passos coelho, foi recebido com apupos e buzinadelas por parte de 50 viaturas que circularam em marca lenta, num “buzinão” organizado para protestar contra a introdução de portagens na A22, o que afetou a circulação em frente ao Aquashow de Quarteira, mas o primeiro-ministro chegou com escolta policial, pelo que não foi afetado.
Entre as mais destacadas intervenções da história do Pontal, estão os discursos do "homem do leme", de Cavaco Silva em 1993, e a profecia da "verdade" de Passos Coelho, um ano antes de ser primeiro-ministro.
8 anos depois de, no mesmo cenário, ter sido apresentado como novo presidente do partido ao "povo laranja" no seu Algarve, Cavaco Silva reivindica a sua liderança. Então, em tempo de crise europeia, Portugal tem rota e um capitão do barco. O "homem do leme" é de Boliqueime. 12 meses depois, aquele discurso parece esquecido. Cavaco abandona a metáfora náutica e adopta a imagem ciclista: "Portugal integra agora o pelotão da frente com mais 15 países, mas vamos na parte detrás do pelotão", alerta.
Até agora as 2 intervenções de Passos Coelho foram, igualmente, marcantes. Em 2010, recém-chegado à presidência social-democrata, Passos põe condições para apoiar o Orçamento de 2011, o último da autoria da dupla Sócrates/Teixeira dos Santos: não ao aumento dos impostos, não aos cortes nas deduções fiscais na saúde e educação; sim ao corte da despesa. A revisão constitucional, tema estrela da conquista da liderança partidária e ponta do véu de um novo programa político, é preterida. No regresso como primeiro-ministro do PSD ao palco da festa, o discurso de 2011 é diferente. "Não se espantem que o meu apelo seja hoje dirigido mais aos parceiros sociais do que aos partidos políticos", explica. Em tempos de troika, pede paciência e espírito de sacrifício, porque "o que estamos a fazer ficará na história da Europa". Há, também, promessas: como um programa até ao final de mês (Agosto de 2011) para "acabar com institutos públicos, fundações".
Passos Coelho, no dia em que o INE revelou um novo recorde máximo de desemprego em Portugal, fez previsões inesperadas: “O ano de 2013 será um ano de inversão na situação económica. Estou muito confiante que temos todas as condições para que o ano de 2013 seja de estabilização da nossa economia”, declarou.
O líder do PSD afirma que para tal o Governo irá “encontrar uma solução para substituir” os cortes nos subsídios de férias e de Natal e pareceu esperançoso nas palavras: “Não perco a esperança de que Portugal possa ter uma Constituição melhor.”, repetindo que as “nomeações públicas serão por mérito e não por interesse partidário”.
Sem muitos pormenores no seu discurso, Pedro Passos Coelho disse que o Governo tem dado o seu melhor e que a união nacional é fundamental para os dias de sucesso que prevê para o próximo ano: “O fracasso deste Governo seria uma desgraça para todos os portugueses e para Portugal”.
Pedro Passos Coelho afirmou: "Que fique claro para todos os portugueses que o programa que defendemos é de 4 anos e que temos a ambição de o poder vir a renovar, porque Portugal precisa de mudar continuamente e de não voltar à cultura da facilidade do endividamento".
Longe vão os tempos em que os governantes portugueses circulavam “anonimamente” entre os seus anónimos concidadãos, sem qualquer aparato protetor da sua liberdade de circulação. Longe vão os tempos em que uns buzinões chegavam para destituir governos e governantes.
Exatamente pelos mesmos motivos, a da livre circulação rodoviária em estradas já pagas e repagas, voltamos às buzinadelas como protesto sonoro contra essa espoliação. Contra a espoliação de direitos de apenas alguns portugueses, os governantes, sem argumentos de defesa legítimos, defendem-se com o argumento do reforço policial…
Sinais dos tempos (de especulação), das políticas (de confiscos) e dos políticos (engajados e cara de pau)…
Este ritual da IURP - Igreja Universal do Reino do Pontal - anualmente celebrado, é marcado pelas palavras dos seus “bispos”, que como se constata não passam de circunstanciais e denunciadoras de um clima de histerismo coletivo, sem consequências…
Cavaco Silva, já em tempo de crise europeia e já com 8 anos de governação, intitulava-se como o "homem do leme", assumindo-se como o único responsável pelas políticas do governo de então (onde começaram os males que hoje pagamos), mas 1 ano depois, o mesmo Cavaco avisava (ele é premonitório, embora decisor) que Portugal ia na parte detrás do pelotão de 15 países, corroborando, inocentemente, a sua responsabilidade por esse atraso. Não há dúvidas que o nosso presente começou nesse passado…
Passos Coelho, em 2010, ainda e apenas como Presidente do PSD, rejeitava o aumento de impostos, dizia não aos cortes nas deduções fiscais na saúde e na educação e aconselhava o corte na despesa do Estado (sem explicar que “despesas” eram os salários dos trabalhadores da Função Pública). Hoje sabemos que a palavra do senhor não tem qualquer crédito…
Em 2011, Passos Coelho, já como primeiro-ministro de Portugal e com uma maioria governamental fazia uma homilia diferente, virando-se para os parceiros sociais (de quem precisava para conter a “paz social”) apelando à paciência e ao espírito de sacrifício para por em prática o PROGRAMA DE GOVERNO DA TROIKA (a maioria governamental tinha apenas um PROGRAMA ELEITORAL), sublimando-o como o caminho para ficarmos registados no futuro da história da Europa. E prometia acabar com institutos públicos e fundações até ao fim de Agosto desse ano. Hoje sabemos que a palavra do senhor convenceu a UGT a beber do cálice da concertação e que o tema recentemente repescado dos institutos e fundações foi um fait diver, quando alguém se lembrou do Portal do ano anterior…
Em 2012, Passos Coelho, já com um ano de governação e com (in)sucesso atrás de (in)sucesso, já reafirma (não é a primeira vez), que 2013 é que vai ser mesmo o princípio do paraíso (dizem que o purgatório já não existe) e que vai ser tudo “invertido”… Cruz, credo!
Até vai arranjar 2.000 milhões de euros que confiscou aos FP e Aposentados, mas ainda não sabe como, nem onde, nem a quem (são lentos, mas rigorosos…), vai retomar a revisão da Constituição, que tem sido um entrave ao desenvolvimento (afinal não foram as políticas de Cavaco) e insiste na moralização das nomeações públicas (por mérito e nunca mais por cartão partidário), até finais de 2013, quando não houver mais nomeações, já que quase TODAS estarão preenchidas pelo método que rejeita hoje, por imperativos morais… Só se o Relvas sair para se dedicar ao estudo…
E Passos Coelho diz mais e avisa-nos que é preciso uma UNIÃO NACIONAL, já que o fracasso deste Governo seria uma desgraça para todos os portugueses e para Portugal, quando todos sabemos que o sucesso(?) deste Governo é que seria uma desgraça para todos os portugueses e para Portugal…
Finalmente, confortando os seus correligionários, já não diz que se está lixando para as eleições, que até se vai recandidatar, o que é uma ameaça para todos os que não pertencem à IURP, que terão que continuar a pagar o dízimo…
Amen!

Ecos da blogosfera - 15 ago.

Matar é crime? Parem de matar (mesmo quem matou)!

Um homem foi executado em Oklahoma, nos Estados Unidos, depois de ter tentado, sem sucesso, adiar a aplicação da pena de morte a que foi condenado ao denunciar o método de injeção letal daquele Estado.
Hooper, de 39 anos, condenado à pena capital pela morte da namorada de 23 anos e dos dois filhos desta de cinco e três anos, em 1993, foi declarado morto às 00:14 em Lisboa, de acordo com a cadeia de televisão local KOCO.
Para adiar a sua execução, o homem alegou que o protocolo da aplicação da injeção letal em Oklahoma, que combina 3 tipos de medicamentos, era inconstitucional e pediu uma dose extra de um sedativo que deixa inconsciente o preso. Antes era administrado ao preso um sedativo para o deixar inconsciente, depois outro para lhe cortar a respiração e finalmente um último que causa a paragem cardíaca.
A queixa de Hooper alegava que cada vez mais os Estados norte-americanos substituem os 3 sedativos por 1 só, altamente potente e supostamente indolor.
Este método também já foi criticado noutras ocasiões e, a 24 de julho, o Supremo Tribunal do Estado norte-americano da Georgia decidiu suspender a execução de um preso até decidir se o novo protocolo violava a lei estatal.
Os tribunais estatais rejeitaram a queixa de Hooper e o Supremo Tribunal dos EUA tomou a mesma decisão, tendo, por isso, a execução sido levada a cabo como previsto.
Este ano, 27 pessoas foram executadas nos Estados Unidos, 4 delas em Oklahoma.
Deve ser dificuldade minha entender que matar alguém seja crime e que sendo os Estados a matarem alguém também não seja criminoso, mesmo sendo um dos vetores da sua soberania.
Ninguém é culpado de ter nascido com imperfeições ou doenças, mesmo os psicopatas, e nem a violência quotidiana que nos é oferecida nas TVs em todas as séries criminais nos anestesiam, nem nos matam a consciência, que é uma componente da nossa racionalidade e humanidade.
Sei que não estou sozinho nesta interpretação dos direitos humanos e na defesa do valor da vida, que nos diminui como humanos.
Somos capazes de defender a proibição da violência e da matança de certos animais e não somos capazes de acabar com a pena de morte de humanos, quando queremos que todos os condóminos do planeta tenham direito à vida, vivendo?
Já era tempo de se combater a violência, mas sem barbárie…