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sábado, 9 de novembro de 2013

Demo Crato, à procura da equidade matemática…

O ministro da Educação, Nuno Crato, afirmou que estas provas de acesso à carreira docente “são apenas um conjunto de medidas” que o Governo está a tomar para fazer “com que os professores do futuro venham ainda mais bem preparados que os da atualidade” e avançou que os alunos que pretendam ingressar em licenciaturas de educação básica também terão que realizar exames de português e matemática.
Os docentes vão ser chamados para ser avaliados já a 18 de dezembro, tendo de pagar 20 euros pela inscrição na prova.
O ministro considera bastante reduzido o valor da inscrição.
Quem é avaliado
O Governo aprovou em Setembro a regulamentação da prova de avaliação de conhecimentos dos professores, estando previsto que um docente que obtenha aprovação só tenha de realizar nova prova se nos 5 anos subsequentes leccionar menos de 1 ano.
A prova é destinada aos professores não integrados na carreira docente, ou seja, aos contratados, terá uma periodicidade anual, e tem como objectivo "aumentar sustentadamente os padrões de qualidade do ensino", assim como a "equidade entre os candidatos ao exercício de funções docentes", de acordo com o Ministério da Educação e Ciência. 
Cada professor, sem vínculo à função pública, que quiser candidatar-se à colocação numa escola no próximo ano letivo terá de pagar, no mínimo, 20 euros ao Estado. O que dizer desta enormidade, mais uma, com a assinatura do ministro Crato? Talvez colocá-la em corpo 16, talvez lembrar todas as outras ideias bestiais do mesmo autor.
André Macedo
Por exemplo, o ensino dual, que podia ser uma boa solução pedagógica e económica, uma resposta às necessidades concretas do mercado de trabalho, mas que com o dedo rancoroso de Crato se transforma em arma de destruição da mobilidade social, castigo para alunos e famílias. Ou então recordar o corte profundo no orçamento do ensino público em 2013-2014, enquanto se aumenta o financiamento das escolas privadas e associativas. Ou, porque não, o fim da obrigatoriedade do inglês no ensino básico, que acabou, em boa hora, por morrer no tinteiro ministerial.
Nuno Crato vai chamar o quê a esta coisa inacreditável? Taxa moderadora, para intimidar as candidaturas de milhares de professores desesperados e sem alternativa senão pagar os 20 euricos? Taxa de luxo, porque realmente é um privilégio ter trabalho – digo: candidatar-se a um emprego – num país com 1.000.000 de desempregados e que assim ficará nos próximos anos? Ou talvez queira chamar-lhe simplesmente multa porque, para ele, quem hoje ainda insiste em ser professor não percebe, não entende que circula em contramão.
Permito-me, então, sugerir um imposto de selo, mas às ideias analfabetas do ministro que ambiciona ser fonte de receitas, não de conhecimento. Crato não quer ser despesa, é essa a sua pulsão dominante. Ele nem imagina o muito que está a custar ao país. Não são apenas as ideias incapazes e os métodos de guerrilha pessoal, são os muros que ele levanta a cada passo e que bloqueiam tudo à sua volta, em todas as áreas da governação, não apenas na dele.
O Ministério da Educação e os sindicatos de professores vivem hoje entrincheirados numa guerra suja. Talvez seja aqui, mais do que em qualquer outro ministério, que se torna mais chocante o grau de impreparação. As dificuldades financeiras tornam inevitáveis os sacrifícios, a poupança, a redução de professores. É verdade, não há dinheiro. Mas na educação exige-se mais, porque não se joga apenas o presente (isto é tão simples que até custa escrever...), determina-se o futuro próximo.
Crato não olha para a frente, olha para o chão, espezinha, suprime, humilha; e assim torna um pouco mais respeitáveis alguns dos sindicatos mais imobilistas que há em Portugal. Não tenho dúvida alguma: são restos do mesmo caldo, embora hoje o ministro se inspire no ar do tempo e no que ele julga serem as boas práticas do sector privado, o procurement, blá-blá-blá. O funcionário Crato não pensa, martela banalidades. O que sobra é isto: o ensino público transformado num vazadouro de lugares-comuns.

Ecos da blogosfera - 9 nov.

Problema, mesmo, são os “democratas” chupistas!

Rotular de populistas e reacionários todos os movimentos de protesto que vão surgindo só serve para contornar as raízes do problema. A União Europeia, tal como se apresenta hoje, não está ameaçada pela ira dos seus cidadãos, mas pela relutância dos governos em delegar-lhes a soberania.
Concordo com a criação de uma Europa federal e a salvação da moeda única. Caso contrário, teremos, em vez da União, muitos pequenos Estados sem grandeza, mas não sem ignomínia, sem amigos, mas mais do que nunca vassalos do poder norte-americano. Regressaremos à estaca zero: derrotados pelo nosso nacionalismo, como nas guerras mundiais do século XX.
Por que está a crescer na Europa uma humanidade tão infeliz, tão revoltada, que alimenta a extrema-direita e partidos eurocéticos? Chamar-lhe populista ou reacionária é ficar-se pelo “porquê”, fugindo à razão de ser desse grito. A resposta será inútil, se os protestos e propostas, tão diferentes entre si, forem tratados como uma massa compacta que obstrói qualquer tipo de progresso.
Estigmatizar o problema com desprezo e rejeição é ignorar que a Europa de hoje destila venenos crónicos. Não basta, como fazem os governos atuais, invocar o seu nome para que ela exista. Isso serve para esconder o que é, contudo, óbvio: nacionalismo e conservadorismo são vícios que afligem as próprias instâncias dirigentes e as elites dos Estados da União Europeia.
Também aqui, temos de ousar ir além das palavras. Se excluirmos a França, a palavra “federação” deixou de ser tabu. Evocada pela direita e pela esquerda, não é, no entanto, seguida por ações práticas, como a partilha das dívidas públicas, o crescimento impulsionado por euro-obrigações e recursos financeiros europeus de maior magnitude do que os atuais. Ou mesmo um Parlamento Europeu com novos poderes e uma Constituição comum, que seja expressão do sentir dos seus cidadãos. Em suma, uma Europa que seja para eles um refúgio em tempos de angústia e não o bastião que protege uma endogâmica oligarquia de poderosos que se protegem uns aos outros.
Povos soberanos
A Europa, tal como existe hoje, não está ameaçada pela ira (à direita ou à esquerda) dos seus cidadãos. Está ameaçada por governos relutantes em delegar a soberania nacional, não apenas fingida, mas usurpada, visto que em democracia, o soberano é o povo. A crise de 2007-2008 atormenta-a desmesuradamente devido a essas distorções. Uma austeridade que aprofunda a pobreza e a desigualdade, um Pacto de Estabilidade que nenhum Parlamento pode discutir: é esta a Europa que se quer livrar do populismo. É a miséria grega. É a corrupção de governos, que se alimenta das desigualdades e de falsa estabilidade.
O caso da esquerda radical na Grécia é exemplar. O Syriza, uma coligação de movimentos de cidadãos e grupos de esquerda, foi apodado de populista e antieuropeu, nas duas eleições de maio e junho de 2012. Os governos europeus mobilizaram-se para descrever o Syriza como o monstro a abater. Berlim ameaçou fechar as torneiras da ajuda. Mas nem o Syriza nem Alexis Tsipras, que o dirige, são antieuropeus. Exigem é uma Europa diferente e é isso que apavora os poderes instalados.
Em 20 de setembro, quando apresentou o seu programa no Kreisky Forum, em Viena, Tsipras surpreendeu aqueles que o tinham enxovalhado. Disse que a arquitetura do euro e os planos de resgate esmagaram a União, em vez de lhe curarem as feridas. Recordou a crise de 1929 e o dogma neoliberal com que foi tratada. Tal como hoje. “Os governos negaram a arquitetura aberrante dos seus projetos, insistindo na austeridade e na mera revitalização das exportações”.
Crise europeia e corrupção
O resultado foi a miséria “e a ascensão do fascismo no Sul da Europa e do nazismo na Europa Central e Setentrional”. É por isso que a União tem que ser refeita a partir do zero. Retomando propostas dos sindicatos alemães, o Syriza propõe um Plano Marshall para a Europa, uma união bancária real, a dívida pública gerida centralmente pelo Banco Central Europeu e um enorme programa de investimento público lançado pela União Europeia.
Mas Alexis Tsipras disse mais: há uma ligação que tem de ser denunciada, entre a crise europeia e as democracias corruptas de Atenas e de muitos países do Sul. “A nossa cleptocracia forjou uma forte aliança com as elites europeias”, e esse casamento alimenta-se de mentiras sobre as culpas de gregos ou italianos, sobre os salários demasiado altos e um Estado demasiado generoso. Essas mentiras “são usadas para transferir a culpa dos ombros dos cleptocratas nacionais para os das pessoas que trabalham duramente”.
É uma aliança que não tem qualquer oposição desde que a esquerda tradicional adotou, na década de 1990, os dogmas neoliberais. Grande parte da população ficou, pois, sem representantes. Perdida, abandonada, castigada por manobras que parecem exercícios recessivos. É essa parte – a maioria, se contarmos com os abstencionistas – que protesta contra a Europa.
Elites consanguíneas
Às vezes, sonha com um retorno irreal às moedas e às soberanias nacionais; outras, reclama uma Europa diferente, que não esqueça o clamor dos pobres, como foi possível no período do pós-guerra e no final dos anos de 1970. Assim fala Tsipras. E Grillo, em Itália, diz coisas semelhantes, ainda que de forma mais caótica.
Se nada acontecer, a Europa deixará de ser um abrigo e passará a ser um lugar em que as pessoas ficam expostas, sem proteção. Administrada por elites consanguíneas, assemelha-se cada vez mais ao “Escritório das cartas mortas” de Bartleby, o solitário escriturário do conto de Herman Melville [Bartleby, the Scrivener: A Story of Wall Street]. À força de compilar e deitar fora muitos milhares de cartas nunca enviadas aos seus destinatários, Bartleby acaba por amadurecer a sua recusa plácida, que fará com que responda a qualquer ordem ou pedido, com uma tranquilidade cadavérica: “Prefiro não fazer”.

Contramaré… 9 nov.

Organismos do Estado tiveram de reforçar as verbas para despesas com pessoal em 146 milhões de euros, mas deste valor a tutela só autorizou a desactivação de 83 milhões de euros.
Serviços públicos como politécnicos, universidades e hospitais não estão a conseguir ter verbas para cobrir todos os gastos com pessoal até ao final do ano, incluindo subsídios de férias.
Entretanto, fonte oficial do Ministério das Finanças já veio dizer que o pagamento dos salários e dos subsídios "serão assegurados em condições normais".

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Crise: As estatísticas falam por si, por nós e por ELES

Há menos portugueses a entrarem para as estatísticas. Ou porque emigraram, ou porque estão em formação ou porque simplesmente deixaram de procurar trabalho. E este foi o maior contributo para a queda do desemprego em Portugal no 3.º trimestre.
A redução da população ativa, que conta agora com 5.392.200 pessoas levou a que no 3.º trimestre, a taxa de desemprego caísse pela 2.ª vez consecutiva, desta vez para o valor mais baixo observado em mais de um ano. 
 “Quando vemos que no ano passado emigraram 120.000 pessoas, só podemos pensar que a redução do desemprego se fica a dever a isso”, afirma José Silva Lopes, antigo ministro das Finanças de Cavaco Silva. O economista não esconde que “a economia portuguesa melhorou um bocadinho”, mas não tem dúvidas de que a taxa de 15,6% anunciada ontem pelo INE comporta “o efeito da emigração e do desencorajamento daqueles que já estão há tanto tempo no desemprego que deixaram de tentar arranjar emprego”
De facto, no 3.º trimestre deste ano foram registados menos 34.300 portugueses desempregados, mas o número de postos de trabalho destruídos nestes 3 meses foi bem maior: entre julho e setembro perderam emprego 102.700 portugueses. 
E os jovens deverão estar a dar o maior contributo para este fenómeno, já que neste período o número de portugueses entre os 18 e 25 anos desempregados aumentou (mais 6.200 que no trimestre anterior ); o número de pessoas empregadas nesta faixa etária caiu (menos 22.100 face ao trimestre anterior); e a taxa de desemprego, mesmo assim, reduziu-se (menos 1,1%).
Mas sem dados exactos das saídas de Portugal e com as entradas noutros países muitas vezes feitas por estimativa, é difícil perceber o peso da emigração, lembra Filipa Pinho, investigadora do Observatório da Emigração. 
O que é facto é que entre julho e setembro deste ano, foi registada a melhor taxa de desemprego desde o 2.º trimestre de 2012. Os 15,6% reportados pelo INE é 0,2% inferior ao do trimestre homólogo, quando se registou 15,8% de taxa de desemprego, e 0,8% abaixo do verificado no 2.º trimestre - esta redução não bate, contudo, a queda de 1,3% registada do 1.º para o 2.º trimestre deste ano.
Estima-se assim que entre julho e setembro estivessem sem emprego 838.600 portugueses. São menos 32.300 pessoas (-7%) que no período homólogo e menos 47.400 pessoas (-5,3%) que no trimestre anterior. 
Apesar da redução da taxa de desemprego, a destruição de postos de trabalho mantem-se, com o INE a calcular menos 102.700 pessoas a trabalhar, neste período, em comparação com o ano anterior. Face ao 2.º trimestre já houve criação de emprego, com a inclusão de mais 48.000 pessoas (+1,1%) no mercado de trabalho.  
No entanto, se aos desempregados se juntar o subemprego de trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego, mas não disponíveis, e os inativos disponíveis que não procuram emprego, encontra-se uma taxa de desemprego real de 26,5%, ou seja mais de 1/4 dos trabalhadores ativos.
Ontem, pedia aqui que me explicassem a incompreensível descida das taxas de desemprego e parece que tinha razão nas minhas desconfianças…
Já tinha ouvido justificações de uns sindicalistas (que nunca são levados a sério), mas com estas explicações de gente “séria”, fica mais convincente a desconstrução do “milagre” da multiplicação de empregos, quando a economia continua a descer, mesmo com a sazonalidade, que o próprio ministro da Economia referiu e havendo menos empregados do que no ano passado…
Resumindo, se aos desempregados se juntar o subemprego de trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego, mas não disponíveis, e os inativos disponíveis que não procuram emprego, encontra-se uma taxa de desemprego real de 26,5%, ou seja mais de 1/4 dos trabalhadores ativos., sem entrarem os que emigraram ou estão em formação, havendo menos portugueses a entrarem para as estatísticas…
E sobre esta falácia estamos conversados!
Façam bom proveito com o martelo dos números, que os martelados não agradecem!
Entretanto, eis que o número de ricos cresce como cogumelos, nos países mais ricos, mas também (e de que maneira) nos países intervencionados, incluindo Portugal… Pudera! São os pobres que estão a pagar a crise por eles!
Só falta traduzir em números o valor dos impostos referentes a cada casta, para ficarmos a saber a cota parte de “esforço”, quer em valor absoluto, quer em percentagem e podermos concluir se os escalões são “equitativos” e se há ricos suficientes para acelerar o pagamento do calote…
Um outro dado que se pode retirar deste “paradoxo” é que a economia dos países é mesmo igual à economia doméstica, coisa que põe os pelos em pé a qualquer economista…
Para uns ficarem mais ricos, outros (muitos) tem que ficar mais pobres, até para provar que realmente existem os 1% e os 99% ou para lá caminharemos…
Não restam dúvidas de que as dívidas estão a multiplicar riqueza, enquanto se produz menos riqueza, com o beneplácito e o empurrão do poder Político.
É a diferença entre as Finanças e a Economia.
É a diferença entre o “pragmatismo” e a ideologia, estúpidos!
Em plena crise e com o desemprego nas alturas, o número de multimilionários em Portugal – com fortunas superiores a 25 milhões de euros – cresceu, em 2012, em 10,8%, para 870 pessoas, Os dados são do Relatório de Ultra Riqueza no Mundo 2013, do banco suíço UBS.
Segundo a pesquisa, além de o número de multimilionários aumentar em número, também cresceu o valor da sua fortuna, de 90 mil milhões de euros para 100 mil milhões de euros, uma subida de 11,1%.
O crescimento desse grupo de privilegiados em Portugal superou a média europeia, de 8,7%. O aumento do valor das fortunas dos ricos lusitanos também superou o da média europeia, de 10,4%.
A fortuna somada dos ricos lusitanos é a 13.º entre os países da Europa. E o país é o 12.º em número de multimilionários na região.
Apenas na Alemanha (13%), Suíça (13,1%), Grécia (11,1%), Roménia (12%) e Sérvia (11,1%) houve um aumento maior no número de multimilionários do que em Portugal.
Em termos de crescimento da fortuna, Portugal só ficou atrás da Suíça (14,5%), Áustria (16,7%), Grécia (20%), Hungria (12,5%), Republica Checa (16,67%) e Roménia (21,4%).
Os países europeus com mais multimilionários são: Alemanha (17.820), Reino Unido (10.910), Suíça (6.330), França (4.490) e Itália (1.625). Portugal só tem 870.

Ecos da blogosfera - 8 nov.

As menos valias que valem muito mais do que a lei…

A exploração dos trabalhadores da Europa central e oriental não diz apenas respeito aos campos de tulipas: também é possível encontrar, nos serviços, checos e polacos mal pagos, alojados em condições precárias e que trabalham até 20 horas por dia com contratos duvidosos. Mas as agências de trabalho temporário que os empregam afirmam agir de boa-fé. Excertos.
Um miniautocarro branco da agência de trabalho temporário Werk & Ik está estacionado em frente a uma fila de garagens numa zona industrial de Osdorp [um bairro de Amesterdão]. Uma delas serve de habitação para a mão-de-obra temporária checa da Werk & Ik.
Uma mulher mostra os quartos: 5 divisões feitas de painéis de madeira, com camas em beliche. Uma lâmpada de néon ilumina a totalidade do local, incluindo o espaço onde as pessoas querem dormir. Não há janelas nem ventilação. “Segundo determinadas estimativas, cerca de 100.000 checos, polacos e outras pessoas oriundas da Europa central e oriental trabalham neste tipo de condições na Holanda”.
Sem subsídio de férias
A Werk & Ik – cujo volume de negócios atinge os 12 milhões de euros – trabalha de bom grado com checos, sobretudo em Schiphol, onde limpam aviões e tratam das malas. Serão os trabalhadores temporários suficientemente bem pagos pelo seu trabalho? Não, segundo George, estudante e agente de limpeza. Henry Stroek, responsável do sindicato nacional CNV, salienta o facto de que George não recebeu nenhum subsídio de férias em 2012. Ou seja, 16,3% do salário nunca é pago. “É muito dinheiro, sobretudo quando a pessoa ganha o salário mínimo”, realça Stroek. Ivan Karels, diretor e proprietário da agência de trabalho temporário, admite que vários checos não chegaram a receber o subsídio de férias. “Foi algo que nos escapou. Agora prestamos mais atenção.”
A Werk & Ik promete, no seu site de recrutamento em checo Werkczeck.cz, um vencimento líquido de 5 euros à hora, independentemente da idade. Segundo Stroek, as folhas de remuneração de George indicam que, durante um ano, o salário bruto prometido foi pago, com as horas extras correspondentes ao trabalho em horário de serão e noturno, mas no ano seguinte não.
Sem folhas de remuneração
O conselheiro da agência de trabalho temporário, Rewiesh Jibodh, que traz os checos para a Holanda e trata da planificação do trabalho, tem uma explicação: “É óbvio que as horas não correspondem sempre. Quando alguém fica doente e a pessoa que o substitui não consta na lista, as horas de trabalho podem ser atribuídas ao trabalhador doente. Mas acabamos sempre por corrigir estes erros.”
Também há outro problema, os trabalhadores temporários não recebem as suas folhas de remuneração, apesar de ser uma obrigação legal. George só as recebeu recentemente, pouco antes de deixar a Holanda, quando ameaçou recorrer a um advogado. “Acabam por perdê-las ou deitá-las fora”, diz Jibodh. “Só gastamos dinheiro em papel. Não vejo qual é o interesse.” As folhas de remuneração deveriam estar disponíveis online, mas os trabalhadores temporários entrevistados não receberam nenhum nome de utilizador nem palavra passe. Uma vez mais, foi algo que lhes escapou, admite Karels.
Despesas de alojamento deduzidas
A Werk & Ik também deduz certos custos. Por exemplo, a agência retém quantias no salário por danos causados, mesmo quando as pessoas não têm culpa. Mas nada se compara ao que cobram pelo alojamento: 2,50 euros por hora de trabalho, especifica o contrato. Na época alta, no verão, os checos pagam entre 120 e 150 euros por semana por uma cama num beliche numa garagem, que segundo o município de Amesterdão não é próprio para habitação. Na segunda-feira passada, foram enviados inspetores para o local que acabaram por evacuar as pessoas. “Muito perigoso”, adiantava o relatório, que utilizou o termo “exploração”.
“Cumprimos as normas em vigor em termos de alojamento. Nas garagens, não é o caso, não vou negar o contrário. Mas foram os jovens que pediram para morar lá. Tenho alojamentos suficientes para todos, mas continuam inabitados”, diz Ivan Karels.
“Um empregador não pode cobrar mais de 68 euros por semana por um alojamento, quando a pessoa em questão ganha o salário mínimo. O que a Werk & Ik faz equivale a roubar”, diz num tom revoltado Stroek, do CNV.
“Ao realizar estas deduções, ficámos de facto em falta”, responde Karels. “Mas não tínhamos más intenções. Sou um simples empreendedor que trabalha arduamente e procura crescer rapidamente. Há sempre inconvenientes ligados ao crescimento. Vamos resolver os problemas de toda a gente.” Este afirma, no entanto, que os montantes também cobrem outros custos: a energia, a água, a Internet e a carrinha que os leva e traz do trabalho.
Um dia de folga por mês
Também se verificam deslizes no que diz respeito às horas de trabalho legais. Analisemos, por exemplo, o horário de trabalho de Pavel, o condutor da carrinha, que durante mais de um ano transportou outros checos para o seu local de trabalho. O seu dia de trabalho durava facilmente 20 horas. Quanto a George, o agente de limpeza, descobriu-se com base nos seus mapas de serviço que, durante o mês de agosto, só teve 1 dia de folga.
Depois de um dia de trabalho, um agente de limpeza tem direito a 10 horas de descanso sem interrupção, e após uma semana, a 36 horas, segundo a lei.
Um ano de serviço noturno
Também é algo que Karels admite: “Em certos casos, não prestamos suficientemente atenção”. Jibodh, o diretor da agência, explica que a sua empresa só pensava em responder aos pedidos dos trabalhadores. “Os checos suplicam para trabalhar mais”, diz ele. “Pergunto-lhes sempre se querem efetuar um serviço adicional.” No entanto, quando um colega de George pediu, depois de passar um ano a efetuar serviços diurnos e noturnos, se podia ter outros horários, responderam-lhe: “Queres regressar ao teu país? É só pedir”.
Por incrível que pareça, a Werk & Ik, que tem como clientes regulares grandes empresas, como a KLM, é detentora de um certificado da Stichting Normering Arbeid (Fundação para a normalização do trabalho). Esta última garante o cumprimento dos salários mínimos legais. Em maio de 2013, a agência de trabalho temporário chegou mesmo a obter a renovação do seu certificado.

Contramaré… 8 nov.

Os gigantes do petróleo BP, Statoil e Shell, e o banco de investimento Morgan Stanley surgem envolvidos numa conspiração para manipular os preços do petróleo nos últimos dez anos. A denúncia consta de uma queixa apresentada por quatro ex-corretores (brokers) do mercado petrolífero, incluindo um antigo director do Nymex (a bolsa do petróleo de Nova Iorque), que visa ainda empresas de corretagem de energia.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Pronto, foram-se as férias voltamos ao (des)emprego…

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A taxa de desemprego no 3.º trimestre deverá voltar a aumentar depois de ter diminuído para 16,4% no 2.º trimestre de 2013, segundo as estimativas enviadas por 2 bancos.
Rui Bernardes Serra, economista chefe do Montepio, e Paula Gonçalves Carvalho, do departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI apontam para uma subida da taxa de desemprego para 16,7% e 16,9%, respectivamente.
"Depois de um período muito marcado por factores de ordem sazonal, alguns indicadores apontam para a possibilidade de aumento da taxa de desemprego no 3.º trimestre", explica Paula Carvalho do BPI.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga hoje os dados do desemprego referentes ao 3.º trimestre e a confirmarem-se as estimativas dos 2 bancos, o desemprego voltará a subir depois de, entre o 1.º e 2.º trimestre de 2013, ter descido de 17,7% para 16,4%, naquela que foi a primeira descida trimestral desde o 2.º trimestre de 2011.
As mais recentes previsões do Governo, incluídas na proposta de Orçamento do Estado para 2014, apontam para que a taxa de desemprego atinja os 17,4% em 2013 e 17,7% no próximo ano.
O valor estimado corresponde a um decréscimo de 0,2% face ao do trimestre homólogo de 2012 e inferior em 0,8% ao do trimestre anterior.
De acordo com relatório “Estatísticas do Emprego - 3º trimestre”, a população desempregada situa-se em 838.600 pessoas, o que representa uma diminuição homóloga de 3,7% e uma diminuição trimestral de 5,3% (menos 32.300 e menos 47.400 pessoas, respetivamente).
As vendas a retalho em Portugal, no mês de Setembro, caíram 6,2%, a maior queda dos países da zona euro, segundo os dados mais recentes do Eurostat, depois das subidas de 0,7% e 0,5% em Julho e Agosto, respectivamente.
A atividade privada continuou a expandir-se na zona euro em outubro, mas desacelerou em relação a setembro, anunciou a empresa de serviços de informação financeira Markit.
Sustentado pelo setor industrial, o índice composto PMI (Purchasing Managers Index) da zona euro foi de 51,9 pontos em outubro, depois de ter subido até aos 52,2 pontos em setembro, o nível mais alto dos últimos 27 meses, demonstrando segundo a Markit que a recuperação da economia é "lenta e frágil".
Toda a gente sabia que o aumento das taxas do emprego tinha origem na sazonalidade, mas cantaram-se vitórias, que as táticas nunca fariam prever. E por isso, as estimativas do aumento do desemprego no 3.º trimestre apresentadas por 2 economistas pareciam ter lógica.
Entretanto eis que o INE vem anunciar o contrário, uma redução das mesmas taxas, contra a corrente do jogo, o que deve ser considerado tão surpreendente como as taxas galopantes do desemprego o foram(?), em tempos…
Numa leitura transversal do relatório, e tendo em conta que o Inquérito ao Emprego é trimestral por amostragem, dirigido a residentes em alojamentos familiares no espaço nacional, tem que se concluir que não constam destas contas, todos os cidadãos que emigraram em 2012, concretamente 121.418. Se juntarmos estes emigrados como potenciais desempregados, teríamos 960.018 desempregados…
Façam as contas!
Para piorar a situação e tendo em conta que o comércio a retalho teve uma descida acentuada, seguramente que nesta área não houve criação de emprego.E ainda… Como a atividade na zona euro (sempre na zona euro e menos na UE) também desceu, deve ter descido em Portugal, pelo que também seguramente que não foi nesta área que houve criação de emprego.
Nesta análise rápidinha às condições de empregabilidade, não se vislumbra em que área aconteceu o “milagre”, tanto mais que neste 3.º trimestre foi o período em que houve uma carrada de despedimentos na função pública, sobretudo na classe docente…
Está alguém por aí que possa explicar esta “inexplicação”?
‘brigado!

Ecos da blogosfera - 7 nov.

Todo o poder político não tem que ser politizado?

O presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz gostaria de suceder a José Manuel Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia. A sua campanha assenta na politização de um cargo que, em seu entender, deverá pertencer ao líder do partido vencedor. Uma estratégia relativamente à qual não existe consenso.
É difícil dizer se Martin Schulz tem alguma possibilidade de vir a ser, um dia, o presidente da Comissão Europeia [ele oficializou a sua candidatura a 3 de novembro]. Mas é essa a sua meta: segundo o presidente do Parlamento Europeu, é preciso “po-li-ti-zar” a designação do sucessor de José Manuel Durão Barroso, logo a seguir às eleições europeias de maio de 2014.
O social-democrata alemão garante que esse será o melhor meio para eliminar uma parte do défice democrático que tem valido fortes criticas à União Europeia, permitindo que as diferentes famílias personalizem a campanha. Escolher um líder, ou “Spitzenkandidat”, capaz de se bater, nos 4 cantos do continente, por um programa apoiado pela sua família política é, segundo o “Sr. Europa” do SPD, a melhor solução para tentar atrair os eleitores, num momento em que existe o risco de os extremos terem um peso que nunca tiveram no escrutínio.
Passando das palavras aos atos, Schulz lançou-se sem delongas na luta, em nome dos socialistas, cujas cores deverá defender, se não houver surpresas, contra a direita e contra populistas dos mais variados tipos. Os Verdes, que em breve ficarão órfãos de Daniel Cohn-Bendit, também aderiram a esta lógica. Vão até organizar, até ao fim do ano, eleições primárias na Internet. Para ganhar a partida, o francês José Bové associou-se a uma ecologista alemã, que há mais de 30 anos desenvolve uma cruzada sobre o planalto de Larzac. Por seu turno, a esquerda radical pensa escolher como cabeça de cartaz o grego Alexis Tsipras, feroz crítico da austeridade e dos “homens de negro” da troika de entidades financiadoras, no seu país. Entre os liberais, há vários candidatos potenciais, entre os quais Olli Rehn, comissário para os Assuntos Económicos, e Guy Verhofstadt, uma das figuras federalistas do Parlamento cessante.
Uma “falsa boa ideia”
O Partido Popular Europeu (PPE), que conta com o grupo mais importante no Parlamento cessante, está hesitante. Michel Barnier, comissário para o Mercado Interno, e Viviane Reding, a sua colega na Justiça, gostariam de contar com o apoio da sua formação. Tanto num caso como no outro, será difícil para o PPE não usar as mesmas cartas que os outros partidos europeus e renunciar a apresentar um líder para conduzir a campanha. Contudo, à direita, nada será decidido sobre esse princípio antes de dezembro. E, devido à forte divergência de opiniões sobre aquilo que muitos consideram como uma “falsa boa ideia”, o candidato conservador deverá ser designado, na melhor das hipóteses, em março, apenas um mês antes do escrutínio europeu.
Com efeito, nada garante que a dinâmica que Martin Schulz espera lançar seja bem sucedida. É verdade que, no papel, o Parlamento Europeu deve eleger o presidente da Comissão Europeia, mas fá-lo mediante proposta dos chefes de Estado e de governo, reunidos no Conselho Europeu. Acontece que estes últimos, a começar por Angela Merkel, não tencionam partilhar a sua prerrogativa. E receiam perder terreno face ao Parlamento Europeu.
O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, ele próprio oriundo do PPE, não perde uma oportunidade de criticar a abordagem parlamentar defendida por Martin Schulz e por vários deputados europeus. Para Van Rompuy, cabe pelo contrário ao Conselho Europeu orientar a sucessão de José Manuel Durão Barroso. Não sendo candidato a nada, o antigo primeiro-ministro belga teme, acima de tudo, um confronto entre as instituições, se uma personalidade – por exemplo Schulz – conseguisse obter a maioria no Parlamento Europeu, mas não no Conselho Europeu. Ou vice-versa.
Politizar a Comissão?
A “parlamentarização” da vida política europeia está longe de reunir o consenso. Será preciso, como deseja Martin Schulz, politizar mais uma instituição como a Comissão, que deve trabalhar no interesse geral e acima dos partidos? Não é evidente. O “executivo” europeu encontra-se indiscutivelmente numa situação paradoxal: foi marginalizado pelos governos e pelo Banco Central Europeu na gestão caótica da crise da zona euro, adquirindo simultaneamente novos poderes para controlar melhor os Estados-membros. A eleição do seu presidente pela via de uma campanha eleitoral pan-europeia poderia, segundo os defensores desta ideia, favorecer a legitimidade da instituição, que se encontra mais abalada que nunca.
No entanto, o colégio dos comissários é já uma equipa multipartidária, constituída em função das relações de força do momento na Europa e das maiorias em cada um dos Estados-membros. Mas espera-se que atue dentro da mais estrita neutralidade. Ora, a sua independência e a sua imparcialidade não deixarão de ser postas em causa, em caso de uma politização demasiado forte.
Na verdade, não é possível imaginar que um governo de esquerda em França aceite sem pestanejar as recomendações de uma Comissão de direita. Isso já acontece e poderia ser ainda pior, se o sonho de Martin Schulz, ou de Michel Barnier, se tornasse realidade.
Visto da Polónia - “Nada a lamentar”
A chanceler alemã Angela Merkel desferiu um golpe na abertura democrática, a 25 de setembro, quando rejeitou uma proposta do Partido Popular Europeu (PPE) para que o próximo presidente da Comissão Europeia fosse escolhido pelo partido que tiver mais votos nas eleições europeias de 2014, escreve o correspondente em Bruxelas do Gazeta Wyborcza.
Isto significa que “o sucessor de Barroso será, certamente, eleito com recurso ao secretismo e a obscuras negociações numa das próximas cimeiras da UE em 2014”, acrescenta. No entanto, o falhanço deste plano pode não ser de lamentar, continua, citando as conclusões de Agnieszka Łada, co-autor de um relatório sobre a perceção social do Parlamento Europeu na Polónia.
A ideia de um demos ou povo europeu é muito bonita. Infelizmente, está na esfera do desejável. Se, na Polónia, as pessoas nem sequer conhecem os eurodeputados polacos, não as sobrestimaria pretendendo que escolhessem o líder da Comissão nas eleições europeias. Os eleitores não saberiam quem estavam a escolher.

Contramaré… 7 nov.

"A nível técnico, a missão que se deslocou a Portugal considerou (...) que, se forem consideradas inconstitucionais as principais medidas que a Assembleia da República vai aprovar, então isso poderá sem dúvida colocar em causa o regresso de Portugal aos mercados na data prevista, isto é para nós uma evidência. Porquê? Porque nesse caso Portugal tem de substituir essas medidas por outras medidas, medidas provavelmente mais gravosas e que provavelmente terão um efeito mais negativo em termos de crescimento e emprego", referiu.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

“Leonem mortuum etiam catuli morsicant”, traduzindo: “A leão morto até os cãezinhos lhe mijam”

Um grupo de manifestantes interrompeu o presidente da Comissão Europeia quando discursava em Bruxelas sobre Administração Pública. Aconteceu no dia 29 de outubro e as imagens foram agora divulgadas no Youtube. 6 ou 7 cidadãos belgas exibiram uma faixa e subiram mesmo ao palco onde se encontrava José Manuel Durão Barroso. Do meio da sala, em “português”, um homem belga interpelou diretamente o responsável europeu sobre as políticas de austeridade, e acusou-o de estar ao serviço de uma política que destrói as finanças públicas, compromete o poder de compra dos cidadãos, contribui para o enriquecimento dos bancos, das grandes empresas e destrói o Estado social.
Falando primeiro em francês, o homem começou por dizer que tinha “uma mensagem dos cidadãos e dos trabalhadores” para o presidente da Comissão Europeia, “uma mensagem em defesa do serviço público europeu”.
“Sr. Barroso, Sr. Presidente, para quando uma administração pública ao serviço dos desempregados, dos trabalhadores, dos cidadãos, dos nossos filhos?”, perguntou. Com críticas à atuação dos governos europeus que “fecham os olhos” perante a fraude fiscal, e exigindo uma administração pública (Saúde, Educação, etc.) ao serviço dos cidadãos, o indivíduo acusou a Comissão Europeia de utilizar fundos públicos para promover uma agenda pró-negócios em detrimento de uma agenda pró-cidadãos. “Façam o favor de sair dos vossos gabinetes, vocês, gente da Comissão Europeia, e vão falar com os cidadãos, com os trabalhadores, os desempregados, os agricultores, os pensionistas e todos os outros”, apelou.
Depois, pondo a língua francesa de lado e voltando a dirigir-se de forma direta ao presidente da Comissão Europeia, o cidadão belga começou a enxovalhar Durão Barroso em português, com algum vocabulário e sotaque espanhóis à mistura.

“Senhor, (...) como pode fazer hoje como se fazia há 70 ou 40 anos? É um escândalo o que está a acontecer no seu país! As coisas do desemprego, as pessoas que não têm um teto para viver. São pessoas que todos os dias estão lutando... Há gente que ontem [ 28 de outubro 2013] morreu nas minas. Como pode estar aqui? Estão a fechar todos os sítios da saúde e do social no seu país. É um escândalo!”, afirmou, para depois retomar a intervenção em francês e declarar: “Exigimos justiça social!”.
Esta não foi a 1.ª vez que o presidente da Comissão Europeia enfrentou manifestações de desagrado em relação às políticas do executivo comunitário. No dia 9 de outubro, Durão Barroso foi recebido com protestos e insultos na ilha italiana de Lampedusa. A 17 de outubro 2 jovens lançaram ovos contra Durão Barroso durante um debate com cidadãos de Liège, no leste da Bélgica.
Num discurso em Frankfurt, na Alemanha, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, disse que, mais do que um desafio financeiro, a actual crise é sobretudo “uma prova de resistência política” e afirmou que nunca teria “tomado a dimensão que tomou” se não “houvesse dúvidas sobre a vontade dos europeus em resolver a crise em conjunto”. "A crise mudou de direcção no momento em que essas dúvidas se dissiparam", afirmou Barroso.
O presidente da Comissão Europeia destacou que “a determinação da Alemanha para apoiar o euro foi um factor decisivo", assim como a liderança da chanceler Angela Merkel. "É claro que a Alemanha agiu em defesa do seu próprio interesse nacional, mas isso não é um problema na medida em que é compatível com o interesse europeu", afirmou.
Durão Barroso disse ainda que a “Alemanha foi a que mais beneficiou do círculo virtuoso impulsionado pelo euro”.
Já há muito anunciada a “dispensa” do Zé Manel de presidente da CE, é agora anunciado o seu eventual sucessor, se entretanto o grupo socialista e social-democrata ganhar as eleições para o Parlamento Europeu, que, contra o que era praxis normativa, desta vez será eleito pelos deputados europeus, eleitos por famílias políticas.
Não é seguramente por se saber que Barroso está “nas últimas”, mas está criado o clima “do leão ferido” e que se sabe que vai morrer, que é o bastante para que qualquer gato-pingado ou cãozinho manso se disponha a enfrentar o leão, sem o respeito que um “rei” exige…
No caso do enxovalho por um cidadão belga, em português e em defesa de Portugal, temos que concordar com as críticas feitas sobre a austeridade, a “cegueira” sobre o gerado desastre social, assim como, em relação à UE, o compadrio com os poderosos (os ricos) em detrimento dos cidadãos.
Pela parte do leão, que sentindo o seu fim próximo, também justificará a denúncia (tão fora de tempo) do presidente da Comissão Europeia, que depois de gabar o esforço da Alemanha para apoiar o euro, veio de seguida “acusá-la” de ter sido quem mais beneficiou do círculo virtuoso impulsionado pelo euro, que é o mesmo que dizer que foi quem ganhou com a crise, como se não soubéssemos...
E a crise continuará, logicamente!
Só lhe faltou dizer que, ele próprio, tem culpas no cartório, talvez por jogar no seguro, à espera de uma reeleição…
Assim sendo, é lícito recorrer ao ditado, que diz que “A leão morto até os cãezinhos lhe mijam”, mas a culpa é só do leão, que nunca pensou virar sendeiro…
E lá teremos que aguentar o Zé Manel por cá, como candidato a PR, para fazer, aqui, tudo aquilo de que foi acusado…
E nós, que já estamos fartos de subserviência, até poderemos ser presididos por um subserviente…
Nesta selva, o macaco fica sempre a perder.

Ecos da blogosfera - 6 nov.

Os novos nazis na velha Grécia: Elos perigosos (2/2)

Na noite de 17 para 18 de setembro, o “rapper” grego Pavlos Fyssas foi assassinado por um militante do Alvorada Dourada. Este assassínio assinou a queda do partido neonazi, cujas conivências implícitas com o poder e as ligações aos poderosos armadores gregos estão hoje patentes.
Qual o motivo preciso que tornou Pavlos Fyssas num mártir? Ouvindo as letras das suas canções, a dúvida coloca-se. Trata, sem dúvida, de intolerância e forças obscurantistas. Mas nada evoca diretamente o Alvorada Dourada. “Entre 2 canções a falar vagamente dos perigos do fascismo, Pavlos compunha 4 sobre miúdas ou a crise”, confirma Petros Poundivis, seu amigo de infância.
Este gigante, parecido com um Mister T em grego, é também “rapper”, membro do grupo PsyClinic Tactix. Mas começou por ser um operário. Como Pavlos Fyssas. Antes de enveredarem pela carreira artística, os 2 rapazes, à semelhança dos pais, trabalharam nos estaleiros navais de Perama, a grande zona portuária industrial de Atenas, a que chamam, simplesmente, “a Zona”. É um grande recinto fechado, onde armazéns de paredes pintadas de tags se sucedem frente ao cais que alberga diversos cargueiros enferrujados. “O Pavlos largou isto ao fim de 5 anos. É um trabalho muito duro e os acidentes são frequentes. Mas ele considerou-se sempre um filho da classe operária. Recusou-se a integrar um partido, mas o seu nome continua na lista de membros do Sindicato dos Metalúrgicos. Aqui, era muito popular, sempre disposto a dar a voz na defesa das vítimas da crise do bairro, e foi por isso que o mataram”, afirma Petros.
O último bastião vermelho
Duramente atingida pela crise, a Zona é o último bastião vermelho, numa região onde os neonazis ganham terreno de dia para dia. Perama, Nikaia, Keratsini: os bairros da região do Pireu foram devastados por 6 anos de tratamento de austeridade. “O desmantelamento dos serviços públicos e os despedimentos em massa remeteram as pessoas para um estádio de sobrevivência. 1/4 das casas em Perama já não tem eletricidade, porque não têm meios para a pagar. Assim, inevitavelmente, alguns são sensíveis às sereias de um partido que grita ‘são todos um asco’, que apontam os imigrantes como responsáveis pela crise e que distribuem alimentos enlatados e macarrão...”, suspira Petros. Sobra apenas a Zona, controlada pelo PAME, um sindicato do Partido Comunista KKE, que continua a resistir às pressões do patronato. 3 dias antes do assassínio do “rapper”, deu-se um incidente perturbador: na noite de 14 de setembro, os militantes comunistas da Zona estavam na apropriadamente chamada Avenida da Democracia. Estavam a colar cartazes anunciando um concerto, quando, de repente, foram atacados por 50 membros do Alvorada Dourada. “Foi muito impressionante. Chegaram em colunas, de todas as ruas adjacentes, armados com porretes e bastões. Também apareceram 2 polícias de motorizada, que se mantiveram um pouco afastados. Nem se mexeram, quando as pedras e as cacetadas se abateram sobre nós”, conta Sotiris Poulikogiannis, um energético dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos da Zona, na casa dos 40 anos de idade. Resultado: 9 sindicalistas ficaram feridos, alguns em estado grave.
“Foi a primeira vez que se atreveram a atacar-nos tão às claras. No entanto, já sabíamos que estava alguma coisa para acontecer. Em agosto, em plena época baixa na Zona, um dos seus responsáveis locais arriscou-se a aparecer por aqui. Fez uma reunião, durante a qual prometeu destruir-nos, correr connosco daqui”, acrescenta Thanassis Panagiotopoulos, outro sindicalista. O homem que proferiu essas ameaças em agosto, Yannis Lagos, deputado do Alvorada Dourada, está agora na prisão. Foi um dos que contactou várias vezes por telefone com o assassino de Pavlos Fyssas, imediatamente antes e depois do crime. “Faz tudo parte de uma estratégia para quebrar a resistência às medidas de austeridade; querem eliminar aqueles que se revoltam, incutir-lhes medo. Toda a gente aqui conhece as ligações do Alvorada Dourada com os armadores e os grandes industriais. As suas reuniões mais ou menos secretas já foram reveladas pela imprensa. No Parlamento, os deputados fascistas votam sempre pelos armadores e, no terreno, são o seu braço armado”, afirma ainda Thanassis.
“O monstro acabou por sair do seu covil”
Afirmações empoladas? Em meados de outubro, uma rusga a casa de um armador em fuga revelou um pequeno museu em honra do nazismo, numa sala secreta. As investigações sobre o financiamento do Alvorada Dourada, abertas a seguir à morte de Pavlos Fyssas, também confirmaram o envolvimento de pelo menos 2 outros armadores, patrocinadores regulares dos neonazis.
“O monstro acabou por sair do seu covil”, suspira Dimitri Kousouris. Este historiador, de 35 anos, especializado em Grécia contemporânea, está bem colocado para analisar as raízes do mal. A sua tese, que vai ser em breve publicada em França, é dedicada aos colaboracionistas gregos durante a II Guerra Mundial. Um período da história ainda mal digerido na Grécia, onde, logo após a ocupação alemã, os horrores do nazismo foram apagados pela violenta guerra civil entre comunistas e conservadores. Muitos fantasmas ficaram na sombra, devido a esta memória ambígua.
Mas para o jovem historiador, a morte de Pavlos Fyssas despertou memórias mais pessoais: há 15 anos, numa noite de junho, ele próprio quase morreu às mãos dos esbirros do Alvorada Dourada. Também estava num café, também era um símbolo, um jovem sindicalista do movimento estudantil, nessa época altamente mobilizado contra uma reforma da educação. Massacrado com pauladas em 18 de junho de 1998, permaneceu vários dias entre a vida e a morte. Como Pavlos Fyssas, a polícia começou por fingir que se tinha tratado de uma rixa entre jovens, ligada ao futebol. Só o cabecilha dos seus atacantes, um jovem que estava então em ascensão dentro do Alvorada Dourada, seria julgado: ao fim de 7 anos foragido, o homem que se autointitulava “Periandros”, em homenagem ao tirano de Corinto da Antiguidade, entregou-se à polícia. O julgamento decorreu sob grande tensão, marcado pelas ameaças e provocações dos militantes do Alvorada Dourada. Condenado a 21 anos de prisão, Periandros cumpriu apenas 4 e foi posto em liberdade em 2009. “Só que, em 1998, o Alvorada Dourada era apenas um pequeno grupo marginal. Hoje, tornou-se um movimento em plena ascensão”, recorda o historiador. “Não que isso seja uma surpresa: em períodos de crise extrema como este, a xenofobia, a intolerância e a violência, que estavam diluídas na sociedade, revelam-se exacerbadamente. As pessoas esquecem o passado e não querem sequer imaginar o futuro. O que conta é apenas a sobrevivência no presente.”
Pavlos Fyssas tinha um nome artístico: Killah P., por “kill the past” (matar o passado). Mas ninguém pode matar o passado, ele reaparece sempre no pior momento. “É hora de tremerem de medo”, tinha previsto o dirigente do Alvorada Dourada, Nikos Michaloliakos, na noite eleitoral de junho de 2012. Nessa noite, um nostálgico dos coronéis, admirador de Hitler, entrava para o Parlamento.