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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Do português antiqüíssimo ao português do futuro

O linguista brasileiro Evanildo Bechara defendeu hoje que o novo Acordo Ortográfico obriga a maiores mudanças entre brasileiros do que portugueses, contrariando a ideia de que a nova ortografia é uma adaptação ao português do Brasil.
“Pelo contrário, nós no Brasil somos obrigados a mudar muito mais os nossos hábitos do que os portugueses”, afirmou à margem da cerimónia de abertura do Colóquio Anual da Lusofonia que decorre até sábado, em Bragança.
No Brasil, “o acordo vai a pleno vapor”, garantiu o linguista, membro da Academia Brasileira de Letras, defensor da ortografia comum, mas contrário à ideia portuguesa das cedências à norma brasileira.
“O acordo faz com que os brasileiros abram mão de muitos mais princípios do que os portugueses”, afirmou, exemplificando com vários casos de acentuação, em que se destaca o trema.
Os brasileiros perderam o acento de dois pontos sobre o “u” que definia em palavras como “consequência” ou “linguiça” que a letra, normalmente, muda deve ser pronunciada.
Da mesma forma, deixam de usar o acento circunflexo sobre “voo”, “enjoo”, ou “perdoo”.
Mas para o linguista brasileiro, a maior dificuldade naquele país - também comum a Portugal - é o desaparecimento do hífen das palavras compostas, mas sem “uma regra fácil”.
“Os ortógrafos não tiveram bom senso de simplificar”, considerou, ao ditaram regras diferentes para a nova escrita de palavras como mini-saia, que agora passa a minissaia, auto-rádio a autorrádio, enquanto sub-base fica sub base.
Já para os portugueses, o linguista brasileiro encontra “uma vantagem” nas novas regras que ditam que se deixe de escrever as consoantes mudas, como já acontecia no Brasil.
“A uma criança de dez anos, a aprender a escrever, fica-lhe muito difícil entender porque é que tem de escrever Egipto com “p” quando na realidade ela não pronuncia esse “p”, já em egípcio, onde pronuncia o “p”, então ele justifica-se na escrita”, exemplificou.
Neste caso, Evanildo Bechara entende que o acordo acaba por “não obrigar o homem comum a usar uma consoante que ele não pronuncia”.
“Otimista” em relação à aplicação do acordo está também o linguista português Malaca Casteleira, embora lamente o “atraso de Portugal”, que considera justificar também o atraso em outros países lusófonos, nomeadamente africanos.
Realçou, no entanto as iniciativas em curso “favoráveis à introdução” do acordo, nomeadamente a adoção da nova escrita por parte de vários órgãos de Comunicação Social, nomeadamente a agência Lusa, o Expresso, a Visão e o Record.
Em Portugal e Brasil o novo Acordo Ortográfico deverá alargar-se aos manuais escolares já no próximo ano letivo.
Uma das grandes vantagens do Acordo Ortográfico é que depois podemos dar mais uns erros, com a desculpa do dito. Que fica mais fácil para os brasileiros, nem se põe em causa, tirando o trema, que não existe na nossa língua.
O problema que continuará será mais o das palavras diferentes, com conceitos diferentes, que nenhum acordo resolverá, quer em relação ao Brasil, quer em relação a todos os PLOP, mas todos teremos que nos aculturar, reciprocamente.
Bem haja, ou Bemhaja?

1 comentário:

  1. Eu cá faço a minha vidinha como se não houvesse acordo. Não me lembro de me terem perguntado nada sobre o assunto e, que eu saiba, a língua ainda é minha. Como não perguntaram eu não tenho de assinar por baixo.

    Nestas alturas dou-me por feliz que, na profissão, não tenho que corrigir português mas sim inglês onde não há cá destas palhaçadas para justificar umas quantas posições em faculdades/universidades.

    Já agora achei piada aos argumentos do senhor. Então ele cita dois exemplos complicadissimos para os brasileiros: a falta da trema e a falta de acento. No fundo até é o mesmo. Não percebi se ele simplesmente não percebeu o que estava a dizer ou se insultou deliberadamente a inteligência dos brasileiros. Prefiro não pensar que tenha falado aquilo como branqueamento da realidade.

    O facto de haverem ou não letras "mudas" não é bem assim. Elas não se lêem, ok. Mas não é a mesma coisa estarem lá ou não. Elas não se lêem mas podem mudar a acentuação da palavra. Pior ainda, estas consoantes são resquícios de muitas palavras de muitas línguas as quais tiveram uma origem comum. Até aqui, pelo menos na escrita, tornava mais fácil a aprendizagem de línguas estrangeiras. Sem elas, as coisas ficam mais complicadas até porque terá que se explicar à partida logo porque existem consoantes mudas o que até agora não era preciso porque era uma coisa em comum.

    Isto talvez explique a maior dificuldade que o comum dos brasileiros tem em aprender, por exemplo, o inglês comparativamente a um português.

    Enfim.

    Mas, repito, para mim esta palhaçada de acordo não existe. Escreverei como sempre escrevi. Se algum dia não for impedido de o fazer, passarei a escrever na minha outra língua, o inglês e quem quiser que perceba.

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