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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Ao menos não digam que querem ajudar os JOVENS!

Os jovens com menos de 30 anos nunca viveram uma situação tão precária. São também os grandes banidos da campanha eleitoral para as legislativas de 24 e 25 de fevereiro.
Ninguém poderá acusar o futuro governo de não ter cumprido as suas promessas aos jovens italianos, pela simples razão de não ter feito nenhuma. Para já, os novos eleitores são os grandes excluídos da campanha eleitoral. A política faz lembrar uma discoteca, que tem à porta gorilas que os impedem de entrar.
As 5 coligações concorrentes parecem ter saído direitinhas de Gangnam Style: agitam-se, gesticulam, balançam-se, para atrair as luzes dos projetores. Os jovens italianos veem-nas por um canudo e inserem observações sobre o seu desapontamento nas redes sociais. A tentação da abstenção é forte, mas abster-se seria fazer o jogo dos maldizentes da política, que estão precisamente à espera disso.
O mundo político não reage
As redes sociais tradicionais desagregam-se progressivamente. As famílias esgotaram as suas reservas de paciência e de dinheiro. É o que mostram as lojas de compra de ouro, o mercado imobiliário e a evolução do consumo de bens duradouros. A taxa de desemprego juvenil (15-24 anos) atinge os 37%, um recorde desde 1992. E trata-se da média nacional. Imagine-se em que estado se encontra o Sul de Itália. Em 10 anos, a percentagem de licenciados italianos que partiram em busca de oportunidades no estrangeiro passou de 11% para 28%.
Perante fenómenos desta amplitude, teríamos direito a esperar uma reação dos políticos; que se interrogassem, tomassem decisões, preparassem estratégias precisas e medidas concretas. Nenhum país pode, decentemente, permitir-se sacrificar uma geração inteira. Esperança vã: os nossos candidatos digladiam-se violentamente sobre os impostos e as pensões de reforma. Dirigem-se apenas àqueles que têm emprego ou que o tiveram em tempos. Dá ideia que os outros, aqueles que correm o risco de nunca arranjar emprego, não contam para nada. A geração dos menos de 30 anos está em vias de se tornar transparente. A longo prazo, a frustração poderá gerar a cólera, com consequências dramáticas. Os indícios prenunciadores não faltam.
A bulimia televisiva dos veteranos da política – 63 horas para Silvio Berlusconi, 62 para Mario Monti, 28 para Pier Luigi Bersani (PD, Partido Democrata, esquerda), entre 2 de dezembro e 14 de janeiro de 2013 – poderá vir a parecer provocação. A passagem pela televisão de Antonio Ingroia (juiz anti máfia que encabeça a lista Revolução Cívica, à esquerda do PD) transforma-se numa luta de todos contra todos. Longe dos ecrãs, Beppe Grillo (Movimento 5 Estrelas) não faz muito melhor. As coisas causam uma sensação de já visto e já ouvido. A Itália política de 2013 assemelha-se à pequena cidade de O feitiço do tempo, cujo protagonista, interpretado por Bill Murray, acorda todas as manhãs para enfrentar sempre o mesmo dia.
Não ridicularizar os líderes de amanhã
Os ardores de exaltação da juventude do Governo Monti limitaram-se à reintrodução da formação profissional e a uma "Agenda digital" [medidas em favor da inovação e da informatização de dados administrativos] difícil de pôr em prática. O Movimento 5 Estrelas propõe "um subsídio de desemprego garantido", sem explicar de onde virá o financiamento. A direita, que evita falar dos jovens, baniu-os das suas listas, para deixar espaço para a guarda pretoriana do seu chefe. Apesar de apresentar algumas novas cabeças, a esquerda não propõe qualquer medida radical a favor dos seus jovens compatriotas. O empréstimo de honra, sugerido por Anna Finocchiaro [antiga ministra da Igualdade de Oportunidades, presidente do grupo do PD no Senado], não passa de um penso rápido para tratar uma fratura, quando aquilo de que precisamos é de flexibilidade na contratação e no despedimento.
Se quisermos mãos novas e robustas ao leme de Itália, não devemos ofender os pilotos de navio de amanhã: eles deixar-nos-ão em terra, e com razão. Sobretudo, não digamos que queremos ajudá-los, quando não estamos dispostos a renunciar a nada por eles.

14.ª Correntes d’Escritas – 2.ª mesa

“De que armas disporemos, se não destas que estão dentro do corpo.” Esta frase é de Hélia Correia, na obra A Terceira Miséria, vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa, e foi o tema da 2ª Mesa do Correntes d’Escritas. Luís Cardoso, Jesús del Campo, Helena Vasconcelos, Maria Teresa Horta e Miguel Miranda foram os escritores participantes.
“Convoco os meus antepassados para que a voz não me trema e possa dizer as palavras que dão forma ao texto, as palavras das mulheres que ficaram nas cidades entregues a si próprias quando os maridos partiram para as montanhas iniciando uma viagem de circum-navegação, tão trágica, mas com um final tão feliz”, começou por ler Luís Cardoso. A sua intervenção, emocionada e poética, prendeu o público da primeira à última palavra do autor timorense.
Helena Vasconcelos anunciou: “vou falar de poesia e da força da poesia” e explicou que “Aristóteles compôs o primeiro tratado de teoria literária e dá-nos uma visão daquilo a que ele chamava poesia. Esta obra tem sido alvo de infindáveis discussões porque foi composta em resposta à ideia de poesia de Platão, que argumentava que a poesia era a mera representação das aparências. Creio que Platão era um fantástico agente provocador”.
Jesús del Campo disse que “o tempo desvanece as imagens. As palavras lutam por lhes dar forma” e falou sobre a vida da cantora canadiana Joni Mitchell.  
Mas, afinal, indagava Miguel Miranda, “qual a força da poesia, o que representa, de onde vem e para onde vai? E, já agora, que vivemos numa sociedade utilitária, para que serve? A poesia vem do cérebro, como afirma Freud? Do corpo, que segundo Hélia Correia dispõe das armas do pensamento que nos leva a resgatar a ideia da polis? Do coração, desse órgão vital e palpitante que representa a vida esfusiante, como reclamavam os românticos? Será só dos dedos ágeis dos poetas e das poetisas?”, questionou. “A poesia deve provocar a catarse”, um processo de que fala Aristóteles e que se supõe ser aquilo a que se chama purga. “E que felizes seríamos nós, se os políticos contemporâneos, que se impõe a nós com violência cega e sem freio, lessem as palavras justas e certeiras de Maria Teresa Horta e Hélia Correia, por exemplo. Que bom seria se os fracos legisladores de agora trocassem a dose maciça de austeridade, a carga feroz sobre as nossas costas, por doses maciças de poesia que nos purgassem definitivamente”, desabafou.
“Que armas são estas, de que dispõe o meu corpo, no interior do meu corpo, em si mesmo, arma e risco e indissociáveis entre si? Que armas são estas do meu desassossego? Quando publiquei o meu primeiro livro o meu pai disse-me: colocaste uma arma no peito apontada a ti própria. Desde então, a escrita passou a ser a arma de me salvar dentro do meu corpo”, disse Maria Teresa Horta. Dividido em 4 partes, o texto da poeta – trabalhado durante 2 semanas – arrancou aplausos do público, visivelmente comovido com as suas palavras. E foi à escritora que o público quis colocar questões no final desta 2ª mesa: “o Prémio D. Dinis, para mim, enquanto poeta, foi o prémio que mais gostei de receber na minha vida. Não o recebi das mãos do primeiro-ministro. É diferente do que alguns autores fazem, que não recebem nada, seja de quem for. Comigo não foi isso que se passou. Eu não recebi o Prémio das mãos do primeiro-ministro. E não recebia nada. Nem uma côdea de pão se estivesse a morrer de fome”, declaração que agradou ao público, que aplaudiu Maria Teresa Horta.
“A poesia é um ato supremo revolucionário, mesmo em tempos de paz, mesmo em tempos de júbilo. Continuo a achar que a poesia é a palavra suprema. Os poetas são os alquimistas do futuro. Enquanto os alquimistas transformavam em ouro, o poeta transforma em sonho. Sem sonho não se pode viver. Sem sonho não se pode construir a liberdade. Então, o que fazem os poetas em tempos de crise? São poetas. A poesia é uma arma mortífera para os ditadores”, sublinhou.

Ecos da blogosfera – 23 fev.

14.ª Correntes d’Escritas – 1.ª mesa

“Mentem-nos tanto os mitos” Foi este verso de Bernardo Pinto de Almeida que deu mote à 1ª mesa de debate do 14º Correntes d’Escritas, moderada por José Carlos de Vasconcelos e de que faziam parte Almeida Faria, António Mega Ferreira, António Sarabia, Hélia Correia, Inês Pedrosa e Mário Zambujal, que glosaram o verso, manifestando diversas opiniões.
Almeida Faria defendeu que “não, os mitos não mentem. Os mitos têm sido, desde o princípio da Humanidade, a resposta possível às perguntas sem resposta. Os mitos imaginaram por nós e para nós mil maneiras das causas naturais e explicando o inexplicável ordenaram, por nossa conta, o caos. No mito, o susto, o medo e a ansiedade tornam-se menos insuportáveis”.
O escritor citou Aristóteles que dizia que “Homero e Isildo inventaram os deuses” e para exemplificar que os mitos não morrem e voltam constantemente à superfície, Almeida Faria leu alguns versos de A Terceira Miséria, de Hélia Correia, em que a autora fala em Isildo. Depois de Homero e Isildo vieram muitos outros. Desde então incontornáveis escritores, compositores, atores acrescentaram o conto e o canto dando nova vida aos mitos antigos, constatou.
Almeida Faria terminou afirmando que “os mitos nunca mentem. Quem mente somos nós que abusamos da palavra mito e a evocamos, levianamente, em vão. Precisamos dos mitos para preencher os vazios das nossas vidas”.
António Mega Ferreira referiu que “os mitos, para Platão, eram narrativas com heróis, com uma componente fantástica” e, numa interpretação funcionalista, “os mitos tinham a função de explicar o inexplicável”.
Para o escritor e jornalista, a mitologia cristã foi a grande responsável pela mitologia greco-romana ter sido esquecida durante muito tempo e só recuperada com o Renascimento. Desde o Renascimento, a mitologia clássica constitui uma fonte privilegiada da literatura, ou seja, a mitologia constitui um manancial utilizado na literatura. Na sua opinião, a tradição que vai buscar fontes na mitologia greco-romana contaminou a nossa literatura. Para além disso, as referências mitológicas clássicas estão no nosso quotidiano, afirmou Mega Ferreira, exemplificando: Ulisses fundou Lisboa; Rómulo e Remo fundaram Roma, acrescentando que “todas as grandes cidades, sobre a sua origem, produzem um discurso mitológico”.
A propósito da necessidade dos mitos, o escritor referiu Claude Lévi-Strauss que estabeleceu conexões entre mitos das diferentes civilizações num esforço para os compreender. Deixou-nos uma frase deste antropólogo francês “Os mitos despertam no homem pensamentos que lhe são desconhecidos” e concluiu “se calhar gostamos da mentira. Pelo menos, às vezes”.
Já para Antonio Sarabia, os mitos não mentem. Aliás, por trás dos mitos há verdades. Os mitos são portadores da profunda verdade, sendo que a imaginação é muito importante porque permite sofrer, sentir, viver.
O escritor mexicano referiu que “um homem inteligente aprende a partir da sua experiência e um homem sábio aprende a partir da experiência dos outros”.
E porque a riqueza do debate está na diversidade de opiniões partilhadas, Hélia Correia afirmou “sim, os mitos mentem. Mas ainda bem que mentem. Estamos todos muito devedores aos mitos e à sua mentira”.
A Vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa confidenciou que não resistia a explorar o tema sem fazer uma digressão etimológica, “volto sempre a casa, à origem da palavra”. E explicou que "mithós", em grego, significa palavra, aquilo que é dito oralmente, sendo que aquilo que se construía com palavras era uma história mítica.
Assumindo que “não posso falar de mito sem falar na Grécia”, Hélia Correia referiu que o grego tinha a perceção de que era um ser dotado de fala, que construía a realidade e o pensamento através da palavra. Tinham a perceção de que os mitos eram criações humanas, fruto da imaginação. Transmitiu ainda que ao mito está associado o rito, rituais com muito protocolo que forneciam segurança à sociedade, definindo-os como gestos coletivos securitários. Falou, aliás, de uma tranquilização social e moral da comunidade através da relação entre o mito e o rito.
Para Hélia Correia, “falta-nos muito nos dias de hoje. Toda esta integração do Universo em mitos e ritos criados pelos homens ficou completamente destruída por excesso de confiança científica e especialização. Estreitamos o nosso campo de saber e, para mal dos nossos pecados, somos dominados pelo economicismo que deixa um vazio, espiritual, e, qualquer dia, também fisico. Vai-se extinguindo a chama humana. Falta-nos uma espécie de recomeço, o amor pela palavra, por nos governarmos a nós mesmos. E falta o rito que religaria os seres humanos entre si”.
Para Inês Pedrosa, “não, os mitos não mentem. Mas ainda bem”. Para a escritora e jornalista, “mito é aquilo que tem coragem de matar sem causar a morte e de viver morrendo no limite em que a voz e o silêncio se unem. Assim, toda a arte é mito. Na sequência da célebre definição de Fernando Pessoa «O mito é o nada que é tudo», Eduardo Lourenço entendeu o mito como vida que não passa na vida que passa. Não é outra a ambição da literatura, encontrar as palavras que estanquem a morte”.
Num dos poemas de Fórmulas de uma Luz Inexplicável, escreve Nuno Júdice: «a criação não me espanta, nem os trabalhos de Deus para fazer sair o Homem do meio da Terra (…). A criação é feita dessas coisas que passam à minha frente como se um ecrã rotativo me fizesse descobrir tudo o que não tive tempo para fixar». Neste sentido, Inês Pedrosa afirmou que “criação e inovação não são sinónimos, ao contrário do que hoje se pretende. À inovação, inteligência e técnica bastam. A criação não se explica desse modo nem de nenhum, não cabe em nenhuma história nem nasce dos caminhos da vontade consciente que ocupa hoje o lugar dos deuses. Por isso, a criação é sempre lugar da invisibilidade, exterior e interior. Criador é alguém que atinge a cegueira inicial sem a temer e também sem se fundir com ela. O impacto que a criação provoca nos que a ela acedem tem uma força imediata. O presente ou o futuro não interessam à obra nascida para transfigurar, interessa-lhe o passado na medida em que nenhum passado acabou ainda de passar”.
Para a escritora, há muitas confusões sobre este assunto, no mundo acelerado em que vivemos onde cada vez mais gente corre sobre passadeiras eletrónicas, ou seja corre para lugar nenhum. Por isso, torna-se cada vez mais importantes as obras que nos obrigam a deixar de ser. A literatura com ou sem ecrã força-nos a esse trabalho de avançar para o invisível, de desobedecer ao imediato. Tudo está em tudo como na superfície de um rosto. Sobre mitos e mentiras, tenho procurado desaprender o que me ensinaram menina e moça para viver livremente no mito da verdade transmissível, revelou.
Divergências à parte, Mário Zambujal começou a sua intervenção provocando risos entre a plateia. O bom humor do jornalista marcou todo o seu discurso em torno de figuras mitológicas e dando prova de que elas de facto persistem à passagem do tempo e estão presentes na atualidade. Desde Afrodite que deu nome a marcas de lingerie, perfumes, casas de alterne e até produtos afrodisíacos a Apolo que identifica ginásios, restaurantes e até deu origem ao adjetivo apolíneo, entre muitos outros.
O jornalista afirmou que “muito teria perdido a Humanidade se os inventores dos mitos não tivessem existido. Escritores, encenadores, dramaturgos e entusiastas pegaram nos mitos para realizarem as suas obras”.
Para Mário Zambujal, “os mitos, se muito nos deram, mais receberam. Eles ganharam. O seu triunfo é total. Demos-lhes o céu. Mentem-nos tanto os mitos e, por isso, ocupam o topo”.     

Contramaré… 23 fev.

O primeiro-ministro acredita que a revisão em baixa das perspectivas de crescimento económico se justifica apenas “pelo contexto europeu”Passos Coelho acredita que Portugal terá mais tempo para cumprir metas do défice.
“Não há razão para não deixar funcionar os estabilizadores automáticos, o que significa não juntar mais austeridade àquela que é necessária para controlar o défice”, afirmou. 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Estamos todos encarcerados… Só alguns escapam!

A crise tem levado prisioneiros a recusar o benefício de passarem até 3 dias em casa, por semana.
Diante da pior crise económica e social do país em mais de 30 anos, Portugal vive uma situação inédita: alguns dos prisioneiros que teriam direito a passar parte da pena em casa das suas famílias estão a prescindir desse privilégio para não pesarem no orçamento familiar.
A informação é de Júlio Rebelo, presidente do Sindicato Independente da Guarda Prisional, que confirma que as prisões portuguesas vêm registando um número cada vez maior de detidos que optam por ficar na cadeia. "Nunca tinha visto isto nos meus quase 20 anos a trabalhar no sistema prisional", indicou.
"Em Portugal temos um sistema que permite que certos prisioneiros possam passar até 3 dias da semana em casa", explicou. "Mas, dada essa opção a alguns deles, o que verificamos é que vários têm escolhido ficar na prisão. Quando perguntamos o motivo, a resposta é muito clara: não ser um peso financeiro ainda maior para as suas famílias."
Rebelo já tinha causado sensação em novembro quando, numa entrevista ao The New York Times, admitiu o início desta situação. "Não temos dados exatos de quantos são os detidos, mas a proporção não é insignificante e revela muito da crise que vivemos. Não é normal que alguém prefira estar dentro da prisão do que na sua casa", declarou.
Os dados sociais portugueses são, de facto, graves. O desemprego atingiu os 16,9%, a 3.ª maior taxa da Europa, depois de Espanha e Grécia. A recessão deve aumentar em 2013, enquanto os salários e as reformas são cortadas. Ontem mesmo, o governo anunciou que a contração do PIB este ano não será de 1%, como previa, mas de 2%. No fim de 2012, o 4.º trimestre do ano registou uma queda de 3,2% na economia portuguesa.
No total, o país já perdeu 2% da população e o governo estima que mais de 220.000 portugueses abandonaram Lisboa, Porto e cidades menores em busca de trabalho em Angola, Brasil, Alemanha e Suíça.
Os partidos da oposição e os sindicatos insistem que a política de austeridade tem levado o país a registar mais um ano de recessão. Mas a União Europeia rebate que apenas continuará a conceder os recursos de resgate para Portugal se Lisboa mantiver os seus planos para reduzir o défice.
Rebelo confessa que a política de austeridade tem criado uma situação "crítica" nas prisões. "Além do corte no orçamento, há um número recorde de detenções."
Hoje, mais da metade das prisões do país estão superlotadas. Três delas recebem mais do que o dobro dos presos que deveriam: Angra do Heroísmo (taxa de ocupação de 251%), Elvas (234%) e Portimão (214%). Antes da crise, o governo tinha prometido a construção de 10 novas prisões, com um orçamento de 700 milhões. Agora, esse projeto prevê apenas uma nova cadeia.
Rebelo teme ainda o aumento de casos de corrupção dentro da prisão, por causa da crise porque os produtos de higiene e outros itens básicos começaram a ser cortados. O resultado é a ação de guardas prisionais venderem os produtos aos detidos.
Nas 53 prisões portuguesas, segundo dados de 2012 da Direção-Geral dos Serviços Prisionais de Portugal, existem 13.000 prisioneiros, dos quais 2.500 estrangeiros. Segundo a entidade, 325 são brasileiros. Trata-se da 2.ª maior nacionalidade, superada só por Cabo Verde, com cerca de 700 prisioneiros.
O tema dava para gastar muito tempo para se concluir sobre a pior situação que pode acontecer a um ser humano, por culpa sua ou de outros.
E tendo em conta a crise de gente capaz de disfarçar a crise disfarçada, ficávamos a pensar se a FOME seria o mais difícil de suportar, se a POBREZA (que sustenta a fome), se o DESEMPREGO (que ocupa a pobreza), se a DESESPERANÇA (que prolonga o desemprego), se a LIBERDADE, que esbate a desesperança, derruba portas ao desemprego, combate a pobreza e mata a fome…
Não sei! Só sinto que a recusa da liberdade é o último degrau a que um/a HOMEM/MULHER pode descer, quando é empurrado/a.
E sinto vergonha e nojo …
Atualizado em 24-02.2013

14.ª Correntes d’Escritas – Conferência de abertura

O neurocirurgião João Lobo Antunes deixou a plateia do Auditório Municipal da Póvoa de Varzim comovida na conferência de abertura do 14º Correntes d’Escritas, intitulada “Não fazem mal as musas”.
Em tom confessional, ao ler em voz alta grande parte do seu ensaio “A História do Velho”, Lobo Antunes aludiu à degradação física de um ser humano, com a consequente perda de diversas faculdades até à morte. O curioso é que o velho do ensaio era o seu pai, mas toda a gente reconheceu no texto, algum velho conhecido, algum pai, algum avô. Ora, confirmou João Lobo Antunes: “isto é que é um ensaio: uma história simples de contar, um acumular de experiências, uma pesquisa aberta…”
Apresentado por José Carlos Vasconcelos como humanista, ensaísta e escritor, o médico esclareceu os presentes acerca do seu entendimento do género literário a que se dedicou – o ensaio -, por considerar que não tem jeito para escrever ficção: “Refugiei-me nos ensaios e nunca escrevi ficção, porque não consigo ultrapassar a barreira. Não sei se isso é bom, se é mau”.
João Lobo Antunes defende a escola ensaísta de Montaigne, em Portugal também seguida por António Sérgio, admitindo que se sentiu “muito confortável com este género”. Aliás, a exemplo de muitos outros clínicos em Portugal, país onde “muitos médicos deram bons escritores”. Lobo Antunes recordou que Miguel Torga interrogava-se sobre esta ligação num dos Diários e dava a resposta: “a caneta que escreve e a que prescreve revezam-se harmoniosamente na mão”. Por isso mesmo, João Lobo Antunes retitulou a Conferência do encontro: “Não fazem mal as musas aos doutores”.
No final da Conferência, ao trocar impressões com o público, João Lobo Antunes desvendou mais uma página sobre a sua personalidade: “cada vez valorizo mais os afetos, as emoções”. Ao analisar 40 anos de carreira como neurocirurgião, João Lobo Antunes considerou que o tempo se encarregou de duas coisas na sua vida: “muito mais sofrimento em relação ao destino das pessoas e mais fé na natureza, que vejo como aliada e não como inimiga”.
As experiências baseadas no relacionamento com os seus doentes, durante décadas, levam o neurocirurgião a preferir substituir o termo, ética, por compaixão deontológica, que não é nada mais nada menos que, afirmou, “um bicho terreno que se preocupa e ajuda outro bicho terreno”.
A medicina continua a ser para João Lobo Antunes a principal faceta da vida e o que melhor o define, apesar de a escrita ser um “imperativo biológico”, porque “não sei não trabalhar”, explicou. O certo é que “a minha raiz está na sala de operações, o resto é espuma, não me preocupo nada com a posteridade”, concluiu João Lobo Antunes.

Ecos da blogosfera – 22 fev.

14.ª Correntes d’Escritas – Os Prémios

O regresso de Hélia Correia à poesia é um regresso à memória e aos clássicos. É isso que explica o título deste longo poema dividido em 32 secções:
A terceira miséria é esta, a de hoje.
A de quem já não ouve nem pergunta.
A de quem não recorda.

A paixão pela Grécia, desde há muito presente na obra de Hélia Correia, desagua agora neste livro de poesia, onde a Grécia clássica surge como farol e como impossibilidade:
Para onde olharemos? Para quem?
Certo é que Atenas se mantém oculta
E de algum modo intacta, por debaixo
Do alcatrão, do ferro retorcido.
Certo é que nunca ressuscitará
Visto que nada ressuscita.

Hélia Correia, escritora portuguesa contemporânea (1949), licenciou-se em Filologia Românica e é professora de Português do Ensino Secundário. Apesar do seu gosto pela poesia, é como ficcionista que é reconhecida como uma das revelações da novelística portuguesa da geração de 1980, embora os seus contos, novelas ou romances estejam sempre impregnados do discurso poético.
Estreou-se na poesia com O Separar das Águas, em 1981, e O Número dos Vivos, em 1982.
Destacam-se ainda na sua produção os romances Casa Eterna e Soma e, na poesia, A Pequena Morte/Esse Eterno Conto.
Recebeu em 2002 o prémio PEN 2001, atribuído a obras de ficção, pela sua obra Lillias Fraser.
Recentemente, foi galardoada com o Prémio Vergílio Ferreira 2013, instituído pela Universidade de Évora.
E os vencedores dos restantes Prémios Literários.
Prémio Literário Correntes d’Escritas Papelaria Locus
Inexistência Mental de Ana Matilde da Silva Gomes.
Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas Porto Editora
Na escola aprendi “verês”, EB1 O Leão de Arroios, Lisboa (1º lugar);
Peixes por um dia, Externato Champagnat, Lisboa (2º lugar);
Do azar se fez sorte, EB1,2,3 Augusto Moreno, Bragança (3º lugar).
Menções Honrosas: Lágrimas Musicais, EB1 Sininhos, Póvoa de Varzim; A menina dos olhos brilhantes, Colégio São Francisco de Assis – Luanda Sul, Angola; Soparino, o colega especial, EB1 de Alvaiázere; Laura reconquista a amizade!, Escola Portuguesa de Moçambique, Maputo; Um mundo melhor com pessoas maiores, Externato Champagnat, Lisboa, pela ilustração.
Prémio Literário Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’Escritas
Póvoa de Varzim ou o Paraíso Aqui, de Paulo Jorge Coelho Carreira.

Contramaré… 22 fev.

Novamente candidato ao governo na eleição deste domingo, ex-primeiro ministro caça votos disparando críticas contra a Alemanha. Berlim tenta não mostrar preocupação, mas a eleição do empresário pode afetar planos de Merkel e analistas consideram bem possível que ele consiga subir ao posto pela 5.ª vez.
Ironicamente, Merkel pode contribuir, sem querer, para uma vitória eleitoral de Berlusconi. O político e empresário culpa a Alemanha pela má situação económica do seu país, porque Berlim apoiou de forma decisiva as medidas de austeridade impostas pela União Europeia.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Contribuintes pagarão o crime dos amigos do nuclear?

Acordos de responsabilidade isentam fornecedores das centrais nucleares e limitam recursos indemnizatórios. No Japão, a conta deve sobrar para os contribuintes.
Passados quase 2 anos do acidente nuclear na central de Fukushima, no Japão, em março de 2011, as mais de 160.000 pessoas obrigadas a abandonar as suas casas à pressa não obtiveram qualquer tipo de compensação – assim como milhares de outras que saíram voluntariamente por temer a contaminação por radioatividade. A denúncia foi feita pelo Greenpeace em relatório divulgado em 19 de fevereiro. O documento revela a isenção de culpa das empresas envolvidas, e relata a precária situação das vítimas de um dos mais graves acidentes atómicos da história, num país de indicadores sociais elevados.
"As pessoas foram deixadas no limbo, presas entre o passado e o futuro", enfatiza o documento. O Greenpeace denuncia que as convenções sobre a responsabilidade no caso de desastres nucleares protegem as indústrias e não as pessoas. O especialista em políticas energéticas e energia nuclear do Greenpeace, Jan Haverkamp, explica que, no caso de Fukushima, a conta ficou para o contribuinte japonês, que não tem qualquer culpa do problema.
O documento apresenta detalhes dessa transferência de responsabilidades, e aponta problemas fundamentais. Um deles é a responsabilidade ter ficado centrada unicamente no operador da central e não nos fornecedores que participaram da construção da central nuclear. Segundo o Greenpeace, isso resulta na limitação dos recursos disponíveis para compensações, situando-os muito abaixo do custo real dos danos causados.
Acidentes com a dimensão de Fukushima afetam mais frontalmente as populações locais, porém os efeitos são sentidos globalmente, explica Haverkamp. O fecho de empresas, a remoção de funcionários, a suspensão de comércio estão entre as causas mais diretas. E esta é outra falha das convenções existentes: processos por perdas e danos só podem ser movidos nos tribunais do país onde ocorreu o acidente, e não em cortes locais.
Culpa compartilhada
O relatório analisa a relação das empresas fornecedoras com a construção dos reatores, mostrando que os desastres não ocorrem apenas na operação das unidades, e estão diretamente relacionados a erros de design, construção, operação e manutenção. O Greenpeace cita diretamente a responsabilidade no desastre de empresas como a General Eletric (GE), fornecedora dos reatores 1, 2 e 6; a Toshiba, que proveu as unidades 3 e 5; e a Hitachi, fabricante do reator número 4.
Haverkamp lembra que, no segmento petrolífero os fornecedores são corresponsabilizados por acidentes como o derrame de óleo, e defende que o mesmo modelo seja aplicado às operadoras de energia nuclear. "Queremos apelar à comunidade internacional e aos governos para que mudem essa situação. As empresas que fornecem material e peças para a construção das centrais não pagam um centavo [de indemnização], o que as deixa menos alerta para as questões de segurança", alerta.
O Greenpeace afirma ainda que, além de não dividirem a conta das indenizações, alguns desses fornecedores estariam a lucrar com o desastre, ao prestarem serviços no processo de descontaminação das áreas atingidas. As leis japonesas impedem que sejam movidos processos individuais diretamente contra os fornecedores, e definem a Tepco como única responsável pelo acidente. Após o desastre, a empresa entrou em bancarrota e foi nacionalizada. Com isto, as expensas do processo serão pagas, em ultima instância, pelo contribuinte japonês, avalia o relatório.
Situação precária
O colapso na central nuclear de Fukushima aconteceu logo após um terremoto de 9 graus na escala de Richter, seguido de um tsunami com ondas de até 40 metros de altura. Mais de 20 mil pessoas morreram e milhares ficaram desabrigadas. "Das vítimas do tsunami e do terremoto, cerca de 3.000 ainda não foram alojadas. Das 160.000 pessoas forçadas a deixar as suas casas e outros milhares que o fizeram voluntariamente, cerca de 100.000 ainda não puderam regressar", compara Haverkamp.
O relatório do Greenpeace conta histórias pessoais e detalha a burocracia enfrentada pelas vítimas para receber uma ajuda de custo mensal – a qual, conforme os depoimentos, é insuficiente. “As pessoas pensam que vão receber muito dinheiro quando uma coisa assim acontece, mas estão erradas”, declara uma senhora de 68 anos no relatório.
Para determinar o valor das compensações, a empresa estabeleceu 3 diferentes zonas à volta de Fukushima. Moradores de áreas que possam voltar a ser habitadas em menos de 2 anos, receberão uma ajuda pelo período da interdição. Só quem vivia em locais que levarão mais de 5 anos para apresentar níveis seguros de radiação, se pode candidatar a uma indemnização vitalícia. No relatório, pequenos fazendeiros argumentam que, mesmo que possam regressar às suas propriedades em breve, não encontrarão consumidores dispostos a comprar os seus produtos.
Alerta
"Em Fukushima aprendemos que a energia nuclear nunca é segura", enfatiza o documento. Para Haverkamp, o mais importante é que o acidente nuclear no Japão tenha servido como o último alerta para a necessidade de energias limpas e avalia que a pressão popular pelo fim do uso da energia nuclear é importante, e funciona como um sintoma dos argumentos que estão na mesa.
Contudo, o trabalho de governos na mudança das convenções de responsabilidade é prioritário. "Se isso voltar a acontecer, não queremos que as pessoas sofram tanto quanto sofreram as vítimas de Tchernobil, e como estão a sofrer as de Fukushima", prevê.
O paradigma dominante no ocidente, que se traduz em imputar aos contribuintes as fraudes e dívidas dos bancos, pacificamente e inexplicavelmente aceite, estende-se a uma economia ocidentalizada, com a agravante de imputarem aos contribuintes o pagamento de indemnizações devidas por um desastre nuclear, sem risco para os exploradores da energia nuclear.
Para além de o dono de um cão ser responsável pelos danos causados a terceiros pelo seu animal, nestas coisas de impacto planetário, os vampiros do nuclear, que juram (a fazer figas), que não há nada mais seguro, nem seguro tem, nem são obrigados a pagarem pelos seus erros assassinos, quer em dinheiro, quer em limitação da sua liberdade. Ou seja, nem são presos por matarem, nem pagam para ressarcir.
O mundo anda todo ao contrário e toda a gente embarca nas águas contaminadas de uma ideologia plutocrática!
Para quem pensa que isto foi do outro lado do mundo, aqui bem pertinho, Reator de central nuclear (Almaraz) no rio Tejo forçado a parar no sábado… Ainda vamos pagar, se desde já nos calarmos!
A cor do dinheiro já não escolhe cores…
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Ecos da blogosfera – 21 fev.

Como na vida, ganharão mais os países mais ricos…

Bloco comercial seria o maior do mundo, impulsionando transações, mercado de trabalho e salários de ambos os lados. Mas, como costuma acontecer em projetos monumentais, os empecilhos estão nos detalhes.
Klaus Ulrich
De ambos os lados do Oceano Atlântico reina unanimidade: as barreiras comerciais entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE) precisam cair. O presidente norte-americano, Barack Obama, e os do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, anunciaram a 13/02 conversações sobre um acordo para reduzir as restrições alfandegárias e comerciais.
As negociações já poderão iniciar-se oficialmente em meados deste ano. Os EUA e a UE representam aproximadamente metade do desempenho económico e 1/3 do comércio mundial. Para a Alemanha, um tratado de livre comércio poderá trazer o embaratevimento dos produtos negociados, assim como impulsos para o mercado de trabalho e os salários.
Menos burocracia, mais investimentos
"Em tempos de condições básicas inseguras, devido às crises económicas e financeiras, a facilitação do comércio conjunto deveria ser um tema central para ambos os lados, a fim de aquecer o crescimento", declarou Anton Börner, presidente da Confederação do Comércio Atacadista, Exterior e Serviços (BGA, na sigla em alemão). Do seu ponto de vista, um acordo de livre comércio entre as duas regiões iria não só criar novos postos de trabalho e gerar aumento de salários, mas também influenciar sensivelmente o bem-estar privado.
As taxas alfandegárias entre a UE e os EUA já são modestas – segundo o BGA, entre 5% e 7%. No entanto, como, em cada ano, bens no valor superior a meio trilhão de euros circulam de um lado para o outro do Atlântico, o empresariado poderá vir a economizar bilhões.
Em 2010, só as empresas químicas europeias pagaram aos cofres dos Estados Unidos quase 700 milhões de euros pelas exportações para o país. Em contrapartida, os norte-americanos também injetaram mais de 1 bilhão de euros na Europa. Com a queda das barreiras, as associações económicas esperam menos burocracia para as médias empresas e mais dinheiro para investimentos, por exemplo na pesquisa e desenvolvimento.
Conceções conflituantes
A expectativa da economia alemã é de impulsos bilionários. "O tratado de livre comércio poderia elevar as nossas exportações para os EUA em 3 bilhões a 5 bilhões de euros por ano", estima Volker Treier, diretor do departamento de comércio exterior da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK). A Câmara Americana de Comércio na Alemanha (AmCham) conta com um crescimento adicional do PIB de 1,5%. Várias empresas alemãs esperam, além disso, ter o acesso facilitado a contratos públicos nos Estados Unidos.
Entretanto o presidente da BGA, Anton Börner, ressalva que ainda há numerosas pedras a serem retiradas do caminho até se chegar a uma zona transatlântica de livre comércio. Sobretudo no tocante ao comércio de produtos agropecuários, as conceções são muito diversas entre si.
Enquanto a França teme a concorrência no setor agrário, os EUA querem seguir interditando a importação de carne bovina proveniente da UE, por ainda temer a encefalopatia espongiforme bovina (BSE). "Por sua vez, a UE não quer dos Estados Unidos nem alimentos transgénicos, nem galinhas tratadas com cloro", comenta Börner.
Tampouco devem ser subestimados os obstáculos burocráticos que este projeto implica, sobretudo nos EUA. "Enquanto na Europa numerosos setores já estão harmonizados através da UE, ou a competência já se situa no nível da União Europeia, nos EUA as jurisdições são, em parte, fragmentadas, e encontram-se no nível dos estados."
Perigo de dominação
Um acordo bilateral entre Washington e Bruxelas geraria um gigantesco bloco comercial. Juntas, as duas regiões são responsáveis por quase a metade do desempenho comercial global. Por isso, Börner vê o perigo "de que esse domínio comercial seja mal empregado para paralisar de forma duradoura as negociações multilaterais".
Contudo, o sentido de um tratado desta ordem não é o de se isolar em relação a terceiros. "Conversações sobre uma zona transatlântica de livre comércio não podem ser vistas como substituto para negociações multilaterais no nível da OMC [Organização Mundial do Comércio]", sublinha Börner. As forças e a dinâmica liberadas por uma zona livre transatlântica deveriam ser, antes, utilizadas para revitalizar de forma decisiva as empacadas negociações na OMC.
O chefe da BGA resume: "Uma integração mais forte dos mercados transatlânticos não geraria consideráveis vantagens só para as regiões económicas envolvidas. Tal acordo iria também projetar um claro sinal contra qualquer tendência protecionista".
Foram 65 palavras entre as quase 7.000 do "estado da União": o anúncio das negociações para o acordo de livre comércio e investimento transatlântico tem tanto de imprescindível como de incompreensão. Como é possível que o maior bloco económico do mundo, a mais sólida relação política da história, assente na mais poderosa aliança militar, não tenha ainda estabelecido uma zona de liberdade comercial que potencie empregos, negócios, comércio e regras de regulação?
Não é só à força corporativa das alminhas protecionistas nos dois lados do Atlântico que se devem atribuir responsabilidades, é à falta de vontade política das lideranças.
Este entendimento entre Bruxelas e Washington é fruto da dinâmica gerada pelas potências emergentes e do quadro clínico por que passam as economias europeias e norte-americana. Permite responder economicamente ao quadro geopolítico equilibrador, onde o capitalismo de Estado chinês vai fazendo caminho de charme, e aproveitar o contrato político transatlântico (pós-1945 e 1989) com bom senso e inteligência: acrescenta-lhe riqueza, competitividade, regras de regulação; retira-lhe barreiras, taxas e burocracia. Basta dizer que os EUA investem 4 vezes mais na Holanda do que no conjunto dos BRIC e que o comércio com Portugal é superior ao que Lisboa tem com os BRIC.
Há história comum, relações sólidas e muita margem para crescer. E é esta a outra face do acordo: o seu fim geopolítico. Aproveitar terreno comum para reforçarem o peso económico valida as regras do acordo para lá do seu espaço, dá peso negocial à Europa e EUA no concerto económico global, até nas boas práticas de governação e no respeito por direitos e liberdades individuais. É um modelo que, vingando, prepara a relação transatlântica para este século e projeta os pilares e valores do seu sucesso. Vai ter obstáculos, mas tem tudo para ser a linha que nos separa do declínio.
Bernardo Pires de Lima

Nem “só eu sei por que não fico em casa”…

Mais de 50 escritores reúnem-se, a partir de hoje, na Póvoa de Varzim, para falar de literatura, na 14.ª edição das Correntes d'Escritas, o maior encontro de autores de expressão ibérica.
Até sábado, temas como "Mentem-nos tanto os mitos", "Só o que não se  sabe é poesia" e "Desse país arranquei todos os cravos" juntarão, em 7  mesas de debate, autores como Rubens Figueiredo e Andréa del Fuego (Brasil),  Ignacio Martínez de Pisón (Espanha), Luís Cardoso (Timor-Leste), Hélia Correia,  Afonso Cruz, Valter Hugo Mãe, Maria Teresa Horta, Mário Zambujal e Vasco  Graça Moura, entre muitos outros. 
Na sessão de abertura oficial do encontro, marcada para as 11:00, no  Casino da Póvoa de Varzim, serão anunciados os vencedores dos prémios Literário  Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros, Correntes d'Escritas/Papelaria  Locus, atribuído a autores com idade entre 15 e 18 anos, Conto Infantil  Ilustrado Correntes d'Escritas/Porto Editora e Correntes d'Escritas/Fundação  Dr. Luís Rainha. 
À tarde, no auditório municipal, caberá ao neurocirurgião João Lobo  Antunes proferir a conferência de abertura do encontro, subordinada ao tema  "Não fazem mal as musas..."
Além de habitualmente esgotar o auditório municipal de 310 lugares,  ao longo dos 3 dias em que decorre, o encontro, uma iniciativa da Câmara  da Póvoa de Varzim lançada em 1999, costuma promover visitas dos escritores  a escolas básicas e secundárias do concelho, iniciativa que se repetirá  este ano, na quinta e na sexta-feira. 
Haverá ainda, além do lançamento de 16 livros, a inauguração de duas  exposições, várias sessões de poesia, a apresentação do número 12 da revista  Correntes d'Escritas, dedicada a Urbano Tavares Rodrigues, e a habitual  Feira do Livro, até sábado, ao lado do auditório, na Casa da Juventude,  onde estarão à venda as obras dos autores presentes nesta 14.ª edição. 
A encerrar o encontro, no sábado, ao fim da tarde, serão recordados  dois poetas falecidos em 2012: o português Manuel António Pina e o brasileiro  Lêdo Ivo. 

Contramaré… 21 fev.

Vítor Gaspar revelou que, devido a um final de ano mais negativo do que se esperava, antecipa uma significativa revisão em baixa das estimativas de crescimento para este ano, dizendo esperar agora uma recessão de 2% em vez do 1% estimados anteriormente.
O ministro das Finanças revelou ainda que está confiante que a Comissão Europeia aceitará dar mais um ano a Portugal para cumprir as metas de défice.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Jovens contestam e recusam austeridade contra Povo

O primeiro-ministro lamentou e repudiou, em nome do Governo, as manifestações que impediram Miguel Relvas de discursar, garantindo que o executivo "nunca se deixará condicionar" por ações desta natureza.
"O Governo lamenta as circunstâncias anómalas que levaram o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares a suspender esta tarde a sua intervenção numa conferência organizada pela TVI para assinalar o seu 20.º aniversário", refere uma nota do gabinete do primeiro-ministro.
De acordo com o texto, "manifestações como aquela a que se assistiu nas instalações do ISCTE suscitam necessariamente o repúdio da parte de todos quantos prezam e defendem as liberdades individuais, designadamente o direito à livre expressão no respeito pelas regras democráticas".
"O Governo reitera, nesta ocasião, que nunca se deixará condicionar por ações de natureza semelhante no exercício constitucional das suas funções", refere a nota do gabinete de Pedro Passos Coelho.
Até parece que é o governo que está a sofrer no pelo e que tem razões para lamentar e repudiar o que quer que seja, em nome da democracia, cuja soberania reside no POVO…
Até parece legítimo, democraticamente falando, que “comer e calar” seja o conceito/dogma que o Governo tem, vencido o “desafio” quadrienal de umas eleições, mesmo que o programa e as promessas sejam rasgadas no dia seguinte…
Até parece lógico que o executivo sinta que com manifestações esteja a ser condicionado na governação, esquecendo-se de que quem se manifesta é quem foi ludibriado, ou melhor, uma minoria, porque 1.000.000 já o fez e voltará a fazê-lo e em maior número…
Até parece que a anomalia das circunstâncias, que calaram o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares está na pessoa e não nas circunstâncias que o fizeram DOTOR e ir falar "entre os Doutores"…
Até parece que o sucedido não foi fruto do repúdio da parte de cidadãos que prezam e defendem as liberdades individuais, quotidianamente limitadas, usurpadas e eliminadas, por este governo, que rasga contratos, confisca trabalhadores e reformados, marimba-se na Constituição e reduz os direitos sociais de um Estado de direito…
Até parece que o direito à livre expressão no respeito pelas regras democráticas é um direito unilateral do governo e que as mesmas regras democráticas impedem o povo à livre expressão, que por ser livre, não é apenas discurso…
Até parece que o exercício constitucional das funções do governo exclui todos os outros cidadãos de exigirem os direitos constitucionais que lhe são garantidos pela mesma Constituição…
Até parece que o POVO se anda a portar mal e que já não é “o melhor povo do mundo”…
O que não parece é que este governo seja o melhor do mundo ou sequer de Portugal…
O que não parece é que este ministro seja o melhor embaixador deste governo…
Ou talvez seja…
Ministério Público está a averiguar eventuais favorecimentos de Miguel Relvas à Tecnoforma, empresa onde trabalhava Passos Coelho.
A investigação divide-se em 2 processos: um está no DCIAP e visa apurar eventuais favorecimentos de Relvas, então secretário de estado do governo de Durão Barroso, à Tecnoforma, no âmbito de ações de formação financiados por um programa comunitário.
O outro processo está no Departamento de Coimbra e tem por objeto a entrega de 1.200.000 de euros a um projeto de formação destinado a pessoal de 2 heliportos e 6 aeródromos.
Nota – Todos são inocentes, até que se prove o contrário.
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Ecos da blogosfera – 20 fev.

É a Hora!

"Il Quarto Stato", Giuseppe Pellizza da Volpedo
É negro o tempo
sobre o leito dos escravos
dos senhores do templo.
A água cala.
No mar
as ondas indignadas
recrudescem
sobre a areia amarrotada
(dá-me a tua mão!).
Há pássaros ao longe
asas estagnadas de nada.
Mas uma luz tenaz
cintila
no negro silêncio
onde as pedras se agitam
no sonho dos escravos
dos senhores do templo...
maria isabel fidalgo - o oiro das manhãs