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sábado, 9 de junho de 2012

Europeu com muito orgulho, por muitas e boas razões!

“A economia afasta as duas margens do Atlântico”: é assim que La Stampa resume as consequências das recentes declarações de Barack Obama, segundo as quais as fracas perspetivas de crescimento dos EUA ficam a dever-se à má gestão da crise da zona euro. “Há causas fortuitas e causas mais de longo prazo na pressão cada vez maior com que o Presidente Obama insta os europeus a reagirem”, comenta o diário de Turim. As primeiras estão relacionadas com as presidenciais de novembro nos EUA: no momento em que, com a nomeação de Mitt Romney para candidato republicano, a campanha chega ao auge, o termo “Europa” passou a ser um insulto utilizado pelos candidatos para desacreditar o adversário, nota La Stampa.
No início da campanha presidencial, eram os Republicanos que utilizavam a Europa para assustar os eleitores e atingir Obama […]. Agora, os papéis inverteram-se e os Democratas acusam os adversários de “ser como os europeus”, porque os Republicanos propõem a mesma austeridade teutónica que condena a zona euro à recessão e ao desemprego.
As segundas dizem respeito às relações transatlânticas, em particular com Berlim:
Durante anos, Washington viu na Alemanha o seu mais fiel aliado. […] No final desse período, tinham passado mais de 20 anos. E aquilo que a guerra do Iraque e do Afeganistão não conseguiram fazer – enfraquecer a aliança – verifica-se hoje em dia por causa da crise e de uma Alemanha talvez pouco audaciosa para prosseguir conscientemente um “grande desígnio”, mas demasiado “teimosa” para comprometer as bases da aliança ocidental.
À parte bairrismos ou “continentalismos” bacocos, só a História pode (des)valorizar a cultura, a moral e os comportamentos dos povos de cada continente e talvez não seja displicente (re)ler o artigo aqui publicado, que aborda o tema: Marte e Vénus, dez anos depois.
À parte as agendas de marketing dos dois candidatos americanos (até torcemos por um), não parece de bom tom dizerem mal do vizinho, até porque o mal também lhes vem pelo caminho…
Para quem é atingido por estes “insultos” é que não pode por de parte os pormenores, tão GRANDES, tão GRANDES, que até nem deixam os americanos ver direito o passado recente…
E é tempo de perguntar, quer aos conselheiros de Mitt Romney, quer aos de Barack Obama, onde começou esta crise? O que a originou? Quem foram os seus causadores? E quem apanhou com ela, por tabela? Não foi na Europa! Não foi a “bolha” imobiliária europeia! Não foram os bancos nem as agências de rating europeias! Foram e são os europeus que estão a pagar parte da fatura de muitos “erros” de alguns americanos, que todos somados (os erros) nos levam a desconfiar que a vigarice andou de mãos dadas com gente promíscua e sabem-se nomes, que até continuam no ativo, ativamente…
Já aquando dos preliminares da Guerra do Iraque, em que valeu tudo o que era mentira, houve altos dirigentes americanos que insultaram a França, os franceses e a sua cultura, só porque o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominique de Villepin, era contra essa intervenção e dizia  "…acreditamos que a intervenção militar seria a pior solução"… Passados alguns anos, esqueceram as ofensas e as razões das mesmas e fizeram as pazes, para fazerem a guerra (à Líbia)…
Tendo em conta que os americanos tem o seu cordão umbilical ligado à Europa, e por isso, o “insulto” só pode refletir-se neles próprios e se há responsáveis pelo marasmo em que vive a Europa, tem nome, são políticos, banqueiros e especuladores, muitos deles formados(?) em escolas americanas e que até são colocados no topo de governos europeus, sem serem escrutinados, mas nem eles dão conta do recado…
E esta hein?
Não se pode cuspir para o ar…
Número de sem-abrigo dispara em Nova Iorque

Ecos da blogosfera - 9 jun.

Contramaré… 9 jun.

Membro permanente do célebre e selecto Clube Bilderberg, Francisco Pinto Balsemão levou este ano como seus convidados ao encontro anual, que decorreu entre 31 de Maio e 3 de Junho nos Estados Unidos, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado e o vice-presidente do PSD, Jorge Moreira da Silva.
São muitas as teorias da conspiração sobre o imenso poder oculto de Bilderberg, mas não é preciso muita imaginação para escrever que Miguel Relvas só pode ter ficado com as orelhas a arder durante os dias do encontro entre Balsemão e Moreira da Silva em terras de Obama...

Falam da nossa bonomia, mas não das nossas vidas!

Há 14 meses que o país vive sob a vigilância do FMI, do BCE e da Comissão Europeia, que lhe emprestaram o dinheiro para fazer face às suas dívidas. No momento em que os enviados destes financiadores verificam localmente a aplicação das reformas, a população reclama "mais tempo, mais dinheiro e melhores condições".
Em Portugal, quando se fala do MoU ninguém está a referir-se ao seu conhecido compatriota, treinador do Real Madrid. O MoU (Memorandum of Understanding on specific economic policy conditionality – Memorando de Entendimento) é a última palavra que impera sobre a vida económica deste país de 10,6 milhões de habitantes, com tendência para mudanças radicais quando o calendário chega ao mês de abril.
Em abril de 1974, veio a democracia, com a revolução dos cravos. E, em abril de 2011, o Governo socialista do primeiro-ministro José Sócrates viu-se obrigado a apresentar um dramático pedido de resgate à União Europeia, seguindo as pisadas da Irlanda e da Grécia.
No mês seguinte, esse pedido de ajuda materializou-se num resgate financeiro no valor de 78 mil milhões de euros. Capital com juros de cerca de 4%, entregue em parcelas e condicionado a uma litania de reformas profundas e dolorosas. A letra miudinha para pôr em ordem as finanças de Portugal, para o país poder regressar aos mercados em setembro de 2013, está a cargo da troika formada pelo Fundo Monetário Internacional, pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu, cujos representantes se deslocam periodicamente a Lisboa, em missão fiscalizadora.
“Passámos da tesoura para a motossera”
Precisamente na passada semana, houve uma dessas inspeções. A 4ª no prazo de um ano, desde que os portugueses vivem "troikados". Esta espécie de auditoria aos compromissos cumpridos envolve a deslocação, durante 2 semanas, de um destacamento de jovens técnicos, com computadores portáteis, em busca de números, prazos e documentos. Entretanto, 3 altos funcionários encarregam-se dos contactos a nível político: Abebe Selassie (FMI), Jürgen Kröger (Comissão Europeia) e Rasmus Rüffer (BCE).
"Noutros países, teriam sido recebidos com protestos, logo no aeroporto. Mas o nosso caráter é assim. Nós não somos como vocês, espanhóis", explica o sociólogo Jorge de Sá, que há anos mede, através de sondagens mensais, a forma como evolui a opinião pública portuguesa.
Nicolau Santos, jornalista de Economia e diretor adjunto do prestigiado semanário Expresso, fala de "desespero silencioso" perante os protestos limitados ocorridos em Portugal durante este ano de resgate, eleições, mudança de Governo e ajustamento forçado. Segundo argumenta João Cantiga Esteves, um dos economistas mais informados sobre a crise portuguesa, existe um consenso social tácito de que a troika é "uma ajuda necessária, uma oportunidade" para levar por diante todas as reformas que os sucessivos governos foram incapazes de concretizar.
Este conformismo não significa que, ao longo do último ano Portugal não tenha acumulado motivos de sobra para cantar o mais triste dos seus fados. A vida do dia a dia foi diretamente afetada pela "austeridade" e pelos cortes, impostos pela troika para reduzir um défice público que, em 2010, ultrapassou os 9% do PIB português e que, este ano, deverá chegar aos 4,5%. "Passámos da tesoura para a motosserra", comenta uma jovem invejavelmente poliglota, na Praça do Rossio, no centro de Lisboa.
“Mais troikista do que a troika”
Apesar de partir de níveis salariais mais baixos – deste lado da raia, os "mileuristas" de Espanha são, com alguma sorte, "560 euristas" –, os sacrifícios têm vindo a acumular-se desde que o Governo decidiu aplicar, no ano passado, um imposto especial de 50% sobre o subsídio de Natal de todos os portugueses com rendimentos superiores a 485 euros mensais, o equivalente ao salário mínimo.
A partir desse momento, a crise e o ajustamento deixaram de ser uma coisa teórica. Com cortes sucessivos em todas as áreas: saúde, educação, transportes públicos… Além de um doloroso aumento da tributação, com um IVA que, no seu escalão mais alto, chega aos 23%.
Apesar de as condições do resgate terem sido negociadas com a troika pelo Governo socialista demissionário, a sua aplicação está a cargo do novo Gabinete presidido pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Este é o Governo português mais jovem e mais reduzido desde a revolução dos cravos.
4 dos seus 11 ministros não têm filiação partidária, a começar pelo titular das Finanças, Vítor Gaspar, que esta primavera confirmou que reformados e funcionários públicos terão que esperar pelo menos até 2018, para recuperarem integralmente os subsídios de Natal e de férias, atualmente suprimidos.
Os críticos do Governo insistem em que este está a ser "mais troikista que a troika", ao tentar acelerar o ritmo e o âmbito do ajustamento requerido. Até agora, a única pretensão da troika rejeitada pelo Governo português foi baixar a Taxa Social Única, a contribuição das empresas para os cofres da segurança social portuguesa por cada trabalhador.
Endividamento insustentável
Quanto ao resto, nas revisões periódicas da aplicação do MoU, o Gabinete de Passos Coelho obteve as melhores qualificações. Embora a condição de Portugal de ser um doente exemplar faça parte do grande debate em curso na Europa sobre os limites da austeridade.
Apesar de ter feito tudo o que era exigido, a economia portuguesa continua em estado crítico. Para este ano, é esperada uma regressão do PIB de entre 3,1% e 3,5%, com uma taxa de desemprego sem precedentes, superior a 15% e que, no caso dos jovens, ultrapassa os 36%. O rácio entre dívida pública e PIB do país era de 107%, quando começou o resgate, mas a este ritmo atingirá os 118%, quando o resgate financeiro terminar, em setembro de 2013.
O professor Cantiga Esteves defende que os problemas de Portugal são diferentes do descalabro bancário da Irlanda e das mentiras da Grécia sobre a sua dívida. No caso português, a essência do problema é que, "durante a última década, a nossa economia cresceu a uma média anual de 0,7% e todo o consumo público e privado assentou num endividamento insustentável".
Sobre a polémica do doente exemplar e a necessidade de um segundo resgate, o sociólogo Jorge de Sá insiste, com a ironia característica dos seus compatriotas: "Diga-me, por favor, quando foi que o FMI curou fosse o que fosse numa democracia." Nicolau Santos, o diretor adjunto do Expresso, é um dos que acreditam que é muito difícil evitar uma segunda intervenção. "Precisamos de mais tempo, mais dinheiro e melhores condições."
VISTO DE LISBOA - Um ano depois do resgate, a troika está parcialmente satisfeita
A troika UE/BCE/FMI aprovou a disponibilização de uma parcela de 4,1 mil milhões de euros de ajuda financeira a Portugal. Trata-se da 5ª parcela desde o resgate de maio de 2011, no valor de 78 mil milhões de euros.
Apesar de as reformas em curso terem obtido a sua aprovação global, a troika mostrou-se preocupada com os números do desemprego (15,9%), relata o diário económico Jornal de Negócios. Segundo o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, o desemprego poderá
atingir 16% da população ativa no próximo ano, número nunca visto na história portuguesa recente.
Este diário de Lisboa também critica a troika por exortar o Governo a acelerar a reforma do mercado laboral em curso. No mês passado, o parlamento aprovou legislação relativa à flexibilização do tempo de trabalho e indemnizações mais reduzidas em caso de despedimento e alguns feriados foram suprimidos.
Assim como errou – tal como todos nós – nas previsões do desemprego, a troika está agora a errar na terapia. Boa parte dos economistas estava convencida que a legislação laboral portuguesa era muito rígida. [...] A realidade, com a sua violência, encarregou-se de mostrar que a legislação laboral já era suficientemente flexível [...]. Portugal não precisa de mais alterações na legislação laboral.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A indignação contra opiniões deve ser contra toda(o)s!

As últimas duas semanas produziram toneladas de lixo mediático, como é habitual. Se a troika se lembrasse de criar um imposto sobre a tralha que nos assoberba, talvez resolvêssemos, então, a dívida... Pela capacidade política não vamos lá, de certeza - preparem esses ossos.
Nicolau do Vale Pais
No meio deste mar de indiferença, frivolidade, e algum cinismo, surgem as declarações de Teodora Cardoso, Presidente do Conselho de Finanças Públicas, e de D. Januário Torgal, Bispo das Forças Armadas. E o que disseram, então, que possa ter causado inusitada indignação a figuras como a jornalista Maria João Avillez, ou feito resfolgar António Borges, que, imprudente, nos deu finalmente a conhecer o seu sonho de desenvolvimento neo-soviético para Portugal? Nada de especial. Não foi o que disseram, mas como disseram, e, sobretudo - e esta foi a parte ao arrepio do "prato do costume" que mais me agradou - a absolutamente descomprometida independência cívica com que o fizeram. Desinteressados, separaram responsabilidade pública de responsabilidade individual, Estado de particulares, país de partidos. Não é preciso sequer concordar para gostar da transparência destas declarações; quem precisa de unanimidade e concordância para chegar ao pasto é o gado. E nós não somos gado.
Teodora Cardoso falou do 3º Mundo sem léria ideológica. O modelo de permanente redução salarial não só é insustentável a médio prazo, como os resultados da sua erosão no poder de compra e coesão social são depauperantes a nível das receitas fiscais e explosivos ao nível da estabilidade social. De permeio, não se esqueceu do Citigroup, banco americano cujas influências lobistas têm sido nefastas para a República Portuguesa, e lembrou a qualificação como caminho para a competitividade, ao invés da via terceiro-mundista do empobrecimento. Mostrando-se com pedagógico optimismo, salientou que teremos de "pensar pela própria cabeça e não fazer só o que nos mandam".
Já D. Januário Torgal, Bispo das Forças Armadas, saiu em defesa da dignidade dos Portugueses ao dizer o evidente: que é absolutamente chocante a forma como o primeiro-ministro paternalizou os cidadãos que supostamente representa, ao agradecer-lhes o "esforço" como se de empregados de uma empresa se tratassem. Depois de falar do conforto da zona do desemprego ou da solução mágica da emigração, Passos vem agora agradecer aos Portugueses num estilo Presidencialista, que foi a forma que encontrou para esconder a sua própria mediocridade programática e política; e esta falsa prudência, esta mudança de tom súbita a roçar a hipocrisia, tem, pelo meio, o aparecimento de três dados fundamentais:
- O caso Relvas, monumento sombrio à vida dos partidos em Portugal;
- O ajuste súbito do défice e correcção do nível da receita altamente desfavorável ao Governo (refiro-me às correcções anunciadas dia 31 de Maio pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental), que fazem prova da completa ineficácia política da austeridade no que toca a qualquer hipótese de recuperação económica;
- O tombo de cerca de 10% nas sondagens para o Governo.
D. Januário está legitimado e inspirado pela história recente, nomeadamente por esse documento que deveria estar emoldurado nas paredes de todas as escolas públicas em Portugal, que é a carta de D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, a António Oliveira Salazar, redigida a 30 dias das eleições de 1958, que, depois de falsificadas, conduziriam ao posterior assassinato de Humberto Delgado. É uma carta sobre a desumanidade da fome e da subjugação, que Pedro Passos Coelho deveria ler, ao invés de nos tentar alimentar com amendoins e bananas; poupava-se assim a essa figura prazenteira e frágil de, como um provinciano, olhar para dentro de uma jaula e achar que já percebeu a selva por detrás das grades.

Ecos da blogosfera - 8 jun.

Contramaré… 8 jun.

"Chamo a atenção para o facto de termos a intenção de antecipar significativamente a amortização dos instrumentos já a partir de 2014, apesar de os instrumentos poderem ser amortizados na sua totalidade até 2017", admitiu hoje Miguel Bragança, Chief Financial Officer (CFO) do BCP.
O responsável lembrou que esta necessidade de capital (de 3.500 milhões) se deve "em parte a factores não recorrentes e parcialmente temporários, nomeadamente o ‘buffer' EBA na sua componente de dívida soberana".
"O mercado receia que o BCP não seja capaz de devolver ao Estado os 3.000 milhões de euros que vai receber da linha de capitalização pública, fazendo com que a presença do Estado se torne mais permanente", explicou ontem Luís Gonçalves, trader da GoBulling.

Grandezas de ex-novos ricos? Mas alguma inovação…

Ia ligar o Atlântico às estepes russas. Mas o projeto de corredor ferroviário europeu entre Portugal e a Ucrânia não teve pés para andar. Em causa, a crise e as contestações que lhe marcam o percurso.
Lisboa. Em Santa Apolónia, a estação principal – uma cobertura em ferro e vidro fosco, no ar fragrâncias de oceano e Tejo – tem apenas dois cais para os comboios dos subúrbios e para o rápido para Bilbau. Lisboa devia ter sido o ponto de partida do mítico “Corredor 5”, o eixo Lisboa-Kiev, que ligaria a Europa atlântica às estepes russas. Quinta coluna de um projeto de rede europeia lançado em meados dos anos 1990, este corredor continua a ser um mistério.
A 21 de março, o Governo português anunciou o abandono de todos os projetos de comboio de alta velocidade. Quanto à Ucrânia, desconhecemos a sua posição. A verdade é que o sonho de uma Europa unida por uma rede de infraestruturas ferroviárias continua de pé, mas materializado numa rede de troços e ramais intercalares que se estende por todo o continente e se chama “Ten-T” (Trans-European Transport Network). O Corredor 5, redimensionado, passou a chamar-se recentemente Corredor Mediterrânico.
Investimentos mínimos
Partida de Santa Apolónia para Algeciras, à frente de Marrocos, a um passo de Gibraltar. É daqui que a Comissão Europeia quer fazer partir o Corredor Mediterrânico.
Don Carlos Fenoy, presidente da Câmara do Comércio local e um dos mais acérrimos defensores do Corredor e da sua utilidade afirma: “Um TGV para mercadorias? Será que estão doidos!? O consumo de energia e o desgaste dos vagões a uma velocidade superior a 80 km/h representaria um aumento exponencial de custos.” Espanha, para além disso, está em vias de reduzir drasticamente os investimentos em matéria de infraestruturas: menos 5 milhões e 400 mil euros relativamente a 2001. Contudo, apesar destes cortes orçamentais, o TGV de passageiros entre Algeciras e Bobadilla (onde se junta ao que segue para Madrid) será de facto uma realidade graças a uma solução surpreendente.
"É simples: para se conseguir o afastamento dos carris exigido pelos comboios de grande velocidade, acrescenta-se um terceiro carril na linha, entre os dois já existentes. Os comboios mais lentos circulam em cima dos carris com afastamento ‘espanhol’ e os TGV, em cima dos que obedecem às normas internacionais”, explica Rafael Flores, responsável pelo nó ferroviário de Ronda. Sem betão e sem investimentos colossais.

Ecos da blogosfera - 7 jun.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Na era do “online” ainda há quem jogue no “offside”…

O juiz do processo principal do caso BPN solicitou à Direção-Geral de Administração da Justiça (DGAJ) um computador que substitua o seu atual portátil, que está “obsoleto”, o que segundo o próprio provoca atrasos no processo.
“Face à antiguidade do computador, à capacidade da memória RAM e do disco rígido, o mesmo bloqueia inúmeras vezes, obrigando a reiniciar o computador frequentemente, a reabrir várias pastas e subpastas, e as referidas bases de dados, o que tem por consequência uma perda inútil de tempo e provoca grandes incómodos no decurso normal das várias sessões de julgamento”, queixou-se o juiz no despacho produzido no final da sessão de terça-feira.
O juiz explica ainda que no julgamento a que preside tem sido utilizado o computador portátil atribuído pela DGAJ para projetar inúmeros documentos digitalizados do processo, entre os quais, o designado «disco externo 33», que contém milhões de documentos que constavam nos mais de 30 computadores apreendidos nas buscas feitas aos arguidos pelas autoridades.
É também através deste computador que é visionado nas sessões do julgamento o «cd 13», que contém a base de dados das operações bancárias do BPN, IFI, BPN Cayman e Banco Insular. No total, toda a documentação digitalizada, bem como as bases de dados, contêm mais de 300 “gigabytes”, que foram integralmente transferidos para o computador do juiz.
“O computador em referência não tem a mínima capacidade para ser utilizado cabalmente na apresentação da documentação e das bases de dados”, mas esta é “a única forma viável de apresentar a mesma documentação em sede de julgamento face à sua extensão e volume”, reforçou o juiz.
Foi dado conhecimento do despacho à Secretária das Varas Criminais de Lisboa e ao Conselho Superior da Magistratura.
Esta não é a primeira vez que o juiz reclama da falta de condições para julgar um processo desta dimensão, já que, em fevereiro de 2011, o juiz pediu à DGAJ mais armários para guardar os 70 volumes e mais de 600 apensos do processo (em papel), bem como um funcionário judicial para dar apoio no acesso aos documentos e evitar os atrasos provocados nas sessões, que ocorrem sempre que há a necessidade de se consultar um documento durante as audiências, obrigando à deslocação de um oficial de justiça desde o 3º andar até à cave.
Não sabemos se este tempo de atraso conta para efeitos da prescrição, mas que não ajuda a que se chegue a uma conclusão (relativamente) célere, ninguém tem dúvidas. Só falta saber a quem interessa, se interessa, esta lentidão cibernética, que põe os nervos em franja a quem usa tal ferramenta.
Pela descrição do “problema”, qualquer iniciado conclui que estão a gozar com o juiz, ou então não há mesmo dinheiro para comprar “aquela máquina”, que não custa tanto como isso e ou a Parpública prescinde de um carrito para o jardineiro e adquire coisa de jeito na Worten (ou concorrente), nem que seja a prestações (ainda devem ter crédito), ou faz uma “vaquinha” entre os cidadãos interessados no final deste policial, ou organiza um peditório nas TVs, porque os portugueses são solidários quando lhes é mostrada a pobreza, mesmo a de espírito.
Se o mesmo se passar em todos os tribunais (e pelo aspeto dos aparelhos expostos, ainda mais antiquados são) estará aí, eventualmente a primeira razão dos atrasos da Justiça, logo a seguir a todos os velhos métodos e processos que se mantem, desde a marcação de vários julgamentos à mesma hora, aos atrasos escandalosos dos juízes, à convocação de todas as testemunhas para todos os dias e com multa se se esquecerem e à calendarização dos adiamentos, e…
No caso, é estranho que demore um ano para não se dar resposta a mais espaço e mais pessoal, prejudicando o andamento normal de um julgamento, sobretudo tal acontecer em instalações novas, tão bonitas e tão esvaziadas de capacidade e funcionalidade…
Uma vez tornada pública a fraca e impotente logística, certamente que a Secretária das Varas Criminais de Lisboa e o Conselho Superior da Magistratura dará resposta à denúncia, para que não se pense que há interferência dos que estão por cima da pirâmide e corresponsabilidade na lentidão da justiça, que neste caso tem que ser exemplar, caso contrário será o golpe final no pouco crédito de que goza o setor da Justiça e a falta de crédito no setor bancário...
Na era do “online”, não se pode confundir com o “offside”, mesmo em época da redondinha…
Vamos sentar a BANCA no banco dos réus, mas ofereça-se conforto (a que estão habituados) e eficácia (coisa que não lhes é próxima) para que tenham um veredicto justiceiro e fulminante!
“BPN por alguns, todos contra o BPN”!

Contramaré… 7 jun.

Além do suborno, o relatório salienta casos de tráfico de influências e relações promíscuas e pouco claras entre entidades públicas e privadas, que levam a benefícios dos privados e a prejuízos dos Estados. “Não existe controlo sobre os ‘lobbies’”, realça a Transparência Internacional.
Outros processos apontados dão conta de “formas mais subtis de manipulação política”, que determinam a tomada de decisões políticas, “para beneficiar poucos em detrimento de muitos”.

Mais um estrangulamento por garrote?

Até esta semana, Madrid pensou que teria de esperar pelas eleições gregas para receber ajuda para resolver a crise dos bancos nacionais. Mas, agora, o pânico está a aumentar, sem uma solução fácil à vista.
Nos últimos dias, o clima político que rodeia a crise do euro mudou, de forma quase impercetível. De um certo consenso em torno da ideia de que Espanha, no centro da tempestade, não podia esperar nada antes do dia 17, dia em que se realizam as segundas eleições na Grécia após o fracasso dos resultados das primeiras, passou-se para uma noção de que é preciso fazer alguma coisa antes dessa data. Pânico ou simples cautela?
O sintoma mais evidente deste novo ambiente foi a videoconferência de ontem entre os ministros das Finanças do G-7. Um acontecimento pouco comum e que, até agora, sempre prenunciou qualquer tipo de ação concertada dos grandes bancos centrais. E poderia concretizar-se precisamente hoje, dia em que também se reúne o conselho do Banco Central Europeu (BCE), a "grande esperança branca" daqueles que reclamam ações claras em defesa da moeda única.
De pés e mãos atadas
Sobre a Espanha, convergem duas tendências: por um lado, a desconfiança absoluta e crescente dos mercados sobre a sustentabilidade da sua dívida pública, a do Estado, e privada (a dos bancos) e, por outro, uma certa sensação de que a zona euro, que, para efeitos daquilo que se discute por estes dias significa se a Alemanha, estaria disposta a atuar para evitar o desastre que a queda a pique de Espanha implicaria. Bolsas e divisas oscilam agora, a diferentes horas do dia, consoante o teor dos rumores que inclinam a balança para um lado ou para o outro.
É preciso ordenar as peças. O ministro da Economia, Luis de Guindos, tenta conseguir que a banca seja capitalizada com dinheiro europeu, mas sem uma intervenção no país. Esta última implicaria a aniquilação política do Governo de Mariano Rajoy e um enorme sacrifício para a população, submetida aos ditames dos credores.
A intervenção significaria, em primeiro lugar, que o país ficaria fora do mercado. Para qualquer novo financiamento ou para cobrir qualquer vencimento, a única fonte seria o fundo europeu de resgate, que ditaria ao Governo, sem possibilidade de réplica, todas as decisões económicas. De pés e mãos atados.
Os principais acionistas desse fundo são os países em cujo território se situam os bancos aos quais os seus colegas espanhóis e o Estado devem somas enormes. Como acontece agora na Grécia, o resgate, um dos grandes eufemismos da crise do euro, equivale ao estrangulamento.
É sabido que Atenas não vê um só euro do dinheiro do suposto resgate, porque a quase totalidade deste vai diretamente para os pagamentos aos credores, neste caso o Fundo Monetário Internacional (FMI), o BCE e a Comissão Europeia.
“Os homens de negro não virão”
Contudo, do ponto de vista do credor, as coisas são diferentes. Autorizar um resgate parcial, apenas dos bancos com problemas, pode ser o primeiro passo para se chegar à negociação bilateral das dívidas dessas entidades com os seus credores, sem se poder garantir a cobrança com a mesma segurança que se tem quando está vinculado o conjunto, ou seja, o país onde foi feita uma intervenção.
Por aquilo que dá a entender o Governo espanhol, e pelo que dizem em público os dirigentes alemães, a Alemanha está a ajudar Espanha. Mas, se dermos ouvidos à imprensa internacional e aos correspondentes comunitários, Angela Merkel e o seu ministro Wolfgang Schäuble são os mais interessados em que Madrid aceite o pacote completo: a intervenção em toda a linha. Obama, Hollande e Barroso fazem parte da lista dos que pedem um gesto de Berlim.
Ontem, o ministro do Orçamento, Cristóbal Montoro, fez, no seu estilo leve, a melhor síntese da situação em que o Governo espanhol se encontra. "Os homens de negro não vêm aí", é uma forma divertida de refutar a intervenção. Mas também foi obrigado a reconhecer que, para sanear a banca, é preciso dinheiro e que "o problema é onde ir buscá-lo".
Esta última frase de Montoro talvez ajude a entender a mudança de clima que referimos no início. A Espanha quase não tem acesso aos mercados e, sem a ajuda do BCE e da zona euro, não poderá aguentar-se por muito mais tempo.
VISTO DA POLÓNIA - Europa temerosa
“Madrid range os dentes e defende-se contra o ‘pacote de resgate’”, escreve o semanário polaco Tygodnik Powszechny, enquanto os irlandeses, que já estão a beneficiar de ajuda internacional, acabam de aprovar, em referendo, o pacto orçamental, mas simplesmente porque “temem pelo futuro e têm medo de serem abandonados”.
A Espanha e Irlanda estão unidas pelo medo. De um modo geral, o medo é, por estes dias, o sentimento dominante por toda a Europa. Está algures entre o estômago e o coração e, de vez em quando, impede a respiração. Os gregos sentem-no mas também o sentem os espanhóis, os britânicos e os polacos. Até mesmo os alemães – que carregam o fardo da responsabilidade de terem de salvar toda a Europa da crise – perderam, aparentemente, o seu gene da felicidade e também sentem medo.
O medo fez com que, nos últimos 4 anos, os irlandeses fizessem cortes drásticos e todas as poupanças possíveis e, apesar de estarem fartos de austeridade, “não veem outra maneira de sair da crise”, escreve o semanário católico. Entretanto, o primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy,
insiste teimosamente que Madrid não precisa de ajuda internacional e luta desesperadamente para manter a credibilidade do seu país. No entanto, as suas garantias parecem, cada vez mais, menos convincentes.
Mesmo que o Governo espanhol consiga salvar o Bankia, o jornal Tygodnik Powszechny pergunta-se onde conseguirá encontrar “os mais de 100 mil milhões de euros” necessários para salvar todo o sistema bancário:
O medo do que aconteceu em Espanha já ultrapassou as suas fronteiras – em última análise, a economia espanhola é duas vezes maior do que o conjunto das economias da Grécia, de Portugal e da Irlanda.

Ecos da blogosfera - 6 jun.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Não há bem que sempre dure nem mal…

Más notícias da Bolsa na Alemanha: pela primeira vez desde janeiro, o índice DAX, o principal índice do país, caiu abaixo do limite simbólico dos seis mil pontos. Berlim confronta-se com uma realidade refreada durante muito tempo: a Alemanha que até aqui resistiu à crise, também está a ser atingida pela recessão.
“Este negro mês de maio é um aviso aos líderes políticos para que reduzam todas as incertezas dos trabalhadores e das empresas europeus”, reage o Süddeutsche Zeitung. Enquanto país exportador dependente, ao mesmo tempo, dos seus vizinhos europeus (com a Grécia e Espanha como fatores de instabilidade) e dos países emergentes (onde o crescimento abranda), a Alemanha tem de agir depressa e sobretudo,
aceitar o facto de que hoje, a política económica não pode fazer-se nos limites exclusivos das fronteiras nacionais.
A mesma opinião é partilhada pelo Spiegel Online, que escreve: “o maior erro dos alemães foi considerarem que a crise era apenas dos outros, dos gregos, dos portugueses, dos espanhóis e dos italianos. Ficar de fora já não é uma opção”. Apelando a Berlim para que se torne o garante da dívida dos seus vizinhos, o sítio de informação revela, num segundo artigo, que Angela Merkel está prestes a mudar de estratégia e a abandonar a austeridade absoluta. Berlim está a elaborar um “pacote para o crescimento na Europa” que prevê:
- aumentar o capital do Banco Europeu de Investimento em 10.000 milhões de euros;
- reformar o modo de atribuição dos fundos de ajuda europeus criando, nomeadamente, obrigações-projeto [títulos lançados conjuntamente pelos países europeus para financiar grandes projectos];
- apoiar o plano da Comissão Europeia de combate ao desemprego jovem com 7,3 mil milhões de euros;
- introduzir mais concertação dentro da zona euro nas áreas das finanças e da economia.
Como se diz, “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe”, mas só o povo é que entende estes empirismos, que os intelectuais precisam das provas… E, infelizmente, parece que se começa a desenhar uma borrasca na economia alemã, que de tão segura que se achava, destruindo as economias dos países do seu mercado, até se esqueceu que sem dinheiro, para além de não podermos comprar os bens básicos, também nos faltaria o pilim para lhes comprar os bólides e outras máquinas…
E com os mercados emergentes a imergirem (tudo o que sobe desce…), se não lhes venderem os mesmos bólides que nos vendiam e nos arruinaram, vão exportar o quê e para quem? Será que terão de baixar os salários, como aconselharam que nos fizessem, para poder concorrer com os produtos chineses?
Chegados a esta situação e para seu próprio benefício (claro!) já falam em solidariedade com os parceiros-membros, em acabar com a austeridade estúpida e abrirem uma frente para o crescimento. Assim, já poderemos comprar pão e com o que sobrar, talvez um BMW…
Muita gente (com esperanças de que nada mudasse) dizia que Hollande teria que mudar de ideias e mentir ao povo que o elegeu pelas promessas inexequíveis que fez, mas para além de, até agora, não ter mudado uma vírgula do seu discurso, nem renunciado a nenhuma promessa, é a Sr.ª Merkel que lhe dá razão e põe em prática o programa eleitoral do presidente francês, apoiado pela oposição à chanceler, que querendo ganhar as próximas eleições, até já oferece o pacote para o crescimento, se for a tempo de se redimir…
Entretanto, os estragos que já fez é que são irreversíveis e disso não sairá ilesa…
Não há má que sempre dure!

Nem só de petróleo vivem os povos! Culturas…

Abuelo sem, a Kueka à esquerda
Kueka - Abuela na Alemanha
Tem 30 toneladas de peso e 12 metros cúbicos de volume, a “pedra sagrada” que foi levada para a Alemanha em 1998 e que agora o governo da Venezuela quer recuperar. Conhecido como “kueka” (“avó" no idioma indígena), o calhau tem grande significado para a comunidade Pemón, pois os seus membros acreditam que se trata de uma pessoa convertida em pedra.
Crianças Pemón
A laje foi doada pelo ex-presidente Rafael Caldera ao artista alemão Wolfang von Schwarzenfeld e extraída do Parque Nacional Canaima, da Venezuela, foi transportada para Berlim e talhada para incorporar um conjunto de pedras arqueológicas do parque Tiergarten, conhecido como Global Stone.
Agora, o governo de Hugo Chavez quer que seja devolvida ao local de origem. Segundo o presidente do Instituto de Património Cultural da Venezuela, o pedido será feito através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, confiando as autoridades venezuelanas que a Alemanha aceda a repatriar a pedra.
Entre os muitos rapinanços e despojos com que os países mais ricos foram fazendo fortunas, museus e parques, de vez em quando lá aparece um governo a exigir a devolução do seu património, umas vezes pelo valor real do mesmo, outras vezes pelo valor simbólico/sagrado, num e noutro caso, propriedade extorquida, quase sempre à força. No caso presente, parece que foi uma dádiva de um presidente, mas também nós portugueses tivemos algumas, em territórios, como Macau e passados séculos tivemos que devolver, “a bem”…
Seguramente que esta reivindicação da devolução de uma pedra, para nós, e uma entidade espiritual para uma comunidade indígena venezuelana não vai gerar nenhuma guerra de nenhum tipo, mas manda a justiça dos homens e dos deuses, que se restitua a paz, pelo mesmo preço por que foi apropriada…
O reconhecimento de outras culturas é sinal maior do nosso conceito de CULTURA.
Foto - Kueka (abuela) e Abuelo

Contramaré… 6 jun.

Entre o final de 2011 e o final do mês de março, triplicou o número de novos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) atingindo os 330.000, bem como o das famílias que auferiam este subsídio contabilizando-se em 123.948 as famílias portuguesas que em março deste ano auferiam do RSI.
Em março de 2012, existiam em Portugal 329.274 pessoas a receber o RSI, um número substancialmente maior que os 322.915 registados em fevereiro e os 318.103 contabilizados em janeiro. 

A falência de um país soma-se à falência da Europa?

A crise económica, juntamente com a do sistema bancário, mergulharam a Espanha numa situação de urgência. Mas os seus problemas, tais como os da Europa, têm a mesma origem: o domínio dos interesses nacionais e dos particularismos. A solução? Novas instituições criadas através do voluntarismo político.
Espanha vive uma das horas mais difíceis da sua história recente. Dominada pela garra de desconfiança que paira tanto sobre o seu setor financeiro como sobre as suas finanças públicas, tenta por todos os meios conjurar a perspetiva de uma intervenção externa. Essa intervenção seria duplamente negativa: para além de implicar um enorme golpe psicológico, sem dúvida estaria também associada a novos e mais profundos sacrifícios e com a perda quase completa da escassa margem de autonomia que, neste momento, ainda nos resta.
Com toda a certeza teríamos de recuar a alguns momentos chave da transição espanhola ou aos primeiros anos de democracia para conseguirmos encontrar uma sensação igual de incerteza quanto ao futuro.
Se a adesão à União Europeia selou a transição democrática e a normalização internacional do nosso país, a notícia de que Espanha acederia à união monetária juntamente com o grupo dos países europeus mais avançados elevou a sempre frágil autoestima nacional a tais extremos que alguns, inclusivamente, se permitiram brincar com as datas 1898 [derrota na guerra com os Estados Unidos e perda das últimas colónias]-1998 para falarem do fim de um ciclo de decadência e fracasso e da abertura de um horizonte completamente diferente. Por causa disso, mesmo nos piores momentos das ditas crises, o nosso país manteve um sentido de direção compreensível e um horizonte de saída claro e até mesmo ambicioso.
Mas nada disso se passa agora, quando a perda de confiança interior e exterior e a falta de um horizonte nacional e europeu são as principais características da crise. Talvez por essa razão, esta seja a primeira crise em que muitos espanhóis, em vez de pensarem num futuro melhor, sonham simplesmente em recuperar o seu passado imediato e os níveis de vida que já tiveram, o que marca uma importante distância psicológica relativamente a outros momentos da vida política espanhola. Isto é, evidentemente, tanto interna como externamente.
Internamente, a crise expôs um país percorrido por múltiplas brechas. Ao desemprego galopante e ao estancamento da economia há que acrescentar as sombras que, umas a seguir às outras, foram atingindo as principais instituições financeiras do país. A monarquia, os partidos políticos, o poder judicial, o banco de Espanha, as comunidades autónomas, as entidades locais ou o sistema financeiro; dá a impressão de que nenhuma destas instituições chave, algumas das quais foram e são a pedra basilar do regime democrático iluminado pela Constituição de 1978, escapou ao desgaste e à perda de confiança dos cidadãos.
A falência do país soma-se à falência da Europa
Deceção semelhante experimenta-se no âmbito europeu. A Espanha democrática e a integração europeia foram e são duas caras da mesma moeda. Da mesma maneira que não podemos entender a nossa recente experiência democrática sem passar pela Europa, as suas instituições e as suas políticas, tampouco podemos tomar decisões chave ou pensar no nosso futuro como espanhóis sem o fazermos no contexto europeu. Mas agora, num país onde o interesse europeu e o interesse nacional eram indistintos, a falência do país soma-se à falência da Europa.
Chegada a hora da verdade, a Europa traiu-se a si mesma e aos seus princípios: onde devia ter prevalecido uma lógica europeia e de projeto comum impôs-se uma lógica baseada nos interesses nacionais, nas identidades e nos particularismos. A Grécia foi e ainda é a prova evidente de tudo isto: a irresponsabilidade das elites gregas e a falta de liderança das elites europeias gerou um ciclo vicioso que conduz diretamente à desintegração e à rutura.
É a confluência destas debilidades nacionais e europeias que explica por que está a custar tanto sair da crise e por que é tão elevada a incerteza. Assim, da mesma maneira que existe uma dúvida razoável sobre se a atual configuração do sistema autonómico é um obstáculo ou um ativo para a superação da crise, no âmbito europeu também está muito difundido o convencimento de que a crise se deve a um desenho institucional erróneo da união monetária, que criou os desequilíbrios económicos que nos trouxeram até aqui. Não é por acaso que em ambos os níveis, o europeu e o nacional, estejamos a falar do alcance da descentralização, das competências, da fiscalidade, da autoridade e da legitimidade política: tanto a democracia nacional como o sistema político europeu estão submetidos a fortes tensões, tensões que devem ser adequadamente resolvidas se se quer gerar confiança.
Em Espanha e na Europa devemos reconstruir as instituições e a confiança pois é evidente que, com os desenhos institucionais atuais e as atuais relações de poder, não saímos da situação em que estamos. Paradoxalmente, isto permite ter confiança no futuro: em Espanha e na Europa esta crise é política, por isso, a sua solução está na política e, por tanto, ao alcance da mão. Voluntarismo? Sim, é exatamente disso que precisamos, em Espanha e na Europa.

Ecos da blogosfera - 5 jun.

terça-feira, 5 de junho de 2012

…e veja-se a Avaliação de Desempenho Governativo feita pelos PORTUGUESES!

É em queda pronunciada nas intenções de voto que os social-democratas cumprem o 1º ano depois da vitória nas legislativas de 2011.
Se decorressem hoje eleições, PSD e CDS-PP teriam um resultado agregado de apenas 42% dos votos. A esquerda parlamentar, PS, CDU e BE, obteria 51%.
Intenções de voto
Partidos
%
PSD
36
PS
33
CDU
9
BE
9
CDS
6
Não votaria
22
Não sabe se iria votar
10
Desempenho do Executivo de coligação
Qualificação
%
“Muito bom”
1
“Bom”
24
“Mau”
37
“Muito mau”
30
Políticas prosseguidas pelo Executivo
Áreas
%
Dossier europeu
9,2
Emprego
4,1
Economia
5,5
Segurança Social
6,9
Saúde
6,9
Educação
8,1
Comparação entre o anterior e o atual e Executivo
Classificação
%
“Pior”
24
“Melhor”
30
“Nem uma coisa nem outra”
40
“Não responderam ou disseram não saber”
8
Expectativas param o futuro próximo
Classificação
%
“Vai governar melhor”
27
“Pior”
27
“Nem uma coisa nem outra”
35
“Sem resposta”
11
Avaliação individual dos membros do Governo
Ministros
(0 a 20)
Miguel Relvas
5,6
Santos Pereira
7,4
Miguel Macedo
7,7
José Aguiar-Branco
7,8
Paulo Portas
7,9
Paulo Macedo
8,0
Pedro Mota Soares
8,0
Passos Coelho
8,1
Nuno Crato
8,1
Paula Teixeira da Cruz
8,1
Assunção Cristas
8,5
Vítor Gaspar
9,2
Governo
7,2

Dirigentes Oposição
(0 a 20)
Jerónimo de Sousa
8,3
Francisco Louçã
8,3
António José Seguro
8,7
Oposição
8,4

Cavaco Silva
8,8

O anúncio foi feito pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar: “a troika concluiu que o Governo está a cumprir todos os objetivos”.
Já todos sabíamos que qualquer Avaliação de Desempenho tem as suas subjetividades, dependendo dos objetivos, de quem a faz, das suas competências e da sua legitimidade.
Claro que os objetivos da avaliação da troika sendo os que estamos a (não) conseguir, vai tudo de vento em popa, para eles, que tem como meta a deterioração das nossas condições de vida, até nos levarem ao inferno e demorarmos muitos anos a chegar ao purgatório. E por isso, nota positiva, com muitas anotações, que o governo ainda não reparou muito bem e por isso anda muito satisfeito… Mas já há más línguas a dizer que esta tranche é para pagar os juros, o que ajuda a entender a classificação (se não, não receberiam o deles)…
Mas o povo que pensava que os objetivos seriam a seu favor, ao ver-se engando pela realidade, não pode concordar com a classificação dos estrageiros e toca de, legitimamente, chumbar o governo (e o memorando da troika) correndo-os todos com notas negativas. Pois claro! E pelas mesmas razões foi a Oposição e principalmente o Alto magistrado da Nação…
Agora fica-nos um problema, adjacente a todas as avaliações, que é onde ir buscar ESPERANÇAS no futuro, quando todos os nossos líderes, ideólogos, estrategas e executores apanharam TODOS com “negas”?
Esperemos que não fiquem retidos, para não termos que os gramar a repetir as mesmas matérias… Valha-nos a Oposição, que tem uns pontinhos acima…
Se pusermos uns pozinhos, como se faz no ENSINO, pode ser que passem e encontrem a sua vocação no setor privado, que estão a valorizar. Não se sabe é se os querem, depois desta avaliação e da preferência pelo mérito…