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sábado, 17 de março de 2012

O crédito ao consumo, que consom(iu)e muita gente!

Ministério das Finanças deverá ordenar uma revisão em baixa das taxas dos contratos de crédito ao consumo.
São já 660.000 as famílias que em Portugal não conseguem pagar os seus empréstimos bancários. Uma situação desesperante que é o corolário lógico da falta de maturidade e impreparação de muitos, associada à ganância irresponsável de uma Banca usurária.
Para minimizar o drama das famílias, mas sobretudo para repor a justiça, o Ministério das Finanças deverá ordenar uma revisão em baixa das taxas de todos, mas todos, os contratos de crédito ao consumo.
Foi com a miragem da aquisição de casa própria que se iniciou este superendividamento, mas foi o crédito fácil ao consumo que transformou cerca de 1/4 dos portugueses em escravos de dívidas. Perto de 80% das famílias que não conseguem pagar os empréstimos estão em incumprimento com créditos de consumo, em montantes que atingem já 1.400 milhões de euros.
Quando se vulgarizaram, o crédito ao consumo e os empréstimos pessoais pareciam uma solução fácil. Um embuste colossal. Fáceis de obter, estes instrumentos financeiros revelaram-se difíceis e quase impossíveis de cumprir. As empresas de crédito ao consumo lançaram milhões num inferno. Prometiam taxas de juro que eram já de si elevadas. Mas a estas acresceram comissões, seguros, impostos e outros assaltos. Obrigam assim os clientes ao pagamento de taxas anuais efectivas de encargos (a famosa TAEG) de quase 30%. Em famílias de escassos recursos, estes empréstimos provocaram a insolvência.
Ao longo de anos, as autoridades de supervisão bancária nada fizeram. Sucessivos governos deixaram os consumidores de produtos financeiros à mercê das verdadeiras sanguessugas que são as sociedades financeiras de "apoio" (?!) ao consumo e de concessão de crédito pessoal.
Com as famílias falidas, cabe agora ao novo governo apurar responsabilidades e fazer justiça. Há que tentar perceber a ausência de intervenção do Banco de Portugal e até a inércia do Ministério Público, incompreensível, uma vez que a usura em Portugal constitui crime. De seguida, baixar compulsivamente as taxas, repondo a equidade.
Se este procedimento for adoptado, milhões de famílias irão sentir-se aliviadas na sua economia doméstica. Em alguns casos, certamente os cidadãos terão ainda dinheiro a receber de volta...
Paulo Morais, Professor Universitário

Contramaré… 17 mar.

O economista garante que só aceita o cargo na Jerónimo Martins se o governo considerar que não há conflito de interesses.
O ex-homem forte do FMI para a Europa, ex-Goldman Sachs, ex-vice-governador do banco de Portugal, passou também por bancos internacionais, como o Citybank, e o BNP Paribas. Para além disso António Borges já desempenhou cargos na Petrogal, Sonae, Cimpor, Vista Alegre, e pela Jerónimo Martins, para onde deverá agora regressar.
António Borges vai acumular o cargo de administrador não executivo do Pingo Doce com o de líder da equipa governamental que vai acompanhar os processos de privatizações e renegociações das Parcerias Público-Privadas.

Se não for verdade, também não deve ser mentira…

Até podia ser o porteiro, ou a senhora da limpeza a dizer o que este executivo disse, que não deixaria de ser notícia, pela simples razão de que os mais altos cargos a nível mundial, quer em governos, quer em instituições financeiras, estarem ocupados por ex-executivos deste banco e mais recentemente como primeiro-ministros não eleitos, como na Grécia e Itália, passando pelos presidentes do BCE e do Banco Mundial.
E fica o registo…
Greg Smith fez barulho no mundo ao expor o relacionamento do banco com clientes em um texto enviado ao New York Times.
A fama de um grande banco nunca foi - e dificilmente será um dia – tão bonita quanto querem os seus técnicos de marketing. Apesar disso, grandes e centenárias instituições financeiras fascinam muitos pelo poder que possuem. São elas que aconselham os investimentos dos grandes bilionários e conseguem recursos para os empreendedores. E era todo esse amor e crença que o ex-diretor do Goldman Sachs, Greg Smith, dizia ter.
Agora, porém, ele deu mais um trabalho para quem cuida da imagem de um dos maiores bancos do mundo, já bastante esfolada por vários escândalos durante a crise financeira internacional. Smith pediu a demissão do seu cargo de líder da unidade de derivativos para a Europa, Médio Oriente e África e enviou uma carta ao The New York Times para relatar toda a sua decepção com as práticas do banco, sobretudo na hora de tratar os interesses dos seus clientes.
O texto, que acusa o Goldman Sachs de passar por cima dos clientes para garantir em primeiro lugar o seu próprio lucro, espalhou-se pela internet e já provoca reações de todos os tipos. Há quem ironize a “boa alma” que passou 12 anos num dos maiores bancos do mundo sem perceber a cultura predominante,  até os que lhe dão os parabéns pela coragem de elucidar a postura do Goldman em relação aos clientes.
Confira abaixo a íntegra do texto:
Por que estou a deixar o Goldman Sachs
"Hoje é o meu último dia no Goldman Sachs. Depois de quase 12 anos na empresa – primeiro com um estágio de verão enquanto estudava em Stanford, depois em Nova York durante 10 anos, e agora em Londres – acredito que trabalhei o bastante para entender a trajetória da sua cultura, pessoas e identidade. E acredito, honestamente, que o ambiente está tão tóxico e destrutivo como nunca vi.
Para colocar as coisas em termos simples, os interesses dos clientes continuam deixados de lado de uma maneira que a empresa continue a operar e pensar em ganhar dinheiro. O Goldman Sachs é um dos maiores e mais importantes bancos de investimentos do mundo e é muito essencial às finanças globais para continuar a trabalhar dessa forma. A companhia desviou-se tanto do ponto em que eu entrei, logo após sair da faculdade, que não posso mais, em sã consciência, dizer que me identifico com o que ela representa.
Isto pode parecer surpreendente para os céticos, mas a cultura sempre foi parte vital do sucesso do Goldman Sachs. Ela girava em torno do trabalho em equipa, integridade, espírito de humildade, e em sempre fazer o certo para os nossos clientes. A cultura era o tempero secreto que fazia este lugar ótimo e nos permitiu ganhar a confiança dos clientes ao longo de 143 anos. Não era apenas para fazer dinheiro; isso sozinho não sustentaria uma empresa por tanto tempo. Tinha alguma coisa a ver com orgulho e crença na companhia. Estou triste em dizer que olho à minha volta hoje e não vejo traço algum da cultura que me fez amar trabalhar aqui durante tantos anos. Não tenho mais o orgulho, ou a confiança.
Mas não foi sempre assim. Durante mais de uma década recrutei e fui o mentor de candidatos ao longo do nosso esgotante processo de contratação. Fui selecionado entre 10 pessoas (de uma empresa com mais de 30.000 funcionários) para participar de um vídeo de recrutamento exibido em todos os campus de Faculdade que visitei no mundo. Em 2006 geri um programa de verão interno sobre vendas e negociações em Nova York para 80 universitários que passaram nos testes entre os milhares de inscritos.
Eu sabia que era a hora de sair quando percebi que não poderia mais olhar nos olhos dos estudantes e dizer-lhes o quão formidável era trabalhar lá.
Quando os livros de história forem escritos sobre o Goldman Sachs, eles deveriam refletir que o CEO atual, Lloyd C. Blankflein, e o presidente, Gary D. Cohn, perderam a cultura da empresa que lideram. Eu realmente acredito que a queda na fibra moral da empresa representa a única ameaça mais séria para a sobrevivência no longo prazo.
Ao longo da minha carreira tive o privilégio de aconselhar os 2 maiores hedge funds do planeta, 5 dos maiores gestores de fundos dos Estados Unidos, e 3 dos mais proeminentes fundos soberanos do Médio Oriente e Ásia. Os meus clientes têm uma base total de ativos superior a um trilhão de dólares. Sempre tive bastante orgulho em orientar os meus clientes a fazer o que acreditava ser o correto, mesmo que isso significasse menos dinheiro para o banco. Essa visão está a ficar cada vez menos popular no Goldman Sachs. É outro sinal de que era a hora de sair.
Como chegamos aqui? A empresa mudou a forma com que pensa a liderança. A liderança tinha a ver com ideias, ser o exemplo e fazer a coisa certa. Hoje, se você fizer mais dinheiro para a empresa (e não for um assassino) então será promovido para uma posição de influência.
Quais são as três maneiras mais rápidas para se tornar um líder?
a) Passe a usar a linguagem do banco para persuadir os clientes a investir em ações e outros produtos de que nos estamos a tentar livrar porque não têm mais potencial de lucros;
b) “Cace Elefantes”. Em inglês: consiga os seus clientes – alguns deles sofisticados e outros não – para negociar qualquer coisa que traga o maior lucro para o Goldman. Chamem-me de antiquado, mas não gosto de vender aos meus clientes o produto errado,
c) Encontre-se sentado numa cadeira onde o seu trabalho é negociar qualquer produto ilíquido e sombrio com uma sigla de três letras.
Hoje, muitos desses líderes apresentam um quociente de 0% da cultura do Goldman Sachs. Eu presenciei reuniões para vendas de derivativos financeiros onde nem um único minuto foi gasto com questões sobre como poderíamos ajudar os nossos clientes. É tudo puramente sobre como podemos tirar-lhes o máximo de dinheiro. Se você fosse um alienígena de Marte e se sentasse numa dessas reuniões, acreditaria que o sucesso ou progresso do cliente não faz parte do processo de maneira nenhuma.
Deixa-me doente como essa gente fala sobre acabar com os seus clientes. Durante os últimos 12 meses, eu vi 5 diretores diferentes referirem-se aos seus próprios clientes como “muppets”, às vezes até por e-mails internos. Mesmo depois da SEC, do Fabuloso Fab, do Abacus, do Trabalho de Deus, Carl Levin e das Garras de Vampiros [referência ao regulador do mercado americano e depois aos escândalos e operações financeiras duvidosas que o banco já se envolveu]? Nenhuma humildade? Por favor. Integridade? Está desgastado. Eu não sei sobre comportamento ilegal, mas as pessoas vão empurrar produtos lucrativos e complicados para os clientes mesmo que existam investimentos mais simples ou mais alinhados com os objetivos dos clientes? Com certeza. Todo dia, na realidade.
Espanta-se como os diretores mais experientes levam tão pouco a sério uma verdade básica: se o seu cliente não confiar em si, ele vai eventualmente parar de fazer negócios consigo. Não importa quão esperto você é.
Atualmente, a pergunta mais comum que eu ouço dos jovens analistas sobre derivativos é: “Quanto dinheiro conseguimos fazer com este cliente?”. Incomodo-me cada vez que ouço isto porque é um claro reflexo do que eles observam dos líderes sobre a maneira como se devem comportar. Agora, imagine daqui a 10 anos: não é preciso ser um cientista para adivinhar que esse analista júnior, sentado no canto do escritório, ouvindo coisas como “muppets”, “arrancar os olhos da cara” e “receber o pagamento” não vai tornar-se, necessariamente, um cidadão modelo.
No meu primeiro ano como analista, não sabia onde ficavam os banheiros ou sequer como amarrar os cadarços. Fui ensinado a preocupar-me em aprender o funcionamento das coisas, descobrir o que é um derivativo, entender finanças, conhecer os clientes e o que os motivava, aprender a definir como eles teriam sucesso e o que eu poderia fazer para ajudá-los.
Os meus momentos de maior orgulho na vida – conseguir uma bolsa de estudos integral para sair da África do Sul para a universidade de Stanford, ser selecionado como finalista da Rhodes [bolsa de estudos para Oxford], ganhar uma medalha de bronze em ténis de mesa no Maccabiah Games em Israel, conhecido como as Olimpíadas Judaicas – tornaram-se muito menores momentos do que grandes conquistas. Isso simplesmente já não me parece mais certo.
Eu espero que isto sirva de alerta para a direção. Tornem o cliente o ponto central do negócio novamente. Sem clientes, não se faz dinheiro. Na verdade, não se existe. Parem de abusar de pessoas moralmente falidas, não importa quanto dinheiro eles tragam para a empresa. E recuperem a cultura corporativa novamente para que as pessoas queiram trabalhar aqui pelas razões corretas. As pessoas que se preocupam apenas em fazer dinheiro não vão sustentar esta empresa – ou a confiança dos clientes – por muito mais tempo".

Ecos da blogosfera - 16 mar.

sexta-feira, 16 de março de 2012

EDP - Foi um Governo que se demitiu da sua função!

Um desconhecido demitiu-se do Governo. Querem fazer uma algazarra disso. Fazer do desconhecido um mártir. Alinhar no populismo fácil de atacar a EDP. Invocar a lenga-lenga de que os lóbis ganham sempre. Pois querem. Querem e fazem bem.
Pedro Santos Guerreiro, Diretor do Jornal de Negócios 
Henrique Gomes era um desconhecido. Depois do bulício destes dias, vai continuar a sê-lo: as polémicas em Portugal são como o Carnaval, duram dois dias e, no fundo, ninguém leva a mal. Mas a política de subsidiação energética está longe de ser uma desconhecida. Henrique Gomes quis alterá-la, não conseguiu, então demitiu-se. Álvaro Santos Pereira e Passos Coelho também quiseram mudá-la, não conseguiram, então mudaram de opinião.
O sector da energia é sempre subsidiado. Na construção ou na operação, há sempre subsídios, evidentes ou evanescentes, até no petróleo. O primeiro mito a desfazer é portanto que a alternativa a subsidiar produção de energia é... não subsidiar produção de energia. O que há é muitos lóbis a disputar as fatias do bolo. Quando Patrick Monteiro de Barros quis construir uma refinaria em Sines, ela seria paga pelo Estado; quando se ataca as eólicas para construir nuclear, é com subsídios; quando as indústrias defendem a cogeração, querem subsídios; quando se anunciam carros eléctricos, micro-produção caseira ou os maiores parques de solar fotovoltaica da Europa, é porque há subsídios, subsídios, subsídios. Pronto: é só para desintoxicar dos paladinos da boa utilização dos dinheiros públicos que não querem mais que apropriar-se deles.
Subsidiar não é em si mesmo errado. No caso da cogeração, é preciso separar os escandalosos casos de quem anda a queimar "a seco" só para receber subsídio das indústrias que incluem a energia no seu processo produtivo. No caso das barragens e das eólicas, já aqui foi dito, essa opção estratégica está tomada, não se desmantela agora, aproveita recursos naturais de Portugal e será mais competitiva à medida que o petróleo inexoravelmente encarece. O problema não é pois a subsidiação, mas a escolha tecnológica que assiste e, no caso, é o seu valor, se é justo ou excessivo. Porque "subsídio" é apenas um nome fino para impostos que pagamos cegos e tarifas que suportamos mudos. A factura energética é uma fartura energética. Para muita, muita gente, incluindo autarquias.
O subsídio é excessivo? A "troika" diz que sim. Santos Pereira e Passos diziam, antes, que sim. Um estudo encomendado pelo Governo diz que sim. Quem diz que não? Quem recebe. A EDP, pois claro. Mas não só: a Endesa, a Iberdrola, todos os operadores de renováveis, que andam calados atrás das costas largas de António Mexia.
Os CMEC são contratos com uma origem antiga, custam 27 euros por ano a cada família portuguesa e são, já aqui foi escrito, um excelente negócio para a EDP, pois o Estado assume o risco da operação. Era isso que Henrique Gomes queria desfazer. Debalde. E porquê?
Essa é a grande pergunta: porquê? O Governo queria. A troika exigiu. O Ministério da Economia avançou com um imposto especial para tirar de um lado o que os subsídios davam por outro. Adiou-se tudo por causa da privatização. Perdeu-se o tempo certo. A secretária de Estado do Tesouro anunciou no dia da venda aos chineses que o Governo continuava livre para decidir tarifas. Não continuou nada: os chineses enfureceram-se. O Governo, se os queria enganar, enganou-se. E calou-se.
Não foi só um secretário de Estado que se demitiu de um cargo, foi um Governo que se demitiu da sua função, tornando-se perigosamente parecido com quem criticara violentamente no passado.
O encaixe brutal da privatização tem contrapartidas, como se viu nas nomeações de políticos para a administração, como se vê agora nesta postura obediente aos chineses. No fundo, percebe-se agora, parte desse encaixe da privatização será pago por nós, consumidores e indústrias. É por isso que este é o país "até já": Santos Pereira diz até já a Henrique Gomes, Passos diz até já a Sócrates, todos dizemos até já aos lóbis, mudamos para que tudo fique na mesma, neste até já Portugal, até já sectores não transaccionáveis, até já cepa torta, sempre "até" e sempre "já" e sempre "nunca", nunca, nunca mais saímos disto.

Reflexão do Relvas… 16 mar.

Antes de avançar para a privatização de um canal da RTP, o Governo tem que alterar a Lei de Televisão, que tem que ficar de forma clara qual é o novo modelo de serviço público, ou seja, como vai ser a estação que fica nas mãos do Estado.
Sobre isto, o gabinete do ministro Miguel Relvas assegura que “está tudo em aberto”, mas no CDS não há dúvidas de que o canal terá de ser semelhante ao que é hoje a RTP1. Na legislação terá de ficar explícito se a futura RTP será um canal “com o objectivo de satisfazer as necessidades formativas, informativas, culturais e recreativas do grande público” – como é hoje definida na lei a RTP1 – ou se ficará mais próxima da RTP2.
Se o modelo não for inteiramente acertado entre PSD e CDS no Governo, pode estender-se ao Parlamento, onde o diploma terá que ser votado. E pode prejudicar o objectivo expresso pelo ministro da tutela de avançar já no final do ano com a alienação do canal.
O gabinete de Relvas assegura que a alteração à lei “está em curso”, mas admite que “não tem data prevista” a discussão no Parlamento. “Estas matérias, eu trato com o dr. Paulo Portas”, respondia Relvas.

Contramaré… 16 mar.

Portugal e Irlanda são os Estados-membros da União Europeia onde os custos da mão-de-obra mais diminuíram (-1,7%) no último trimestre de 2011, em relação ao período homólogo, revela o Eurostat.

África agricultivada? Mas para saciar os bólidos…

Tendo em vista respeitar as normas sobre o desenvolvimento de biocombustíveis, os europeus disputam entre si milhões de hectares de terras africanas onde cultivar as plantas destinadas à sua produção. Em detrimentos das culturas de produtos alimentares, denunciam as ONG.
Jatrofa
Imagine a superfície da Suíça – quatro milhões de hectares – inteiramente coberta de plantações destinadas a abastecer viaturas e centrais elétricas. É essa a área que totalizam as terras hoje exploradas pelos ocidentais, em África, para a produção de biocombustíveis. Os britânicos estão em primeiro lugar, com o recorde de 1,6 milhões de hectares de terras cultivadas, seguindo-se os italianos, os alemães, os franceses e os norte-americanos.
Todos apostaram nas previsões anunciadas em 2004 pelo Copernicus Institute de Amesterdão: se o mercado da bioenergia vier a crescer, o continente que possuir a maior quantidade de terras aráveis, a preço módico, tornar-se-á o primeiro produtor mundial. Os 807 milhões de hectares de terras virgens do solo africano são quinze vezes mais do que a área necessária para satisfazer as necessidades em combustíveis de origem agrícola dos próximos 20 anos.
Legislação da UE aumenta procura de biocombustíveis
Foi sobretudo a legislação europeia que relançou a procura de biocombustíveis. A partir de 2011, as estações de serviço dos Estados-membros da UE devem aumentar progressivamente as percentagens de combustíveis com fraco teor de dióxido de carbono: bioetanol para a gasolina e biodiesel para o gasóleo. O objetivo final é chegar aos 10%, até 2020. As novas normas têm em vista reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e, também, a dependência do petróleo, substituindo-o por combustíveis extraídos de matérias vegetais.
Mas a Europa não possui terras aráveis suficientes para produzir os combustíveis de origem agrícola necessários. Segundo o Institute for European Environmental Policy, de Londres, o objetivo ambicioso de 10% de biocombustíveis implicará que estes últimos sejam importados em quantidades 3 vezes superiores. Os fornecimentos atuais provenientes da Ásia e da América Latina não bastarão.
África surge assim como o novo paraíso do "petróleo verde": um combustível extraído principalmente de uma planta originária da América Central – a jatrofa – cujos grãos contêm um óleo com o qual se produz um biodiesel ecológico. Passámos em revista cerca de 90 projetos executados em mais de 20 países africanos por 55 empresas, a maior parte das quais europeias. Perto de 2,8 milhões de hectares – mais de 2/3 da totalidade – foram destinados à produção de jatrofa.

Ecos da blogosfera - 15 mar.

Com o discurso do ex-Secretário da Energia

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sempre a cair, mas sempre com um lugar no pódio…

A taxa de desemprego em Portugal subiu em Janeiro para 14,8%, um máximo histórico que coloca o país com a 3ª taxa mais elevada entre os países da OCDE, ao lado da Irlanda.
Acima de Portugal surge apenas a Espanha (23,3%) e a Grécia, que apesar de só ter valores para Novembro (19,9%), certamente chegou a Janeiro com um nível de desemprego acima do registado em Portugal.
A Europa é a região que está a ser mais castigada pelo desemprego. Em média, nos países da OCDE, a taxa de desemprego permaneceu em 8,2%. Já na Zona Euro avançou em Janeiro para 10,7%, o que corresponde ao nível mais elevado de sempre. Os países da União Europeia são os únicos que apresentam taxas de desemprego de dois dígitos.
A taxa de inflação anual de Portugal subiu em fevereiro para os 3,6%, 0,2 acima do valor registado em janeiro, sendo a 3ª mais elevada entre os países da zona euro, apenas atrás de Estónia (4,4%) e Eslováquia (4%), segundo dados divulgados pelo Eurostat.
O INE anunciou que o PIB de Portugal diminuiu 1,6% em 2011 em relação ao ano anterior.
Na sua declaração inicial, o comissário europeu assinalou “a admiração pelo trabalho feito pelo governo português, pelos parceiros sociais e pela sociedade portuguesa em geral”, destacando que “existe um consenso na sociedade e um apoio político que são cruciais para o sucesso na resolução dos grandes desafios” que a economia portuguesa enfrenta.
Olli Rehn destacou como “mensagem principal” que “Portugal está no bom caminho para resolver a situação orçamental, reganhar a confiança dos seus parceiros internacionais e mercados e lançar as bases para [atingir] um crescimento sustentável e mais emprego”.
O comissário procurou fugir à questão sobre se Portugal precisa de mais tempo e mais dinheiro.
Um tal senhor Rehn, um “verdadeiro finlandês”, que não se candidatou a qualquer lugar por qualquer partido português, veio a Portugal ver se andávamos pelas quelhas que a troika nos indicou para chegarmos ao tesouro e tal como eu já disse aqui, algumas vezes, também ele disse: “Vamos no bom caminho!”
E nem era preciso ter cá vindo, nem ler o nosso dossiê para chegar a tal conclusão, bastava-lhe ler os jornais e saber os objetivos ocultos que nos traçaram… Bastava-lhe ter em conta que a recessão prevista piorou, que a inflação prevista foi maior e que o desemprego previsto foi muito pior. E pronto! Se era isto que queriam, conseguiram e o governo está de parabéns, mais os calados e sofridos cidadãos “europeus” deste canto sul da Europa.
Só fiquei meio baralhado (só meio) com as metas perseguidas e enunciados pelo finlandês, porque disse que Portugal irá resolver a situação orçamental, recuperar a confiança dos parceiros internacionais e dos mercados e lançar as bases para um crescimento sustentável e mais emprego…
Seguramente que o sr. Rehn justificou tim-tim por tim-tim, a quem de direito, mas os media nada ouviram nem registaram, mas outra coisa não seria de esperar, porque o sr. não veio a turismo… Mas que podia justificar, podia, e não lhe ficava mal, embora se saiba que quando se cai só nos podemos levantar, mas é preciso cair mesmo!
O mais desconcertante é que o sr. Ollie não se referiu aos portugueses, nem às suas condições de existência. Será que as pessoas não entram no plano? Então estão a salvar o quê? Ainda por cima não relacionou as quedas à procura do tal plano de achamento do tesouro e nem quis falar sobre a necessidade de nos darem outro mapa, porque o primeiro era falso e os caminhos que lá constavam eram verdadeiramente falsos…
Irra! Será que o sr. Rehn pensa que em Portugal também não há portugueses e “verdadeiros portugueses”?
Nota – Se a Europa é a região mais castigada pelo desemprego e a Zona Euro ainda mais, sendo a média da OCDE de 8,2% e na Zona Euro de 10,7%, não haverá uma relação direta entre a moeda (euro) e a crise, entre causa e efeito?

Raquel Camarinha, um valor em crescendo…

DU 17 AU 25 MARS - Nouvelle production du THÉÂTRE DU CHÂTELET
Après d’illustres prédécesseurs –le moindre n’étant pas Handel et son célèbre Orlando–, Joseph Haydn et son librettiste Nunziato Porta nous content à leur tour les aventures échevelées des héros de L’Arioste.
Dans une œuvre mélangeant sérieux et comique, magie et héroïsme, les deux auteurs mènent l’action sur un rythme endiablé dont la virtuosité n’est pas sans annoncer un certain Rossini.
DISTRIBUTION
David Curry (Licone), Joan Martin-Royo (Rodomonte) e
Raquel Camarinha (Eurilla)
Direction musicale - Jean-Christophe Spinosi
Mise en scène et chorégraphie - Kamel Ouali
Conception visuelle et costume - Nicolas Buffe
Angelica - Ekaterina Bakanova
Rodomonte - Joan Martín-Royo
Eurilla - Raquel Camarinha
Pasquale - Bruno Taddia
Alcina - Anna Goryachova
Caronte - Adam Palka



ARGUMENT
Épris de la princesse Angelica, le paladin Orlando trouble les amours de la jeune femme et de son bien-aiméMedoro. Son écuyer Pasquale en profite pour faire la cour à la bergère Eurilla, tandis que le belliqueux chevalierRodomonte se fait le champion d’Angelica et que la magicienne Alcina veille au bonheur des amoureux.
L’ ŒUVRE
Composé par Joseph Haydn et créé en 1782 d’après le livret de Nunziato Porta, son librettiste coutumier, ce drame héroïco-comique inspiré de l’œuvre de L’Arioste faisait déjà figure, dans le théâtre musical du 18ème siècle, d’opéra «déjanté».
Destiné à célébrer la visite à Eszterháza du Grand Duc Paul de Russie en 1782, créé à l’occasion de la fête de Saint Nicolas (saint patron du Prince Eszterházy), Orlando paladino connut 30 représentations à la création avant de devenir l’opéra à succès de Haydn, le menant à travers l’Europe entre 1791 et 1798.
Témoignage de sa large circulation, il subsiste treize copies allemandes et huit copies italiennes de la partition. Mais c’est la publication de l’édition critique, en 1972, qui marque son grand retour, au début des années 80, sur les scènes internationales.
Divertissement irrésistible dont la virtuosité et les joyeux mélanges de sérieux et de comique, de magie et d’héroïsme, ne sont pas sans annoncer un certain Rossini...
Continuando a “apadrinhar” a nossa soprano e fazendo eco do seu sucesso em crescendo, publicito apenas, para registo, o trabalho que a vai consolidando como soprano por terras de França e para lembrar aos parisienses que nos lêem que ela vai atuar.
E porque sei que do trabalho não foges, boa sorte Raquel!

Contramaré… 15 mar.

O antigo presidente do conselho geral e de supervisão da EDP, António de Almeida, que foi substituído no cargo por Eduardo Catroga, vai assumir a presidência da Fundação EDP, ficando responsável pelas iniciativas de carácter cultural, educativo e social, tendo como principais vertentes o Museu de Eletricidade, as barragens, a cultura e a inovação social.
O atual administrador-delegado da Fundação EDP, Sérgio Figueiredo, irá transitar, como administrador, para a EDP Produção, subsidiária da EDP, que tem a seu cargo a gestão das barragens e centrais térmicas do grupo.

ELA arranja sempre par. Agora é Monti-Merkel…

A economia europeia parece ter sobrevivido ao pico da crise e enveredado pelo caminho da retoma. Mas esta depende agora, em larga medida, da capacidade dos políticos de porem de lado as hesitações e se abstraírem dos riscos eleitorais que os esperam.
Angela Merkel e Mario Monti estão de acordo e dizem que precisamos de "mais Europa" e que só uma maior harmonia política pode levar-nos a recuperar a esperança no futuro. A verdade, porém – e insisto nesse ponto –, é que a austeridade que se abate sobre as nossas economias em recessão é excessiva, precisamente por causa da desconfiança mútua que reina entre os nossos países. Essa desconfiança poderá ser ultrapassada, se nos unirmos ainda mais.
Resta saber se o ritmo a que a chanceler pretende avançar nessa direção não será demasiado lento. Porque, presentemente, de Berlim vêm palavras justas mas poucos atos, como salienta um grande alemão, o filósofo Jürgen Habermas. Talvez seja preciso esperar ainda um ano e meio, pelas eleições alemãs do outono de 2013, para vermos resolvidas de forma sustentável as questões em aberto.
As boas intenções manifestadas em 13 de março pelos dois chefes de Governo [Mario Monti e Angela Merkel] têm valor, sobretudo num momento em que pouco se fala da Europa na campanha eleitoral francesa e em que, na realidade, Nicolas Sarkozy marca pontos nas sondagens, atacando algumas políticas europeias.
Novas regras menos rígidas
A forte crise que nos atingiu mostrou que os poderes públicos tinham um papel indispensável a representar, para corrigir a instabilidade dos mercados e submeter a algumas regras a energia destes últimos. Mas também mostra que determinados poderes públicos – os países da zona euro – não têm peso suficiente. Em Paris, nem o Presidente em exercício, nem aquele que tem hipóteses de o derrotar, o socialista François Hollande, parecem ter ainda percebido isso.
Felizmente, outros elementos do quadro geral estão a mudar. O compromisso alcançado em 13 de março com a Espanha, que dá a este país algumas tréguas nas medidas de redução do défice, torna um pouco menos cruel o aspeto do futuro pacto orçamental. Além disso, se nos debruçarmos sobre os seus aspetos técnicos, aperceber-nos-emos de que as novas regras de disciplina para as contas públicas são menos rígidas do que inicialmente pareciam.
Para já não falar no facto de que, além de provar a estima de que goza o nosso presidente do Conselho, o estranho anúncio da candidatura de Mario Monti à presidência do Eurogrupo, é um efeito colateral do jogo de cadeiras em curso. Talvez as angústias do Bundesbank sejam aplacadas com a chegada à Comissão Executiva do Banco Central Europeu do luxemburguês Yves Mersch (um "falcão" ao estilo alemão), no cargo que até agora parecia estar destinado a um espanhol. Se assim for, tornar-se-á urgente substituir o presidente do Eurogrupo, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, que se tem mantido na presidência por falta de alternativas.
Uma fase propícia às mudanças
Apesar de, em Bruxelas, tal como em Paris e Berlim, a classe política ter reagido tarde e de forma confusa, a fase atual de desanuviamento em curso nos mercados financeiros facilita algumas alterações. As diferenças de competitividade entre os países, que prejudicam a coesão da zona euro, poderão ser atenuadas na Alemanha, não através da ação do Governo, mas através da ação dos sindicatos, que se preparam para exigir grandes aumentos salariais. Se os conseguirem, a vantagem de que a Alemanha beneficia em relação aos outros países reduzir-se-ia.
No entanto, continua a avançar-se de um modo um tanto confuso, que envolve o risco de se vir a tropeçar em novos obstáculos. Se se realizassem no próximo mês, as eleições legislativas antecipadas na Grécia iriam quase de certeza prejudicar a qualidade do Governo; e seriam de prever novas medidas de austeridade, para 2013. Por outro lado, no próximo verão, será provavelmente necessário conceder um segundo pacote de ajuda a Portugal.
A Itália só ficará fora de perigo, se o seu aparelho produtivo recomeçar a crescer. Entretanto, o que não é pouco, já reconquistou o seu pleno direito a participar na definição das opções a tomar pela Europa. A ameaça constituída pelo spread [diferenciais de juros relativamente aos bilhetes do Tesouro alemães] obrigou-nos a tomar boas decisões no plano económico. Esperemos que não venhamos a ter de lamentar essas decisões perante novas turbulências da nossa política.
Em Roma, a chanceler alemã e o chefe do Governo italiano anunciaram que após a fase do rigor orçamental, chegou a altura de apostar no crescimento e no emprego. La Stampa
Será por isso que o nosso Gaspar já fala em crescimento? Ou leu a notícia, ou sussurraram-lhe…

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ecos da blogosfera - 14 mar.

Contra os factos, Passos Coelho argumenta…

Henrique Gomes esteve menos de 9 meses no Governo. O secretário de Estado defendia que o "Estado tem de impor o interesse público ao excessivo poder da EDP" e quis implementar uma das medidas que consta no memorando de entendimento da troika e que passa por renegociar as rendas excessivas da EDP, por via de contratos que a eléctrica não quer renegociar.
O secretário de Estado da Energia defendeu a introdução de uma contribuição especial sobre as rendas excessivas na produção regulada de energia e a sua proposta foi inviabilizada pelo Governo, primeiro por causa da privatização da EDP e, mais recentemente, com o argumento de que não se alteravam contratos de forma unilateral.
Em Janeiro deste ano, Henrique Gomes defendeu que o "Estado tem de impor o interesse público ao excessivo poder da EDP". Na altura, o secretário de Estado disse querer cortar os ganhos dos produtores eléctricos. Negociar "é uma via". Mas o Estado pode tomar "uma decisão unilateral e soberana".
O secretário-geral da Deco, Jorge Morgado, lembrou que, tal como a associação de defesa do consumidor, também Henrique Gomes defendia planos que iriam resultar numa redução das tarifas pagas pelos consumidores. “Não temos dúvidas de que a saída do dr. Henrique Gomes de secretário de Estado da Energia fragiliza o processo de negociação urgente dos tais custos de interesse geral”, afirmou, sublinhando que “os consumidores perderam um aliado”.
“…As políticas do ministério [da Economia] e do Governo vão ser mantidas e vamos cumprir o memorando da troika", afirmou Álvaro Santos Pereira, rejeitando assim que haja uma cedência do Executivo em relação aos interesses do sector.
O presidente da EDP, António Mexia, não poupou nas críticas ao estudo do Governo que aponta "rendas excessivas" no sector eléctrico. "O estudo tem erros grosseiros, básicos, que o tornam inútil e inutilizável", afirmou.
O primeiro-ministro negou que a saída de Henrique Gomes de secretário de Estado da Energia deixe o Governo enfraquecido e que esta seja uma cedência ao setor energético.
Na mais pura inocência e pensando que os nossos governantes, em quem delegamos pelo voto a defesa das nossas condições vidas e no mais exigente conceito de soberania do Estado, perante este “arrojo” de um governante defender os seus concidadãos contra o abuso de exploração de uma entidade privada, ainda por cima por um governo “inteiro” não o acompanhar na premissa da soberania do público sobre o privado, que o autoriza a tomar decisões unilaterais, como tem tomado contra os contratos de trabalho e condições de aposentação, deixa-nos perplexo e a pensar em coisas feias…
Na mais pura inocência pensamos (embora a prática política desde há muito percorra estes trilhos), que a política é coisa mais lavada e transparente.
Logicamente que a DECO, como associação de defesa do consumidor, ao vir dizer que os consumidores perdem um aliado na redução das tarifas da eletricidade, só confirma que o governo faz o contrário do que tinha que ser feito.
E no meio deste curto circuito, quem apanha com mais um choque é o ministro da Economia, que já tem razões mais do que suficientes para desligar a luz e bater com a porta. No caso, e por muito que afirme e insistentemente que a “luta” do secretário de estado “demitido” vai continuar (com um novo governante que esta(va) do outro lado da barricada), já ninguém lhe dá crédito, até porque o governo continua o mesmo, com os mesmos opositores aos princípios e conceitos de soberania…
Entretanto, “o palmadinhas nas costas dos chineses”, vem desvalorizar o Poder, protegido pelo Poderio, uma atitude que mereceria outra atitude firme e rápida do governo, para mostrar quem manda em Portugal.
Mas contra os factos, o PM argumenta…

Contramaré… 14 mar.

Entre as mudanças está a redução do valor máximo da prestação, que passa de 1.258 para 1.048 euros. Além disso, ao fim de 6 meses, o subsídio tem um corte de 10%, o que actualmente não acontece. Também a duração do subsídio irá de um mínimo de 5 meses até um máximo de 26 meses, para os trabalhadores mais velhos e com longas carreiras contributivas, um corte significativo face à duração mínima de 9 meses e máxima de 38, prevista na lei ainda em vigor.

Ameaçados os governos democraticamente eleitos?

Destinado a assegurar a continuidade do euro, o pacto orçamental adotado no início do mês de março reitera o “capitalismo autoritário” promovido pela Dama de Ferro. No entanto, os cortes orçamentais nele propostos deixaram de ser ditados pelos governos democráticos eleitos, e passaram a ser ditados pelos mercados financeiros, denuncia um editorialista sueco.
A Dama de Ferro, o filme consagrado à vida de Margaret Thatcher, deveria ter um limite de idade. De facto, só as pessoas com mais de 50 anos é que serão seguramente capazes de compreender esta poderosa evocação da velhice e das circunstâncias do exercício político. O declínio toma forma de uma maneira unívoca e cruel numa tarde de novembro de 1990, em Paris, quando Margaret Thatcher, então com 65 anos, diz adeus ao poder, no meio da confusão.
Esta notícia, de facto, reveste-se de uma importância secundária: os jornalistas que se deslocaram a Paris, nessa ocasião, foram lá sobretudo pela primeira cimeira da Conferência de Segurança e Cooperação na Europa (CSCE) a seguir à queda do Muro de Berlim. Esta cimeira mostra que deixou de haver lugar para o "pequeno nacionalismo britânico" de Margaret Thatcher na nova Europa pós comunista. A própria Grã-Bretanha quer ser europeia.
A eurofilia era um sentimento natural
Num discurso proferido na Confederação Sindical britânica, 2 anos antes da queda da Dama de Ferro, o então presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors, prometeu uma Europa social que defendesse os direitos dos sindicatos e garantisse o pleno emprego. Os sindicalistas vestiram-se todos de igual para entoar um “Frère Jacques” à glória do seu salvador.
Nos primeiros 5 anos de mandato de Jacques Delors, foram criados 12.000.000 de postos de trabalho na União Europeia. A eurofilia era então um sentimento natural.
Que melodia entoariam as confederações sindicais europeias em honra de Herman van Rompuy, atual presidente da UE? Talvez uma das canções do seu compatriota Jacques Brel, por exemplo, On n’oublie rien. Há hoje, oficialmente, 17 milhões de desempregados na UE.
A semana passada, as organizações sindicais de toda a Europa manifestaram-se contra o pacto orçamental da UE, que preconiza cortes selvagens no plano social e uma variedade de reduções de direitos e de liberdades cívicas. Ao fazer isto, a Europa enterra a ideologia social do Estado providência, que esteve ao alcance dos cristãos-democratas e dos sociais-democratas, os dois grandes partidos europeus.
Com o pacto de estabilidade, a UE impõe o conceito thatcheriano de economia a todos os Estados-membros. Não nos devemos esquecer de que o capitalismo autoritário da antiga chefe de Governo britânica recebeu o aval da população através de eleições democráticas, ao passo que a UE toma decisões sem qualquer legitimidade popular, nem democrática.
As altas instâncias da UE pretendem, desde logo e antes de mais, salvar o euro – essa moeda simbólica do contrassenso económico e da presunção política que divide a Europa em regiões ricas e as outras, condenadas à pobreza.
O regresso do “Quero reaver o meu dinheiro!”
Professor e grande especialista europeu em Ciências Humanas, Fritz Wilhelm Scharpf pergunta se as reformas da União Económica e Monetária não estarão a encobrir qualquer outro desígnio secreto. Descreve uma ideologia europeia que favorece a privatização da economia, o enfraquecimento do sindicalismo e a mercantilização da saúde e do ensino.
Os seus objetivos económicos são a estabilidade e o controlo da inflação. O pleno emprego, em contrapartida, fica relegado para segundo plano. Os governos europeus não têm alternativa a não ser submeterem-se às regras disciplinares económicas, independentemente das consequências sociais. São regras imperativas fixadas pelos mercados financeiros – e em seu proveito próprio.
Convidado a intervir no velho auditório da London School of Economics, Scharpf advertia, recentemente, contra a destruição da democracia no seio da UE: "A legitimidade democrática pressupõe a possibilidade de escolhas políticas sensatas."
A legitimidade dos governos democraticamente eleitos arrisca-se a ficar ameaçada, particularmente nos países que entraram recentemente na democracia. "Não faltam candidatos: Hungria, Grécia, Portugal, Espanha, Itália. Nestes países, a revolta pode surgir tanto do populismo de direita como do populismo de esquerda. Neste momento, infelizmente, predomina largamente o de direita, apoiando-se na xenofobia. As políticas anticrise favorecem disposições primárias de espírito e ocultam a noção da cidadania europeia. Em vez dela, surgem os preconceitos: a preguiça grega face à postura marcial alemã, a corrupção dos europeus do Sul face à assiduidade dos luteranos do Norte. Renascem os velhos clichés."
Assim que chegava às salas de reunião da União Europeia, Margaret Thatcher tinha o hábito de fixar os olhos nos dos seus homólogos europeus e dizer bem alto: "Quero reaver o meu dinheiro!" Esta ideologia está de volta, com a diferença de que, hoje, são os bancos que fazem as exigências.

Ecos da blogosfera - 13 mar.

terça-feira, 13 de março de 2012

Taxa “Tobin” Hood: seriedade ou marketing político?

Quase 5 meses depois de a Comissão Europeia ter apresentado uma proposta formal, os ministros das Finanças da União Europeia vão analisar hoje a melhor maneira de implementar uma taxa sobre as transacções financeiras. Mas há muitas questões em aberto. Algumas deverão ficar em aberto.
"Não vamos tomar nenhuma decisão", disse ontem o ministro das Finanças da Alemanha, "mas iremos alcançar uma maior clareza", acrescentou. Esta manhã à entrada para a reunião do Ecofin, Wolfgang Schäeble, voltou a falar sobre o tema para dizer que não "vê qualquer razão para que não seja aplicada uma taxa sobre as transacções financeiras".
No entanto, nem todos os países da União Europeia são tão favoráveis à aplicação da Taxa Tobin, como a Alemanha ou como a França. É o caso do Reino Unido, país que já veio dizer há semanas, que uma taxa Tobin era uma ideia "louca".
"Não há taxa sobre as transacções financeiras sem a Inglaterra", comentou Luc Frieden, ministro das Finanças luxemburguês, antes do encontro. No Reino Unido, concentra-se 60% das transacções financeiras da Europa, como indica o "El País".
"Não é apenas uma questão de impostos e de competitividade nos mercados financeiros europeus. O que nos interessa é que, se existir, a taxa venha a cobrir uma área mais vasta possível. Para nós, isso inclui o maior centro financeiro europeu: Londres", defendeu o responsável pela pasta das Finanças do Luxemburgo, salientando que há ainda um número de questões em aberto sobre o tema.
57 mil milhões de euros com imposto sobre transacções financeiras
Até agora, há 9 países da região a favor de um imposto sobre as transacções financeiras. Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Itália e Portugal são os signatários de uma carta que pretende acelerar o processo para tornar a taxa Tobin uma realidade. Mas Bruxelas quer o sim dos 27.
Só com uma aplicação em todo o espaço comunitário se conseguirá arrecadar os 57 mil milhões de euros por ano com este agravamento fiscal nos mercados.
O objectivo é que, mesmo sem decisões no dia de hoje, o projecto entre em vigor a 1 de Janeiro de 2014, segundo fontes da UE contactadas pelo "El País". A taxa pretende agravar o preço das transacções financeiras (de obrigações e de acções) em 0,1%.
A defesa do imposto parte de quem pretende um mercado mais regulado, sem incentivos para a especulação. Aliás, durante a crise da dívida, as vozes para a introdução desta taxa foram mais intensas, já que, acreditavam alguns intervenientes dos mercados, poder-se-ia contrariar a forte queda das acções, por se limitarem os movimentos especulativos.
Contudo, há quem, pelo contrário, argumente que a taxa vai apenas retirar liquidez ao mercado, pois aumenta a carga fiscal, diminuindo, por conseguinte, a procura. Com menos movimentos financeiros, há quem diga também que a taxa vai eliminar postos de trabalhos e, assim, danificar o crescimento.
Não deixa de ser sintomática (e intencional?) a baixa velocidade da UE na introdução de medidas que ajudem a minorar os estragos económicos, financeiros e sociais infligidos pelos especuladores. Só 5 meses depois de a Comissão Europeia ter apresentado uma proposta formal de uma taxa Tobin (que pretende agravar o preço de obrigações e de ações em 0,1%) é que os ministros das Finanças, comandados pelo alemão, vão analisar a mesma, confessando que não é para tomar já qualquer decisão e a ser tomada, será para por em prática lá para 1 de Janeiro de 2014. Nem dá para perceber por que tanto tempo, quando em Portugal (e na UE) estas leis em que entram impostos, são formalizadas e entram em vigor da noite para o dia.
Havendo 9 países a favor desse imposto sobre as transacções financeiras, uns dizem que bastam para a impor, mas o ministro das Finanças do Luxemburgo diz que é preciso que o Reino Unido aceite, país que já veio dizer que a ideia é maluca, talvez por ali se concentrar 60% das transacções financeiras da Europa, o maior centro financeiro europeu (ninho dos especuladores).
Sabe-se que a aplicação da taxa em todo o espaço comunitário se poderá arrecadar 57 mil milhões de euros por ano, embora não seja dito qual o destino destes proventos (FEEF, planos de relançamento das economias em recessão, projetos de redução do desemprego…), que podem ser desviados, mais uma vez, para a banca. Para quando a transparência?
Há já uns 2 a 3 anos que se ouve a esquerda apelar à introdução desta medida, o que se traduz em mais uma estranheza na sua adoção pela direita (repetida nas renegociações das dívidas), mas mais estranho é que os opositores à medida argumentem com a retirada liquidez ao mercado (e vão por o dinheiro no colchão?) e, imagine-se, estejam preocupados com a eliminação de postos de trabalhos e com os danos colaterais sobre o crescimento.
Até os especuladores estão a ganhar consciência social…
Mas se lermos a mesma notícia nos media estrangeiros, podemos adivinhar outras intenções, que nada tem a ver com honestidade política, mas com marketing político, para se manter tudo como dantes, com o par Merkozy ao ataque:
“Os países da UE querem impor a taxa sobre as transações financeiras”titula o Süddeutsche Zeitung. A iniciativa não é inédita. A Comissão Europeia já tinha proposto uma taxa sobre a troca de ações, produtos derivados e outros produtos financeiros no passado mês de setembro, uma proposta imediatamente rejeitada pelo Reino Unido e a Suécia. Desta vez, os ministros afirmam querer procurar “alternativas”, caso não seja elaborada uma solução até meio do ano. Uma observação fundamental da carta que “se lê entre linhas”, estima o SZ:
O número nove transmite uma mensagem muito clara: podemos fazê-lo sozinhos. [De acordo com os tratados europeus] os Estados podem avançar sozinhos numa cooperação reforçada, caso consigam, no mínimo, nove membros a favor. Daí a carta curta se ler quase como uma forte ameaça para os colegas que hesitam. Uma vez que todos os envolvidos já sabem que a taxa muito provavelmente será introduzida.
Por fim, o diário realça que a carta pode ter efeitos a nível interno para os países signatários, nomeadamente para a França e a Alemanha, uma vez que poderá permitir a Nicolas Sarkozy arrecadar votos adicionais nas eleições presidenciais de abril-maio e a Angela Merkel apoiar a oposição, que impôs a taxa Tobin como uma condição para aprovar o pacto orçamental.
E o nosso ministro Gaspar, lá assinou a carta, num ato de solidariedade com o seu homólogo alemão, para não lhe ficar a dever o sussurrado apoio para o 2º pedido de empréstimo, que nos enterrará vivos…
As malhas que os impérios tecem!
Tasa Robin Hood (o Tobin) subtitulado castellano

A "taxa Tobin" já não é o que era