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sábado, 4 de maio de 2013

“Artes” e manhas e “que se lixem as pessoas”…

Em 2015, ano de eleições, a austeridade decorrente dos cortes anunciados será muito menor. Na carta enviada à troika, fica claro que o grosso dos sacrifícios acontece em 2014.
Dos 4.800 milhões de euros que o governo conta poupar até 2015, o grosso acontece já no próximo ano, com um esforço de 3.600 milhões de euros.
Neste ano de 2013 os cortes vão ser de 700 milhões de euros, em 2015, ano de eleições, a soma dá menos de 500 milhões.
Partindo do princípio de que o Orçamento Retificativo, tal como foi o OE2013, terá que ser aprovado no Parlamento, ser enviado para o PR e sujeito, de novo, ao crivo do Tribunal Constitucional, por iniciativa do Presidente da República ou de Deputados da AR, consideremos este desenho de mais uma obra-prima de Gaspar e Coelho como um esboço, mesmo conhecendo-se o resultado final, pela falta de Inteligência Espacial que está notoriamente demonstrada, nas anteriores borradas abstratas…
Mesmo sabendo-se que a metodologia do exercício “académico”, cientificamente está baralhada e incompleta, marimbando-se para os parceiros institucionais da Concertação Social e Partidos da oposição, e mais ainda para todos os avisos de especialistas, nacionais (do CDS e do próprio PSD) e estrangeiros de mérito reconhecido (Prémios Nobel), não nos podemos esquecer da boca relativamente recente de PPC:
“Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal”,
para ficarmos com a pulga atrás da orelha, com esta “socratice” de aliviar a carga aos burros em ano eleitoral e sem gastar mais palavras (a austeridade obriga) para lermos a mensagem:
“Que se lixe Portugal, o que interessa são as eleições”
Haja burros que cheguem para carregar esta alcateia! Haverá?
Realmente Passos Coelho não aumentou impostos. Optou por ir directamente ao ganha--pão de cada uma das pessoas que trabalham para o Estado ou daquelas que descontaram uma vida inteira e têm reformas ou pensões.
Eduardo Oliveira Silva
Títulos do DN, JN, Público, “i” e CM
Num discurso deficiente na substância e confuso na forma, o primeiro-ministro embrulhou a essência das coisas numa série de trapalhadas quase sem nexo. Os factos são os cortes em salários públicos, pensões e despesas sociais, pois é dessas que se trata nos anunciados cortes de 10% nos ministérios. São cortes e mais cortes para fazer frente ao que chamou emergência nacional, ou seja, o estado a que o país chegou pela sua mão e pela de Gaspar. São 4.800 milhões de euros que Passos fingiu querer discutir, mas vai impor sem diálogo, ao longo dos próximos anos e no Orçamento Rectificativo.
O que mais aflige é o ataque a reformados e pensionistas. É um modelo insensível, impiedoso e injusto. Afecta os mais indefesos, os que já contribuíram e não têm expectativa de melhorar a sua vida. É certo que protege mais as pensões mais baixas, mas a regra das pensões é corresponderem a descontos.
Noutros campos o discurso foi oco. Sobre o desemprego nada. Sobre retoma quase nada. Sobre PPP e swaps nada de nada. É lamentável e triste.
O discurso de Passos foi a concretização de medidas já genericamente inseridas no Documento de Estratégia Orçamental (DEO), que as embrulha de miserabilismo num preâmbulo vergonhoso, que mais parece escrito por um alemão de direita ou por um daqueles fanáticos chamados “verdadeiros finlandeses”.
Sem o menor pudor ou respeito pelos portugueses e pelos sacrifícios que têm feito desde 2008, o documento arrasa tudo, fala em atavismos, e no fundo tem subjacente um preconceito antipatriótico, porque não fala da agiotagem, das vigarices e das roubalheiras montadas por consórcios internacionais para usarem deliberadamente os países do Sul. Depois desse primeiro enquadramento, patético e pateta.
O DEO entusiasma-se com as medidas que o actual governo tem levado a efeito desde 2011, tecendo-lhes loas e elogios tão ditirâmbicos como absurdos. Absurdos porque estão assentes em pressupostos errados e objectivos inatingíveis, mas sobretudo porque o documento ignora olimpicamente uma realidade social que está muito próxima da ruptura. E ignora também que, desde a chegada catastrófica de Vítor Gaspar, todos, mas mesmo todos, os indicadores se têm degradado com as sucessivas medidas de austeridade recessivas. Ainda ontem a União Europeia se mostrava mais uma vez pessimista relativamente a Portugal. Foi outro outlook negativo a juntar a muitos.
Quem tenha lido o DEO não ficou minimamente surpreendido com as medidas que Passos Coelho anunciou ao cair da noite de ontem, porque elas não passam de mais uma decorrência de uma visão que “miserabiliza” o país.
O lado manhoso da comunicação Sexta-feira, 20 horas. Fim-de-semana já em curso. Toca de apresentar as más notícias ao pagode, que está mais virado para o repouso. Ainda por cima o futebol está ao rubro. Da última vez foi meia hora antes de um jogo. Não há jornais de economia e os outros têm pouco tempo para a análise. Os mercados estão fechados. Portas desapareceu outra vez. Artimanhas.

Ecos da blogosfera – 4 mai.

Uma perspetiva, que é uma espécie de Euro visão…

Não acredite na “mitologia moderna”, segundo a qual a moeda única se encontra à beira do colapso. O verdadeiro problema é que o número de perdedores, os países menos competitivos, é cada vez maior.
A alegada crise do euro dura há já vários anos. Tornou-se um fenómeno persistente, ao ponto de a “crise do euro” se ter instalado como uma rubrica permanente em alguns órgãos de informação ocidentais. À semelhança da política nacional, da economia, da meteorologia e do desporto.
A crise inscreveu-se na consciência coletiva como um fenómeno persistente. Podemos encarar as coisas de um ponto de vista positivo: vejam, cidadãos, uma crise sem precedentes na História e o euro aguenta-se. Os nossos grandes políticos sabem levar a cabo ações eficazes. São os nossos salvadores! Devíamos responder aos seus pedidos prementes e dar-lhes mais poderes. Mais Europa, isto é, mais Bruxelas, mais Comissão Europeia, mais Parlamento Europeu, etc. Só uma Europa unida será capaz de enfrentar o desafio da crise do euro! Devemos consumar a integração!
Tudo isto não passa de uma mitologia moderna. Um conto moderno que pretende justificar ideologicamente a incrível expansão do poder público ao nível das autoridades de Bruxelas, não eleitas, e dos governos dos Estados-nação. Um conto que serve para legitimar o processo contínuo de centralização do poder.
Mas, argumentarão alguns, a crise não é de modo algum uma lenda. Poderia sê-lo?
É, sim. Na sua forma cristalizada, a crise do euro é pura ficção. Para começar, uma moeda não pode estar em crise. Pode registar uma inflação elevada, mas não é esse o caso do euro, nem nunca foi. Pode registar flutuações da taxa de câmbio nos mercados internacionais. Mas não se trata de modo algum de uma crise: é um fenómeno absolutamente normal.
Ninguém pode ser expulso da zona euro
No que se refere à inflação, não há crise alguma. O mesmo se pode dizer, se considerarmos a evolução da cotação do euro. O euro tem continuado forte, nos últimos anos, espantosamente forte, para os não especialistas. Contudo, isso não tem mistério algum: a poderosa balança comercial da Alemanha mantém o euro forte. Poderá falar-se de crise, neste aspeto? Absurdo.
Sobre a zona euro não paira qualquer ameaça de colapso. Nunca pairou, nem por um instante. É preciso compreender como funciona o mecanismo da zona euro. Ninguém pode ser excluído dela. Nenhum Estado-membro pode ser expulso dela contra sua vontade. Nem mesmo na hipótese de falsificação dos dados estatísticos ou de incumprimento de pagamento, nem mesmo que os seus cidadãos decidam decorar o rosto de Angela Merkel com o bigode de Hitler. (Foi precisamente o que aconteceu na Grécia… E o país não foi excluído.)
Todos os Estados-membros são livres de abandonar a zona euro. Mas, até agora, nenhum quis fazê-lo. Porque a saída da zona euro implicaria logicamente a saída da UE. E isso significaria sair da zona de livre circulação de pessoas, bens e capitais e, por conseguinte, perder as poucas vantagens bem reais e indubitáveis que a adesão à UE oferece.
Eis o motivo pelo qual nem a Grécia quis abandonar a zona euro. Tal como Chipre.
Ninguém pode ser expulso da zona euro e ninguém quer sair dela. Fim da história. Não é de temer nenhum risco de colapso. Os eurocéticos regozijam-se em vão e os euro-optimistas assustam-se inutilmente. O euro está para durar. Não se pode dizer por quanto tempo, mas as uniões monetárias do século XIX funcionaram durante décadas. De um modo geral, só desapareceram com a guerra.
Lista dos ganhadores esgotada
O euro não está em crise. Em contrapartida, muitos dos seus utilizadores estão. As economias da Europa latina, em especial, precisariam urgentemente de uma moeda mais fraca, para aumentarem a competitividade dos seus produtos e para se tornarem destinos turísticos com preços mais acessíveis.
Os Estados-membros não podem, por princípio, desvalorizar a moeda. Ao contrário das uniões monetárias do passado, o euro proíbe essa possibilidade. Assim quiseram os artífices da ideia de uma moeda europeia comum. O seu grupo era dominado por responsáveis políticos que não consideravam a desvalorização da moeda como ferramenta padrão da política económica, mas praticamente como concorrência desleal – em suma, um golpe baixo contra os vizinhos com moeda forte.
Na visão dos pais do euro, a concorrência entre Estados-membros deveria ser exercida através do trabalho, da produtividade, da qualidade e da inovação. Uma bela ideia. Só que não se pensou no que fazer com os perdedores.
E, hoje, a maioria dos países da zona euro está prestes a perder a partida. Habituada a ter uma moeda forte, a Alemanha, cujos bancos não criaram uma bolha de crédito, sai vencedora. O mesmo é válido para a Áustria. E também para o Luxemburgo, o centro financeiro do continente. A situação de Malta, outro centro financeiro, é boa. Tal como a da Eslováquia, embora talvez seja prematuro avaliá-la, uma vez que este país entrou recentemente na zona euro. A lista dos ganhadores fica assim praticamente esgotada. A própria Finlândia deixou de estar em condições absolutamente ideais.

Contramaré… 4 mai.

Nas previsões económicas de primavera, Bruxelas prevê uma queda de 2,3% para a economia portuguesa em 2013, mais 0,4% em relação às suas últimas previsões, com um regresso ao crescimento em 2014, com o PIB a crescer 0,1%, também mais abaixo das previsões de inverno.
O défice vai crescer em 2013 para os 5,5% e a dívida chegará aos 123% do PIB.
O desemprego chegará aos 18,2% em 2013 e aos 18,5% em 2014.
O consumo privado deverá cair 3,3% em 2013, acima dos 2,8% das previsões de inverno e a recuperação para 2014 é agora de 0,1% e não de 0,5%.
O investimento deverá cair 7,6% em 2013, em vez dos 8% previstos há 3 meses.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Estes Prémios Nobel de Economia são uma vergonha!

O Prémio Nobel da Economia de 2010 e natural do Chipre, Christopher Pissarides, disse, que a “austeridade não nos leva a lado nenhum e está apenas a fazer-nos regredir nas nossas relações na Zona Euro e na forma como funcionam as nossas economias”. “O resto do mundo está a sair da crise e a preparar-se para novos desafios. Olhem para os EUA e a Ásia e até para os países da Europa que não pertencem ao euro”, acrescentou Pissarides.
“Vão aperceber-se que são comentários zangados. Tento esconder a minha raiva, mas estou extremamente zangado como cipriota. Isso transparece”, explicou.
Christopher Pissarides afirmou que a taxa sobre os depósitos bancários, aplicada no âmbito do resgate cipriota, é uma “solução terrível” que demonstra como “é má ideia ter o dinheiro na Europa”, deixando um exemplo: “se o meu banco tem lucro vai parar à mão dos accionistas. No meu país dois bancos não tiveram lucros e agora temos de pagar os prejuízos. Quando tiveram lucro não me deram mais juro, porque hei-de pagar o prejuízo agora?” “Foi uma solução terrível e espero que não se repita”, insistiu.
“Das duas, uma: ou colocamos um ponto final na moeda única ou as principais potências europeias devem envidar todos os esforços para criar políticas que promovam o crescimento e o emprego”, frisou, juntando a sua voz aos que defendem uma UE e uma zona euro mais empenhadas no combate ao desemprego, depois de vários anos – e resgates – focados no equilíbrio das dívidas soberanas, das contas públicas e dos equilíbrios orçamentais.
Christopher Pissarides desmente o que a Alemanha tem dito e sublinha que foi aquele país e o FMI que quiseram impor uma taxa sobre os depósitos bancários no Chipre.
“A forma como eles lidaram com os bancos foi: num dia tomaram uma decisão, no outro dia mudaram de ideias, depois voltaram para trás, e depois disseram que foi o governo cipriota que sugeriu o que é completamente falso. Eu fiz parte das negociações e posso garantir que foram a Alemanha e o FMI que sugeriram a taxa sobre os depósitos e foram eles que concordaram que os depósitos abaixo de 100.000 euros deviam ser taxados e que foram os cipriotas que o rejeitaram”, refere Christopher Pissarides.
O Nobel da Economia em 2010 afirma taxativamente que o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, mentiu quando disse que foi o Chipre que sugeriu a taxa: “É completamente falso o que estão a dizer”, frisa.
Não deixa de ser notória a simplicidade comunicativa de um Nobel da Economia, comparando-a com a do “economês” usado pelo nosso mau “bruxo mau”, para impressionar os papalvos e travestir a sua incompetência. Mas o mesmo acontece com todos os outros Nobel, que para além da linguagem, tem ideias contrárias às do nosso tarólogo de serviço…
E no caso em questão, Pissarides até se dá ao direito de esconder a raiva, mostrando estar apenas zangado e dizendo o que qualquer um de nós, ignorantes na matéria, está farto de dizer: “Se os bancos dividem os lucros apenas pelos seus acionistas, por que terão os depositantes de pagar os prejuízos?”. Básico e irrefutável, mas o contrário é que tem dominado o pensamento e a ação de todos os governos da UE e Eurozona, em nome do “vivemos TODOS acima das nossas possibilidades”, confiscando apenas ALGUNS, a torto e a direito.
E é mais um a juntar-se à plêiada crescente dos que sentenciam que ou se acaba com o Euro ou os que estão a mamar à sombra do mesmo fazem alguma coisa para reduzir a austeridade nos países “resgatados”, promovendo políticas para o crescimento e o emprego, já que a realidade mostra o fracasso das medidas impostas. Tout court!
E pondo os nomes aos bois, o Nobel 2010 denuncia o que testemunhou nas negociações para o “resgate” do Chipre, em que foi interveniente, imputando à Alemanha (pois claro!) e ao FMI (inconsistente!) a autoria e a imposição do plano de confiscação dos depositantes dos bancos. E chamou MENTIROSO a Saüble. E ficamos a pensar quantas vezes mais não terá este indivíduo mentido, para levar os euros para os cofres do seu país…
A esta hora, já o porta-voz do “impedido” do mentiroso terá anunciado mais confiscos, mais infrações aos direitos constitucionais, mais austeridade, mais recessão, com base em mentiras (como a dos Swaps) que o grande Mestre lhe incutiu… Espera-se que estes cortes, sejam de novo levados ao crivo do Tribunal Constitucional, porque são os mesmos, repartidos por 13 meses e não deve valer fazer fintas aos juízes…Espera-se!
Estes prémios Nobel de Economia devem ser realmente mal atribuídos, pela simples razão de os aprendizes de governantes, economistas, fazerem o contrário do que eles preconizam, baseados nos conhecimentos que aqueles transmitiram aos professores destes magarefes…
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Ecos da blogosfera – 3 mai.

Já não é fácil embalar ao som da canção do bandido...

“A UE sempre teve dificuldade em definir as suas fronteiras ultraperiféricas. Agora, o problema está a ser resolvido pelos próprios países candidatos: a maior parte deles está a pôr de lado os sonhos de integração”, escreve o colunista do Rzeczpospolita Jędrzej Bielecki. Este diário salienta que, além do euroceticismo crescente nos países mais ricos, como a Islândia, que não quer dar seguimento às negociações de adesão, o entusiasmo pela integração está agora a vacilar também entre os candidatos mais pobres, como a Ucrânia, que – apesar de todo o encorajamento da Polónia – não consegue decidir se quer ou não aproximar-se mais da UE.
Na Turquia, a opinião pública está igualmente a mostrar-se contrária à adesão do país à UE. Por outro lado, a Croácia poderá vir a ser o último novo membro dos Balcãs, nos próximos anos, visto que outros candidatos da região parecem sentir que a adesão à UE não justifica o sofrimento que as reformas que esta torna inevitáveis infligiria.
Segundo este diário de Varsóvia, esta situação é o resultado de 5 anos de crise, durante os quais os dirigentes da UE têm sido incapazes de tomar as decisões ousadas necessárias para restabelecer a estabilidade do euro. Ao mesmo tempo, a fraqueza da França, da Itália e da Espanha conduziu à supremacia política da Alemanha na Europa unida e ao reavivar de ressentimentos históricos.
A crise da zona euro não ficou a dever-se apenas às fraudes das autoridades gregas nem aos investimentos imprudentes feitos pelos bancos espanhóis: deve-se também a erros na estrutura da união monetária criada pelos alemães e pelos franceses. Mas, hoje, só os países mais fracos da Europa têm de pagar pelo fracasso do euro. O que também dá que pensar os países candidatos.
Se a vigarice em que caímos com a adesão à UE, que serviu apenas interesses ocultos de uns poucos, impondo-nos as restrições de toda a ordem não servir para mais nada (e não servirá), que sirva de aviso aos países e cidadãos incautos, que pensavam que o azul da bandeira era o céu e que as estrelas eram de ouro…
Na primeira, caímos nós e mais alguns, à segunda…

Contramaré… 3 mai.

"A informação estava escrita, a Direcção-Geral do Tesouro e os serviços do Ministério das Finanças tinham a informação e o próprio Ministério das Finanças divulgou publicamente isso mesmo no boletim [do sector empresarial do Estado] do segundo trimestre de 2011" (Junho), assegurou o ex-secretário de Estado Carlos Costa Pina, depois da actual secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque, ter afirmado no Parlamento que "Costa Pina deixou ficar um conjunto de assuntos assinalados e mesmo uma pasta com um conjunto de iniciativas em curso e nessa pasta de transição não constava nenhuma menção aos derivados" (“swap”).

quinta-feira, 2 de maio de 2013

2 de maio é menos 1 dia na vida dos desempregados…

Dezenas de milhares foram às ruas de vários países, Portugal, Espanha, França, Alemanha e Grécia – neste último país combinada com uma greve geral, em manifestações contra políticas adotadas na União Europeia diante da crise. No Vaticano, o Papa cita os desempregados do continente e critica falta de "justiça social".
Também houve manifestações na Ásia. Em Bangladesh, milhares de trabalhadores saíram às ruas para voltar a exigir pena de morte para os proprietários das fábricas de confeção do prédio que ruiu, há uma semana, causando mais de 400 mortes.
O Dia do Trabalhador assinalou-se ontem com o nível de emprego mais baixo dos últimos 27 anos em Portugal e com uma taxa de desemprego que já atinge 17,5% da população activa.
Esta situação é resultado das políticas de austeridade que têm vindo a ser seguidas e da recessão económica, razões que também estão por detrás do desemprego que mês após mês bate recordes. No 4.º trimestre de 2012 o desemprego afectava 923.000 pessoas e a taxa apurada pelo INE chegava aos 16,9%.
Portugal não é caso único. A receita de austeridade aplicada na Grécia, Irlanda e nas economias espanhola e italiana também estão a ter reflexos preocupantes no mercado de trabalho destes países.
No final de Março, estes países da periferia tinham 11.600.000 de desempregados, uma fatia muito significativa dos 26.500 de desempregados em toda a UE e mais de metade dos 19.200.000 registados nos países do euro.
Para quem gosta das alterações litúrgicas introduzidas pelo Papa Francisco, apenas pela sua simbologia, deve gostar também das suas palavras e do seu pensamento, que deviam ser doutrina para os mesmos admiradores…
"Um título que me surpreendeu no dia da tragédia do Bangladesh foi 'Vivia com 38 euros por mês'. Esta era a forma como eram pagas as pessoas que morreram. Isto é chamado trabalho escravo", declarou o papa durante a homilia que assinalou no Vaticano o 1º de Maio.
As autoridades do Bangladesh elevaram, esta quarta-feira, para 402 o número de mortos confirmados na sequência do desabamento de um prédio, há uma semana em Savar, nos arredores de Daca, onde operavam 5 fábricas têxteis no prédio de 8 andares que ruiu naquele que foi o mais grave acidente industrial do país.
"Hoje, no mundo, esta escravidão está a ser dirigida contra algo bonito que Deus nos deu: a capacidade de criar, de trabalhar, de ter dignidade. Quantos irmãos e irmãs se encontram nesta situação", disse Francisco na sua homilia.
Referindo-se ao desemprego, o papa lembrou que há muitas pessoas que querem trabalhar mas não podem, considerando que uma sociedade em que "não é dada a todos a possibilidade" de ter um emprego não é uma sociedade justa.

Ecos da blogosfera – 2 mai.

Na UE há povos com mais maturidade do que outros?

Um pouco de democracia direta, à maneira helvética, não faria mal à União Europeia. O exemplo suíço mostra, designadamente, que, quando são os próprios cidadãos a tomar as rédeas da política, o Estado e a dívida se tornam menos pesados.
Nos confins da esquerda, ouve-se um apelo a “mais Suíça”: é algo novo e original. Na origem deste novo entusiasmo de Berlim e Bruxelas pela Confederação Helvética, encontra-se o referendo suíço sobre a “iniciativa Minder” – uma iniciativa popular contra as remunerações abusivas, cujo instigador se chama Thomas Minder, patrão de uma empresa familiar suíça e senador.
Não vamos analisar a fundo aqui esta última iniciativa popular: na medida em que permite aos acionistas decidir diretamente qual a remuneração dos seus dirigentes, trata-se de uma medida retificativa pertinente para restabelecer a ligação entre propriedade e controlo [no seio da empresa].
A mesma questão de ordem estrutural coloca-se no que diz respeito às relações entre os cidadãos e os responsáveis políticos. Numa democracia, os eleitos devem agir em nome do povo. O cidadão é rei. Na prática, as coisas passam-se como entre o pequeno acionista e uma grande sociedade de capitais: é ingrato e difícil para o eleitor tomar decisões sobre as atividades multidimensionais dos seus representantes no Governo e no parlamento.
Assim, colocam-se duas questões de fundo. De uma maneira geral, que efeitos tem a democracia direta na Suíça? E os métodos da democracia direta (o referendo e as iniciativas populares) deverão ser recomendados aos outros países da Europa, designadamente em matéria de política europeia?
Autonomia dos cantões e comunas
Em mais nenhum lugar, a democracia direta está tão desenvolvida como na Suíça. E o mesmo se pode dizer do “federalismo financeiro”, que, na sua versão helvética, se caracteriza por uma autonomia relativamente ampla dos cantões e das comunas. Na Suíça, são organizados várias vezes por ano, a nível local, referendos financeiros obrigatórios e facultativos. As iniciativas populares permitem que os cidadãos incentivem ou revoguem livremente as decisões políticas. E todas as transferências de soberania a uma escala superior têm de ter o aval direto da população.
Os resultados são bastante eloquentes: as coletividades territoriais são menos esbanjadoras, quando os cidadãos podem decidir por si qual a utilização do seu próprio dinheiro. A sua parcimónia tem por efeito aliviar a pressão fiscal. E a dívida também recua, graças aos referendos financeiros, que permitem que sejam os próprios cidadãos e não os governos a assumir a gestão dos fundos públicos.
Mas nem por isso a “solidariedade” passa para segundo plano. Apesar de, globalmente, os cantões que praticam a democracia direta redistribuírem menos, isso não significa de modo algum que o nível de redistribuição seja insuficiente para os pobres. A desigualdade social não é mais forte nos cantões que praticam a democracia direta. Pelo contrário, tudo leva a crer que, nesses cantões, as transferências sociais são mais racionais.
Tudo isto leva a um aumento da produtividade económica, graças a serviços públicos de melhor qualidade e a uma política financeira mais sã do que nas democracias unicamente representativas.
Felix Helvetia! A opinião pública limita a dívida, ao promover o respeito pelas obrigações fiscais, a eficácia e a subsidiariedade: não é precisamente disso que toda a Europa precisa hoje?
O modelo helvético será exportável?
A organização de referendos europeus, por exemplo sobre a introdução das euro-obrigações, sobre o reforço do mecanismo de apoio aos países em dificuldades ou sobre uma maior harmonização fiscal, não iria alterar em nada o “défice democrático” da UE. Em primeiro lugar, porque a democracia pressupõe um demos, um povo europeu capaz de conceber e exprimir uma “solidariedade” europeia e uma opinião pública. Coisa que, para já, não se divisa. Por outro lado, este tipo de consultas poderia facilmente levar as “maiorias” a constituir reservas de transferências ou benefícios específicos em detrimento de outros – segundo a divisa: “somos nós que decidimos e são vocês que pagam”.
O défice de democracia europeu começa ao nível dos Estados-membros. E a democracia direta tem aqui uma função importante, ao defender a descentralização do processo de tomada de decisões e das responsabilidades. O Governo e o parlamento representam o povo. É grande o risco de os chefes de Estado e de Governo, reunidos no Conselho Europeu, tomarem decisões que transferem a soberania dos Estados-membros para a escala europeia e que deixam assim de ter em conta os interesses dos seus cidadãos.
É esta a razão pela qual as grandes transferências de competências e de direitos soberanos para a escala supranacional não devem ser decididas pelos governos, ao sabor de reuniões de crise noturnas, e devem, sim, ser legitimadas diretamente – portanto, pela via do referendo.
Sobre as questões europeias, seria bom recorrer à democracia direta, nos domínios em que a Suíça a pratica frequentemente: os cidadãos devem poder decidir, a nível local, o que acontece ao seu dinheiro e dizer em que medida querem ser garantes das dívidas de outrem.
A União Europeia no seu conjunto poderia beneficiar dessa helvetização – desde que o processo assumisse a forma de um programa de reformas ambicioso das instituições políticas.

Contramaré… 2 mai.

O ministro insistiu que os contratos em causa "foram, na sua esmagadora maioria, negociados sob a gestão do PS" e "não há um único contrato de características problemáticas assinado durante a vigência deste Governo".
Dirigindo-se a Fernando Medina, Vítor Gaspar sublinhou: "Estes são instrumentos complexos e opacos e a opacidade e a desorçamentação foram comportamentos sistemáticos do governo socialista".
Vítor Gaspar lamentou, ainda, a "hipersensibilidade e a incapacidade patológica do partido socialista em assumir as suas responsabilidades".

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A favor dos "factos", só há argumentos patológicos…

A política só pode ter profundidade e consistência, baseada em factos. Ora, o que uma vez mais verificaram os deputados, e todos os cidadãos, é estarem a ser apresentados temas da maior importância - como os contratos de gestão de risco de taxas de juro de empresas públicas (swap) ou, na data-limite, o Documento de Estratégia Orçamental 2013/2017 - sem que sejam revelados os seus elementos documentais essenciais. O contorcionismo da equipa das Finanças, para falar do que apenas se revela em versão parcial e editada, rebaixa o escrutínio parlamentar a uma formalidade embaraçada. O relacionamento entre órgãos de soberania merece e exige uma outra qualidade. E levar o confronto político até ao ponto de imputar incapacidade patológica aos adversários, como o fez, na sua nova atitude agressiva, o ministro das Finanças não ajudará a convencer o principal partido da oposição - com o qual o Governo procura nos últimos dias alcançar um acordo de fundo para lá desta legislatura.
Não há forma de entender, com o que foi revelado, porque é que, nos próximos 3 anos, a "restrição orçamental" vai ter de atingir 4.700 milhões de euros. Como não é possível formar uma opinião séria sobre a linha que separa 74 contratos swap "bons", isto é, defensivos e não especulativos face ao risco das taxas de juro, de outros 66, "maus", ou seja, especulativos e potencialmente nocivos do bem comum... Vem aí uma comissão de inquérito, que analisará, em regime protegido de confidencialidade, tudo o que foi feito em anos passados quanto aos swaps. Seja.
O essencial é passar do psicologismo à política pura e desta ao apuramento de responsabilidades sérias e objetivas, se estivermos perante atuações temerárias de responsáveis constitutivas de crimes.
A união no trabalho
Portugal é o 3.º país com mais desemprego. A Áustria tem a taxa mais baixa com 4,7%
Se é verdade que, como os dados ontem publicados pelo Eurostat, a taxa de desemprego em Portugal se mantém estável nos últimos 3 meses (17,5%), não é menos verdade que, segundo os mesmos dados, o desemprego jovem não para de crescer. Uma realidade que mostra que o futuro dos trabalhadores no nosso país está cada vez mais hipotecado. Por tudo isto, o dia que hoje se comemora pelo mundo fora é celebrado entre nós no pior momento de que há memória nos últimos 40 anos.
A estratégia do Governo tem sido atirar parte dos trabalhadores portugueses contra os restantes, sobretudo em relação aos sectores público e privado. Mas o método pode acabar por levar a uma convergência entre todos eles, de operários a empregados de escritório, tal é a aproximação das condições de vida de uns e outros. E esta união entre quem (ainda) trabalha pode ser também a base de um entendimento sobre unidade de ações entre as duas centrais sindicais, que hoje ainda vão desfilar em separado.
Com dois líderes novos (à frente da UGT, Carlos Silva substituiu João Proença há apenas uma semana) e uma radicalização de posições e discursos, o desemprego e o novo Código do Trabalho pode ser o ponto fraturante na Concertação Social. E sem esse instrumento, a fragilidade das políticas do Governo atingirá pontos de não retorno.
Editorial

Ecos da blogosfera – 1 mai.

A insustentável “sustentabilidade”!

O desabamento de um prédio de 8 andares que abrigava 5 fábricas têxteis no Bangladesh, matando mais de 370 pessoas, chama, mais uma vez, a atenção para as precárias condições de segurança e de trabalho da indústria de vestuário do país – a 2.ª maior do mundo, depois da China, e fundamental para a economia nacional.
"O colapso do edifício foi o último de uma série de acidentes em fábricas de roupas de Bangladesh", ressalta Brad Adams, da ONG Human Rights Watch. "O governo, donos de fábricas e a indústria internacional de vestuário pagam aos trabalhadores em Bangladesh salários que estão entre os mais baixos do mundo. Mas não têm a decência de criar condições seguras de trabalho para aqueles que costuram as roupas para pessoas de todo o mundo".
Estima-se que nos últimos 3 anos mais de 500 trabalhadores morreram em acidentes em fábricas da indústria do setor em Bangladesh. Em novembro passado, 112 pessoas morreram num incêndio numa outra fábrica, no polo industrial de Ashulia, subúrbio de Daca, onde eram produzidos artigos para grupos como Walmart e C&A. O acidente de 24 de abril já contabiliza, além dos mais de 370 mortos, quase 2.500 feridos. Cerca de 600 pessoas ainda estão desaparecidas.
Menos de 40 dólares (30,60 euros) por mês
A indústria têxtil responde por 80% das exportações e por mais de 40% da força de trabalho industrial do Bangladesh. Um trabalhador têxtil típico do país ganha menos de 40 dólares por mês. A maioria trabalha cerca de 10 horas por dia, 6 dias por semana.
O Bangladesh exporta anualmente cerca de 15,6 bilhões de dólares em peças de vestuário. Do total, 60% são destinados à Europa, enquanto os Estados Unidos importam 23%, e o Canadá, 5%, de acordo com dados do Ministério para a Indústria e Comércio do país.
O acidente mais recente mostra que muitas dessas tragédias poderiam ter sido ser evitadas. Apenas 2 dias antes, um funcionário do governo da cidade tinha encontrado fendas em 6 pilares de sustentação do prédio, localizado no subúrbio de Savar, a 30 quilómetros de Daca.
Depois disso, as autoridades municipais pediram aos inquilinos que desocupassem o Rana Plaza, como a construção era chamada. O dono, Mohammed Sohel Rana, um político local do partido do governo Liga Awami, interveio e garantiu que a sua propriedade estava em bom estado, tendo mandado, pessoalmente, as operárias voltarem ao trabalho. Pouco tempo depois, tudo veio abaixo.
Nos 2 pisos inferiores da construção, havia um banco privado, lojas e escritórios. Os andares superiores eram alugados por 5 fábricas que produziam roupas prontas para os países ocidentais. Entre os clientes, estão empresas do Reino Unido e da Espanha. Outras, da Alemanha, França, Itália e Estados Unidos, estão a rever os seus registos para confirmar se compravam naquelas fábricas.
Aparentemente, Sohel Rana tinha licença para a construção do edifício, mas acrescentou, ilegalmente, mais 3 andares aos 5 previstos. Além disso, o prédio fora construído ilegalmente num terreno onde antes havia um lago. Segundo especialistas, o solo instável pode ser uma das causas do desastre, além da utilização de materiais de baixa qualidade e, possivelmente, também o grande peso das máquinas de costura nos andares superiores.
Práticas ilegais
Há anos, sabe-se que tais práticas ilegais de construção são parte do quotidiano do Bangladesh, onde frequentemente as normas de segurança são simplesmente ignoradas. Fios elétricos ficam expostos ou pendurados nos tetos e paredes. Para economizar dinheiro, as fundações não são construídas em profundidade segura. Os prédios construídos para um determinado fim acabam, com frequência, por ser usados com outros objetivos.
Quando são descobertas falhas no momento da autorização do projeto, muitas vezes funcionários públicos são intimidados ou subornados. O resultado é que os edifícios caem ou incendeiam-se com uma regularidade assustadora.
"Cerca de 1/5 dos 360.000 prédios de Daca estão considerados como de alto risco de desabamento e podem cair a qualquer momento", afirma o professor ASM Maksud Kamal, especialista em gestão de desastres em Daca. Além deles, afirma, mais 135.000 edifícios estão classificados como parcialmente comprometidos ou perigosos. "Os prédios não foram construídos de acordo com as regras."
O facto de o proprietário, Sohel Rana, pertencer ao partido do governo, torna o incidente ainda mais delicado. "Muitos donos de fábricas em Bangladesh são políticos ou pertencem a um grande partido. Mais de 10% dos deputados têm participação em fábricas de peças de vestuário", observa Brad Adams, da Human Rights Watch e afirma não conhecer um único caso em que o proprietário de uma fábrica acidentada tenha sido processado.
Sendo a deslocalização do fabrico de produtos para as “grandes” empresas multinacionais a razão invocada para a sua sustentabilidade, com base nos baixos salários praticados nos países que escolhem, tal prática, para além de ter destruído as estruturas empresariais de países mais ricos (incluindo os da Sede dessas empresas), a grandes cortes salariais (sem resultados) e ao desemprego em massa (dos seus concidadãos), explorou e explora, desumanamente, os trabalhadores que sustentam os seus lucros, a ponto de fecharem os olhos às condições de segurança dos locais de laboração.
E não são só os donos das “fábricas” os culpados neste processo, porque os administradores das empresas, que tem que ter responsabilidade social, merecem o mesmo veredicto!
É já insustentável esta estrutura de “sustentabilidade” empresarial, que passando por cima das pessoas, como pessoas, deixam ruir os valores que o ocidente sempre defendeu…

Contramaré… 1 mai.

O restaurante Vila Joya de Albufeira é um dos 2 estabelecimentos portugueses classificado com 2 estrelas no Guia Michelin e este ano subiu 8 lugares para o 37.º posto, o que o austríaco considerou ser "um grande prémio". "É muito bom para o Algarve e para Portugal", vincou.
O cozinheiro atribuiu à qualidade do peixe o sucesso do restaurante, conhecido por misturar produtos e ingredientes locais, como o peixe ou o bacalhau, com técnicas de cozinha da Europa do norte. "Tenho uma vida de 20 anos no Algarve com produtos de mar incríveis, sempre com qualidade que nunca tinha visto na minha vida", saudou.

terça-feira, 30 de abril de 2013

E os 99% que se ocupem com o papel de “indignados”!

Paul Krugman - The New York Times, 25 de abril de 2013
Os debates económicos raramente terminam com uma derrota técnica. Mas o grande debate político dos últimos anos, entre keynesianos (que defendem a manutenção, e até aumento, dos níveis de despesa pública em contextos de recessão), e os austeritários (que pugnam por cortes imediatos na despesa), está - pelo menos no plano das ideias - a chegar ao fim. No ponto em que estamos, a perspectiva austeritária implodiu: não só todas as suas previsões falharam por completo, quando confrontadas com a realidade, como a própria investigação académica, invocada para suportar essa doutrina, acabaria por se revelar repleta de erros e omissões e feita com estatísticas duvidosas.
Restam portanto duas questões. Primeiro, a de saber porque é que a doutrina da austeridade se tornou tão influente. Depois, a de saber até que ponto haverá mudança de políticas, agora que os argumentos centrais dos defensores da austeridade se transformaram em abundante matéria-prima para livros de banda desenhada.
Quanto à primeira questão, o claro domínio e capacidade de influência dos defensores da austeridade nos centros de decisão deveria perturbar todos aqueles que gostam de acreditar que a política se baseia, ou é pelo menos fortemente influenciada, por evidências da realidade. Afinal de contas, os dois principais estudos que alimentam os argumentos e justificações intelectuais para a austeridade - os trabalhos de Alberto Alesina e Sílvia Ardagna sobre a «austeridade expansionista», e de Carmen Reinhart e Kenneth Roggoff sobre o perigoso «limite» de 90% para a dívida pública – enfrentaram críticas fulminantes mal conheceram a luz do dia.
Estes estudos não sobrevivem, de facto, ao escrutínio. No final de 2010, utilizando dados mais precisos, o Fundo Monetário Internacional voltou a analisar o trabalho de Alesina-Ardagna e contrariou as conclusões a que estes tinham chegado; ao mesmo tempo que muitos economistas suscitavam objecções fundamentais em relação ao trabalho de Reinhart-Rogoff, muito antes de ser conhecido o famoso erro de Excel. E tudo isto enquanto no mundo real a estagnação da Irlanda (que era o grande cartaz da propaganda infantil da austeridade), e a queda das taxas de juro nos Estados Unidos (país que se encontrava, supostamente, à beira de enfrentar uma crise fiscal eminente), esvaziavam de qualquer sentido as previsões austeritárias.
A doutrina da austeridade, contudo, não só tem mantido como até reforçado o seu poder e influência em relação às elites. Porquê?
Parte da resposta encontra-se certamente na vontade generalizada de encarar a economia como um jogo de moralidade, que a converte numa narrativa sobre os excessos e suas consequências. Andámos a viver acima das nossas possibilidades e agora estamos a pagar o preço inevitável. Os economistas bem podem explicar, até à exaustão, que isso não é verdade. Que a razão pela qual temos um desemprego de massas não se encontra em termos gasto excessivamente no passado, mas antes na circunstância de estarmos a gastar muito pouco agora, e que este é que é o problema que tem que ser resolvido. Não adianta. Muitas pessoas têm um sentimento visceral sobre o pecado e a necessidade de encontrar a redenção através do sofrimento. E nenhum argumento económico, como nenhuma constatação de que as pessoas que estão a sofrer agora não são as mesmas que pecaram durante os anos dos excessos, faz grande mossa.
Mas esta não é apenas uma questão de emoção versus lógica. Não é possível compreender a influência da doutrina da austeridade sem falar de classes e de desigualdades.
O que é que as pessoas querem, afinal, da política económica? A resposta, ao que parece, depende muito de a quem fazemos a pergunta - como mostra um trabalho recente dos cientistas políticos Benjamin Page, Larry Bartels and Jason Seawright. O artigo compara as preferências políticas do cidadão comum americano com as dos americanos com maiores níveis de rendimentos. E os resultados são assombrosos.
Assim, segundo o estudo, o cidadão comum americano manifesta alguma preocupação com os défices orçamentais, o que não surpreende dada a enxurrada de histórias assustadoras sobre o défice que circulam na comunicação social. Mas a maior parte dos mais ricos encara o défice como o maior problema que enfrentamos. E como é que o défice deve ser combatido? Os mais ricos respondem com cortes da despesa federal em Saúde e na Segurança Social - ou seja, nos «direitos» - enquanto os americanos em geral querem, pelo contrário, ver um aumento da despesa federal nesses domínios.
As coisas são claras: a agenda da austeridade parece ser a simples expressão das preferências das classes altas, que apenas se disfarçam num aparente rigor académico. Aquilo que os 1% mais ricos querem converte-se no que a ciência económica diz ser preciso fazer.
Mas será que uma depressão prolongada serve realmente os interesses dos mais ricos? É de duvidar, já que uma economia em expansão é geralmente boa para quase todos. E a verdade é que estes anos de austeridade têm sido muito difíceis para os trabalhadores, mas não têm sido assim tão maus para os mais ricos, que beneficiaram do aumento dos lucros e do valor das acções em Bolsa, à medida que o desemprego de longa-duração foi aumentando. Os 1% podem não querer realmente uma economia fraca, mas eles estão a conseguir resultados suficientemente bons para satisfazer os seus preconceitos.
É isto que nos faz pensar na diferença que pode verdadeiramente fazer o colapso intelectual da perspectiva austeritária. Na medida em que temos uma política dos 1%, feita pelos 1% para os 1%, não será de esperar que apenas tenhamos novas justificações para as mesmas velhas políticas?
Eu espero que não, pois quero acreditar que as ideias e as evidências da realidade contam, que têm pelo menos alguma importância. Se assim não for, que sentido posso dar à minha vida? Mas eu acho, contudo, que nós vamos ver até que ponto pode chegar o cinismo.
Tradução de Nuno Serra, a quem agradeço, do blogue ESTANTE

Ecos da blogosfera – 30 abr.

Se ainda for a tempo do Conselho de Ministros…

Pode pensar que sabe qual é a imagem que os outros têm de si - um comunicador talentoso, uma incisiva mente numérica ou um gestor que consegue extrair sempre o melhor da sua equipa. Porém, talvez tenha algumas surpresas.
Dorie Clark
Um executivo modesto, com tendência para se menosprezar, ficou impressionado ao descobrir, depois de participar num coach para executivos onde foram examinadas as suas relações profissionais, que o seu hábito de interromper os outros levava os colegas a vê-lo como arrogante e altivo - praticamente, o oposto da verdade. Em especial para os executivos de topo, pode ser difícil reconhecer como são, efectivamente, vistos pelos outros. Por um lado, os empregados que não querem pôr em risco a sua posição, tendem a ocultar quaisquer perceções negativas e a fazer-lhe boa cara; por outro, tem-se revelado que o poder é capaz de distorcer seriamente a consciência que os líderes têm de si mesmos. 
“Estudos realizados sobre o efeito do poder no seu detentor têm revelado consistentemente que o poder produz excesso de confiança e predisposição para correr riscos, insensibilidade aos outros, estereotipização e uma tendência para ver os outros como um meio para a gratificação de quem detém o poder” escreve o professor da faculdade de gestão de Stanford, Jeffrey Pfeffer, no seu livro, “Power: Why Some People Have It and Others Don't” (Poder: porque alguns têm e outros não). Contudo, quando se trata da sua marca pessoal — a sua reputação profissional — a questão não é como se vê a si mesmo. O que importa é a maneira como o mundo o vê. 
“Se 3 pessoas lhe disserem que é um cavalo, compre uma sela”, diz Judy Robinett, investidora independente. Por outras palavras, ouça o que o mundo exterior lhe diz, porque eles, provavelmente, têm razão. Assim sendo, como é que os profissionais podem obter um feedback honesto, especialmente se não tiverem acesso a um coach para executivos? Procure padrões nos registos escritos. Se tiver acesso a cópias de avaliações de desempenho antigas ou cartas de recomendação que outros tenham escrito, pode examiná-las e encontrar padrões. 
Claro que toda a gente terá uma abordagem ligeiramente diferente. Porém, se encontrar várias menções a um conjunto de capacidades particular (“Lisa é uma oradora brilhante”) ou a falhas (“Martin tem dificuldade em aceitar feedback”), deve levá-las em consideração. Examine a sua presença online. Faça uma pesquisa sobre si. O que surge primeiro? Era isso que esperava? Era o que pretendia transmitir ao mundo? Que pensaria uma pessoa que não o conhecesse? Se houver links que o possam prejudicar ou sejam erróneos, é melhor descobrir já (para poder tomar medidas), em vez de ser um empregado ou um potencial cliente a descobri-los. 
Conduza as suas próprias “360 entrevistas”. Este é o primeiro passo que a maior parte dos coaches de executivos daria, mas, se não tiver um, pode fazê-lo sozinho. Convide colegas em quem confie, o seu chefe e os seus empregados para um café, diga-lhes que está a trabalhar para aumentar a sua fasquia profissional e peça-lhes um feedback honesto: O que faz bem? Onde pode crescer? Que três palavras usariam para o descrever? As perspetivas deles podem ser reveladoras. 
Mantenha o seu próprio grupo de discussão. No meu livro “Reinventing You: Define Your Brand, Imagine Your Future” (Reinvente-se: defina a sua marca, imagine o seu futuro), apresento o perfil de uma mulher chamada Mary Skelton Roberts que — em busca de mais clareza na sua vida profissional — criou um grupo de discussão com amigos e colegas. Mary sentou-se a ouvir durante várias horas enquanto os participantes partilhavam as ideias que tinham acerca das suas forças, capacidades e áreas que gostariam de a ver explorar (a sessão foi moderada por um amigo e Mary não podia responder — apenas pedir esclarecimentos). As outras pessoas “têm quase sempre uma vista de um ângulo superior e podem ver a sua vida de maneiras que você talvez não seja capaz, porque está envolvido nas questões do dia a dia”, explicou-me. O grupo de discussão “conduziu-me ao nível seguinte em termos do meu desenvolvimento profissional”
A verdade é que sabemos demasiado acerca de nós mesmos; não conseguimos separar suficientemente o sinal do ruído para percebermos como o mundo exterior, de facto, nos vê. Porém, reexaminando os registos escritos que foram feitos acerca de nós e pedindo aos nossos colegas as suas opiniões honestas, temos muito a aprender. E, se o que descobrirmos não corresponder à forma como gostaríamos de ser vistos — como o executivo cujo hábito de interromper os outros estava a prejudicar a sua carreira — é possível tomar medidas para o corrigir.