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sábado, 26 de março de 2011

Carrapatos nos cães dos outros, fazem-lhes cócegas!

“Não temos muito mais margem para proceder ao agravamento de impostos. A outra área onde temos que incidir, em termos da redução no peso do PIB, é no custo pessoal e nos apoios sociais”, afirmou.
“Vão ter que existir medidas duras e que o nível de vida dos portugueses vai baixar nos próximos anos, não tenho dúvidas. Não quero dizer as medidas em concreto, mas podem chegar ao 13º mês”, acrescentou.
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António Carrapatoso, ex-presidente-executivo da Vodafone, foi promotor da iniciativa “Compromisso Portugal” (“Este movimento é de matriz liberal: acredita no cidadão, nas suas capacidades e competências.”) e recentemente escolhido por Pedro Passos Coelho para dirigir o movimento “Mais Sociedade” para concentrar as ideias da sociedade civil.
Enquanto protagonista do “Compromisso Portugal”, em 2008, dizia isto e mais coisas bonitas:
  1. Um cidadão valorizado e responsabilizado.
  2. A igualdade efectiva de oportunidades assente numa educação de base de qualidade para todos.
  3. A definição clara de direitos sociais e de uma rede de protecção social, esta selectiva e vocacionada para os mais desfavorecidos.
  4. A afirmação de um Estado forte, independente, subsidiário, eficiente, garante mas não necessariamente produtor dos serviços públicos.
  5. A defesa de uma sociedade (e mercados) aberta, flexível que tire partido das capacidades dos recursos existentes, das capacidades dos Portugueses e de práticas de sã concorrência como forma de promover a inovação e o desenvolvimento.
Não podemos perder mais tempo e assistir ao empobrecimento progressivo relativo do nosso país em termos de nível e qualidade de vida coarctando a possibilidade dos Portugueses, em particular daqueles que detêm menos recursos, de se realizarem e serem mais felizes.
E deve ser para tornar os portugueses com menos recursos mais felizes, que lhe passou pela cabeça retirar o 13º mês, para este ano, talvez o subsídio de férias para o próximo ano, para aumentar o nível de qualidade de vida em Portugal.
Para já lança-se a ideia, para ver se pega! 
Quem quiser uma análise mais “científica” à proposta, LEIA: “A gestão da miséria e a miséria da gestão”.
Se não, ouça a resposta que merece esta eminência parva, que da sociedade civil não tem nada, nem a representa, representa sim, disfarçadamente, uma elite e um partido político, que vai concorrer às próximas eleições para elegermos mais uma vez um governo que não se preparou previamente…

Nobel mal atribuído? Por que então não é seguido?

Paul Krugman - Nobel da Economia 2008
O economista norte-americano e Prémio Nobel da Economia Paul Krugman considerou Portugal como um exemplo do erro de reduzir a despesa pública quando existe um desemprego elevado, em coluna de opinião publicada no "New York Times".
Portugal é invocado, a par de Irlanda, Grécia e Reino Unido, a propósito do debate sobre a situação orçamental nos Estados Unidos.
Para o economista, "a estratégia correcta é (criar) empregos agora, (reduzir) défices depois".
Krugman entende que estão errados "os advogados da austeridade que prevêem que os cortes da despesa trarão dividendos rápidos na forma de uma confiança crescente e que terão pouco, se algum, efeito adverso no crescimento e no emprego".
Justifica a preferência pelo adiamento da redução do défice com o argumento de que "os aumentos dos impostos e os cortes na despesa pública deprimirão ainda mais as economias, agravando o desemprego".
Acrescenta, a este propósito, que "cortar a despesa numa economia muito deprimida é muito auto-derrotista, até em termos puramente orçamentais", uma vez que "qualquer poupança conseguida é parcialmente anulada com a redução das receitas, à medida que a economia diminui".
O Prémio Nobel da Economia lamenta que a estratégia que recomenda tenha sido "abandonada perante riscos inexistentes e esperanças infundadas". Pormenoriza: "Dizem-nos que se não reduzirmos a despesa imediatamente, acabaremos como a Grécia, incapaz de se financiar sem ser com exorbitantes taxas de juro". "Se os investidores decidirem que somos uma república das bananas, cujos políticos não podem ou não querem encarar os problemas de longo prazo" será atingida a situação da Grécia, especifica e "Deixarão de comprar a nossa dívida", admite.
Krugman adianta que "um plano orçamental sério (...) trataria dos motores da despesa a longo prazo, acima de todos os custos com os cuidados de saúde, e quase de certeza que incluiria algum tipo de aumento de impostos".
O Prémio Nobel considera que o debate sobre a política orçamental nos Estados Unidos "não está a ser sério" e que "toda a conversa é sobre cortes de despesa de curto prazo".
Depois de descrever o clima político existente nos EUA como um em que os defensores dos cortes orçamentais "querem punir os desempregados", Krugman prevê: "Os contos de fadas sobre a confiança não nos salvarão das consequências dos nossos disparates".
É reconfortante encontrar coincidências de opinião entre um Prémio Nobel de Economia e um leigo em economia (como é o meu caso), que apenas pela análise de notícias de resultados, por intuição e contas básicas de matemática, percebe que alargando o prazo de pagamento e criando condições para gerar riqueza, se pode pagar o calote, sem grandes e injustas medidas de aperto do cinto, a quem já não tem furos para o aperto.
Mas há carrapatos do sistema, que mesmo sabendo mais(?) do que nós (nesta matéria), fazem propostas tão desenquadradas da realidade social, que não conseguirão provar que sabem mais do que um Nobel e terão que ter mais cuidado com a língua, porque as intenções deles conhecemo-las bem… Basta entrar a política partidária!

Lá vem a desobriga e penitência: jejum e abstinência…

O que os MILISIEVERTS são capazes de nos fazer!

A Agência de Segurança Nuclear deu o sexto nível de gravidade segundo a escala internacional INES,  à situação na central nuclear japonesa Fukushima-1. A título de comparação, o sétimo nível, o mais alto, foi atribuído à catástrofe de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986 , o mais grave da história.
Atualmente, uma nova nuvem de vapor branco eleva-se acima da central nuclear de Fukushima-1, informou a imprensa local. De acordo com especialistas da TEPCO (Tokyo Electric Power Co), empresa operadora da central, o vapor poderia sair da piscina do 3º bloco de energia, onde se arrefecem 514 varetas utilizadas como combustível.
Enquanto isso, a TEPCO confirmou um prejuízo de 70% nas barras de combustível do reator 1, e 33% no reator 2.  A empresa teme que se tenha provocado uma fusão parcial do núcleo, o que suporia a emissão de novas partículas radioativas na atmosfera.
A TEPCO dá a conhecer, através do seu site, que segundo os seus últimos dados o nível medido de radiação no pavimento acidentado é de 1.000 milisieverts (mSv) por hora.  No entanto, salienta que nas últimas horas o índice sofreu alterações muito drásticas: variou entre 1.000 e 11.000 mSv por hora. Especialistas dizem que submeter-se a um nível de radiação de 11.000 mSv por hora durante 10 minutos é o equivalente a receber a dose anual permitida.
Quanto às previsões sobre a contaminação da própria zona e do resto do país, os ecologistas comunicam que, até agora ninguém pode prever praticamente nada. Salientam que não é um caso em que funcione a noção do nível médio de radiação e faz falta realizar medições muito precisas. Em alguns lugares, os níveis de radiação podem ser altos; em outros, baixos, o que, em média dará um índice permitido, mas a situação real continuará a ser muito perigosa. Além disso, a situação muda constantemente: os ventos deslocam nuvens radioativas, enquanto a chuva fazem chegar as substâncias tóxicas ao solo.
Os médicos dizem que não é possível prever como as overdoses de radiação ejetada da central afectará a saúde: atualmente não se sabe a composição exata da nuvem radioativa.
No caso de prevalecer nesta o iodo ou qualquer outro tipo de isótopos de média de vida curta, a situação não é tão grave. Este tipo de isótopo tem um período curto de desintegração, não persistem, nem na atmosfera, nem na água, solo, ou plantas. Os efeitos negativos para a saúde são remediados através da ingestão de iodeto de potássio, que "bloqueia” a glândula tiróide e impede que absorva o veneno, o que já provocou uma procura muito alta destas pastilhas. Segundo a imprensa japonesa, nos centros que acolhem os evacuados da área do acidente nuclear, as autoridades distribuíram 200.000 cápsulas de iodeto de potássio como medida preventiva.
No entanto, no caso de se tratar de uma fuga maciça de césio, tudo será muito diferente. O césio tem uma vida média longa. Não se desintegra, antes se acumula, tanto no solo, na água e nas plantas, como em todos os tecidos do organismo humano (e não apenas na glândula tiróide) e permanece ativa por muitos anos. A contaminação radioativa causada pelo césio pode persistir no meio ambiente durante séculos, mesmo que se apliquem diferentes métodos de limpeza, segundo os ecologistas.
Os médicos dizem que com o tempo os resíduos nucleares se decompõem e com o pó se espalham no ar e chegam às plantas, rios, lagos e águas subterrâneas, acarretando consequências para a saúde ao longo de décadas. Desta maneira, um foco de todos o tipo de doenças na região afetada não eclode imediatamente depois de um acidente nuclear. É sabido, por exemplo, que os casos de cancro nas zonas contaminadas aumentam muito significativamente, 25 anos depois de acontecer um desastre industrial. Esse é o tempo que o solo e, portanto, os alimentos “necessitam” para acumular elementos radioativos "com longevidade" nas doses que depois podem voltar a causar transformações cancerígenas.
As transformações podem também manifestar-se em gerações posteriores, neste caso, seria tratar-se-ia já de uma mutação.
O nível sobrelevado de radiação provoca doenças de diversa gravidade. Podem ser cataratas, hemorragias, cancro, ou problemas cardiovasculares, ou imunitários. Depende do grau de exposição, da natureza das radiações e dos órgãos atingidos. Doses idênticas de diferentes tipos de radiação têm efeitos diferentes no organismo humano. Além disso, tecidos diferentes reagem de maneiras distintas à radiação. Assim, os mais vulneráveis ​​deste ponto de vista são os ovários e os testículos: consideram-se 20 vezes mais sensíveis ao cancro da pele.
Outros fatores importantes são a via de absorção (oral ou cutânea)  e, claro, a suscetibilidade individual, ou seja, a capacidade de reparar o ADN.  Os grupos de alto risco são, em primeiro lugar, os bebés e os embriões.
Quanto às doses de radiação, os riscos de curto prazo são frequentemente considerados os seguintes:
- Submeter-se a uma radiação direta de um nível entre 250 e 1.000 millisievert (mSv) pode causar náuseas e danos no baço e gânglios linfáticos;
- Submeter-se a uma radiação direta entre 1.000 e 3.000 mSv provoca náuseas, entre leves a agudas, perda de medula óssea bastante grave e gânglios linfáticos.  A recuperação neste caso é apenas provável;
- Submeter-se a uma radiação direta entre 3.000 e 6000 mSv provoca náuseas severas, hemorragias, diarreia. Em 50% dos casos a perda de medula óssea resulta tão grave que causa a morte nos dois meses seguintes;
- Submeter-se a uma radiação direta entre 6.000 e 10.000 mSv provoca os mesmos sintomas, mais danos graves aos pulmões e ao aparelho digestivo, o que em 50% dos casos termina na morte dentro de 20 dias;
- Submeter-se a uma radiação direta mais de mais de 10.000 mSv provoca o colapso do sistema nervoso central e morte quase imediatamente.

Ecos da blogosfera – 26 Mar.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Uma realidade + uma virtualidade = três desigualdades

Mulheres Protestando - Di Cavalcanti - 1941
As mulheres ganham em média menos 18% (181 €) do que os homens. O seu salário base mensal é em média de 822,7 €, ao passo que o deles é de 1.003,7 €. Se for tido em conta o ganho médio mensal, a diferença é ainda maior, atingindo os 21,6%.
Mas as diferenças não existem apenas ao nível da remuneração: apesar de ganharem menos, elas trabalham mais tempo do que eles. A sua carga horária semanal no emprego é em média de 39 horas, ou seja, menos 2 horas do que os homens. Mas elas juntam-lhes em casa mais 16 horas de trabalho doméstico, neste caso não remunerado.
Os homens também trabalham mais 2 horas e 45 por semana, em média, para lá do seu horário de trabalho, mas neste caso é trabalho profissional remunerado.
Estes são dados de um estudo elaborado pela CGTP, com base em dados do INE e do Ministério do Trabalho, que apresentado numa conferência sobre o combate às desigualdades entre homens e mulheres, no que diz respeito ao trabalho.
Ainda segundo este documento, a taxa de actividade feminina é de 56%, menos 11,9 pontos percentuais do que a taxa de actividade masculina, que é de 67,9. As mulheres representam 47,3% da população activa e 47% do emprego total.
As mulheres representam a maioria dos trabalhadores que auferem o Salário Mínimo - 12,3 %, enquanto para os homens essa percentagem é de 5,9 %.
Nas pensões, as diferenças mantêm-se: as das mulheres recebem pouco mais de metade que os homens.
Outro dado apresentado no estudo prende-se com o trabalho por turnos, ao fim de semana e à noite: nos últimos dez anos a percentagem de mulheres a trabalhar com esse tipo de horário subiu de 30% para 40%.
Parece que nada mais se pode dizer perante estes números, que traduzem uma realidade, que por sua vez traduz DESIGUALDADE.
Até parece uma questão de desigualdade de géneros (como agora se diz), mas o que fica no ar é uma questão e que perguntarmo-nos para quem vão estas diferenças de salários? Por outras palavras, se eu conseguisse montar uma empresa só com mulheres, era capaz d ganhar mais algum…
Como tudo, tudo se resume à economia, mas cada vez mais às finanças, como é o caso abaixo.
O diploma do CDS-PP que propunha uma actualização das pensões mínimas, sociais e rurais ao nível da inflação foi ontem chumbado no Parlamento, depois de o PSD ter optado pela abstenção.
O deputado Adão e Silva, do PSD, argumentou que quando o partido chegar ao Governo “não haverá recurso a medidas que afectem as pensões mais degradas ou as reformas”.
O líder do CDS-PP, Paulo Portas, concluiu que o PSD anda por maus caminhos e avisa que “subir impostos é aumentar a recessão”.
“Defender os privilégios inaceitáveis dos gestores públicos, que têm salários injustificados  e prémios exagerados que não têm nada a ver com a gestão das empresas e os seus resultados, é indecente e vocês fizeram-no ontem. Estar aqui a permitir que pensões mínimas, sociais e rurais, de valores tão baixos fiquem congeladas, não é um bom sinal”, acusa Paulo Portas.
PCP e Bloco de Esquerda votaram a favor da proposta do CDS-PP. O Partido Socialista votou contra o descongelamento das pensões mínimas em 2012 e 2013.
Pelo andar da carruagem, PP já devia ter consciência da virtualidade da proposta, hoje e ainda mais no futuro próximo (e relativamente longínquo para os pensionistas).
Mais uma DESIGUALDADE, não de género, mas de geração…
Mulheres Protestando - Di Cavalcanti - 1941

Uma queda livre, com danos irreparáveis?

Para o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, a queda do executivo de José Sócrates não impedirá mais “austeridade” para o país
O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) afirmou hoje que a demissão do primeiro-ministro José Sócrates “provocou um clima de instabilidade que vem na pior das alturas” para Portugal.
“Para as pessoas que defendem o Estado Social, designadamente na Saúde, Segurança Social e Educação, não vejo nada de bom por um governo do PS ser substituído por um governo do PSD” sublinha Alfredo Bruto da Costa.
Antecipando o provável cenário de novas eleições, o antigo responsável pelo Conselho Económico e Social sustenta que “o PSD não é alternativa” para resolver a grave crise que o país atravessa.
“Em matéria de austeridade não irá fazer menos do que iria fazer José Sócrates, aquilo que poderá fazer diferente é em matéria de afectar o Estado Social, relativamente às garantias em matéria de Saúde, Segurança Social ou Educação, e mais na linha das liberalizações, no campo laboral, e nas privatizações” aponta ainda.
Alfredo Bruto da Costa realça que, ao traçar esta conjuntura, “não pretende defender sem restrições as politicas do PS, nos últimos anos”.
“A forma como Sócrates colocou os partidos perante o novo PEC foi politicamente desajeitada e potencialmente provocatória” critica o presidente da CNJP, para quem o país está agora à mercê de formas externas de dependência.
Uma dessas formas prende-se com a entrada em cena do FMI que, a acontecer, não seria positivo, na opinião de Bruto da Costa.
“O tempo que tive algum contacto com o FMI deixou-me a clara impressão de que a filosofia política que o FMI tinha, por trás das medidas que propunha ou impunha, eram medidas claramente numa perspectiva neoliberal, com a qual não me identifico” realça aquele responsável.
Alfredo Bruto da Costa defende que Portugal só poderá entrar numa rota de estabilidade se as próximas eleições trouxerem um Governo de maioria, seja a partir de associações entre partidos ou através de maioria absoluta. “O fundamental é saber o que é o povo português pensa dos dois partidos e ter um governo de abrangência maior do que teve este executivo” conclui.
Mais uma opinião/análise sobre o momento, de quem sabe do que fala, não só pela experiência de vida política, que nós também já temos, mas sobretudo pela visão humanista que põe e propõe nas soluções que apresenta, pensando sempre no vector social.

Ruínas ou estaleiro de reconstrução?

A imagem, anteontem, do ministro das Finanças só.
Bom dia Portugal. Hoje acordas sem Governo, sem dinheiro e sem rumo.
Mas acordas, também, sem ilusões. Sem adornos nem água tépida. Bom dia Portugal, restam-te apenas duas coisas: as contas para pagar e o futuro que escolheres.
Os portugueses andam a ser enganados há anos. Foram encandeados nas eleições de 2009 pelas néons de uma falsa prosperidade. Foram ludibriados em 2010 por um negacionismo catatónico que adiou, e nisso piorou, a austeridade que tínhamos de enfrentar. Foram divididos entre optimistas e catastrofistas até há duas semanas, quando lhes garantiam que nada mais era necessário fazer - quando o que não havia era mais nada a fazer. Apenas ganhar tempo para ser ajudado de uma outra forma.
José Sócrates foi um primeiro-ministro gigante entre 2005 e 2007. Saiu ontem, em 2011, pequenino como um anão temente pela porta do hemiciclo da Assembleia da República. Este Governo não foi um Governo, foi uma perda de tempo. Nunca devia ter sido empossado sem uma coligação, forçada que fosse. Agora desistiu. Não há culpas a distribuir, o julgamento está marcado para o local certo: para as urnas. O povo vota sempre bem - desde que não lhe mintam. E agora é impossível mentir.
O Governo não caiu, o Governo ruiu. A imagem, ontem, do ministro das Finanças só, no Parlamento, desconsiderado pela própria bancada do partido pelo qual deu o corpo nos últimos anos, prova a devastação do poder. Quando cai, é inclemente. Sobre os escombros pisará agora o Presidente da República, que determinará a solução para o "intervalo" dos próximos dois meses.
Portugal andou a contar cada dia do calendário como uma vitória contra uma doença fatal. Foi assim ao longo de meses, sempre com as probabilidades contra, sempre tentando ganhar tempo até que a União Europeia decidisse e implementasse o novo modelo de ajuda externa, que passará mais por ajudas de liquidez do que de solvência - e que deverá estar pronto no Verão. A 11 de Março demos um passo para a frente na Europa. A 11 de Março demos cem passos para trás em Portugal. Precipitámos a crise política que desagua neste desmancho de Governo.
Com esta crise política, os mercados financeiros serão tão pacientes com os portugueses como Herodes foi com as crianças. Os juros vão disparar. Os "ratings" vão cair. Não chegamos ao Verão: vamos ter de pedir ajuda já. O Estado não suporta estes juros. As empresas públicas têm dinheiro apenas para os próximos meses ou, mesmo, semanas. Os bancos estão pressionados. Pedindo ajuda já, seremos o último da desgraçada fila iniciada pela Grécia e continuada pela Irlanda.
O próximo primeiro-ministro governará com o FMI. E fará um pacto de austeridade atrás do outro. Com o PEC V teremos saudades do PEC IV. Sim, o próximo Governo não fará diferente deste porque não pode, estará pedinte e intoxicado pela austeridade. Por isso, precisa de ser um Governo de maioria. E com acordo entre os dois grandes partidos. Por isso, a campanha eleitoral não pode ser o que promete: ataques de carácter e de devastação pessoal.
Com o FMI, Portugal pagará o dinheiro caro, o sistema financeiro passará por um choque destruidor de saída de capitais, a nossa reputação ficará ao nível dos "ratings": lixo. São anos de reconstrução pela frente. É por isso que é incompreensível assistir à detonação política das duas últimas semanas. Hoje, os políticos na Cimeira europeia podem até ser compreensivos. Mas os mercados não têm alma nem calma.
Portugal caminha para o sexto Governo dos últimos dez anos. E para a terceira recessão no mesmo período. Temos muitas quedas de governos. Mas não temos queda para governos. Bom dia, Portugal. Bom dia, é hoje que tudo começa.
P.S. - O País não sabe mas devia erguer uma estátua ao soldado desconhecido. Nos últimos meses, Luís Amado,Teixeira dos Santos, Carlos Costa, Vítor Constâncio, Durão Barroso e alguns outros fizeram tudo para evitar esta desgraça. Eles não falharam. O Governo é que lhes falhou.
Pedro Santos Guerreiro, Director do Jornal de Negócios

Ecos da blogosfera – 24 Mar.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Levemos a sério, sobretudo as pessoas sérias!

Foto de Rita Rocha Photography , da manif de 12 de Março, no Porto
O bispo do Porto, Manuel Clemente, defendeu hoje que é preciso “levar a sério” as manifestações de quem luta por um futuro melhor e pediu maior capacidade mobilizadora a quem tem responsabilidades políticas.
O prelado considerou que “o sujeito da crise e o sujeito da resolução da crise é Portugal, somos todos nós, não apenas os políticos” e preconizou que os responsáveis políticos “devem ter muito presente” essa perspectiva.
“Ou nós sentimos que isto é com todos e cada um faz o que lhe compete, e os políticos fazem também aquilo que nós lhes incumbimos que façam, ou então se ficamos à espera que venha alguma salvação do grupo A, do grupo B, do político A, do político B, nunca resolveremos o problema”, observou.
Referindo-se às concentrações da “Geração à Rasca” e à manifestação do sector laboral, realizadas recentemente, o prelado afirmou que “são, antes de mais, para respeitar muito” e “levar a sério”.
Para o bispo do Porto, não se pode “relativizar” o que fizeram jovens “que vêem o seu futuro com uma grande interrogação” e as posições de “muita e muita gente que pôs problemas que são reais”.
Ainda assim, Manuel Clemente sublinhou que a esperança “nunca morre”, mas precisa de ser alimentada “com o respeito por aquilo que são as aspirações legítimas das pessoas, as suas ansiedades e das suas necessidades”.
A Caritas quintuplicou no último ano o seu apoio na área da Diocese do Porto, revelou ainda o bispo Manuel Clemente e disse “Nem consigo imaginar, nem quero, o que seria a sociedade sem a resposta [social] que a Igreja Católica lhe dá”.
Lendo esta entrevista e tendo ouvido todo o debate sobre o PEC 4, não me ficam dúvidas sobre a seriedade deste diagnóstico e desta terapia, que não pode ser omitida, para que a consciência social seja a base da atuação política, mesmo no momento que vivemos, ou sobretudo, neste momento.
Na AR, houve politiquice, ausência do social e um filme a rever…
Foto de Rita Rocha Photography , da manif de 12 de Março, no Porto