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sábado, 21 de abril de 2012

Mudar de vida? E por que não mudar de política?

Os dirigentes europeus procuram atenuar as consequências sociais da austeridade através do crescimento económico. Mas entregar dinheiro aos países do Sul da Europa, que não tem bases económicas adequadas, é ilusório, alerta um cronista sueco.
A acreditar no quadro que pintam os políticos, os novos apoios que substituem os antigos vão criar condições propícias às reformas desejadas e ao crescimento económico, nos países do Sul da Europa. No entanto, esta visão do futuro parece retomar as oportunidades perdidas de há uns anos, sem qualquer diferença. Alguém acredita que já ultrapassámos a crise da dívida europeia?
Até agora, contentámo-nos em carregar no travão a fundo e tratar os sintomas da crise. Todos apertam os cintos, voluntária ou involuntariamente. Uma vez mais, os dirigentes europeus optaram por aquilo que melhor sabem fazer: ganhar tempo.
Pretendem aproveitar a situação para promover o crescimento económico, única saída para a crise. Um crescimento que só pode ser alcançado se cada país se empenhar nele. Este credo simpático e absolutamente correto é martelado como uma fórmula recorrente pelos principais dirigentes europeus.
Mas será realista? Por vezes, fica a impressão de que a classe política tem apenas uma muito vaga ideia de como funciona realmente a economia em vários países do Leste e do Sul da Europa, e que palavras de ordem como "reformas" ou "crescimento" pouco mais lhes dizem do que falsas esperanças ou pura fantasia.
Antiga economia desmantelada
O dilema é particularmente evidente na Europa Oriental. Com o colapso do regime comunista, a antiga economia foi desmantelada. As fábricas foram fechadas ou faliram. Quase de um dia para o outro, todos os produtos foram substituídos: da pasta dentífrica à margarina, passando pelos pensos higiénicos, frigoríficos, sofás e automóveis. Para os consumidores dos países do Leste, foi uma verdadeira bênção.
Em menos tempo do que leva a dizer, passaram da penúria para a abundância. Com um único problema: no Leste, não havia dinheiro para comprar os produtos ocidentais. Os habitantes desses países receberam, pois, empréstimos generosos dos novos bancos comerciais, filiais dos do Ocidente. O resultado são economias que, ainda hoje, produzem geralmente pouco e assentam unicamente na base precária do endividamento.
Grande parte do Sul da Europa está numa situação semelhante. Fraca produção, exportação insignificante, alto endividamento. Aí, a introdução do euro teve, paradoxalmente, efeitos semelhantes aos da queda do Muro. Pela primeira vez, esses países tiveram acesso a créditos financeiros "reais", ainda por cima baratos, como se o Peloponeso ou a Extremadura se localizassem na Renânia ou fossem vizinhos da Baviera.
Esse tipo de oportunidade só surge uma vez na vida. Durante cerca de 10 anos, uma enxurrada de créditos atingiu o Sul da Europa. Esse dinheiro serviria para ajudar a criar as bases de um crescimento económico autossustentável – se tivesse sido investido em infraestruturas, na restruturação do Estado, no saneamento de faixas inteiras da atividade económica ou na educação. Em vez disso, foi atirado à rua.
Solução é tomar consciência do que é essencial
Hoje, quando novos apoios se preparam para substituir os antigos, dizem que vão servir para criar as condições necessárias para as reformas previstas e para o crescimento económico no Sul da Europa. Ora essa oportunidade já foi dada antes e foi desperdiçada. A visão de futuro que nos traçam os dirigentes europeus assemelha-se rigorosamente às oportunidades perdidas de há uns anos.
Os homens criam muito mais problemas do que soluções. Olof Palme dizia que resolver um problema – logo, a função da política – era uma questão de vontade. Para Karl Marx, a solução é tomar consciência do que é essencial. Muito bem. Qualquer dessas abordagens mal não faz. Mas foi, sem dúvida, Bismarck o mais perspicaz, quando defendeu que a política é a "arte do possível", devendo por isso procurar as soluções de entre o que é materialmente possível fazer. Qualquer economista ou político medíocre é capaz de arranjar uma receita miraculosa para os problemas económicos da Grécia, mas que terá tão pouca probabilidade de ser aceite como de arranjarmos quem nos sirva um café turco em Atenas.
A questão está em saber de que irá viver uma série de países europeus no futuro, no contexto atual de globalização. Ninguém parece ter uma resposta. Tudo o que se sabe é que vai ser preciso mudar radicalmente de estilo de vida. E que a China, muito mais do que a Alemanha, se encarregará disso.
Visto da Alemanha - Hesitações de Berlim atraem especuladores
A crise está de volta à Alemanha, pelo menos nos jornais. Primeiro, porque o Financial Times revelou que um guru da finança americana, o especialista John Paulson, aposta contra a Alemanha, ao dizer que, muito brevemente, a crise terá uma tal amplitude que fará com que Berlim perca a sua notação de triplo A; depois porque, com a sua forte previsão de 2% de crescimento para 2013 e um mercado de trabalho dinâmico, o Governo deve, uma vez mais, perguntar-se até onde está disposto a ir para prestar ajuda aos países mais frágeis da zona euro. O que faz com que o Süddeutsche Zeitung escreva:
É justamente esta dicotomia – as grandes economias como a França, a Espanha e a Itália de um lado, e o peso pesado alemão de outro – que representa o problema fundamental do clube do euro: como pode uma união monetária funcionar a longo prazo se as economias se afastam cada vez mais umas das outras? É esta a questão que se põe desde o início e para a qual os Estados ainda não encontraram resposta. Porque essa resposta está ligada a um sim ou a um não à União de transferência: os países fortes devem ajudar de forma permanente os fracos para impedir que as diferenças sejam demasiado grandes e que a comunidade se desintegre? A permanência da Grécia e de Portugal no clube, mas também a da Espanha, depende da resposta a esta pergunta. […] É preciso tomar posições claras. Compromissos arbitrários como o pacto Euro Plus ou os frágeis pacotes para o emprego não podem ser bem-sucedidos.

Contramaré… 21 abr.

O candidato socialista às presidenciais francesas do próximo domingo aumentou a sua vantagem face ao recandidato Nicolas Sarkozy, segundo uma sondagem Ipsos Logica, realizada entre os dias 18 e 19. O socialista François Hollande obtém 29% dos votos, contra 25,5% de Sarkozy (UMP).
Num eventual segundo turno, Hollande seria o escolhido para o Palácio do Eliseu, com 56% dos votos do eleitorado.

Nem tudo é cor de rosa… São mais os espinhos!

Centenas de jovens, a maior parte licenciados, estão a deixar Portugal e Espanha. A Europa não precisa deles, enquanto a África e a América do Sul os recebe de braços abertos.
Ana Ferreira está otimista. Tem 26 anos, veio dos Açores e vive em África quase há 4 anos, primeiro, em Angola, agora em Moçambique. Contrariamente ao que seria de esperar, não é voluntária, mas sim uma funcionária paga do departamento de recursos humanos de uma empresa.
“Quando olho para os meus amigos que estão em Portugal, a viverem de bolsas de estudo, de empregos de curto prazo, a fazerem sucessivas licenciaturas e cursos de pós-graduação, penso que estão completamente desligados da vida real. Vivo em Maputo, onde estou bem e a avançar na minha carreira. Porque haveria de voltar?”
Gonçalo Jorge tem 28 anos e trabalha em marketing, em Lisboa. Não luta por emprego mas sim contra a frustração. Depois de se licenciar arranjou emprego numa companhia de transportes públicos. “Queria fazer grandes coisas, mas o que me esperava era uma sinecura”, diz. Quando finalmente encontrou uma vaga interessante numa empresa privada ofereceram-lhe um contrato de trabalho de um ano, e esse era o problema. Por isso, mudou-se para Angola onde agora é o responsável por uma marca de vinhos portugueses. É o responsável máximo da empresa em Angola e ganha 4 vezes mais do que ganhava em Portugal.
Portugal já perdeu 1 em cada 10 licenciados. O êxodo começou há alguns anos porque a crise e a grande taxa de desemprego atingiram o país muito antes de chegarem ao resto da Europa. Atualmente, Portugal tem 35% de jovens desempregados e a Espanha 50%. Se não fosse a emigração, estas taxas seriam ainda mais altas.
Bem-vindos ao Novo Mundo
Os que se tornaram obsoletos na Europa – engenheiros, arquitetos, operários da construção civil – são recebidos de braços abertos em África e na América do Sul. O Brasil está a preparar-se a todo o vapor para o Campeonato do Mundo de Futebol de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016. Estão a ser contratados engenheiros e arquitetos em grande escala, até mesmo para o setor da energia onde há projetos que rondam os 200 mil milhões de dólares. No ano passado, a economia do Brasil cresceu quase 3%. A Argentina cresceu 8% e tem uma taxa de desemprego de 7%, 3 vezes mais baixa do que a da Espanha.
Rica em petróleo, diamantes e outros recursos naturais, Angola é, hoje em dia, um dos países do mundo em mais rápido crescimento. Ali, o crescimento anual do PIB atinge os 15% e há 3.000 empresas portuguesas a operarem naquele país africano, construindo estradas, pontes, arranha-céus, linhas de caminho-de-ferro, condutas de petróleo. O país, assolado durante 30 anos por uma guerra civil que acabou apenas há uma década, tem falta de especialistas enquanto Portugal tem excesso de mão-de-obra qualificada.
“Desde há alguns anos que, nos jornais portugueses, há anúncios de oferta de empregos em Angola”, diz Pedro Góis, professor de sociologia das migrações na Universidade de Coimbra. “Há sobretudo dois grupos que estão a ir-se embora: pessoas mais velhas que querem poupar dinheiro e jovens, que procuram desenvolver-se profissionalmente e que querem divertir-se.”
Apetite pela vida
Se os portugueses se sentem em casa em Angola, adaptarem-se à vida no Brasil é ainda mais fácil. Segundo o Observatório da Imigração de Lisboa há, atualmente, cerca de 700.000 emigrantes portugueses a viverem e a trabalhar no Brasil.
Em Espanha, que nos últimos 10 anos recebeu cerca de 5.000.000 de imigrantes da América do Sul, da África e da Ásia, a emigração espanhola para as antigas colónias da América do Sul é um assunto tão recente que há ainda poucos especialistas preparados para o discutir. Mas os números falam por si: segundo alguns consultores espanhóis na Argentina, há cerca de 1.200 cidadãos espanhóis que se instalam naquele país todos os meses.
“O emigrante típico é um homem entre os 25 e os 35 anos, quase sempre engenheiro, arquiteto ou especialista em tecnologias de informação”, diz Marta López-Tappero, especialista em mobilidade internacional da Adecco. “Em resumo, homens jovens que querem novas experiências e desafios.”
Nas antigas colónias a barreira da língua não existe e a adaptação cultural é fácil. Especialmente em Buenos Aires. Na viragem do século XIX para o século XX, cerca de 2.000.000 de espanhóis chegaram à Argentina na 3ª classe dos barcos que faziam a ligação entre os dois países, vinham sobretudo da Galiza, a região mais pobre e agrícola do país, e é por isso que, ainda hoje, os espanhóis são conhecidos por gallegos [galegos] na Argentina. Na segunda metade do século XX, primeiro, por causa da ditadura e, depois, por causa da crise económica da década de 1990, foi a vez de os argentinos virem para a Europa. Agora, a tendência voltou a inverter-se.
“Invasão europeia”, “novo Eldorado”, “expedição em busca de emoção” – são conceitos familiares e devem soar preocupantes aos ouvidos europeus. “Não, não há razões para se falar de uma nova colonização”, afirma Pedro Góis. “Estamos, sim, a assistir ao nascimento de uma nova classe de migrantes que nunca se estabelecem permanentemente em lado nenhum. Mais cedo ou mais tarde, voltarão ao país de origem ou irão estabelecer-se noutro país qualquer onde as ofertas de trabalho sejam melhores.”
Mas talvez esta inversão de tendência da migração seja um efeito de mudanças mais profundas que estão a ter lugar no mundo. O equilíbrio de poder entre o Ocidente e o resto do mundo ou, se se preferir, entre o Norte e o Sul, está a mudar.
Comentário - Estigma do desemprego
A crise afeta todos na Europa, mas os jovens têm sido os mais atingidos, aponta o semanário polaco Tygodnik Powszechny. E não só na Grécia, Espanha ou Portugal, mas também na Polónia, onde a taxa de desemprego de menores de 24 anos se aproxima dos 30%, bem como na Eslováquia, com 35%. E isso vai ter efeitos a longo prazo, adverte o jornal:
O desemprego é doloroso para toda a gente. Mas, para jovens licenciados, que durante anos alimentaram expectativas sobre a vida e sobre si mesmos, pode ser um choque. Os estudos demonstram que o desemprego prolongado na juventude resulta em fraca autoconfiança mais tarde. Chamam a isso a ‘cicatriz’ ou 'estigma' do desemprego. Assim, quando a Europa finalmente sacudir a crise, o futuro destes jovens vai continuar a ser problemático.

Ecos da blogosfera - 20 abr.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A LIBERDADE de ficar pobre após trabalhar uma vida!

Pedro Mota Soares, reafirma a intenção de levar por diante a medida prevista no programa de governo onde se prevê o estudo de alteração que, garantindo "a base pública essencial do sistema", desse "alguma liberdade de escolha, sobretudo, às novas gerações".
O Governo aponta para uma solução que passe pela possibilidade de introduzir o plafonamento das pensões, isto é, a possibilidade de os contribuintes poderem optar, acima de determinado montante, entre manter os descontos para o sistema público ou desviá-los para o sistema privado.
‘Et voilà’, aí está a batalha ideológica pela qual muitos ansiavam: deve a Segurança Social pública constituir o pilar único do sistema de pensões dos cidadãos portugueses? Devem os cidadãos poder optar por um sistema misto, complementando pensões públicas com outras de cariz privado, ou não?
A resposta é complexa e depende crucialmente da visão que se possa ter sobre o tipo de Estado social pretendido pelos portugueses. E, assim sendo, como as opiniões divergem e nem sempre são devidamente captadas pelo poder político, o Estado Social pode ser muitas coisas. Esta é, em suma, a discussão abstracta sobre o tema. Sobra ainda a discussão pragmática, não menos importante nesta conjuntura de aperto orçamental, nomeadamente o impacto material que a introdução de um sistema misto teria na sustentabilidade imediata da Segurança Social pública.
Começando pela visão filosófica, eu entendo o Estado Social como "um Estado garantia, na medida em que lhe compete garantir um mínimo de liberdade de escolha a todos os cidadãos" (Fernando Adão da Fonseca, publicado na "Nova Cidadania" em 2005). Neste sentido, a rejeição de um sistema misto e a rejeição da fixação de tectos máximos nas reformas a pagar pelo Estado parecem-me um duplo atentado à tal liberdade de escolha do indivíduo: restringindo a sua liberdade no planeamento da sua reforma e abrindo caminho ao crescimento ilimitado dos impostos e das contribuições sociais. Sobretudo quando em Portugal, por via da existência de diversos regimes de Segurança Social, mormente na função pública, se permitiu a acumulação de reformas que, não tendo sido consolidadas num único regime geral, depois conduzem a situações injustificadas de reformas acumuladas. E que, entre outros factores, contribuem para a enorme divergência entre a reforma média paga aos funcionários do Estado (na Caixa Geral de Aposentações, cerca de 1250 euros) e a reforma média recebida pelos beneficiários do regime geral (cerca de 400 euros, um cálculo do economista Eugénio Rosa, a partir de dados da Segurança Social). Assim, há que travar os excessos; o plafonamento das reformas, para além da questão filosófica que envolve, poderia também servir esse fim.
Há, contudo, um conjunto de dificuldades no imediato. Primeiro, a demografia. A este respeito, atente-se na delicada situação da Caixa Geral de Aposentações: neste regime, o número de pensionistas está hoje muito próximo do número de contribuintes! E no regime geral, embora ainda distante dessa paridade, para lá caminha. Segundo, a receita que se perderia no imediato e que apenas seria compensada com a respectiva diminuição da despesa daqui a alguns anos. Esta descompensação, num sistema de ‘pay as you go' como o nosso - em que são os contribuintes activos que pagam as pensões dos beneficiários, isto é, em que os descontos outrora feitos pelos beneficiários não chegam para financiar as pensões actuais - provavelmente provocaria o recurso mais ou menos urgente ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social. Ora, é precisamente este fundo, uma espécie de almofada financeira, que garante a sustentabilidade do sistema público durante, pelo menos, a próxima década; o tempo necessário para o País se endireitar.
Ricardo Arroja, Economista
O ministro Mota Soares não é um rebelde sem causa. É um easy ryder com uma causa muito definida. Chegou de mota ao Governo, como se fosse Jack Nicholson em "Easy Ryder", tentando descobrir a liberdade para todos os cidadãos através das estradas municipais da Segurança Social.
Mota Soares vê, como Dom Quixote, gigantes onde estão moinhos. E por isso quer mudar para sempre o universo da segurança social. Dinamitando os princípios sagrados do capitalismo: a fé e a confiança. Ninguém duvida que com o desmoronamento do Estado social criado após a II Guerra Mundial, e que surgiu muito mitigado em Portugal, todo o regime de segurança social necessita de cuidados especiais. Mas, quando se agita o espantalho de que dentro de 30 anos não há dinheiro e que por isso é necessário avançar para o plafonamento, nota-se falta de bom senso. Uma das poucas medidas correctas do governo Sócrates, a reforma do regime de pensões em 2007, foi um passo sensato. Fazer implodir todo o sistema, como pretende Mota Soares, é absurdo. Porque, neste momento, investimentos em sistemas privados é um tiro no escuro. Como mostraram, nos EUA, as apostas em acções e no imobiliário.
Depois, o Estado não pode continuar a ser um saqueador fiscal e ainda pedir aos cidadãos para descontarem para outro sistema. O próprio argumento é uma melancia: por dentro tem uma cor diferente. Porque não se preocupa então o Estado por, daqui a 30 anos, ainda estar a pagar fortunas com as PPP? Não seria melhor utilizar os seus recursos com os cidadãos? É neste momento que Mota Soares um easy ryder. A liberdade de escolha esconde um poço sem fundo.
Fernando Sobral

Contramaré… 20 abr.

“Aquilo que se tem verificado agora – é a primeira vez que acontece – é o senhor candidato do partido tal, o senhor candidato do partido X, o senhor candidato do partido Y, etc, o que significa uma espécie de partidarização do Tribunal Constitucional, transformando-o numa espécie de câmara representativa dos partidos. Não é assim.”, afirmou.

Assistiremos à disputa entre uma águia e uma galinha?

O Fundo Monetário Internacional, que acaba de alertar a Europa para o risco de uma nova crise, faz parte da troika encarregada de ajudar os países em dificuldade. Mas há um ano que o salvador se manifesta menos conciliador, sob a presidência da francesa Christine Lagarde.
No Natal, a diretora do FMI, Christine Lagarde, ofereceu uma joia da Hermès à chanceler alemã. Angela Merkel também lhe tinha dado um presentinho: um CD de Beethoven tocado pela Orquestra Filarmónica de Berlim.
No entanto, o relacionamento pessoal entre as duas mulheres passa presentemente por uma dura prova, quando o FMI, após 2 anos de intenso envolvimento na luta pela contenção da crise na Europa, começa a expressar o seu descontentamento. Resta saber se a China, o Canadá e o Brasil o vão seguir.
O FMI de há um ano era muito diferente do FMI de hoje. Para Dominique Strauss-Kahn, o papel de "salvador do euro" surgia como uma benesse: ambicionava tornar-se Presidente da França. Com Christine Lagarde, o FMI tornou-se "um parceiro menos estável", segundo um funcionário europeu.
Um parceiro de segundo plano
A diferença de personalidades entre o economista e político "DSK" – que se demitiu em maio de 2011, na sequência de uma acusação de violação – e a advogada e executiva Christine Lagarde, que lhe sucedeu, só parcialmente explica essa mudança de rumo.
Acima de tudo, o FMI tem cada vez mais dificuldade em lidar com o papel que lhe atribuem na "troika", formada com o BCE e a Comissão Europeia. Habituado a agir de forma independente, tornou-se "um parceiro de segundo plano” na zona euro.
Os europeus da troika são muito rigorosos: o seu principal comandante é a Alemanha. Em caso de divergência de opinião, o FMI é, por vezes, o único membro a votar a favor dos gregos.
"O FMI nunca se viu em tal situação", considera Charles Wyplosz, do Instituto de Altos Estudos Internacionais e do Desenvolvimento, de Genebra. "O FMI mergulhou num banho de política."
Já com Dominique Strauss-Kahn, os países não-europeus protestavam contra este fenómeno. Os críticos também se expressavam, internamente. Mas o número dois do FMI, o norte-americano John Lipsky, não tinha peso, perante o seu inspirado superior.
Quanto ao diretor do Departamento Europeu, António Borges, ex-vice-governador do Banco de Portugal, nunca contradisse o patrão. Um português que tratava de Portugal – também isso foi decidido por Dominique Strauss-Kahn.
Strauss-Kahn decidia tudo. Convocava os chefes de Estado, participava nas cimeiras europeias. Tinha grande influência sobre a chanceler alemã. Acabava de entrar num avião para Berlim, quando foi detido. Angela Merkel ficou em choque. "Isto é grave", disse ela quando ouviu a acusação, "mas preciso dele!".
Logo após a saída de Strauss-Kahn, Lipsky também deixou o FMI. O seu sucessor, David Lipton, é, segundo Charles Wyplosz, "muito poderoso. Trabalha sob instruções de Clinton e Obama. Encarna a Casa Branca. Lipton considera que as medidas tomadas pelos europeus para a crise são inúteis".
Duas escolas de pensamento opostas
Em novembro, Christine Lagarde demitiu António Borges. O seu substituto, o anglo-iraniano Reza Moghadam, é um homem competente, mas não tem ligações com a zona euro. A direção do FMI tende cada vez mais a privilegiar as posições anglo-saxónicas, em detrimento das europeias.
Os britânicos e norte-americanos reforçam o seu controlo sobre uma crise que tem duas escolas de pensamento opostas a combatê-la: de um lado, estão os defensores do rigor orçamental e, do outro, os que estão convencidos de que uma tal abordagem representa um perigo para a economia. Angela Merkel pertence ao primeiro grupo, Christine Lagarde ao segundo.
Christine Lagarde enviou uma equipa do FMI a Itália, fora do quadro da troika. Quer que os bancos europeus atraiam mais capital. Pretende a criação de um gigante corta-fogo. E os eurobonds, as obrigações europeias. O que suscita irritações na Europa.
Quando era ministra da Economia e Finanças da França, Christine Lagarde defendia já um fundo de apoio poderoso e obrigações europeias. Nessa época, Angela Merkel conseguiu pôr a questão de lado. Agora não: a Europa pretende obter fundos do FMI.
Recentemente, estas correntes vieram à tona num discurso de Christine Lagarde, proferido em Berlim. Tinha jantado com Angela Merkel, a quem tinha levado uma vela perfumada com flor de laranja, simbolizando "a esperança", como explicou mais tarde, "porque temos tido debates difíceis". Nessa noite, Angela Merkel teve acesso prévio ao discurso de Christine Lagarde: um longo acerto de contas em relação à política europeia da Alemanha.
Projeções - FMI lança aviso aos dirigentes europeus
"FMI alerta: o euro pode acabar", diz a manchete do i, após a divulgação, em 17 de abril, do relatório do FMI sobre as perspetivas económicas mundiais, no qual o Fundo Monetário Internacional apresenta uma série de recomendações aos dirigentes da UE, entre as quais "mais cortes na taxa de juro por parte do Banco Central Europeu, menos austeridade e criação de eurobonds". Contudo, este diário de Lisboa refere que
o colapso do euro não é o cenário central do FMI – que prevê que a economia mundial cresça 3,5% este ano e 4,1% no próximo –, mas da leitura do documento e das palavras do economista-chefe da instituição percebe-se que, para o Fundo, o risco europeu é grande. (...) A tensão extrema na zona euro poderia ter consequências superiores ao colapso do banco Lehman Brothers, em 2008. O significado da moeda única – a maior região económica do globo – e a ausência de progressos ousados na resolução da crise começam a tornar mais evidentes os recados do FMI para a Europa, sobretudo a influente liderança da chanceler Angela Merkel.
Segundo um historiador de economia citado pelo i, a mensagem é esta:
O FMI e os Estados Unidos estão a perder cada vez mais a paciência com a Europa – a divergência não é tanto sobre a forma como sair da crise, mas com o facto de o Governo alemão estar preso a um certo atavismo e ao que o seu eleitorado diz que quer.
Além da criação de euro-obrigações, o FMI "quer também que o BCE continue a emprestar [dinheiro] aos bancos europeus".

Ecos da blogosfera - 19 abr.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Já dizia Frei Tomás: Ouçam-nos, mas olhem para trás!

O governador do BdP, Carlos Costa, disse que “precisamos de crescimento, por via da inovação e da criação de novos empregos, e de uma política de coesão para limitar os efeitos da heterogeneidade”, afirmou, argumentando que “o grande desafio da UE é reconquistar o processo de crescimento dos anos de 1960 e 1970”.
O economista defendeu ainda que não é o sistema social europeu que está em falência, mas o crescimento da Europa, que não é suficiente para o sustentar porque “a Europa perdeu o comboio da inovação”.
A Comissão Europeia apresenta um pacote de medidas para estimular a criação de postos de trabalho na UE, assim como propostas concretas no mesmo domínio específicas para a Grécia.
Segundo a Comissão, as medidas devem ser adoptadas ao longo de 2012, revertendo a tendência negativa dos últimos anos, ou, como indica Bruxelas, passar de “um ciclo vicioso para um ciclo virtuoso”.
A Comissão lembra que, com 23.000.000 de pessoas desempregadas actualmente na Europa e previsões de aumento da taxa de desemprego na maioria dos Estados-membros, é necessária uma acção concreta.
A Comissão Europeia vai propor a introdução de um salário mínimo em países onde este não existe, como a Alemanha, a Áustria, a Itália e alguns países escandinavos, sugerindo mesmo que estes sejam diferenciados por sector. Em que medida e termos, Bruxelas não especifica. Mas, para já, não fica claro se a proposta apoiará aumentos em Portugal.
A nota da Comissão sublinha que “o risco de pobreza no trabalho é elevado”, referindo-se “particularmente a países com distribuição de rendimento desigual e salários mínimos baixos”. Nestes casos estão em causa “as pessoas com contratos temporários e com baixa intensidade de trabalho e as famílias monoparentais”.
O documento intitulado “Rumo a uma Recuperação Rica em Empregos” propõe ainda a “fixação de salários mínimos, para evitar uma corrida destrutiva do custo do trabalho”, considerando que estes constituem um “factor importante para garantir a qualidade do trabalho decente".
Finalmente começa-se A FALAR em emprego e em medidas para limitar as diferenças entre países membros, mas pelo que se depreende, devagar, devagarinho, para não se chegar a lado nenhum e manter tudo como dantes…
E perante a afirmação de que não é o SISTEMA SOCIAL EUROPEU que está em falência, mas o crescimento da Europa, que não é suficiente para o sustentar, temos que nos lembrar de todas as medidas castradoras de direitos e diminuição de salários nos países em dificuldades que tem potenciado a rutura do Estado “Social”, medidas impostas pelos pares do governador do BdP, na tentativa de provarem a quadratura do círculo.
E parecendo ser uma resposta a Carlos Costa, a CE anuncia, PELA ENÉSIMA VEZ, um pacote para resolver de vez o problema do desemprego, problema prioritário e que conhecem há muito tempo, mas que nos leva a desconfiar da virtuosidade das intenções, depois de tanto pecado cometido e que continuará seguramente, só porque o presidente da CE é o palavroso e constantemente desautorizado Durão Barroso, que nem sequer deu conta do seu pequenino país…
Parece mais do que verosímil que a introdução de um Salário Mínimo Nacional nos países que o não tem se traduzirá no abaixamento dos salários nesses países, concretamente na Alemanha, na Áustria, na Itália e nos países escandinavos que não o tem, apesar de a filosofia de base ser o risco de pobreza no trabalho que é elevado, que se “traduzirmos” quer dizer que não basta trabalhar para sobreviver e muito menos para sair da pobreza.
E de repente, vemos a CE preocupada com a distribuição de rendimento desigual e salários mínimos baixos em países da União e com os trabalhadores com contratos temporários, com baixa intensidade de trabalho e com as famílias monoparentais. De repente, até parece que estamos a ouvir Bento XVI…
Mas depressa voltamos à realidade tecnocrata, quando se diz, sem provar (como sempre) que a fixação de Salários Mínimos evitarão a destruição do custo do trabalho e garantir a qualidade do trabalho decente, quando “se está mesmo a ver”, que é exatamente o contrário.
Se as intenções fossem mesmo bondosas, não seria a imposição de Salários Mínimos, mas a introdução de um Salário Médio, igual em todos os países-membro, os mesmos dias de trabalho e de férias, os mesmos impostos, as mesmas regalias sociais, a mesma liberdade de produção em todos os setores, sem restrições e em concorrência, as mesmas variantes da soberania nacional, mais a solidariedade interpaíses… Tudo o mais são tretas e armadilhas que vão contra a ética na política e a moral no social.
Mas continuemos a esperar, com a mesma esperança com que vivemos até agora e colhendo os mesmos “frutos”, que tem sido só adubo orgânico…

Reflexão do Relvas… 19 abr.

Nota Prévia – Esta rubrica não tem tido a fluência que prevíamos, com algumas interrupções, cada vez mais prolongadas, por falta de declarações sábias e reflexões profundas, que motivam todos os portugueses para o holocausto e a continuar este silêncio (sabe-se lá porquê) poderá por em perigo o sucesso da rubrica e da estabilidade social. Não calem o ministro!
Miguel Relvas disse que “a inovação, o fomento do empreendedorismo e uma maior internacionalização” da economia são prioritários para o Governo, “a par do cumprimento integral” do programa de ajuda externa e que o Governo quer que “Portugal se transforme num país de empresas com elevado potencial de crescimento e internacionalização”, sobretudo no que se refere às PMEs.
Para o ministro, que citou algumas medidas do Executivo que visam promover o emprego jovem, “é fundamental aproximar definitivamente as universidades e a comunidade empresarial”, que pode ser feita através do “estímulo à produção de propriedade intelectual” e da “introdução no plano curricular e extra-curricular de métodos de ensino transversais a todas as disciplinas que promovam a criatividade e o empreendedorismo”.
O governante afirmou ainda que o país “nunca teve uma geração tão bem preparada para enfrentar os complexos desafios do futuro”, acrescentando que a crise atual é também “uma oportunidade única para emendar vícios e corrigir erros que se prolongaram durante demasiado tempo”.

Contramaré… 19 abr.

O governo e as províncias produtoras de petróleo responsabilizam a empresa por não cumprir compromissos de investimento e dizem que isso obriga o país a importar grandes volumes de hidrocarbonetos. Umas das críticas é que a Repsol-YPF "reduziu em 30%-35% a sua produção de petróleo nos últimos anos e mais de 40% a de gás", o que forçou a Argentina a aumentar em mais de 6.855 milhões de euros as importações de hidrocarbonetos.

E o (novato) Proença não sabia o que todos sabiam?

"Deixo um aviso claro ao Governo e aos empregadores: ou respeitam na íntegra o acordo tripartido ou a UGT denuncia o acordo", declarou João Proença no final de uma reunião do secretariado nacional da UGT, com queixas particulares pelo facto de o Governo não ter activado o “Compromisso para a Competitividade, Crescimento e Emprego” no que respeita às portarias de extensão - ainda por publicar - e dinamização da contratação coletiva.
Por outro lado, João Proença deixa acusações ao Executivo Passos de tardar em avançar com medidas que promovam o crescimento económico e emprego: "O desemprego aumentou num ano cerca de 20% mas parece que a única preocupação do Governo é a desregulação laboral e a redução das prestações sociais".
É no seguimento destas críticas que a UGT vai pedir uma reunião ao primeiro-ministro. Na pasta, o secretário-geral João Proença deverá levar um ultimato para o cumprimento dos acordos de concertação.
Sinceramente!
Como é que um sindicalista, com mais anos de exercício do que de idade tem alguns ministros deste governo é levado de paleio e encantado de mansinho por cantos de sereia, que ele sabe e nós também, que não existem?
Quem assim defende os trabalhadores, não faz outro papel do que faz um governo que é eleito para defender os seus concidadãos e os pune a posteriori, com as mesmas desculpas esfarrapadas “do mal, o menos”…
E o que acrescenta a notícia, lembrando as análises de outro sindicalista, todos nós sabíamos, inclusive João Proença. Mas como o arrependimento é um primeiro passo para a conversão, que essa não demore e o leve a engrossar a oposição a este desvario, em defesa dos fracos e com a força dos que fazem o dinheiro… E que Deus lhe perdoe, mais os trabalhadores que representa!
Decepção da UGT três meses depois
A 17 de Janeiro último, a UGT assinava o acordo de Concertação Social, que o ministro Álvaro Santos Pereira apelidou de acordo "para a competitividade, crescimento e emprego", já depois de a CGTP ter abandonado as negociações com o Governo e os Patrões.

Ecos da blogosfera - 18 abr.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Porque hoje é o Dia dos Monumentos e Sítios! Cultura!

Hoje - 17- 4 -2012 - no Público alguns ex-ministros da cultura do PS tomam uma série de posições sobre o actual Grau Zero da Cultura, como afirma Manuel Maria Carrilho. Toma-se aqui cultura na sua acepção restrita, ou seja, no sentido dos consumos de actividades culturais e artísticas e não referindo, por exemplo  a cultura dos aborígenes, ou os conflitos ou interacções multi ou inter-culturais entre os europeus e os emigrantes provenientes de diversas outras "culturas" ou ainda entre as diversas culturas do mundo - duas acepções muito diversas do termo portanto. Pude afirmar em tempos que quando se fala (ou falava) de cultura em Portugal falava-se das políticas públicas para a cultura,  ou seja, de orçamentos, de dinheiro e, não propriamente, de arte. Esta distinção separa as práticas individuais ou colectivas - as artes - da forma como o poder político encara e financia (ou subfinancia) as artes a cargo do Estado.
Radica nesta diferença uma eventual explicação para a perplexidade que Isabel Pires de Lima expressa em relação ao actual silêncio dos agentes culturais no espaço público.
Segundo a ex-ministra hoje "não há abaixo-assinados, vigílias, nem sequer virulentos artigos de opinião".  Tem sido, de facto, prática recorrente durante os governos do Partido Socialista um grau de mobilização por parte de grupos de artistas, sobretudo na área do teatro, da dança e do cinema - mais do que na música, é certo - de contestação feroz de cada vez que os subsídios do estado são reduzidos, uma tendência forte na maior parte dos países da Europa, e em alguns outros casos. Os media escritos gostam de ocupar as suas páginas com essas problemáticas, com as divergências face a nomeações para teatros, com as substituições de directores de Fundações, ou de directores artísticos etc.
Este tipo de temática - o exercício do poder na área cultural - e o seu debate público surge portanto e fundamentalmente face à ocupação de cargos de poder nas instituições culturais e à distribuição de subsídios do estado às várias expressões artísticas dependentes em larga medida do apoio do Estado.
Tendo reduzido o orçamento de forma brutal, tendo desqualificado simbolicamente a cultura com a passagem para secretaria de Estado, o actual governo procede nesta área às políticas semelhantes a outras que envolvem a acção do Estado, aplicando a vulgata neoliberal conhecida: “reduzir a acção do Estado ao mínimo sempre que possível”.
Desta política resulta, por um lado, uma desmoralização geral das populações e, por outro lado, uma desmoralização específica nas áreas das actividades culturais e artísticas. Estando a política cultural do Estado reduzida a um grau zero simbólico, o desaparecimento da contestação no espaço público, sendo surpreendente à primeira vista, na verdade corresponde a um redobrar sobre si-mesmo sempre latente nessas práticas. A aparente capacidade de intervenção pública contestatária desaparece - não há lugares para distribuir, não há subsídios para atribuir - porque surge uma espécie de efeito darwinista de sobrevivência individual que cala os contestatários habituais e, eventualmente, é reduzido o seu espaço público de intervenção. Penso que este segundo aspecto, a verificar-se, é totalmente secundário em relação ao primeiro. É o próprio colectivo - colectivo de interesses comuns mas temporários - que se desagrega, enquanto colectivo, para assumir a tentativa de soluções individuais, sempre latente entre os artistas.
A nossa "arte" - seja qual for - é um produto de acção individual, de projecto individual, de ambição solitária e, por vezes, bem pouco solidária. Nunca houve, apesar das aparências reunidas em torno da ideia simples de que "a arte é importante para a vida das pessoas", grande acordo muito para além deste postulado elementar. A tribalização das artes, a pulverização em múltiplas tendências e o resultado da ideologia pós-moderna individualista, construída passo a passo desde os anos 1980 - os anos de Cavaco aqui, de Thatcher ali, etc. - concluiu o "salve-se quem puder" actual que, por sua vez, produz o silêncio. Se o partido socialista regressar ao poder - como se vislumbra a possibilidade em França - e se poderá verificar daqui por alguns anos em Portugal, iremos reencontrar os manifestos, os abaixo-assinados actualmente sem assinaturas, os combates pelas direcções das instituições. A consciência, talvez lúcida, deste processo, impede-me, tanto de ter participado nas contestações ou nas vigílias, aparentemente "colectivas", anteriormente habituais, como de me remeter a um silêncio individual agora. Na verdade a minha participação tem sido dispensável nesses colectivos. As preocupações que exprimo não são as mesmas dos colectivos, diferem mesmo em certos aspectos fundamentais. A sua eventual heterodoxia produz o meu isolamento tanto antes como agora. "Who cares?" Assim sendo, compreendo o apelo à sociedade civil de Carrilho embora tenha dúvidas - está bem de ver - sobre a sua eficácia.

Mais um nó da rede que nos enreda?

Recebi por mail este vídeo, de cujo protagonista ainda não tinha ouvido falar, mas depois de o ouvir, e pondo de parte qualquer “publicidade” aos métodos preventivos de doenças, conclui-se que a análise política que faz do poderio alemão, desde o século passado até ao presente, não deve andar muito longe da verdade e que a visão que nos relata da crise atual que nos consome é muito coincidente com as crenças que nos assomam ao querermos entender a irracionalidade das soluções que nos são apresentadas e impostas.
São 18 minutos que não cansam, apenas com o contra de ter legendas em castelhano. OUÇA e PENSE, por si!
Dr. Matthias Rath
O evento realizou-se no passado 13 de março, em Berlim, o Dr. Matthias Rath apela ao povo alemão e europeu a assumir a sua responsabilidade.
O Dr. Matthias Rath faz um apelo conjunto para construir uma Europa democrática para o povo e pelo povo - formando um novo mundo orientado para a atenção da saúde, a prevenção e eliminação das doenças.
Resultados de investigações científicas já disponíveis, estão baseados em remédios naturais, que demonstram que muitas doenças crónicas podem ser reversíveis do seu estado atual.
Mas este impressionante mundo "sem doenças" - não nos é dado - já que cada uma dessas doenças dá milhares de milhões de dólares ao mercado da indústria farmacêutica. Se queremos criar um mundo sem doença para nós e para os nossos filhos: devemo-nos comprometer AGORA!

O Dr. Matthias Rath, médico-cientista pioneiro no campo da prevenção das doenças cardiovasculares, junto com Linus Pauling, e criador da Medicina Celular, é quem hoje catalisa e lidera o movimento mais importante em prol do Novo Mundo de Paz, Saúde e Justiça Social. Por isso, as suas palavras não poderiam ficar silenciadas e que elas sejam um incentivo para que nos mantenhamos informados e unidos, através da sua Fundação, de modo a participarmos e contribuirmos por esta justa causa.

Contramaré… 18 abr.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a economia grega conhecerá este ano uma recessão de 4,7 por cento e um crescimento nulo em 2013, enquanto a taxa de desemprego se aproximará dos 20 por cento nestes dois anos, quando no final de 2011 antecipava uma contração de 3 por cento este ano e um regresso ao crescimento, ainda que ligeiro (0,3) já em 2013.

Divórcio à vista ou desUnião de Direito?

Ao abrir o debate sobre o papel do Banco Central Europeu, Nicolas Sarkozy tentou ganhar votos junto dos eleitores que querem uma política de crescimento. Mas virou as costas a Angela Merkel, adaptando-se às circunstâncias por razões de política interna.
"Merkozy" suicidou-se no domingo, na praça da Concórdia. Há já várias semanas que o (a?) sabíamos muito doente.
Longe vão os dias em que a “fusão” indivisível dos dois chefes de Governo francês e alemão abria caminho à nova Europa das regras de ouro e das sanções orçamentais reforçadas onde, nas cimeiras, se esperava por Angela para apoiar o seu “querido Nicolas”! Desta vez, o seu destino parece definido. As suas próprias contradições acabaram com ele(a).
Ao reclamar a revisão do estatuto do BCE em nome da luta contra a deflação, Sarkozy declarou um pouco a guerra à Alemanha, por razões de política interna.
A linha ordoliberal
Porque a independência do BCE, é a condição “sine qua non” para a presença da primeira economia da Europa na zona euro. Não há compromisso possível e, ao invocar este assunto, disparou a bale que matou “Merkozy”.
O Presidente francês bem o sabe. No outono passado, tentou evocar a questão do estatuto de “emprestador de último recurso” do BCE e foi secamente repreendido pelo Governo alemão. Entrou na linha rapidamente.
Para a Alemanha, o sentido da história é muito diferente daquele que agora quer emprestar à Europa o candidato Sarkozy.
Se a zona euro quer ser viável, tem de adotar os princípios do ordoliberalismo que fizeram o sucesso da RFA nos anos de 1950 e 1960: um Estado discreto, uma política salarial comedida, uma política orçamentar estrita e um banco central absolutamente independente e focado apenas na política monetária e na luta contra a inflação.
Nicolas Sarkozy adotou essa “Weltanschauung” (essa “visão do mundo”) logo que aceitou o tratado orçamental proposto por Berlim.
Esse tratado é a segunda tentativa de Berlim para fazer da União económica e monetária uma zona de competitividade à alemã onde alguns países deixam de apoiar o seu crescimento na procura interna subsidiada pelo Estado.
É, de resto, o preço a pagar para salvar o euro. Hoje, é impossível querer conservar a moeda única e alterar o papel do BCE. A Alemanha nunca tolerará que se ponha em causa a absoluta independência desta instituição que era uma condição não suscetível de discussão quando a moeda única foi criada.
Preferirá sair da moeda única. Por duas razões: o trauma da grande inflação, mas também a vontade de não se tornar a “vaca leiteira” infinita dos países menos competitivos.
2013 ao virar da esquina
De repente, o fosso entre os dois antigos companheiros de passeio de Deauville não para de aumentar. Na segunda-feira, Angela Merkel discordou abertamente do seu ex-“querido Nicolas”. E muito secamente. “É conhecida a posição da Alemanha sobre o BCE e sobre o seu papel independente. É igualmente conhecida em Paris e é imutável desde há muito tempo”, recordou o porta-voz do Governo.
Dito de outra maneira: nós não mudamos e somos coerentes. Como poderia ser de outra maneira? Todas as semanas, o Bundesbank (o Buba), cujo prestígio além Reno é dificilmente imaginável para um francês, critica a sua política orçamental e europeia.
Não ter discordado de Nicolas Sarkozy teria significado discordar dos seus esforços. Em termos de política interna, seria muitíssimo perigoso porque, mesmo no seio do seu partido, há quem seja muito sensível às críticas do Buba. E a independência da política monetária é absolutamente intocável.
Ora, e esta é a chave do suicídio de “Merkozy”, tal como o seu antigo amigo, Angela Merkel quer conservar o seu lugar depois das eleições de setembro de 2013. A única possibilidade de continuar a ser chanceler repousa atualmente em dois pilares: não pode ser contestada no seu próprio campo e não ferir os sociais-democratas para reconstituir uma “grande coligação” sob a sua liderança.
Agora, compreensivelmente, uma vitória de Nicolas Sarkozy já não é tão atraente como era há 2 meses. Muito pelo contrário, ao discordar das fanfarronadas do candidato da UMP, mostra boa vontade para com o SPD e prova a sua firmeza ordoliberal perante o seu próprio campo político.
"Merkozy" já faz parte da história. A não ser, evidentemente, que Nicolas Sarkozy seja reeleito. Os 2 meses de campanha e as suas promessas poderão ser esquecidos muito rapidamente...
PACTO ORÇAMENTAL - Berlim disposta a apoiar o crescimento
Enquanto François Hollande reclama uma renegociação do pacto orçamental caso se torne Presidente da República, a “Alemanha não está contra uma cláusula de crescimento” no tratado, realça La Croix. O diário explica que mesmo que a Alemanha seja “hostil a uma renegociação da disciplina orçamental”, não se irá opor totalmente “a uma nova cláusula que impõe objetivos de crescimento”.
Para que esta cláusula seja acrescentada ao tratado assinado a 2 de março, “seria necessário que os partidários do crescimento propusessem um novo texto na próxima cimeira dos chefes de Estado e do Governo”, que ocorrerá nos dias 28 e 29 de junho. E este deverá ser “alvo de consenso”, alerta La Croix, o que equivaleria a “desprezar o voto dos países que já ratificaram o tratado”.
Por agora, Portugal foi o único a ratificar o tratado, mas as novas negociações estão a atrasar a sua entrada em vigor.

Ecos da blogosfera - 17 abr.

terça-feira, 17 de abril de 2012

“Diga lá fora o que não convém dizer cá dentro!”

Contam-se pelo menos duas certezas e uma grandessíssima provocação na entrevista de Pedro Passos Coelho à revista brasileira ‘Veja’.
A primeira certeza está no ‘mea culpa' do primeiro-ministro sobre os erros cometidos pelo Governo e que levaram o país ao tapete. Tudo o que os portugueses sofrem hoje, lamenta, "são o resultado de más decisões tomadas por nós mesmos. Usámos mal o dinheiro, seleccionámos mal os projectos de obras públicas, aumentámos os impostos, não abrimos a economia". Os portugueses sabem que tudo isto é verdade e, por isso mesmo, dificilmente alguém o irá desmentir. Mesmo sendo um ‘mea culpa' meio fingido, a bater no peito enquanto se aponta o dedo aos executivos anteriores.
Este assumir de culpa continua - e serve também para desresponsabilizar outras figuras internacionais pela actual crise no país. É a outra grande certeza de Passos Coelho: "Os líderes europeus não agravaram os nossos problemas, pelo contrário, ajudaram-nos", garante. É verdade que não foi a chanceler alemã, o líder do BCE ou o presidente da Comissão Europeia que calcularam quantos quilómetros de estrada se deveriam alcatroar em anos pré-eleitorais, que escolheram os candeeiros de Siza Vieira para as escolas nacionais, que assinaram contratos milionários com privados para gerir infraestruturas públicas, que nacionalizaram bancos minados por actos danosos dos seus próprios gestores, que permitiram que os buracos financeiros das empresas públicas se continuassem a escavar.
Embora a maioria das responsabilidades sejam internas, também é verdade que muitas entidades internacionais ajudaram à festa. Houve um BCE que apostou em teorias monetaristas e numa Alemanha obcecada pela inflação, em contra-ciclo com as restantes economias da periferia. Houve um euro que se revelou uma moeda disfuncional e geradora de desequilíbrios entre países. Houve ainda uma banca carregada de activos tóxicos e que, para os limpar, apostou na especulação com as dívidas soberanas, elevando os juros para níveis astronómicos. Houve tudo isto (também) a empurrar Portugal para o nível mais baixo da sua soberania financeira e a obrigá-lo a estender a mão a ajuda internacional. Podem não ter sido responsáveis pela crise, mas foram seguramente cúmplices. Por isso, Passos Coelho não pode ignorar essa influência, mesmo que o queira fazer por não querer morder na mão que agora nos dá que comer. E numa altura em que não sabe se não terá de pedir um novo resgate.
No meio de muitas justificações e algumas incertezas, Passos Coelho assumiu ainda que quer "tirar o Estado da economia, acabar com o Estado patrão, dono das empresas" - até porque os portugueses já perceberam que, como gestor, a coisa não tem corrido bem. Já sobre o programa de privatizações e a reacção dos portugueses, o primeiro-ministro aplaude: "Não tem havido resistência". Se não é uma provocação, parece.
Com os portugueses totalmente curvados pela austeridade e o orgulho ferido pela dependência internacional, que outra atitude poderia esperar Passos Coelho? Durante décadas, os portugueses acreditaram nos seus líderes e deixaram que os seus erros se perpetuassem até chegar à situação limite que hoje se vive. Agora que são forçados a participar na resolução desses problemas (leia-se, a fazer sacrifícios), também não acreditam que contrariar sirva de alguma coisa. Mas Passos Coelho arrisca-se a que, um dia destes, os portugueses recordem as palavras de Victor Hugo, quando dizia que "entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há certa cumplicidade vergonhosa". Porque um dia, os portugueses perdem a vergonha. 
Helena Cristina Coelho, Subdirectora do Económico
Não é costume meter o bedelho nas opiniões que seleciono de outros, mas no caso tenho que dizer que discordo da interpretação que é dada ao ‘mea culpa’, porque é linear que o que o PM quis dizer foi exatamente o contrário, ou seja, que a culpa não é dele e é anterior ao seu ministério messiânico e de lá para cá, ‘tudo numa boa’, ou para melhor…
Como não tive acesso à entrevista e não sendo prova do que disse antes, as frases mais relevante na ótica do jornalista, são disso prova, para além das contradições notórias entre umas e outras e algumas inverdades buriladas por “arrependimento”…