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sábado, 21 de julho de 2012

Não segue os conselhos dos “Nobel” e dos SÁBIOS?

Euclides - detalhe de “A Escola de Atenas” de Rafael
O economista Peter Bofinger, um dos "5 Sábios" que aconselham o Governo alemão, defendeu que os países em crise da zona euro suspendam medidas de austeridade até saírem da recessão.
Na opinião do professor de economia da Universidade de Würzburg, a fraca conjuntura na zona euro, que "está longe de ter atingido o auge, tornar-se-á mais visível na Alemanha" e, por isso, é necessário atenuar as políticas de cortes sociais nos estados mais vulneráveis da moeda única.
"Os países em crise devem suspender as medidas de poupança até as suas economias saírem da recessão", afirmou Bofinger, lembrando que o novo endividamento na zona euro continua a ser "muito menor" do que o dos EUA, Reino Unido ou Japão.
Bofinger advogou também uma descida ainda mais pronunciada dos juros básicos pelo BCE, que definem o preço dos empréstimos aos bancos e foram colocados ao nível mais baixo de sempre (0,75%), para tentar injetar mais dinheiro na economia.
As advertências de Bofinger coincidem com os dados publicados no relatório mensal do Ministério das Finanças alemão, que constatou um abrandamento da maior economia europeia na última primavera, que apontam para uma queda maior do PIB germânico entre abril e junho (0,2%) do que no trimestre anterior (0,5%).
O banco central (Bundesbank) referiu um menor dinamismo da economia no 2º trimestre deste ano, sendo o principal elemento estabilizador o consumo privado, sustentado por uma baixa inflação, enquanto as exportações, pilar fundamental da economia germânica, sofrerão um abrandamento ao longo do ano.
Se aceitarmos a definição de que SÁBIO é “a pessoa que duvida do que os outros pensam, que está tudo perfeitamente bem”, temos que dar razão a este, mesmo sendo alemão ou por isso…
Primeiro e ao contrário de outros, Bofinger sabe que a austeridade está longe de ter atingido o seu (nosso) auge;
Segundo e ao contrário de outros, sabe que a continuar assim a sua Alemanha será seriamente chamuscada;
Terceiro e ao contrário de outros, sabe que o endividamento na zona euro é muito menor do que nos EUA, Reino Unido ou Japão e outros;
Quarto e ao contrário de outros, sabe que não havendo máquinas para fazer dinheiro, só uma grade descida dos juros básicos pelo BCE podem ajudar ao crescimento;
Quinto e ao contrário de outros, sabe que o abrandamento da economia se estabiliza com o consumo privado e uma inflação baixa, sobretudo quando as exportações abrandam.
Tudo o que o Sábio diz que deve ser feito para se sair do desastre é exatamente o contrário do que nos dizem para fazermos, em nosso “benefício”, mas pelos vistos é um “malefício” para as economias dos países membros, incluindo para eles, que deve ser a sua maior preocupação, porque se é Sábio, não quer dizer que seja filantropo…
Só deixa a desejar quanto ao grau da sua sabedoria quando defende, como os outros, sem provar, que os empréstimos do BCE devem ser feitos aos BANCOS e não diretamente aos ESTADOS...
Mas se aceitarmos que SÁBIO “não é aquele que sabe tudo, mas aquele que sabe decidir para onde quer ir”, já entenderemos que o objetivo é o mesmo (a defesa da Alemanha), só que por outros caminhos (que são os nossos)...

Governantes legislam em proveito próprio e do jet set?

As famílias portuguesas terão de gastar, em 2013, cerca de 2.200 euros por mês em restauração, alojamento, sectores de manutenção e reparação de automóveis, cabeleireiros e similares, para beneficiarem da dedução máxima em IRS de 5% do IVA gasto até ao limite de 250 euros. Isto quando o ordenado médio mensal no país não chega a 800 euros.
Este nível de consumo mensal fica longe do alcance da grande maioria das famílias em Portugal: em 2010, por exemplo, 83% das famílias – 3,9 milhões entre os 4,7 milhões de agregados que entregaram IRS – declarou rendimentos mensais inferiores a 2.000 euros brutos.
Em 2013 os portugueses vão poder deduzir, em sede de IRS, 5% do IVA pago em reparação e manutenção do automóvel, restauração, alojamento e cabeleireiro e similares. Podem, com isto, poupar 250 euros por ano, no máximo. Excelente notícia. Uma boa medida para compensar os portugueses pelas perdas com o aumento do IVA e, acima de tudo, lutar contra a fraude, levando as pessoas a pedir faturas.
As contas, para o português médio que queira ter uma devolução de IRS de 250 euros e, com eles, resolver grande parte dos seus problemas financeiros, são simples de fazer. Para chegar a este astronómico montante de benefício só tem de gastar 1.800 euros com o seu carrinho, a comer em restaurantes, em hotéis e a tratar do cabelo. Eu ajudo: gaste 200 euros, todos os meses, em pequenas reparações no seu veículo. Não há de ser difícil. Conheço alguns mecânicos excelentes para a função. Vá, todos os dias úteis, a um restaurante decente e pague pelo menos 30 euros. Somado, já vão 1.080 euros. Passe, pelo menos uma vez por mês, uma noite no Hotel Lapa Palace. E vão 1.445 euros. Por fim, esperemos que tenha cabeleira farta para ainda usar os 355 euros que lhe sobram a tratar do seu visual.
Vítor Gaspar pensa nos menos abonados e garantiu-lhes este bónus que os aliviará das suas provações. É verdade que os 1.800 euros que têm de gastar por mês para receber os 250 no final do ano é, mais coisa menos coisa, o que o um casal médio português ganha mensalmente. Isso pode causar pequenos contratempos. A de não sobrar dinheiro para o resto, por exemplo. Ainda assim, ficam os parabéns pela medida. A pensar nos que mais sofrem com esta crise. Podem perder a casa, mas o Estado não se esquece deles quando procurarem um bom hotel.
Daniel Oliveira

Contramaré… 21 jul.

Os assaltos a bancos e outras instituições de crédito aumentaram 63,6% nos primeiros 4 meses do ano face a igual período de 2011, enquanto os roubos a residências cresceram 40,9%, indica o Gabinete Coordenador de Segurança.
Os assaltos a ourivesarias aumentaram 42,6%, a falsificação e passagem de moeda falsa quase duplicou  - subida de 92,6%.

Tudo é suportável, menos saber que nos enganaram!

A 19 de julho, várias centenas de milhares de pessoas manifestaram-se contra a política de austeridade do Governo de Mariano Rajoy. Hoje, numa altura em que é necessário um grande salto, acabou a confiança dos espanhóis naqueles que os governam, lamenta o sociólogo Fernando Vallespín.
Na legislatura anterior, já tínhamos entrado numa situação de exceção, mas aqueles que agora se encontram no Governo fizeram orelhas moucas. Então, a sua prioridade não era o país e, sim, os seus próprios interesses eleitorais. Depois de terem alcançado os seus objetivos, começaram a pôr em prática tudo quanto tinham prometido que não fariam. Se o tivessem feito de repente, logo que chegaram ao poder, talvez tivessem conseguido alguma eficácia. Mas não, o tratamento tinha que ser homeopático e não de choque, porque ainda havia alguns problemas políticos pendentes, como as eleições na Andaluzia [em março de 2012].
Por seu turno, os governantes de então só começaram a agir energicamente depois de a Europa lhes cair em cima, de forma quase literal. Nos dois casos, os interesses políticos de cada uma das partes levaram a melhor sobre aquilo que a urgência da situação exigia.
O resultado foi a classe política, já de si desprestigiada, ter acabado por cobrir-se de opróbrio. Aqueles que deveriam ser a solução para estes momentos tão angustiantes são agora vistos como o problema pela população, cada vez mais cética. Já ninguém acredita em nada nem em ninguém. Nem nos políticos, nem em peritos ou tecnocratas, nem em nada que venha das elites ou de pessoas ou instituições que, até agora, gozavam de “autorictas”. Encontramo-nos na pior das situações possíveis, porque não temos em quem poder confiar.
País pária
E, pior ainda, ninguém confia em nós; da noite para o dia, passámos a ser um país pária. De repente, nós, cidadãos, tomámos consciência de que estamos sós. E o isolamento e a impotência em que vivemos conduzem ao desespero ou mesmo ao maior dos niilismos. Não há coletivo que possa viver sem futuro, sem saber que é dono do seu destino.
Ainda assim, quase tudo é suportável, menos a consciência de que nos enganaram. Com a promessa de serviços públicos, que agora se verifica não serem financiáveis; com um modelo de desenvolvimento económico enganador, construído sobre o nada, que criava uma falsa imagem de prosperidade; com uma Europa que supúnhamos iria contribuir para dar poder e potenciar a nossa soberania, e não subvertê-la. Já não nos reconhecemos no modelo. Entre outras razões, porque aqueles que o sustentavam vão nus.
Contudo, só temos duas opções: quebrar o modelo, rasgarmos as vestes e cairmos por completo na depressão coletiva, num país zombie e sem rumo, ou potenciar as virtudes que ainda temos – que, indiscutivelmente, não são poucas. Além disso, neste momento, apesar de sós, estamos mais unidos do que nunca. Como muito bem dizia Borges, "não é o amor que nos une, mas o pânico". E também sabemos por Hobbes que a paixão que nos leva a cooperar não é o altruísmo e, sim, o medo.
Conflito niilista ou coesão positiva
Neste momento, o nosso maior problema é de gestão, tem a ver com transformar a nossa confiança, perplexidade e ceticismo numa ação positiva; com transpor as dificuldades que nos colocam sobre a mesa para soluções efetivas. Mas, para isso, falta um projeto no qual seja possível enquadrar as linhas de atuação, distinguir o necessário do supérfluo, fazer das privações e carências de hoje expectativas claras de melhoria no amanhã. E, aí, a liderança, precisamente o bem mais escasso é essencial.
Presentemente, os que estão no poder limitam-se a apagar fogos, de qualquer maneira, sem um roteiro para o futuro, que dê consistência à sua ação; e às bases não resta alternativa que não seja defender nas ruas aquilo que lhes tiram nos gabinetes. Falta o engaste, qualquer coisa que cimente um projeto coletivo e, pouco a pouco, restabeleça a confiança perdida. Podemos escolher entre o conflito niilista, à maneira grega, e a coesão mais positiva, à maneira irlandesa; converter o pânico em levantamento paralisador e vitimista ou em energia criativa e responsável. E, isso sim, depende de todos nós.
Contraponto - Rajoy, entre a espada e a parede
“Governo preso entre a espada dos mercados e a parede humana na rua”, titula El Mundo, no dia seguinte às manifestações que fizeram com que centenas de milhares de pessoas descessem as ruas das principais cidades espanholas. Enquanto isso, o parlamento aprovava a última parte do pacote de 65 mil milhões de euros de cortes orçamentais anunciados pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy.
O diário madrileno considera que não há “margem de manobra para ceder à pressão” constantemente presente, apesar da aprovação da ajuda financeira ao setor bancário (no valor máximo de 100 mil milhões de euros) pelos parlamentos alemão e finlandês. Do lado dos mercados, a pressão continua igualmente intensa, com um recorde do prémio de risco de 5,95%. O editorialista do diário conservador ABC, José María Carrascal, estima por sua vez que “os cortes são estímulos” necessários para relançar a economia do país:
Os cortes e estímulos não se opõem. Funcionam em conjunto, os primeiros constituem a base dos segundos. Por outras palavras: estimular a economia sem cortes orçamentais não serve de nada. Introduzir estímulos modernos numa economia desatualizada, equivale a deitar água numa peneira. […] A Espanha é um país sobre-endividado, sobre-regulamentado, sobrecarregado a todos os níveis, nacional, regional, municipal ou financeiro. Deve, antes de mais, livrar-se desta dívida, dessas subvenções, regulamentos, deste peso acumulado durante décadas de laxismo fiscal e administrativo. Dizer que precisamos sobretudo de estímulos é o mesmo que alimentar uma pessoa que pesa 250 quilos com hambúrgueres e esparguete.

Ecos da blogosfera - 20 jul.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Não acredito em coincidências, mas que as há, HÁ!

A Comissão de Reavaliação da Rede Nacional de Emergência/Urgência, nomeada pelo Ministério da Saúde, considera que são suficientes 73 urgências hospitalares, em vez das 89 (menos 16) classificadas por despacho em 2008. A lista inclui serviços de urgência em Valongo, Oliveira de Azeméis, Idanha-a-Nova, Tomar, Montemor-o-Novo, Estremoz, Serpa, Lagos, Loulé, Macedo de Cavaleiros, Fafe, Santo Tirso, Peniche, Agualva-Cacém, Montijo e Lisboa (Hospital Curry Cabral, cujo encerramento já se efetivou).
A proposta, elaborada por 11 peritos aponta também para a desclassificação de 8 urgências.
Os hospitais de Gaia, dos Covões (Coimbra), de Almada e de Évora deverão deixar de ter Serviço de Urgência Polivalente (a mais completa) e passar a ter Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica.
A Póvoa de Varzim, Mirandela, Figueira da Foz e Torres Vedras ficariam reduzidos a Serviços de Urgência Básica.
O Ministério das Saúde lembrou que as sugestões de encerramento de 16 serviços de urgência são apenas propostas, e não decisões, e que cabe às administrações regionais de saúde (ARS) fazer uma avaliação da situação.
9 dos 16 encerramentos de urgências propostos pela comissão de reavaliação estavam previstos manter-se no último documento elaborado no tempo do ministro Correia de Campos.
Para António Arnaut, criador do SNS, o encerramento de urgências hospitalares ou de hospitais "não é tanto uma questão técnica, mas política, de saber se deve ou não haver um SNS que preste com eficiência e humanismo os cuidados de saúde a toda a população". Nesse sentido, exortou o ministro da Saúde, Paulo Macedo, a olhar para o SNS "como uma exigência constitucional" e, também, "um imperativo moral".
Autarcas de todo o país e representantes de partidos políticos criticaram as conclusões da Comissão de Reavaliação da Rede Nacional de Emergência e Urgência.
Armindo Jacinto, vice-presidente da CM de Idanha-a-Nova, disse que a autarquia se "opõe frontalmente" ao eventual encerramento do serviço de urgências que funciona no Centro de Saúde.
O presidente da CM de Santo Tirso, Castro Fernandes, mostrou-se "indignado" com a proposta de encerramento da urgência desta cidade, atitude idêntica à assumida pelo presidente da Câmara de Peniche ou de Vila do Conde. Mário de Almeida, que considerou que a redução de valências em alguns serviços de urgência, nomeadamente no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde, é "incompreensível e inaceitável".
António Branco, autarca de Mirandela, afirmou, que a despromoção da urgência local deixaria a população do distrito de Bragança com apenas uma urgência capaz de responder a casos graves, localizada a mais de 100 quilómetros de alguns concelhos.
Os presidentes das câmaras de Loulé (PSD) e Lagos (PS) também contestaram a proposta de encerramento dos serviços de urgência básica naquelas cidades, que servem no total 5 concelhos, queixando-se de não terem sido consultados sobre a matéria, a exemplo do presidente da Câmara de Peniche, António José Correia.
Os autarcas de Serpa e Montemor-o-Novo, no Alentejo, classificaram de "estranha" e "caricata" a proposta de encerramento de Serviços de Urgência Básica que não existem nas duas cidades, porque ainda não foram criados, apesar de estarem prometidos. Também em Coruche; Santarém, a Urgência Básica do centro de saúde local está pronta há praticamente 3 anos e o presidente da Câmara, Dionísio Mendes, espera que o estudo possa permitir a abertura do serviço.
As Câmaras de Almada, Seixal e Sesimbra receberam a promessa do ministro da Saúde que não será tomada nenhuma decisão sobre as urgências do Hospital Garcia de Orta sem consultar os municípios.
A Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) anunciou hoje ter pedido ao ministro da Saúde uma reunião para analisar o encerramento de urgências e manifesta-se "surpresa" e "desagradada" por ter tido conhecimento do processo pelos jornais.
Não vou falar do que não sei, nem me vou dar ao trabalho de tal “investigação”, mas aqui deve haver coincidências ou os peritos (não estes, mas todos em todas as situações) são de “carregar pela boca”, que é o mesmo que dizer, que dizem o que os contratantes desejam, o que pode ser pura coincidência…
Do que sei (um caso), a Póvoa de Varzim/Vila do Conde, tem a promessa de um hospital novo há muitos anos, apesar de haver há muitos anos um hospital Privado (CLIPÓVOA HOSPITAL PRIVADO, Espírito Santo Saúde) e mesmo sabendo que o ministro da Saúde, em que deposito seriedade moral, tenha sido administrador da Médis (seguros de saúde do BCP) e agora vem reduzir os serviços existentes, só por pura coincidência contrariaria estudos anteriores de outros peritos…
Tendo em conta que a Comissão de Reavaliação inclui no estudo 2 urgências que não existem e sugere o seu encerramento e uma outra que ainda não abriu (há 3 anos) e propõe o mesmo destino, só prova que os peritos, por pura coincidência fizeram um levantamento rigoroso e tiraram conclusões enviesadas…
Se as conclusões do estudo se basearam neste parecer técnico, incorretamente conduzido, só se pode concluir, como António Arnaut, que a questão é mais política e só por pura coincidência o ministro tem sido levado na conversa com a questão técnica…
Não vou extrapolar do caso descrito que todas as outras propostas de fecho de urgências estejam erradas, mas seria pura coincidência que todos os autarcas dos concelhos atingidos estivessem em desacordo, mesmo que, naturalmente, puxem a brasa para a sua sardinha…
Mas quando a própria ANMP vem declarar surpresa e desagrado por não ter sido consultada, nem avisada oficialmente, e sendo maioritariamente dos partidos da coligação governamental, chega-se à conclusão de que, para além de política, a “reforma estrutural”, só por coincidência foi feita com o rigor que o ministro porfia…
Já não achamos coincidência que sejam as terras do interior que sofram sempre com cortes em tudo e mais alguma coisa, embora não vislumbre razões políticas para tal obcecação, que as razões políticas não justificam…
Mas como “há razões que a própria razão desconhece”, é mais uma trapalhada (dos peritos), que por coincidência foram nomeados pelo ministério e quase todos de hospitais centrais e do litoral, que já nos deixam de pé atrás em relação a tudo que virá mais à frente…
Não será coincidência, ou será, que o ministério já tenha vindo dizer que as conclusões do estudo são meras propostas…
Não convém acreditar sempre nos peritos, ou nos seus pareceres técnicos, a não ser como álibi…

Novos escritores portugueses revelam-se no Brasil

Leitura pública feita por José Luís Peixoto de seu livro 'Morreste-me' é até agora o momento mais emocionante da Flip. A obra, uma declaração de amor ao pai do escritor, ainda é inédita no Brasil, mas a apresentação da última sexta-feira pode ser ouvida na íntegra na 'CH On-line'.
Se todas as edições da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) têm ao menos um momento marcante – daqueles que ecoam pelas ruas da cidade fluminense durante os anos seguintes –, a 10ª edição do evento teve finalmente o seu nesta sexta-feira (6/7). Mas, de modo diferente do ano passado, quando o português nascido em Angola, Valter Hugo Mãe, leu texto singelo em homenagem ao Brasil e emocionou as quase 1.000 pessoas que o ouviram na tenda principal, ontem o arrebatamento foi para poucos.
Em pequeno espaço na Casa de Cultura, onde acontece parte da programação paralela da Flip, o também português José Luís Peixoto, pela 3ª vez no evento e com 4 livros editados no Brasil (o mais recente é Livro, lançado neste ano pela Companhia das Letras), leu na íntegra a sua primeira obra, o autoral até à carne – ou até ao "sangue", como diz Peixoto – Morreste-me, uma declaração de amor e de fé ao pai morto. 
Peixoto começou a escrever o pequeno livro de 64 páginas aos 21 anos, poucos meses após o falecimento do seu pai, e levou cerca de um ano para o terminar. Morreste-me não foi editado no Brasil, de modo que o primeiro contato que a maioria das 150 pessoas presentes na sala teve com a obra foi durante a leitura do autor. 
"É um livro curto, demorei para perceber que era de facto um livro", disse o escritor, hoje com 37 anos, antes de começar a leitura. "Mesmo do ponto de vista literário não é um romance, apesar de eu já ter visto alguns papéis por aí dizendo que ele é um romance; não acreditem nisso." "É um texto de prosa, é uma narrativa, é alguma coisa; é para mim um texto que acompanha um crescimento pessoal ao nível da minha própria vida e da minha própria identidade, até mesmo literária", explicou o escritor. "Comecei a escrever na minha adolescência; aquilo que escrevi antes desse pequeno livro é muitíssimo diferente daquilo que escrevi depois dele."
Peixoto contou que, em certo momento, percebeu que nunca iria escrever outro texto naqueles moldes e que já era hora de publicá-lo. Isso foi apenas em 2000, 3 anos depois de o ter finalizado. "Decidi então fazer uma edição de autor, e essa é a melhor história que posso contar para alguém que tenha a aspiração de ser escritor", continuou Peixoto, já um pouco ansioso para começar a leitura de Morreste-me.
"Quando decidi fazer o livro, não conhecia nenhum escritor, nenhum crítico literário, não conhecia ninguém; vendi-o com uma sacolinha nas costas, vendi-o aos meus amigos", disse Peixoto, que no fim da jornada daquele ano de "sacolinha nas costas" conseguiu lança Morreste-me por uma editora. Hoje, em Portugal, o livro já está na sua 10ª edição e Peixoto, 12 anos depois, é um dos principais jovens escritores portugueses, vencedor, em 2001, do Prémio Literário José Saramago pelo romance Nenhum Olhar.
Esta foi a primeira vez que o autor leu integralmente a sua obra de estreia em público. "Eu não poderia escrever a palavra 'pai' naquele momento sem pensar no meu próprio pai; talvez por isso tenha tido dificuldade por muito tempo de ler esse livro em voz alta, principalmente em público", afirmou Peixoto. "Tinha dificuldade porque, não sei, porque talvez em alguns momentos tenhamos dificuldade de assumir algumas vulnerabilidades que no fundo são humanas."
"Chorar é bom"
Morreste-me é um livro lindo. E a leitura de Peixoto torna-o ainda mais arrebatador. Calmo e firme, em voz baixa e serena, o jovem escritor leu quase num fôlego só, parando para beber água num momento e hesitando na leitura, de 50 minutos, apenas 4 vezes. 
Quem tem um pai e o ama, saiu da experiência com a vontade sincera de manifestar, de alguma forma, num abraço ou num livro, o seu amor por ele. Quem perdeu o pai e o amava chorou e chorou muito. Talvez por isso as pessoas mais velhas, que pela lógica do tempo têm mais possibilidade de ter perdido o pai, tenham sido as últimas a sair da sala – choravam ainda muitos minutos depois do fim.
"Às vezes, em Portugal, há pessoas que dizem que choraram ao ler esse livro. Eu fico contente porque acho que em algumas ocasiões chorar é bom; eu também chorei muito quando o escrevi, e foi bom."
Ouça abaixo a íntegra da leitura de Morreste-me, de José Luís Peixoto.
De preferência, ouça com fones de ouvido. O áudio não está com a melhor qualidade, mas o registo é único.

Contramaré… 20 jul.

Ao longo de todo o ano transato, os serviços oficiais registaram 6.526 processos de despedimentos coletivos. Os 4.191 casos contabilizados até final de junho representam já 65%.
A maior subida aconteceu nas grandes empresas, que faliram, entraram em processos de reestruturação profundos ou que saíram de Portugal para outros países. Mas as de menor dimensão (as PME) não escaparam à razia.

Quando o soldo é grande, abundam os mercenários…

Eurodeputados e euro funcionários, em Bruxelas, são frequentemente estereotipados como membros de uma “religião”. E isso acontece porque vivem num morno ambiente pró-europeu, escreve um jornalista holandês. Mas começam a ouvir-se vozes dissonantes.
Derk-Jan Eppink é um herético. Eurodeputado conservador não acredita nos princípios básicos da integração europeia, nessa "união cada vez mais estreita entre os povos da Europa", tal como previsto nos tratados desde 1957.
Eppink – um holandês que ocupa o cargo em nome de um partido belga – é um dos seus maiores críticos. “Espera-se que todos os que aqui chegam apoiem essa ideia”, diz ele. Aqueles que não a apoiam são não-crentes – “heréticos” – e são tratados como párias. “Mal abrimos a boca lançam-nos logo olhares ferozes. Os federalistas saem da sala ou começam a conversar uns com os outros. Também nos dão menos tempo para falar. Daniel Cohn-Bendit [copresidente do grupo parlamentar dos Verdes da UE], ultrapassa frequentemente o seu tempo de intervenção e ninguém lhe diz nada. Se somos nós a fazer isso, o gongo toca imediatamente.”
A comparação com a religião é apenas ligeiramente exagerada. Bruxelas é outro mundo, onde muitas pessoas estão zelosamente comprometidas com a feliz ideia de uma Europa unida. Um mundo onde a menção a qualquer outra crença – numa união puramente económica ou, Deus me livre, em união absolutamente nenhuma – é posta de lado como o primitivismo obscuro.
Este é particularmente o caso no Parlamento Europeu, a arena de Eppink. A maioria é definitivamente mais pró-europeia do que os membros nacionais dos seus partidos. Estão sempre a favor, nunca contra, mais transferências de poder. Neste preciso momento, estão na linha da frente dos argumentos a favor da introdução de euro-obrigações e outras medidas comuns para resolver a crise.
“Bruxelas muda-nos”
Isto pode, sem dúvida, ser explicado pelo facto de os mais europeístas de entre eles estarem inclinados a mudarem-se para Bruxelas. A outra parte da explicação está no facto de os menos europeístas, com o passar do tempo, tenderem a converter-se. “Tornam-se nativos”, nas palavras de um alto funcionário europeu. Eppink: “Bruxelas muda as pessoas, como se tivessem sido tocadas pela mão de Deus.”
O membro da CDA [Democracia cristã] Wim van de Camp é um deles. Chegou a Bruxelas em 2009, depois de 23 anos na Câmara Baixa do parlamento holandês, com o objetivo de parar o zelo regulador e reduzir o orçamento. Agora, partilha responsabilidades no novo, mais pró-europeu, caminho da CDA.
“É verdade”, diz ele. “E isso acontece, em parte, porque agora conheço melhor o assunto. E, por outro lado, seja qual for o nosso ponto de vista, acabamos sempre por nos misturarmos com as pessoas com quem trabalhamos. Agora estou mais convencido do que nunca da utilidade e necessidade da União Europeia.” Quanto mais tempo se está lá, mais se começa a acreditar.
Além disso, diz o holandês Dennis de Jong, membro do Partido Socialista, Bruxelas está configurada de tal forma que vale a pena acreditar: "Se nos mostrarmos a favor dos Estados Unidos da Europa, as portas abrem-se automaticamente para nós. Por exemplo, eu não serei convidado tão cedo para ir ao gabinete de Herman Van Rompuy”.
E o mesmo se passa quando se tratam de atividades diárias, diz De Jong. “Se fizermos o nosso trabalho bem feito, podemos chegar a presidente de uma comissão parlamentar. É-se premiado pelo nosso trabalho parlamentar e isso é, por definição, pró-europeu. O reforço positivo é enorme. É difícil manter os pés no chão.”
O evangelho da “união cada vez mais estreita”
Para além do parlamento, a Comissão é indubitavelmente pró-europeia, mas uma conversa com 3 eurocratas de topo, que se mantêm no anonimato, revela que aqui a coisa é mais pragmática do que ideológica. “Nem todos somos crentes”, diz um deles, que tem um cargo [de diretor-geral] no departamento de Alargamento. “Na verdade, há dois grupos de funcionários europeus: o grupo que faz simplesmente o seu trabalho e o grupo dos verdadeiros crentes. Este segundo grupo está a ficar cada vez mais pequeno.”
No passado, dizem estes eurocratas, dois dos quais trabalham para a Comissão há mais de 20 anos, as coisas eram muito diferentes. Tinham a ideia de estarem a trabalhar numa tarefa histórica. Hoje em dia, as coisas têm mais a ver com negócios. “A UE existe, a integração europeia é uma realidade”, diz alguém que trabalha na direção-geral da Concorrência. “Agora, a questão é: como podemos ter a certeza de que isto funciona? É tudo muito mais monótono do que as pessoas possam pensar.”
Há, portanto, pouca discussão política sobre o rumo que a Europa deve agora seguir. No final do dia, eles são funcionários públicos, não importa quão exótica a Comissão possa parecer. Por definição são apolíticos, tecnocratas, e quando se encontram ao pé da máquina do café falam de futebol e não dos prós e contras de uma união bancária europeia.
Tempos difíceis para os profetas
Desde o início de 2010, pela primeira vez, o número de pessoas que não confiam na UE é superior ao daquelas que confiam. A Comissão Europeia já começou a perceber isso. Recentemente, os eurocratas encontraram autocolantes colados nos seus carros com o desenho de um homem que usara a sua própria gravata para se enforcar. “Eurocratas, façam bom uso das vossas gravatas”, era a legenda. Um mês antes, muitos deles tinham apanhado um grande susto no metro, ao serem cercados e emboscados por “um grupo de ativistas de esquerda”. Os sindicatos da Comissão reconheceram, numa carta sobre este assunto, que sempre tinha havido “ataques” mas que, desde que a crise do euro tinha rebentado, esses ataques tinham aumentado tanto em número como em dimensão.
Estes são tempos difíceis para os profetas. A crise está a pôr a fé à prova. “Os crentes começam a ter dúvidas”, pensa Eppink. Garante que, ultimamente, quando ele ou um dos seus correligionários fala é ouvido com mais atenção. “O nosso terreno intelectual é melhor”, é a sua opinião.
As eleições mostrarão se a Holanda pensa o mesmo que ele. Mais, ou menos Europa. “É uma coisa boa”, defende o eurocrata do departamento de Alargamento. “É a prova de que a integração se está a tornar real. No passado, toda a gente estava de acordo. Mas, nessa altura, nada estava em causa. E, agora, está.”

Ecos da blogosfera - 19 jul.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

As medidas do FMI e CE tem preocupações SOCIAIS…

"A margem para aumentar a participação feminina no mercado de trabalho é significativa" e uma das vias é aliviar a carga fiscal sobre as mulheres casadas e, sobretudo, dar "subsídios a mães trabalhadoras", defende o FMI para o caso de Portugal.
O FMI diz ainda que "a duração da licença parental paga deverá ser encurtada para evitar efeitos adversos no mercado de trabalho", embora não coloque Portugal no grupo dos países problemáticos. "Áustria, República Checa, Finlândia, França, Noruega, Polónia e Eslováquia" são os casos a corrigir já que a licença "excede as 100 semanas" nestes países.
Os salários dos portugueses já estão a cair, mas para a troika esse ajustamento ainda não é suficiente. Segundo a Comissão Europeia, será necessário um maior alinhamento entre os salários e a produtividade através do corte das indemnizações por despedimento e retirando peso à contratação coletiva. Nesse sentido, o Governo irá reduzir o valor das indemnizações por despedimento para 8-12 dias e prepara-se também para rever o regime de contratação coletiva, tentando impedir algumas das extensões automáticas de acordos coletivos de trabalho, permitindo mais negociações empresa a empresa.
A Comissão Europeia reconhece a importância das reformas laborais levadas a cabo em Portugal mas defende que é necessário continuar a flexibilizar o mercado de trabalho para melhorar a competitividade do país. Nomeadamente, Bruxelas pede mais medidas para tornar os ajustamentos salariais dependentes produtividade.
Conclusões do FMI em linha com as de Bruxelas
Em consonância com a Comissão Europeia, também o FMI considera que "o sistema de definição dos salários" continua a representar uma distorção significativa ao mercado laboral. Tal como Bruxelas, o fundo insta o executivo a avançar com a revisão do sistema da contratação coletiva sublinhando que a reforma da contratação coletiva não deve sobrecarregar as empresas na fixação de salários, o que pode penalizar a sua rentabilidade.
FMI defende que fixação de salários não pode sobrecarregar empresas
Abebe Selassie, afirmou que caberá ao Governo português encontrar "o equilíbrio e certo" na contratação coletiva, ao negociar com empregadores, sindicatos e outros atores, mas ressalvou que "não se pode sobrecarregar as empresas" na fixação de salários, permitindo-lhes "olharem para a forma como são rentáveis".
O objetivo final é encontrar um "melhor equilíbrio entre salários e produtividade" afirmou.
FMI diz que queda dos salários "não é um objetivo"
Abebe Selassie sublinhou que a tendência de queda de salários no setor público e no privado não é um objetivo, mas sim o elevar da competitividade da economia em relação à média europeia.
"Este programa não terá sucesso se for sobre cortar salários. Tem de ser sobre melhorar a produtividade e conseguir melhores resultados de crescimento", disse o chefe de missão do FMI.
No fundo, no fundo, os assalariados do FMI até tem objetivos sociais, pelo que se pode apreender pelas medidas sugeridas para a mulher trabalhadora, sobretudo se for mãe…
Mas pensando-se um bocadinho, temos razões para colocar muitas reticências quanto à bondade e eficácia, senão vejamos:
1. O aumento desejado da participação feminina no mundo do trabalho, que sendo já grande e sabendo-se que usufruem de salários menores do que os homens, trazem uma redução direta dos salários;
2. Ao proporem uma redução da carga fiscal sobre as mulheres casadas, porque ganham menos, a redução global é menor, o que não dá grande prejuízo, ou até dá lucro, comparativamente com os homens;
3. Constas feitas (que não fiz), mesmo que deem um subsídiosito às mães trabalhadoras, para aumentar a taxa de natalidade (ah!, ah!, ah!), alguém, que não elas, vai ficar a ganhar;
4. Mas como nem tudo são rosas e como “quando a esmola é grande o pobre desconfia”, toca a reduzir o tempo da licença parental (se o pai estiver desempregado nem deverá ter direito) para não atrapalhar o trabalho nas empresas (claro), mesmo sabendo que em Portugal o período seja dos mais curtos e que será o único e grande objetivo da “proteção social da mulher trabalhadora”
Caiu-lhes a máscara!
Sabendo-se que os salários em Portugal já são os mais baixos da UE, depois dos cortes, congelamento e indemnizações, que não tem produzido efeitos no investimento e tem aumentado o desemprego, a teoria é baixar mais, para continuarmos a reduzir os investimentos (as empresas estão falidas e a falir) e aumentar ainda mais o desemprego. São espertos(!), mas mais valia dizerem que temos que alinhar com os salários do oriente, para se saber já o que nos espera e começarmos a ficar com os olhos em bico, por efeito!
Para liberalizar ainda mais as mordomias dos que trabalham e criam riqueza, toca a negociar diretamente com os “novos escravos”, arredando os sindicatos da concertação, que mesmo pacíficos ensurdecem os negociadores e complicam o desenvolvimento, que foi o que aconteceu no próximo passado…
Como diz quem ganha muito: “mais vale ter um emprego e ganhar pouco do que estar desempregado e não ganhar nenhum”
Diziam os malandros que devíamos trabalhar de acordo com o que ganhamos. Se ganhamos muito, devemos trabalhar muito, se ganhamos pouco devemos trabalhar pouco… O FMI e a CE querem desfazer este paradigma dos PIIGS e pô-los a ganhar menos e a trabalhar mais. Se dessem prémios, ainda vai que não vai, se não derem é mais uma forma descarada de vampirismo social.
E quando houver contratação coletiva, não se deve sobrecarregar as empresas com a componente dos salários para não penalizar a rentabilidade dos empresários, o que se podia fazer com a redução das tarifas de energia, menos impostos e mais crédito. Mas eles é que sabem (o que querem)!
E o assalariado do FMI, Selassie, para que ninguém duvide da seriedade, justeza e eficácia destas medidas, vem afirmar, pensando que somos burros, que a queda dos salários, no setor público e no privado (para não haver discriminação) não é um objetivo… Eu diria que É O OBJETIVO!
Já disse muitas vezes e repito, que se estes senhores do FMI e da CE fossem uns suprassumos deveriam trabalhar diretamente nos seus países, a maioria dos quais em dificuldades e vítimas dos mercados e das teorias que eles defendem, quando não estão por trás das razões que nos conduziram ao limite do abismo.
Estou a lembrar-me de Lagarde e do nosso Zé Manel, uma que como ministra das Finanças de Sarkozy não dava conta do recado e o segundo que fugiu quando viu que o país estava de tanga…
Estes inteligentes e quem lhes paga é que nos andam a dar tangas para usarmos quando o aquecimento global for bastante para pouparmos em roupa…
Como se vê, o SOCIAL é mesmo a única preocupação e o OBJETIVO do FMI e da CE… Vão gozar com a prima!

Eis a solução para o dinheiro Dr. Salgueiro!

“O Governo deve estar nesta altura a suar e a trabalhar de noite numa solução, mas eu não sei qual é”, afirmou João Salgueiro a propósito das medidas que terão que ser implementadas de forma a compensar os cortes de subsídios de férias e de Natal para o setor público nos próximos anos.
Qualquer tontinho sabe, que quando se decide roubar, vale mais roubar um rico (mesmo que desonesto) do que alguns remediados (trabalhadores mal pagos) ou muitos pobres (desempregados e sem cheta)…
É o que gostam de chamar de “uma questão de rigor e boa gestão de recursos”…
Já pode dormir descansado, o governo e o Dr. João Salgueiro, tão preocupado com as compensações…
Não pode ser pela BANCA?
Cada dia que passa, um novo escândalo na banca. E cada um mais mediático do que o anterior.
A manipulação da Libor, que colocou o Barclays no centro das atenções do mundo financeiro, está agora a ser ofuscado por mais um caso que promete fazer correr muita tinta, já que em causa está um gigante do sector. O HSBC está a braços com a acusação de que facilitou operações de lavagem de dinheiro.

Contramaré… 19 jul.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Portas, deixou hoje (quarta-feira) a capital angolana, depois de uma visita de trabalho de 24 horas.
Em Angola, o governante assistiu na terça-feira à abertura de Feira Internacional de Luanda (Filda/2012) onde durante a sua intervenção enalteceu o contributo que este certame tem dado para o desenvolvimento da economia de Angola.
O ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares de Portugal, chegou hoje, a Luanda, ao princípio da noite (hora local) para uma visita de dois dias.

E a procissão ainda nem saiu do adro…

Era uma vez um Furacão. O Furacão teve um filho chamado Monte Branco. O Monte Branco deu-lhe um neto, nascido durante as privatizações. E assim começa uma história de investigações de crime económico. Assim? Assim como? Hum... é melhor recomeçar. Era uma vez uma besta gananciosa chamada homem...
Pedro Santos Guerreiro
A suspeita na Operação Furacão era uma: bancos que forneciam serviços a empresas de "planeamento fiscal", o que a Procuradoria qualifica como fuga aos impostos. Resultado: mais de 200 arguidos, nenhum condenado, milhões de euros pagos em impostos. Praticamente todas as empresas pagaram o que lhes fui pedido sem tugir nem mugir, na esperança de comprar o bilhete de saída do processo.
No âmbito da Operação Furacão, o DCIAP tropeçou em informação para novos processos. Assim nasceu a Operação Monte Branco, cuja suspeita é de branqueamento de capitais e fuga aos impostos, através de uma rede através da Suíça dominada pelo ex-gestor de fortunas Michel Canals. O caso é, pois diferente: no Furacão, há empresas suspeitas de dissimulação de proveitos para não pagar impostos; no Monte Branco há suspeitas sobre pessoas individuais, riquinhos e ricalhaços que passarão os lucros pela sua própria "economia paralela".
Nestas investigações, chegamos finalmente às privatizações. Conforme o Negócios revelou ontem, às suspeitas de tráfico de influências somou-se a de manipulação de preço: teria havido troca de informação "privada" entre assessores de quem vendeu e comprou. Hoje, o Negócios acrescenta mais uma suspeita: a de que houve gente que soube dos preços propostos, o que constitui informação privilegiada, usou-a em seu proveito, o que é ilegal, e mandou comprar e vender acções da EDP e da REN através da rede de lavagem da Operação Monte Branco.
Os três casos são, pois, diferentes. Mas têm em comum esta doença do dinheiro que só dá a quem o tem: querer enriquecer, à margem da lei e sem pagamento de impostos.
Há uma pormenor importante: o DCIAP deixou ontem claro em comunicado que as suspeitas recaem sobre os assessores financeiros do Estado. Isso não é abstracto, é concreto: Caixa Geral de Depósitos e Perella Weinberg foram os assessores da Parpública. Um crime é um crime, uma suspeita é uma suspeita. Mas que seja feita beneficiando de estruturas do Estado ou contratadas por ele é especialmente assustador.
Todos estes processos têm um trio de magistrados em comum: Cândida Almeida, que lidera o Departamento Central de Investigação e Acção Penal; Rosário Teixeira, o procurador responsável pelos processos; e Carlos Alexandre, o juiz que ordenou as buscas. Os visados acusam sempre em surdina estes agentes da justiça de sede de protagonismo. É o truque antigo para a diversão. A verdade é que este trio tem sido responsável pelos casos de crime económico-financeiro Furacão, Monte Branco, BPN e, mais recentemente, a investigação às PPP rodoviárias. Sem eles, haveria menos investigação. Com eles, haverá condenações?
Ainda ontem o ministro das Saúde defendeu na Redacção Aberta do Negócios o papel da Procuradoria no desmantelamento de redes ilícitas na Saúde. E não passaram duas semanas desde que Martin Wolf aqui afirmou que, historicamente, as crises que se seguem a "bolhas" revelam sempre um fenómeno: a desonestidade. Porque, disse, "as pessoas não resistem e o dinheiro abunda."
Estas investigações põem em causa as estruturas mais poderosas da economia portuguesa. As condenações isolam os culpados e salvam os inocentes da suspeita. É natural que, uns e outros, preferissem que nada acontecesse. A justiça é de facto um grande inconveniente.
Faça-se. Cumpra-se.

Ecos da blogosfera - 18 jul.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Todos serão considerados inocentes, até…

Mont Blanc 3D
Escutas feitas no âmbito da operação Monte Branco terão levado as autoridades a investigar processo de privatização da REN e da EDP.
Não foram constituídos arguidos nas buscas realizadas pelo DCIAP entre quinta-feira e anteontem, com o objectivo de "investigar a intervenção de alguns dos assessores financeiros do Estado nos processos de privatização da REN - Redes Energéticas Nacionais e da EDP".
Numa nota, o DCIAP adianta também que estas diligências decorreram no âmbito do processo Monte Branco - que investiga uma rede centrada numa empresa suíça que oferecia esquemas para fugir ao fisco e para branquear capitais. Foram escutas feitas neste inquérito, envolvendo responsáveis da Caixa BI (banco de investimento da CGD) e do BESI (Banco Espírito Santo Investimento), que terão levando suspeitas às autoridades. A Caixa BI e o BESI assessoraram partes contrárias nos processos de privatização da REN e da EDP.
Nestas operações existe em regra grande interacção entre assessores financeiros do vendedor e dos potenciais compradores, nomeadamente no momento da discussão do preço. Trata-se de uma estratégia negocial que pode gerar pontos de conflito e de tensão entre os vários interessados.
Quinta-feira, o Ministério Público (MP) fez buscas na Parpública, que esteve a representar o Estado nas privatizações, e, no dia seguinte, sexta-feira, rumou a uma das empresas que a assessorou neste processo, a Caixa BI, então presidida por Jorge Tomé, que dirige hoje o Banif. Na segunda-feira, os investigadores estiveram no BESI, liderado por José Maria Ricciardi, que apoiou 2 dos vencedores: a chinesa Three Gorges, que ganhou a corrida pela compra dos 21% que o Estado vendeu na EDP e de um dos compradores da REN, a State Grid, que ficou com 25% daquela empresa.
O procurador Rosário Teixeira do DCIAP acompanhou as buscas no terreno, apanhando "totalmente" de surpresa os responsáveis das instituições. As buscas ficaram apenas nas mãos de procuradores daquele departamento especializado na investigação de criminalidade complexa e organizada. O MP apostou na discrição das operações, não tendo facultado grandes justificações nos seus mandados de busca, para evitar a propagação de informações.
"Não está em causa o sentido da decisão final assumida naquelas privatizações, mas tão-só a investigação criminal de condutas concretas de alguns intervenientes", esclareceu o DCIAP.
As privatizações, quer da REN quer da EDP, estiveram no seu início envolvidas em polémica, quando a Parpública contratou, por ajuste directo, em Agosto de 2011, a Perella Weinberg Partners para prestar assessoraria financeira ao Estado. Na altura várias vozes criticaram o facto de esta sociedade, de origem norte-americana e com um sócio português, Paulo Cartucho Pereira, não ter, aparentemente, historial no sector energético. A decisão de contratar esta consultora terá partido do próprio ministro das Finanças, Vítor Gaspar. O Diário Económico revelou então que Gaspar terá alegado falta de tempo "para lançar um concurso de selecção dos bancos, tendo em conta a urgência em avançar com as privatizações". Paulo Cartucho Pereira, ex-chefe do departamento de fusões e aquisições europeias da Morgan Stanley, é tido como próximo de Gaspar e do economista António Borges, que à data da sua contratação pela Parpública estava no FMI, a liderar o departamento europeu. Só este ano, Borges assumiu as funções de consultor do Governo para as privatizações.
Uma fonte ligada às operações confessou-se perplexa com a investigação, pois, segundo notou, estão em causa 2 privatizações "objecto de grande fiscalização ao mais alto nível". Outra fonte, ligada à CGD, adiantou que o Governo deliberou "com base em pareceres técnicos", numa reunião "renhida", e que tinha a prorrogativa de, no caso de as propostas serem muito semelhantes, fazer uma "última ronda" para valorizar os activos.
O vice-presidente da Transparência e Integridade - Associação Cívica (TIAC), Paulo Morais, reagiu às notícias relacionadas com a privatização da EDP e REN exigindo a responsabilização de todos os que tiveram um papel no processo.
Na opinião do ex-vereador da câmara do Porto, Governo, Comissão Especial de Acompanhamento à Privatização, Conselho de Prevenção da Corrupção, comissão eventual para acompanhamento das medidas do programa de assistência financeira a Portugal (Comissão parlamentar da Troika), devem ser chamados a responder pela falta de transparência.
“Tudo foi feito ao contrário”, assegura Morais depois de lembrar o documento apresentado pela TIAC, em Junho de 2011, após a assinatura do Memorando de Entendimento com a Troika, que sugeria um conjunto de medidas para evitar fenómenos de corrupção no processo de privatizações.
Para Morais, o erro do Governo foi o de ter nomeado uma comissão de acompanhamento interna – presidida por Daniel Bessa – em vez de abrir essa entidade “à sociedade civil”. “Desde o início se devia ter constituído uma comissão de acompanhamento externa que pudesse explicar o modelo a ser adoptado, os critérios de aceitação de candidatos e que fizesse a monitorização a posteriori, critica o professor universitário ligado à área da Ciência Política.
Mas as críticas não se limitam ao Governo. Considera insuficiente o papel de Guilherme d’Oliveira Martins, enquanto líder do Conselho de Prevenção da Corrupção. “Reuniu com a comissão de acompanhamento já depois de concluído o processo. Deve haver ali um problema em relação ao significado da palavra prevenção”, considera antes de classificar o trabalho do Conselho como “patético”.
E o Parlamento também não está isento de culpas, assegura. Morais fala de “deputados coniventes” apontando o dedo aos membros da comissão parlamentar da Troika. “Pessoas com conflito real de interesses” assevera, ao referir-se a Miguel Frasquilho (PSD), Pedro Pinto (PSD) e Adolfo Mesquita Nunes (CDS). O primeiro devido à sua ligação ao BES (que agora estará a ser investigado), o segundo por estar ligado a empresas que fazem consultoria para a EDP e o último por colaborar no escritório de advogados que assessorou o Governo e a EDP no processo.
“Isto já é mais do que promiscuidade absoluta, é simples identidade”, remata Morais.

E por que não todos os políticos em exclusividade?

“Não estou preocupado. Ele não é meu superior, não é meu ministro.” É a resposta de D. Januário Torgal ao ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, que ontem o desafiou a escolher entre “ser bispo das Forças Armadas e ser comentador político”. D. Januário contrapõe: “Um bispo não tem que escolher entre a sua função de membro da Igreja ou de comentador político. Um bispo tem de falar de tudo, é sua obrigação interceder pelos mais frágeis. Se isso é ser comentador político, que seja”.
Independentemente da questão em si, o desafio que o ministro da Defesa faz ao Bispo, não se vira contra o feiticeiro?
Se há incompatibilidades, conflitos de interesses e ocasiões tentadoras, é na acumulação nas mesmas pessoas, que exercem cargos políticos (governantes e deputados) ou funções públicas (administradores, comissões, etc.) com atividades privadas, muitas vezes com ligações e interações entre os dois setores, pondo constantemente à prova a sua independência, nem sempre com êxito!
E para desfocar mais a fotografia, muitos deles ainda são convidados pelas TVs como comentadores, como se fossem independentes e técnicos de alto gabarito, para nos convencerem da bondade de todas as medidas e situações, por muito obtusas que sejam. Para quem está informado e os ouve, fica com a certeza de que estão simplesmente a fazer pela vida (deles)…
Enquanto não houver exclusividade para quem exerce funções em todos os lugares da coisa pública haverá sempre fumo e mais vezes do que o desejável, lá surgem uns fogositos, que os “bombeiros” não conseguem apagar…
Há escolhas e opções que não podem ser adiadas, em abono da transparência (não tanta que não se veja nada nem ninguém) tão apregoada por este governo…