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sábado, 12 de novembro de 2011

Afinal as “palavras cruzadas” traziam a solução…

O grupo de trabalho devia entregar em 11-11-11 ao ministro Miguel Relvas um relatório sobre a definição de serviço público de comunicação social, mas o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares "adiou [o prazo] para segunda-feira", 14 de Novembro.
Coordenado pelo economista João Duque, o grupo de trabalho integra António Ribeiro Cristóvão, Eduardo Cintra Torres, José Manuel Fernandes, Manuel José Damásio, Manuel Villaverde Cabral e Manuela Franco. Fizeram ainda parte deste grupo Francisco Sarsfield Cabral, João do Amaral e Felisbela Lopes, que se demitiram, os dois primeiros em outubro, a terceira na quarta-feira.
Felisbela Lopes indicou que se demitiu no final de uma reunião do grupo de trabalho, por discordar da menor importância dada à informação na "quinta versão" do documento. "Não posso assinar um documento que não considera importante a informação no serviço público. Este documento defende a redução da informação na RTP. Não posso assinar um documento que defende o encerramento da RTP Informação", justificou a professora e investigadora da Universidade do Minho.
Já João do Amaral, antigo diretor de informação da Rádio Renascença, disse que o plano de sustentabilidade financeira da RTP já "prevê grande parte das medidas de serviço público", pelo que não "fazia sentido" continuar no grupo de trabalho.
Francisco Sarsfield Cabral indicou que já tinha dado os seus "contributos" ao grupo. "Fiquei espantado por haver já decisões" antes do grupo de trabalho ter concluído o documento final, adiantou Sarsfield Cabral, lembrando que não concorda com a existência de mais um canal de televisão comercial.
No despacho constitutivo do grupo de trabalho, o Governo comprometeu-se a "repensar o posicionamento do Estado, como operador, neste âmbito, tanto ao nível do Grupo RTP como da Lusa, Agência de Notícias de Portugal, S.A.", considerando "indispensável ponderar e estabelecer uma adequada definição de serviço público que abranja os três segmentos do sector ainda sob tutela estatal, a saber, o da rádio e televisão e o da agência noticiosa".
O adiamento do prazo de entrega do Relatório entende-se perfeitamente, por ser a tal data mágica do 11-11-11, quando ainda por cima se “aprovava” o OE2012 e se proporcionava mais um fim de semana para uns retoques…
Quando tomei conhecimento de que um grupo de experts ia rever a “definição de SERVIÇO PÚBLICO de comunicação social” pensei logo que seria para retificar alguns desvios e enriquecer o conceito para consequentemente se implementar outra prática, mas logo que vi que o respetivo Coordenador era economista (embora não seja, mas licenciado em Organização e Gestão de Empresas) fiquei meio desconfiado sobre o verdadeiro objetivo, quando havia outros nomes mais credenciados para a função.
Entretanto, enquanto se reunia o grupo e logicamente antes das conclusões, já o ministro falava na privatização da RTP, o que me deixou com a pulga atrás da orelha e foi só esperar até ontem.É natural que em qualquer grupo de trabalho haja divergências e demissões, mas é sempre bom conhecer os motivos para melhor entendermos as conclusões. E vejamos:
Felisbela Lopes, provavelmente a mais qualificada academicamente, alegou que não podia assinar um documento que não considera importante a informação no serviço público… Nem ela, nem ninguém compreenderá que um meio de comunicação social não dê notícias, sobretudo sérias e isentas de ruídos de interferências…
João do Amaral, cedo percebeu que era do plano de sustentabilidade financeira da RTP que se tratava e que esse já previa grande parte das medidas de serviço público e não quis contribuir para que continuasse a chover no molhado… Se estou a interpretar bem, só vem dar razão às minhas meias desconfianças…
Francisco Sarsfield Cabral, apesar de dizer que já tinha dado o que podia e sabia para aquele peditório, não deixou de dizer o mais importante, na minha perspetiva, denunciando que já havia decisões, mesmo antes do grupo de trabalho ter concluído o documento final… E acabaram-se as minhas dúvidas!
Se o despacho constitutivo do grupo de trabalho dizia que o Governo se comprometia a repensar o posicionamento do Estado, como operador, percebe-se que se referia à “reestruturação” (leia-se, cortes e despedimentos para privatizar), embora com o isco da tal adequada definição de serviço público, para a rádio, a televisão e a agência noticiosa, que para já se fica pela RTP…
Claro que ainda não acredito que a privatização se venha a dar nos próximos tempos, pelas razões que elenquei no post abaixo, mas sobretudo por outros poderes que o SERVIÇO PRIVADO tem, cada vez mais…

Contramarés sem contrapé… 12 nov.

O Presidente da República criticou a dificuldade desnecessária que o acordo da ajuda externa cria à economia com as condições impostas à banca e reiterou que só o BCE pode travar a especulação dos mercados e defendeu, que as exigências de reforço de capital aos bancos portugueses até ao final do ano, feitas pela 'troika', deveriam ser iguais às que existem para outros países europeus onde os bancos têm prazos mais alargados para alcançar os mesmos objetivos.

Domingo: "Brinde a Portugal e aos Portugueses"!

Comemora-se este ano o 10.º aniversário da elevação do Douro a Património da Humanidade pela UNESCO, a 14 de Dezembro. Para assinalar a efeméride, o Douro convida para um "Brinde a Portugal e aos Portugueses" no próximo dia 13 de Novembro, data em que se celebra o Dia Europeu do Enoturismo.
Pretende-se com esta iniciativa que os portugueses se envolvam num brinde patriótico, com um cálice de vinho do Porto. A proposta é para que o brinde seja proporcionado, às 13h00 em ponto e em todo o país, pelo maior número de restaurantes, bares, lojas e locais públicos.
A intenção do "Brinde a Portugal e aos Portugueses" é que os portugueses promovam também, nas suas casas às 20h00, um brinde à família, aos vizinhos e aos amigos.
Esta acção tem por objectivo a recuperação da auto-estima e do orgulho nacionais, utilizando o produto português mais conhecido em todo o mundo, o vinho do Porto, uma marca com história, assente num convite de raridade, de distinção e de experiência competitiva global, enraizado na cultura, na imagem e nos valores da portugalidade.

  


"O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta." - Miguel Torga in "Diário XII"

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ecos da blogosfera – 11 nov.

Convém (re)conhecer as causas das cousas…

Afinal, Portugal não é a Grécia. É o Chile. De há 30 anos. Não vamos apenas recuar no rendimento per capita, mas também na História, na integração europeia e, seguramente, na qualidade da democracia. Em prol de quê? - Em prol de uma fé. E a troco de quê? - A troco de uma mão cheia de nada.
Pedro Lains
Deixem-me personalizar porque é caso para isso. Conheço o pensamento de Vítor Gaspar, porque várias vezes me cruzei com ele, em seminários, e porque ele se interessa por história económica e várias vezes entrámos em diálogo. Sempre concordámos em discordar. Também conheço o seu pensamento porque por onde ando há outros economistas assim, também dos bons. Posso talvez dizer que em cada 100 economistas ou historiadores económicos que conheço, 5 pensam como o ministro das Finanças e um é fora de série. A presença de um deles num debate é sempre fonte de animação.
Mas há dois grandes problemas. O primeiro é que estes economistas, no fundo, não estão muito interessados em causalidades. Estão mais preocupados com equilíbrios. Não acham importante determinar se vem primeiro o ovo ou a galinha. Há um défice, um desequilíbrio? Corrija-se. Mas as causas são… Não interessa, corrija-se para recuperar a confiança, criar um círculo virtuoso e restabelecer o crescimento. Onde foi isso visto? Aqui e ali. Mas como prova que a recuperação foi o resultado da contracção, se o mundo entretanto mudou? Porque a teoria assim o diz.
O segundo problema, porventura maior, muito maior, é que esses economistas não chegam, nem perto nem longe, aos governos dos países avançados e europeus como Portugal. Os ministros das Finanças europeus são políticos, não teóricos e sobretudo não teóricos da fasquia dos 5%, brilhantes, é certo, de Vítor Gaspar. Quando muito chegam a governadores de bancos centrais. Tivemos azar.
E tivemos azar por culpa de muita gente e, em última análise, do actual primeiro-ministro. Ele ouviu à saciedade que era preciso "mudar o rumo", que vivíamos "acima das possibilidades", que era preciso um "corte radical com o passado". E acreditou nisso tudo. Primeiro, acreditou nas "gorduras do Estado" - até ver que as havia, mas que eram macroeconomicamente marginais. Ficou sem eira nem beira. Até que Vítor Gaspar lhe apresentou um plano, o único plano que havia para pôr tudo em linha como recorrentemente lhe pediam.
O plano de Vítor Gaspar já chocou muita gente, porque é chocante. E não o fez só à esquerda, pois o PSD também ficou chocado e muito. Mas não se consegue mexer. Nem o PS. A principal razão por que o plano é chocante é que ele assenta numa carta que não estava no baralho: a contracção sem limites de salários - e mais aumento de impostos. Assim qualquer um sabe governar.
Passos Coelho não parece ter percebido o que se estava a passar, como revelam duas das suas declarações. A primeira foi quando disse que os funcionários públicos "ganham mais 10 a 15% que trabalhadores privados". Sim, ganham, mas não todos e porque os de rendimentos mais baixos ganham mais e as mulheres ganham o mesmo que os homens.
Se queria corrigir essa "injustiça" teria de ter feito de outro modo. E não podia, pois tinha de ir aos salários mais baixos. A segunda foi quando disse que a medida era para 2 anos, o que o ministro das Finanças prontamente desmentiu. Obviamente. Um choque destes para durar tem de durar. Não há milagres.
Ou seja, este Orçamento equilibra as contas, segundo o memorando da troika, à custa de uma contracção permanente, feita num acto, brutal, do rendimento disponível. E a troco de quê? Já lá vamos.

Contramarés sem contrapé… 11 nov.

As alterações ao regime geral das instituições de crédito estão a ser contestadas pelos banqueiros, que dizem que há "quebra de direitos e liberdades constitucionais" nas alterações previstas ao Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras. Tudo por causa das condições que o setor enfrenta a nível da recapitalização e ameaçam colocar o Estado em tribunal.

"O PODER DO PACOTE": mais fracassos do que êxitos!

A crise da dívida deixa a zona euro numa situação idêntica à que a América Latina conheceu na década de 1990. Para uma solução mais rápida, os europeus deviam tirar ilações dos erros cometidos nesta época, estima o editorialista e antigo ministro venezuelano, Moises Naim.
Há algumas semanas, assisti a um reunião em Bruxelas que, por acaso, coincidiu com a cimeira na qual os dirigentes europeus acordaram um plano para estabilizar as suas economias. Naturalmente, ao fim do dia, conversei com amigos economistas de diferentes governos que apoiavam, com as suas propostas, as negociações entre os respetivos líderes. As suas histórias, angústias e cansaço trouxeram-me muitas recordações.
No início dos anos 1990, fui ministro do meu país, a Venezuela, numa altura em que o Governo também não podia pagar as dívidas e a economia estava debilitada. Depois, trabalhei no Banco Mundial e estive próximo de negociações semelhantes em outros países. Em muitas destas experiências, os fracassos foram mais frequentes que os êxitos. E é sabido que os fracassos ensinam muito.
Nas conversas informais com os meus amigos europeus, as semelhanças entre a sua crise e as crises que agitaram outros países eram óbvias. Mas, tão surpreendente como essas semelhanças era a pouca disposição dos meus interlocutores para reconhecer que as experiências e os erros da América Latina contêm ensinamentos importantes para a gestão da crise europeia.
"A Europa é diferente" – era a reação quase automática. "Temos o euro, as nossas economias e os nossos sistemas financeiros são diferentes, tal como as nossas instituições e cultura", insistiam. Tudo isso é certo. Mas há outras realidades que também são certas.
Entre os anos 1980 e 2003, a América Latina sofreu 38 crises económicas. A região, as suas autoridades, os seus políticos e até a sua opinião pública aprenderam com a experiência desses dolorosos episódios. A lição mais importante talvez tenha sido aquilo a que se poderia chamar "o poder do pacote". O pacote é um conjunto de medidas económicas, completo, coerente, credível e politicamente sustentável.
Prometer a um país austeridade quase perpétua não funciona
Além disso – e isto é muito importante – inclui cortes na despesa pública e austeridade mas, também, uma distribuição justa dos custos do ajustamento económico entre os diferentes grupos sociais, o reforço das redes de segurança social para os mais vulneráveis, reformas estruturais capazes de gerar mais emprego e, sobretudo, esperança num futuro melhor.
Lamentavelmente, a tentação de evitar um pacote amplo e coerente é tão forte como o efeito salutar deste. Na América Latina, o erro mais recorrente foi tentar resolver a crise com medidas parciais e fragmentadas e pensar que é possível adiar indefinidamente as decisões mais impopulares. É isso que tem estado a passar-se na Europa.
Basta ver o que está a acontecer em Itália ou na Grécia para reconhecermos a experiência da Argentina, por exemplo. Contudo, mais cedo ou mais tarde, a realidade impõe-se e as medidas parciais fracassam. Isto abre caminho para a realização de esforços simultâneos nas áreas afetadas da economia: dívida excessiva e despesa pública descontrolada, bancos pouco capitalizados e mal regulamentados, políticas orçamentais e monetárias descoordenadas, baixa competitividade internacional e leis que inibem o investimento e a criação de emprego.
Atacar um ou vários destes males, sem tocar nos restantes não funciona. E prometer a um país austeridade quase perpétua para pagar as dívidas ao estrangeiro também não.
Europa pode aprender com os nossos erros e correções
Quando afirmam depreciativamente que a Europa está a ficar parecida com a América Latina, os críticos que fazem tal observação têm em mente a América Latina do passado, a que sofreu crises económicas em série. Mas há outra maneira de encarar a questão: o melhor que poderia acontecer à Europa era ficar parecida com a América Latina de hoje.
A que soube navegar por entre a crise mundial sem perder o rumo, que gere as suas finanças públicas com prudência e sabe regulamentar a banca. Nos últimos anos, os melhores países da região – o Brasil, o Chile e a Colômbia, entre outros – têm crescido, criado emprego e ampliado a sua classe média.
Além disso, e para surpresa de muitos, "a América Latina tem hoje o sistema financeiro mais sólido do mundo", segundo afirma José Juan Ruiz, economista do Banco Santander e atento observador da situação financeira mundial.
Não se trata de a Europa estar a caminhar para a pobreza, a desigualdade, a corrupção e a violência tão comuns na América Latina. Trata-se de a Europa aprender com os erros e as correções de uma região que sabe mais do qualquer outra sobre crises económicas, colapsos bancários, choques externos e efeitos de gastos descontrolados, forte endividamento e promessas vãs do populismo.
Oxalá a Europa consiga gerir a sua crise, como a nova América Latina aprendeu a fazê-lo. Neste sentido, falar de latino-americanização da Europa é um bom desejo.

Ecos da blogosfera – 10 nov.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Gastar urânio enriquecido(r) com fraco defunto?

Fukushima marca, em matéria de energia atómica, o fim de uma ilusão e o começo da era pós-nuclear. Agora classificado como de nível 7, o mais alto na escala de acidentes nucleares, o desastre japonês já é comparável ao de Chernobyl, pelos seus “efeitos radioativos consideráveis na saúde das pessoas e no meio ambiente”.
O tremor de magnitude 9 e o descomunal maremoto que castigaram o Noroeste do Japão com inaudita brutalidade no dia 11 de março de 2011 não só originaram o desastre na central de Fukushima como dinamitaram todas as certezas dos partidários da energia nuclear civil.
A indústria nuclear, com a construção de dezenas de centrais atómicas prevista em inúmeros países, vivia curiosamente a sua época mais idílica, essencialmente por duas razões. Primeiro, porque a perspectiva de “esgotamento do petróleo” antes do fim deste século e o crescimento exponencial da procura energética por parte dos gigantes emergentes (China, Índia, Brasil) a convertiam em energia de substituição por excelência1. Segundo, porque a tomada de consciência coletiva diante dos perigos das mudanças climáticas, causadas pelos gases do efeito estufa, conduzia paradoxalmente à opção por uma energia considerada “limpa”, não geradora de CO2.
A esses argumentos recentes, somavam-se os já conhecidos: o da soberania energética e menor dependência em relação aos países produtores de hidrocarbonetos; o baixo custo da eletricidade forjada nas centrais nucleares; e, por mais insólito que pareça no contexto atual, o da segurança, com o pretexto de que, das 441 centrais nucleares espalhadas pelo mundo (metade na Europa ocidental), apenas 3 foram cenário de acidentes graves nos últimos 50 anos. Todos estes argumentos – não forçosamente absurdos – foram por água abaixo depois da descomunal dimensão do desastre de Fukushima. O novo pânico, de alcance mundial, fundamenta-se em várias constatações.
Em primeiro lugar, e contrariamente à catástrofe de Chernobyl – atribuída, em parte por razões ideológicas, ao descalabro de uma vilipendiada tecnologia soviética –, esta nova calamidade ocorreu no centro hipertecnológico do mundo e onde se supõe (pelo Japão ter sido, em 1945, o único país vítima do inferno atómico militar) que os técnicos tomaram todas as precauções possíveis para evitar um cataclismo nuclear civil. Logo, se os mais aptos não conseguiram evitar o desastre, seria razoável permitir que os demais sigam brincando com fogo atómico?
Em segundo lugar, as consequências temporais e espaciais do desastre de Fukushima são aterrorizantes. Pela razão da elevada radioatividade, as áreas que circundam a central ficarão desabitadas por milénios. As zonas mais afastadas, por séculos. Milhões de pessoas serão definitivamente deslocadas em direção a territórios menos contaminados e terão de abandonar para sempre as suas propriedades e explorações industriais, agrícolas ou pesqueiras. Para além da própria região mártir, os efeitos radioativos terão repercussão na saúde de dezenas de milhões de japoneses. E, sem dúvida, de numerosos vizinhos coreanos, russos e chineses. Sem mencionar outros habitantes do hemisfério boreal2 – o que confirma que um acidente nuclear nunca é local, mas sempre planetário.
Em terceiro lugar, Fukushima demonstrou que a questão da pretendida “soberania energética” é muito relativa, já que a produção de energia nuclear supõe uma nova sujeição: a “dependência tecnológica”. Apesar do enorme avanço técnico, o Japão precisou de recorrer a especialistas estadunidenses, russos e franceses (além de especialistas da Agência Internacional da Energia Atómica) para controlar a situação. Por outro lado, os recursos do planeta ricos em urânio3, combustível básico das centrais, são muito limitados. Calcula-se que, ao ritmo atual de exploração, as reservas mundiais deste mineral esgotar-se-ão em 80 anos – ou seja, o mesmo tempo previsto para o desaparecimento do petróleo.
Por estas e outras razões, os defensores da opção nuclear devem admitir que Fukushima modificou radicalmente o enunciado do problema energético. Neste cenário, 4 medidas urgentes se impõem:
1 - Parar de construir novas centrais;
2 - Desmantelar as existentes no prazo máximo de 30 anos;
3 - Ser extremamente económico com o consumo de energia e
4 - Apostar a fundo em todas as energias renováveis.
Só assim, talvez, salvaremos o planeta. E a humanidade.
Ignacio Ramonet, é jornalista, sociólogo e diretor da versão espanhola de Le Monde Diplomatique.
Ilustração de Luciano Feijão
1 Antes do acidente de Fukushima, estimava-se que o número de centrais nucleares no mundo aumentaria em 60% até 2030. A China, por exemplo, tem hoje 13 centrais atómicas em atividade responsáveis pela produção de apenas 1,8% da eletricidade do país; em janeiro passado, decidiu-se construir, entre 2011 e 2015, 34 novas centrais, ou seja, 1 a cada 2 meses.
2 Partículas radioativas procedentes de Fukushima caíram sobre a Europa ocidental alguns dias depois da catástrofe. Apesar de as autoridades terem declarado que “não constituíam uma ameaça à saúde”, vários especialistas ressaltaram que a radioatividade se pode acumular nas hortaliças, em particular nas folhas grandes, como as da alface, e o consumo desses alimentos apresenta riscos.
3 Um reator nuclear nada mais é do que um sistema de aquecer água. Para isso, utiliza a fissão do átomo de urânio 235 (U235), que, ao romper-se, ao fissionar-se mediante a denominada “desintegração nuclear”, produz uma enorme libertação de energia térmica. Vale lembrar que, para cada tonelada de mineral de urânio, é necessário explorar 156 toneladas de pedra. Dessa tonelada de mineral de urânio recolhida, faz-se apenas 1 quilo de urânio enriquecido. Desse quilo, apenas 0,7% é U235, o elemento usado nas centrais. Ou seja, para 7 gramas de U235, é preciso remover mil quilos de mineral e 156 toneladas de pedras!
Ver Eduard Rodríguez Farré e Salvador López Arnal, Casi todo lo que usted desea saber sobre los efectos de la energía nuclear en la salud y en medio ambiente [Quase tudo o que você deseja saber sobre os efeitos da energia nuclear na saúde e no meio ambiente], El Viejo Topo, Barcelona, 2008. E também Paco Puche, “Adiós a la energía nuclear” [Adeus à energia nuclear], Rebelión (www.rebelion.org), 18 de abril de 2010.

Contramarés sem contrapé… 10 nov.

Francisco Sarsfield Cabral, João do Amaral e Felisbela Lopes demitiram-se do grupo de trabalho nomeado pelo Governo para definir o conceito de serviço público de comunicação social, coordenado pelo economista João Duque, que integra ainda António Ribeiro Cristóvão, Eduardo Cintra Torres, José Manuel Fernandes, Manuel José Damásio, Manuel Villaverde Cabral e Manuela Franco.

Nuclear é acabar com a ENERGIA NUCLEAR, JÁ!

"No total, um milhão de postos de trabalho estaria em risco, o que custaria entre 0,5 e um ponto percentual do PIB", prevê o presidente executivo do grupo energético EDF, que tem 60 centrais nucleares, a alguns meses das presidenciais francesas.
Em França, 75% da produção elétrica é atualmente de origem nuclear.
Após o desastre de Fukushima, no nordeste do Japão, países europeus como a Alemanha, a Suíça e a Bélgica anunciaram o abandono do nuclear.
A coisa mais provocadora e reativa que há é fazerem de nós parvos!
Usando o mesmo raciocínio do perlesidente da EDF teremos que concluir, que a Alemanha, a Suíça e a Bélgica vão lançar no desemprego uns milhões de postos de trabalho! Que insensibilidade social!
E mais, aqueles países vão passar a usar velas e candeeiros de petróleo (ou a gás) para continuarem a fazer a mesma vida, com menos requinte, e diminuindo a produção das suas fábricas… Devem estar doidos!
Pelo que se percebe do silogismo do perlesidente da EDF e disso nos quer convencer (mais aos franceses) se a França abandonar a energia nuclear vai ser já para amanhã e vai ficar com as calças na mão para poder produzir energia suficiente para depois de amanhã… Falácia!
Qualquer ignorante sabe, ou pressupõe, que preencher 75% da produção energética não é do pé para a mão e que essas intenções são planeadas, no tempo e com a criação de alternativas, o que pode passar pelas energias alternativas. Obviamente…
Qualquer ignorante sabe, ou pressupõe, que os funcionários das centrais nucleares ocuparão os “novos” lugares nas novas centrais energéticas, seja qual for a fonte. Obviamente…
Qualquer ignorante sabe, ou pressupõe, que o perlesidente da EDF está a puxar o urânio para a sua sardine, que só é barata enquanto não eclode um acidente (Operadora da central de Fukushima com prejuízos superiores a 5.800 milhões de euros), e aí, sim, vão mais de 1.000.000 para o “desemprego”, franceses e não só. Obviamente…
Qualquer ignorante sabe, ou pressupõe, que substituir a produção de 60 centrais nucleares custará dinheiro à EDF para poder continuar a ganhar dinheiro com a venda de energia, o que é chato para os resultados contabilísticos da empresa, mas é ótimo para a economia, a preservação do planeta e para a imagem de responsabilidade social da empresa, o que também dá dinheiro. Obviamente...
Qualquer ignorante sabe, ou pressupõe, que lançar esta “ameaça” nuclear para a economia francesa, mas nuclear também para os interesses financeiros da EDF, só tem a ver com as eleições presidenciais francesas, procurando a reação, nuclear, dos candidatos, para que ponham na agenda do rol de promessas, quando já faltam alguns meses para o veredicto do povo. Obviamente...
Qualquer ignorante sabe, ou pressupõe, que das relações estreitas entre Sarkozy e Merkel, porque ELA optou pelo abandono do nuclear, ele, naturalmente, deverá imitá-la e aí é que está o perigo e a jogada da EDF. Obviamente...
Vá enganar a tia dele!

Ecos da blogosfera – 9 nov.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

E lá vem mais uma acha para a fogueira…

O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) deveria salvar a moeda única. Mas os investidores torcem o nariz a este produto financeiro complexo e incerto, cujas fragilidades os políticos tentam ocultar.
Apesar de ter por objetivo aliviar as dores de cabeça do clube do euro, acabou por se tornar mais uma. Criado para salvar a moeda única, o FEEF acabou por ficar doente. Ao longo dos meses da sua curta existência, o fundo europeu que deveria fazer sair da crise os países da zona euro mais afetados já teve de ser revisto e corrigido – para não dizer salvo – por várias vezes, para não ser, ele próprio, esvaziado, esgotado e liquidado. Depois de ter sido alargado e, em seguida, reforçado, apresentou um balanço pouco brilhante, em Cannes. O FEEF continua a não ser o que deveria ser.
A verdade é que este instrumento não dispõe de meios para cumprir a missão que lhe foi atribuída, a saber, encontrar dois biliões de euros para apagar o fogo na zona euro. Sob a sua forma atual, apenas consegue manter controlados alguns focos de incêndio menores. Se a Itália ou a Espanha começarem a arder, o fundo nada pode. Por conseguinte, os ministros das Finanças da zona euro voltaram a reunir-se na segunda-feira, 7 de novembro, em Bruxelas, para tentar descobrir onde irão buscar as verbas necessárias.
Na realidade, esperavam que o dinheiro afluísse da Ásia e da Rússia. Na China e no Japão há bastantes investidores, privados e públicos, suscetíveis de comprar ativos europeus, incluindo do FEEF. Prevendo a chegada desse dinheiro, os europeus remodelaram o seu plano de resgate, com a finalidade de atrair mais grandes investidores e de acabarem por reunir os milhares de milhões necessários para resolver a crise.
Asiáticos e russos relutantes
O problema é que os seus cálculos estavam errados. Os asiáticos mostram-se relutantes e os russos também. Ninguém está realmente disposto a investir mais no FEEF. Na semana passada, este fundo europeu teve mesmo de renunciar a lançar um novo empréstimo obrigacionista. Não há motivo para preocupações, tratava-se apenas de um teste, comentam os responsáveis do fundo.
A situação é grave, replicam os especialistas financeiros: os investidores não se interessam pelo FEEF. E provou-se que tinham razão, quando, em 7 de novembro, o fundo emitiu um novo empréstimo obrigacionista. Os compradores mostraram reduzido interesse e os prémios de risco foram os mais elevados de sempre.
Nos bastidores dos guardiães das notações de crédito, murmura-se que, hoje, até o AAA está periclitante. E estas três letras representam a garantia de que, apesar da crise, os investidores continuarão a comprar títulos europeus. Infelizmente, o FEEF tornou-se demasiado complicado para muitos desses investidores.
Mercados financeiros sentiram-se ludibriados
O instrumento de salvamento do euro faz agora parte do grupo de produtos financeiros que os investidores quase não entendem e relativamente aos quais preferem, sensatamente, manter distância. Quando criou este mecanismo, o clube do euro anunciou que este valia 440 mil milhões de euros. Na verdade, incluía apenas créditos no montante de 280 mil milhões.
Os mercados financeiros sentiram-se ludibriados e os receios de que venha a faltar dinheiro, se a crise se propagar a outros países, aumentaram. Portanto, os países da zona euro reforçaram o fundo de forma a chegarem a créditos no montante de 440 mil milhões de euros, o que requereu um total de 780 mil milhões, uma vez que a diferença se destina a ser mantida como reserva, para garantir a classificação AAA.
A partir do momento em que os mercados financeiros viram perfilar-se a crise da dívida em Itália, tornou-se evidente que esse montante não bastaria e, agora, fala-se em dois biliões de euros. Mas, mais uma vez, a estrutura do fundo é demasiado complexa para este ser capaz de atrair os grandes investidores e a solução não funcionou.
É certo que o clube do euro, ainda pode tentar promover o seu fundo complicado na Ásia. No entanto, nos bastidores, há já algum tempo que está a ser preparado o terreno para se ir beber a outra fonte, a única que nos proporcionou alguns dias sem dores de cabeça: o Banco Central Europeu.

Contramarés sem contrapé… 9 nov.

A empresa Redes Energéticas Nacionais (REN), de capitais públicos, envolvida no processo Face Oculta que começou a ser julgado, mantém em funções em altos cargos 3 dos arguidos do caso, acusados e pronunciados por corrupção, apesar de há um ano ter feito um comunicado a anunciar a dispensa dos três trabalhadores.
O assessor de imprensa da REN reconhece os factos.

A Europa vai em contramão e diz que são os outros…

Ao fazer o balanço da reunião da cimeira do G20, na semana passada na França, a presidente Dilma Rousseff defendeu que o combate à extrema pobreza seja prioridade diante da crise internacional. Para ela, países que socorrem bancos em dificuldades, perto de falir, podem também oferecer subsídios às famílias em condição de extrema pobreza. E voltou a defender, que a busca pela criação de empregos e a manutenção dos direitos sociais tenha prioridade, em vez da agenda adotada pelos países europeus, que vivem no centro da instabilidade.
A reunião do G20, grupo dos países mais desenvolvidos, teve como principal preocupação as incertezas relacionadas com a capacidade de países como a Grécia pagarem as suas dívidas soberanas e foi discutido também o papel das nações emergentes neste cenário e as formas de evitar que haja uma recessão prolongada.
"A crise económica mundial, que está a abalar, principalmente, os países da Europa e os Estados Unidos, não pode ser resolvida com desemprego e muito menos com a redução dos direitos do trabalho. A questão do desemprego é extremamente preocupante", disse Dilma. "O grande desafio para esta crise é o caminho para retomar o crescimento: o caminho do investimento, do consumo e da geração de empregos," afirmou. E foi além ao defender a proposta da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que cria um Piso Mundial de Proteção Social para famílias extremamente pobres – as mais afetadas pela crise. "Se os países se dedicam a resgatar os seus bancos, podem muito bem oferecer um subsídio para uma família em estado de pobreza extrema.". E deixou claro que a ação não seria "filantropia", mas "uma oportunidade para superar as dificuldades".
Durante a sua participação na reunião da cúpula do G20, Dilma manteve a preocupação com o emprego como centro dos seus discursos. Além de lembrar que o Brasil tem passado bem pela instabilidade, ao apostar no combate à pobreza e na melhoria de seu mercado interno – aquecido pela criação de postos de trabalho e por baixas taxas de desemprego – e defendeu que, como emergente, o país pode ajudar a superar a instabilidade. "Ninguém ganha com a crise", justificou.
E lembrou que o crescimento da economia mundial tem sido mantido nos últimos anos pelos países em desenvolvimento, como a China, a Índia e o Brasil, apesar dos efeitos indiretos da recessão na Europa e nos Estados Unidos. "O que é diferente entre nós e os países ricos que estão em crise é que temos uma economia sólida, temos bancos sólidos, controlados e regulados”.
No balanço da Cimeira do G20, a Presidenta disse algumas coisas óbvias, que qualquer iliterato em economia sabe que é a verdade, diria mesmo um dogma:
1- A crise económica, que está a abalar principalmente a Europa e os EUA, não pode ser resolvida com mais desemprego e muito menos com a redução dos direitos do trabalho;
2 - Para retomar o crescimento, o único caminho é o do investimento, do aumento do consumo e da criação de mais emprego;
3 – Enquanto a crise se mantém, os governos devem disponibilizar subsídios às famílias em pobreza extrema, não por filantropia, mas por ser uma oportunidade para superar as dificuldades, da mesma forma, ou porque socorrem bancos em dificuldades dos seus países e que estão perto da falência;
4 – A diferença entre os países emergentes e os países ricos em crise é que naqueles existe uma economia sólida, têm bancos sem stress, porque são controlados e regulados.
Et voilá, a receita correta que tem funciona para quem está bem e que a UE e os EUA rejeitam, provavelmente por razões que a razão bem conhece…
E por isso, um reparo à afirmação da Presidenta quando diz que "Ninguém ganha com a crise"… Ganha, ganha e por isso é que a que os países “ricos” nos querem convencer que a salvação está no velho slogan: “os pobres que paguem a crise”, talvez porque os ricos são pouquinhos e os pobres obrigadinhos…

Ecos da blogosfera – 8 nov.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Matemática faz falta! Quem de 8 tira 7, quanto fica?

OE2012, negociação das metas do programa, reestruturação das empresas públicas e regras do fundo da banca são os temas quentes da segunda revisão da troika. Objectivo? Analisar, durante 2 semanas, a implementação do programa de assistência português e dar ‘luz verde’ à próxima tranche a Portugal no valor de 8 mil milhões de euros.
As equipas lideradas por Thomsen, Kröger e Rüffer vão, desta vez, encontrar um país diferente e o cenário europeu é agora muito distinto face à última visita, em Agosto. Desde esse mês até hoje, o buraco orçamental nas contas públicas portuguesas passou de 2 mil milhões de euros para 3,4 mil milhões e o Governo apresentou um Orçamento do Estado para 2012 com um nível de austeridade (10 mil milhões de euros) que é quase o dobro do pedido pela troika (6 mil milhões), assente em medidas como a subida do IVA e o corte de subsídios de férias e Natal para os funcionários públicos.
O crédito concedido pela banca continua a travar o investimento das empresas e a pressão financeira sobre as empresas públicas – que dispõem de uma dívida de 16 mil milhões de euros e estão dependentes do Estado – disparou.
A troika terá pela frente uma economia a caminho de uma recessão mais profunda que o esperado no Verão (queda do PIB de 2,8% prevista pelo Governo contra 1,8% da troika).
Para já, fonte comunitária refere que Bruxelas e o FMI querem a todo o custo evitar uma nova ‘Grécia’ na Zona Euro.
Antes de Portugal começar a pagar o empréstimo da troika (em 2015 ao FMI e 2016 à União Europeia), a ‘factura’ do acesso aos 78 mil milhões de euros será um ‘fardo’ pesado nas contas públicas e que começa a ser cobrada já este ano.
Segundo dados do FMI, entre 2011 e 2014 (período de duração do programa de assistência), Portugal terá de pagar só em juros, encargos e comissões 2,331 mil milhões de euros. Os mesmos encargos com a tranche da Comissão Europeia deverão ascender a quase 5 mil milhões de euros no mesmo período.
O ‘preço’ do empréstimo da troika estalou na semana passada quando o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, questionado pelos deputados, revelou que só as comissões à troika iriam ascender a 655 milhões de euros até 2014. Os 335 milhões de euros pagos à troika este ano foram, aliás, uma das componentes responsáveis pelo ‘desvio’ orçamental de 3,4 mil milhões previstos para 2011, sobre o que o Ministério das Finanças não deu resposta até agora.
Contas feitas, Portugal poderá pagar, entre este ano e 2014, cerca de 7 mil milhões de euros em juros, encargos e comissões pelo empréstimo. De 2015 a 2019, a factura continua. Só ao FMI terão de ser devolvidos mais 4,2 mil milhões de euros e a Bruxelas cerca do dobro. Os juros são um ‘peso’ cada vez maior nas finanças públicas portuguesas.
A proposta do OE2012 prevê que sejam desembolsados mais de 8 mil milhões de euros em encargos com juros, um valor superior ao que o Estado gasta em salários num ano.
Nem vou tentar fazer contas porque isto deve ser para as olimpíadas da Matemática…
O que se percebe à primeira leitura é que a tranche que vem aí vai quase toda para juros, encargos e comissões pelo empréstimo, durante 2 anos e meio, mas a dívida continua igual. O que se percebe à segunda leitura é que a primeira leitura está certa…
O que se percebe é que estes encargos (335 milhões de euros pagos à troika este ano) para nos ajudarem, ajudaram ao ‘desvio’ colossal de 3,4 mil milhões previstos para 2011… Ora bolas! E andaram a chatear só o Jardim…
Mas o pior é que parece, parece, que estes tecnocratas da troika não são tão competentes como os pintaram. Há 3 meses, quando cá vieram fazer o exame ao governo, não viram o buraco da Madeira, buraco que aumentou 1,4 mil milhões de euros, a economia está a caminho da recessão com as soluções que nos apresentaram e é mais profunda do que esperavam (já sabiam e foi de propósito) com a queda do PIB em 2,8% (descobriu o Governo) contra os 1,8% que esta troika previu, matematicamente…
Mas já nem o governo acredita na troika, que à cautela até nos sacou 10 mil milhões de euros (com a subida do IVA e o corte de subsídios de férias e Natal para os funcionários públicos e aposentados), quase o dobro dos 6 mil milhões “calculados" pela troika, mas não vá o diabo tecê-las, ou o Seguro pedir que nos perdoe um dos subsídios.
E pasme-se! Os 8 mil milhões de euros em encargos com os juros, que constam no OE2012 é mais do que o Estado gasta em salários num ano. Assim já se entende que sejam só os Funcionários Públicos a pagar porque o governo não sabe quanto ganham os privados…
Ainda ia fazer umas contas aos juros, mas como não é fácil, fico-me só por este simples problema de matemática: Quem de 8 tira 7, quanto fica?
E mesmo assim, ainda dizem que querem evitar uma nova ‘Grécia’ na Zona Euro? Mas se de 2015 a 2019 a factura vai continuar a engrossar… E a chanceler ainda diz que é só mais uma dezena de anos para nos por na ordem? Isso é que era bom!
Mas entre tantos haverá “entretantos”!

Contramarés sem contrapé… 8 nov.

“Cortar subsídios de Natal e de férias só aos pensionistas e funcionários públicos é uma medida extraordinariamente injusta. Penaliza só alguns e ainda por cima os mesmos que, já este ano, levaram cortes que outros não levaram”, considerou Rui Rio.
Para o autarca, “era bom que a AR melhorasse o OE no sentido de pôr os pagamentos e sacrifícios de forma mais equitativa. Da maneira que está, um funcionário público que ganhe 1.000, 1.300 euros por mês vai levar um corte de mais de 14% no rendimento anual. Imagine alguém que ganha 10.000, 20.000 euros mensais, que só por não trabalhar na função pública não paga nada”.

Dizem os eurocéticos: “Só falta saber o dia do funeral.”

Os governos de “especialistas” propostos para Itália e para a Grécia podem ser bons a tomar decisões de emergência, mas aumentam a desconfiança dos cidadãos europeus na democracia cada vez mais indireta. Para o evitar, os políticos têm de assumir o seu papel.
“Péricles, na ágora ateniense”, Phillipp von Foltz
A proposta – já rejeitada – do demissionário primeiro-ministro grego George Papandreu para a realização de um referendo sobre as políticas de austeridade impostas pelo Banco Central Europeu  veio definitivamente sublinhar que o verdadeiro problema no que diz respeito ao resgate do euro é mais político do que económico e que, mais cedo ou mais tarde, vai ser necessário o consenso dos cidadãos europeus.
Infelizmente, os referendos na Europa provaram que os cidadãos de cada Estado se mostram relutantes em tornarem-se cidadãos europeus. Veja-se a Dinamarca, em 1992, quando o Tratado de Maastricht foi recusado; ou a França e a Holanda, em 2005, que rejeitaram a proposta de Constituição europeia. Também vale a pena lembrar que inicialmente, em 2008, a Irlanda rejeitou o Tratado de Lisboa.
Atualmente, a verdadeira crise política diz respeito aos modelos de democracia indireta. Dão aos cidadãos, apenas, o direito de votar, delegando todas as decisões nos políticos eleitos. E esses eleitos, para onde quer que se olhe, parecem incapazes de tomar decisões para o bem comum.
O Estado é o mais frio de todos os monstros
Em vez disso, são sujeitos passivos da pressão dos lóbis numa pesada atmosfera de corrupção e defendem vários interesses de uma tal maneira que inviabiliza a indispensável mediação tanto da maioria como da minoria.
Mas quando os cidadãos sentem que o tom das suas vidas e as premissas de liberdade pessoal estão a ser prejudicadas pelas deficiências políticas, surgem reações violentas, que prejudicam os próprios Estados.
Como resultado, o pensamento de Nietzsche faz o seu caminho. Na sua obra-prima, “Assim falava Zaratustra”, escreveu: “O Estado é o mais frio de todos os monstros. Mantém-se friamente; da sua boca sai esta mentira: Eu, o Estado, sou o povo”.
Além disso, segundo Kelsen, só nas democracias diretas a ordem social é verdadeiramente criada pelos detentores dos direitos políticos, que exercem a sua vontade nas assembleias populares que são realizadas, como acontecia no início da democracia ateniense, na Ágora.
Foi este mesmo princípio que ajudou a inspirar o movimento Ocupar Wall Street, bem como, em todo o mundo, o não violento Movimento dos Indignados, neste momento focado na Grécia. No esquema das coisas, esta é a verdadeira vingança da Ágora.
Ainda mais grave é o facto de o BCE (ou o Fundo Monetário Europeu) estar agora a ditar as regras das políticas de austeridade, sem nunca lhe ter sido atribuída a soberania para tal. Este controlo anómalo (tecnocrata?) sobre as economias dos Estados-membros pode ter três resultados diferentes.
A vingança da Ágora
O primeiro, e de longe o mais preocupante, é alguns Estados serem obrigados a deixarem a zona euro, gerando o tão temido caos financeiro mundial, como afirmou Barack Obama durante a cimeira do G20, pelos Estados Unidos, um país que, por razões muito semelhantes, também está a braços com sérias dificuldades.
O segundo, inimaginável, poderá ser o euro ser dividido em dois, com a metade mais forte a pertencer aos Estados com economias em ordem, como a Alemanha e os países do norte da Europa, e a metade mais fraca ligada aos países do sul europeu, em risco de incumprimento.
A terceira hipótese resolveria todos os problemas atuais. Apelaria a que se trabalhasse para finalizar o projeto político original da Europa, enquanto entidade “livre e unida”, para parafrasear o Manifesto de Atenas. De facto, era esta a intenção dos fundadores da Europa.
Atingir este objetivo significa que a cega governação financeira tecnocrata, que até agora nada produziu a não ser desigualdade entre os cidadãos dos vários Estados-membros, deixa o campo livre para os políticos, que usam a democracia deliberativa para criarem uma verdadeira cidadania europeia, à qual todos pertencem, baseada nos valores da paridade e da igualdade.
Esta é a única solução para evitar “a vingança da Ágora” e a única que acaba com as disparidades entre os cidadãos dos Estados-membros, e que consolida, no contexto da Europa federal, uma presença autoritária e não dispersiva.
Uma Europa assim, pode sentar-se à mesa com os Estados Unidos, a China e as nações emergentes e estabelecer novas regras para se defender e lutar contra os desastres e ansiedades que o processo de globalização criou.
REAÇÃO EM LONDRES
Sarkozy e Merkel, os novos Soviéticos
“Quando é que a Imperatriz da Europa e o seu caniche francês aprendem?”, pergunta Simon Heffer no Daily Mail. Para o eurofóbico colunista veterano, os enganos sobre o malogrado referendo grego da passada semana revelam que “já não há dúvidas sobre a brutalidade negocial da União Europeia e sobre o modo como trata as normas da democracia, que considera um cansativo obstáculo ao seu regime”.
Quando ouvi a financiadora da Europa, a chanceler Merkel da Alemanha, e o seu lambe-botas, o Presidente Sarkozy de França, lançarem um ultimato a George Papandreu – "faz o que te mandam, ou cortamos-te a verba!" – lembrei-me do falecido Leonid Brejnev, cuja morte ninguém chora, e da maneira como governava os estados satélites quando era ditador da União Soviética.
Em relação à Itália, o próximo elo mais fraco da corrente europeia, é - … um país cuja dívida é financiada à semelhança de um dos esquemas Ponzi de Bernie Madoff e para a qual se irá fazer rapidamente um cálculo hediondamente dispendioso. É notório que o moral da política internacional irá subir de tom com o afastamento de Silvio Berlusconi. Mas este só devia ser afastado pelos eleitores italianos – não através de um Führergram de Berlim.
Para Heffer, o colapso do euro é inevitável: “A única coisa que falta marcar é o dia do funeral”.

Ecos da blogosfera – 7 nov.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Mais um Boss para voltarmos(?) a crescer…

Pedro Reis tomará posse como presidente da AICEP, a agência que gere o comércio externo de Portugal. Formado em gestão pela Católica, Pedro Reis esteve no mundo das empresas durante 2 décadas e, nos últimos 3 anos, tem trabalhado na área da comunicação.
A tutela da AICEP ficará na dependência do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, mas caberá a Pedro Passos Coelho o topo da pirâmide da diplomacia económica.
Pedro Reis (antigo conselheiro económico do atual primeiro-ministro) foi o responsável pelo livro "Voltar a crescer" (ver vídeo com excertos da entrevista), lançado antes das últimas eleições legislativas, onde foram reunidas as opiniões de dezenas de empresários portugueses sobre o rumo que o país deve seguir para inverter uma década e meia de crescimento económico abaixo da média da União Europeia.
A notícia não é relevante, a não ser por ser uma peça mais na diplomacia económica, interposta entre Paulo Portas (que consegue que se publiquem dezenas de notícias por qualquer negócio de feira protocolizado no estrangeiro) e PPC (que cada vez menos aparece e quando o faz é pelos piores motivos) e que por isso pode ser o grão de areia na máquina…
Mas a notícia pode ser considerada relevante pelo pormenor de engrossar a lista de “jobs for the bosses”, com mais um cargo público ocupado por nomeação e só por coincidência pertencer à roda de conselheiros do candidato a PM…
Sobre a competência para o lugar nada digo, constato apenas que o saber de comunicação social até pode ser uma mais valia, mas mais valia que não tivesse desistido do mundo das empresas, ou se soubesse a razão por que o fez… Alguns outros indicadores podemos apreendê-los no vídeo.
Realmente “não há jantares de graça”, mas a fatura vamos todos pagá-la e com pedido da respetiva, caso contrário pagaremos todos a obrigatória multita…