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sábado, 10 de março de 2012

Quando a CRISE passa ao lado!

O Diário de Notícias escreve que “ataque de Cavaco a Sócrates une PS” e escreve em manchete que “depois da TAP e da CGD mais 2 empresas em vias de escapar a cortes” decretados no sector público.
O Público, que destaca que a Parque Escolar “esgotou verbas quando metade das obras estava por fazer”, escolheu para tema de primeira página as “menos 58.000 urgências no primeiro mês com novas taxas moderadoras”.
O jornal i, em manchete, escreve que “desde 1997 que o país não tinha tão pouca gente empregada”.
No Correio da Manhã o ex-primeiro-ministro José Sócrates aparece numa fotografia a cores para ilustrar a polémica com Cavaco Silva e escreve que “inspector de Maddie cai em ratoeira”, contando como um inspector da PJ trocou informações e fotografias através da internet que motivaram a instauração de um processo disciplinar.
No Jornal de Notícias lê-se que “idosos ganham 10.000 vagas em lares”, bem como “Judiciária procura novas pistas no Algarve”, numa referência ao Caso Maddie.
O Expresso noticia que o “Governo quer demitir gestores da Estradas de Portugal” a propósito do caso do duplo pagamento de portagens à Lusoponte e com uma fotografia dos jovens que há um ano organizaram a manifestação do 12 de Março que juntou milhares de pessoas, revela que estes “continuam à rasca”.
Sócrates para aqui, Cavaco para acolá (comadrices); les uns et les autres (os de 1ª e de 5ª); os meninos no “parque” (como se não soubessem); todos mais sadios (mas morrendo mais); aumento dos dias de férias (para aumentar a produtividade); um inspetor procurado no Algarve (pensava-se que tinha morrido); lares tristes lares (já não morrem sozinhos); menos uma recondução (por condução perigosa) e quem estava à rasca, mais à rasca ficou.
Até não está mal, se assobiarmos para o lado!


Reflexão para o Relvas… 10 mar.

O presidente da Comissão de Análise e Estudos de Meio (CAEM), Luís Marques, afirmou que o painel da GfK precisa de 2 meses para estabilizar, de acordo com o caderno de encargos do concurso que a empresa venceu.
A quebra abrupta de audiências verificada na terça-feira na RTP 1, motivada por uma falha no sinal satélite, não é, afinal, um problema isolado. O presidente da CAEM, desvalorizou a polémica e denunciou 53 anomalias semelhantes ocorridas em Janeiro e Fevereiro no sistema de audimetria da Marktest, que media as audiências antes da GfK.

Contramaré… 10 mar.

Em nome de 40 mil signatários, o primeiro subscritor da petição online, que deu origem ao monimento Iniciativa Democrática, quer mostrar aos deputados do Parlamento que os cidadãos estão atentos.
Para os responsáveis da empresa, as notícias sobre a situação da Parque Escolar "afetam gravemente o seu bom nome e a honra e reputação dos seus dirigentes e colaboradores".

Quem rejeita os seus não regenera!

Nicolas Sarkozy, presidente e candidato à reeleição pelo partido UMP respondeu apenas com um “sim” à pergunta reiterada. “Abandona a política se perder as eleições?”, “Sim, pode colocar-me a questão três vezes que eu direi sempre sim”, frisou.
Por um lado, candidata-se para dirigir a França e servir os franceses.
Por outro lado, manda a França e os franceses às urtigas, se perder…
O Presidente francês afirmou que "há demasiados estrangeiros" na França e prometeu reduzir os imigrantes que entram anualmente no país. "O nosso sistema de integração funciona cada vez pior, porque temos demasiados estrangeiros no nosso território", afirmou e prometeu que, se fosse eleito, dividiria por dois o número de imigrantes acolhidos em cada ano, estimado em 100.000.
Por um lado, confessa que o sistema de integração dos imigrantes funciona cada vez pior, esquecendo-se que está a fazer auto-crítica.
Por outro lado, já se conforma com um “se fosse eleito”…
Hollande assinalou que dos 180.000 imigrantes legais que passam a viver na França a cada ano, metade é formada por estudantes, necessários para ocupar cargos qualificados que tornem a economia do país mais competitiva.
Sarkozy, cujo pai era um imigrante húngaro, disse que pretende reduzir alguns benefícios pagos aos imigrantes. Como presidente, Sarkozy tem mostrado uma posição mais dura em relação à imigração, como mostrou o episódio de deportação de ciganos romenos, no fim de agosto de 2010.
Por um lado, uma visão “humanista” e economicista sobre o papel dos imigrantes.
Por outro lado, um filho de imigrante, que renega a sua condição e castiga os seus semelhantes…
Numa altura que Marine Le Pen pode desistir da corrida à Presidência, Sarkozy virou o leme para mostrar ao eleitorado da extrema-direita que é o melhor colocado para (re)ocupar o Eliseu.
Defendendo alguns dos valores mais fortes da direita radical, como a oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, à prática da eutanásia e à possibilidade dos estrangeiros votarem, o atual Presidente francês propôs que a França seja ouvida, em referendo, sobre dois temas de grande impacto social: os cortes nos subsídios dos desempregados que não aceitem uma oferta de emprego e quais os direitos dos imigrantes estrangeiros, tendo como intuito agilizar os eventuais processos de expulsão.
Para Hollande, Sarkozy vulgarizou teses nacionalistas, uma atitude “perigosa” que pode estimular mais “ódio” no país.
Por um lado, perfilha valores da extrema direita e pouco democrática.
Por outro lado vem propor referendos, que impediu que a Grécia fizesse…
François Hollande propõe que os contribuintes com rendimento superior a 100.000 euros mensais sejam tributados a 75%, uma ideia que já foi vivamente criticada pela direita francesa e referiu-se à criação de uma taxa marginal de 75% sobre rendimentos médios superiores a um milhão de euros anuais. Manifestando sentir-se escandalizado com as remunerações de muitos gestores de empresas cotadas na bolsa de Paris, Hollande qualificou a sua proposta como “patriótica”.
Nicolas Sarkozy considerou que a proposta do socialista é de um “amadorismo bastante preocupante”.
Um, procura que a participação dos mais ricos e mais bem pagos ajudem os que pouco ou nada tem, potenciando a criação de uma sociedade coesa.
O outro, que é neste momento o garante dessa coesão, fica preocupado com tais preocupações…
Ensaio final do conflito será em Atenas: Derrota de Sarkozy significará o fim do eixo franco-alemão.
Se foi em Atenas que a democracia nasceu, que seja lá que ela renasça, ou por causa dela e dos opróbrios a que sujeitaram os “atenienses”.
Que o mundo dê uma volta ao eixo!

Ecos da blogosfera - 9 mar.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Igualdade de competências? SIM! Quotas? NUNCA!

"Por que razão a Alemanha precisa de quotas para as mulheres?" Depois da publicação do relatório do Governo sobre a igualdade, e agora que a ministra da Família e do Trabalho pretende fazer deste tema o seu próximo grande projeto, Der Spiegel advoga a introdução de quotas para que haja mais mulheres em posições de responsabilidade nas empresas. Os autores do artigo observam que, a começar pela redação do Spiegel, estamos longe da igualdade com "32 homens a chefiar secções contra apenas duas mulheres. Há mais homossexuais do que mulheres entre os redatores", e explicam que no resto do país a situação é ainda pior. Nos conselhos de administração das 100 maiores empresas alemãs apenas 2,2% são mulheres. Em causa está a impossibilidade de conciliar a família com a carreira profissional na Alemanha. O Governo pretende inspirar-se nos seus vizinhos, como a Noruega, que impôs uma quota de 40% de mulheres nos conselhos de administração até 2008, a França e a Espanha com 40% até 2015, a Holanda prepara uma quota de 30%, e a Comissão Europeia ameaça impor quotas, se nada for feito nos outros países até ao final de 2011.
“Mulheres, uma luta sem fim”, titula Le Monde na ocasião do Dia Mundial da Mulher. Mas no seu editorial, o diário parisiense pronuncia-se “a favor da abolição do dia 8 de março”:
Acaba por ser algo irrisório o facto de se insistir, uma vez por ano, em colocar na ribalta metade da população mundial para constatar que esta não tem a mesma igualdade que a outra metade. A luta pela igualdade das mulheres é uma luta diária, que não é travada apenas no dia 8 de março.
De facto, o ano que passou demonstrou claramente que a luta das mulheres é constante e a Primavera Árabe mediatizou cidadãos que constituem um verdadeiro desafio para os partidos islamitas. “Na Europa, e nomeadamente em França, as mulheres também não conseguem baixar a guarda um único dia no ano.”
Mas tomando a França como exemplo, Le Monde recorda que as mulheres continuam muito afastadas das responsabilidades na política e na alta administração e que a discrepância dos salários continua a atingir os 25%. Em suma, conclui Le Monde “a luta continua”, com ou sem o dia 8 de março.
Correndo o risco de ser denunciado à inquisição “feminista”, não quero deixar de dizer quatro coisas, que repito em todo o lado, quando é oportuno, confessando que sou absolutamente pela igualdade:
1. A igualdade de oportunidades para homens e para mulheres, dentro de um conceito “absoluto” da IGUALDADE, só pode assentar na igualdade de competências para os mesmos desempenhos;
2. A igualdade entre géneros, dentro de um conceito “absoluto” da IGUALDADE, não se pode restringir aos cargos diretivos e de administração, quer nas empresas, quer na política, mas ser estendida a todos os cargos que os homens desempenham no mundo do trabalho, mesmo os de incidência braçal;
3. A igualdade de vencimentos entre homens e mulheres, dentro de um conceito “absoluto” da IGUALDADE, é assunto que não tem justificação e nem vale a pena discutir, se a produtividade for igual;
4. Pelas razões acima e dentro de um conceito “absoluto” da IGUALDADE, as QUOTAS exigidas para as mulheres (imagine-se aplicadas na área da docência), e já conseguidas em vários países, inclusive no nosso na área da política, são a prova de que, por esta via, a “igualdade” entre homens e mulheres é falaciosa por excluir à partida a igualdade de competências e resultar na discriminação de ambos os sexos (géneros).
Agora, podem bater-me…

Reflexão do Relvas… 9 mar.

Todas as empresas com comparticipação estatal vão ter de adoptar “planos para a igualdade” para eliminar as discriminações entre homens e mulheres no mercado de trabalho, anunciou Miguel Relvas na sessão evocativa do Dia Internacional da Mulher, na Assembleia da República.
Uma resolução do Conselho de Ministros publicada no Diário da República, determina “a obrigatoriedade de adopção, de todas as empresas do sector empresarial do Estado, de planos para a igualdade, tendentes a alcançar uma efectiva igualdade entre homens e mulheres, a eliminar as discriminações e a facilitar a conciliação da vida pessoal, familiar e profissional”.
Estes planos visam a “presença equilibrada de mulheres e de homens em todas as nomeações ou designações para cargos executivos e de gestão” neste sector, adiantando que o Governo recomenda às empresas do sector privado a adopção destes planos. Nesse sentido, Miguel Relvas anunciou que irá desencadear junto da concertação social os “mecanismos necessários para que se obtenha um entendimento com os parceiros sociais” com vista a ultrapassar as desigualdades a que as mulheres estão sujeitas no mercado de trabalho, nomeadamente a nível de salários.

Contramaré… 9 mar.

O PS colocou em causa a palavra do primeiro-ministro, por considerar que a Lusoponte recebeu um duplo pagamento relativo às portagens da Ponte 25 de Abril em agosto. Luís Menezes, vice-presidente da bancada do PSD, recusou a acusação, respondeu que a “Estradas de Portugal” é um “braço armado” colocado pelo anterior governo e finalizou: “Tenho pena que os partidos políticos da oposição não tenham coisas mais relevantes para trazer para a opinião pública do que fazer uma chafurdice política, que é o que o PS anda a fazer".

Uma visão da EDUCAÇÃO, antes da “AVALIAÇÃO”…

“Os homens constroem paredes demais e pontes de menos” (D. Pire)
A escola pública e democrática é hoje uma conquista institucionalizada, mas que, na prática, ainda está longe de ser realidade plenamente vivenciada na escola. A escolha democrática das direções escolares ainda não permitiu condições democráticas de organizar as escolas a partir de uma base curricular, das propostas pedagógicas, das metas e da organização do quadro dos professores (distribuição da carga horária e disciplinas).
A escola, lugar de significativas e distintas aprendizagens, é também um grande laboratório de exercício de poder. Quotidianamente, através das relações interpessoais, ela administra as suas tensões internas, fortemente influenciadas pelo poder externo (dos governos e da comunidade). E, o professor, uma peça fundamental, nem sempre é considerado na sua dimensão de pessoa humana e de sujeito, portador de desejos, direitos e dignidade.
Além da sua estrutura administrativa, a escola é um lugar onde se constroem vínculos. Estes vínculos determinam a qualidade das relações entre professores, funcionários, equipa diretiva, alunos e pais. A maior diferença da escola pública, em relação às demais, reside no facto de a sua gestão ser pública e democrática. E é nesta que, para além de professores, cresce a exigência como educadores. “Todo o professor deve ser um verdadeiro educador. Um mestre da vida e do saber. É mestre porque é homem de fé, que acredita em si e nos outros, que confia e ama os seus discípulos” - Maximiliano Menegolla.
Professores não são números. Professores são sujeitos, seres humanos, com as suas opções pedagógicas e ideológicas. Aliás, o exercício do seu ofício não lhes permite neutralidade, pois a educação é, por natureza, um ato político. As suas práticas pedagógicas resultam das suas trajetórias pessoais, dos seus compromissos com o ser humano e dos seus conhecimentos e aperfeiçoamento profissional.
Algumas instituições de ensino público, pelas suas práticas contraditórias e autoritárias, minimizam o alcance e a importância das conquistas democráticas. É claro que exercitar quotidianamente a democracia, como se faz na escola, não é uma tarefa fácil. Por isso que, para muitos, ela não passa de “verborragia”. Para outros, incansável exercício, prática de inclusão e respeito por todos, mesmo enfrentando as contradições do discurso e da prática.
Alguns colegas, agora diretores ou diretoras, “constroem paredes demais e pontes de menos”. Usam do poder que lhes foi delegado para desconsiderar os seus professores e ofuscar a democracia, por todos pretendida e proclamada. “O lugar onde o professor não é visto como pessoa, mas simplesmente como um profissional qualquer, deve ser chamado de pensionato, refeitório..., mas não chamem de escola, onde se educa e se ensina” – Menegolla.
O exercício do poder democrático é um dever da escola e um legado que ela deve deixar para os seus alunos e para a sociedade como um todo; esta é a sua contribuição para a consolidação da democracia (no Brasil). Qualidade na educação será uma realidade quando tratarmos gente como gente deve ser tratada e quando tomarmos a democracia como a base das nossas relações.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

Ecos da blogosfera - 8 mar.

quinta-feira, 8 de março de 2012

“Ser Mulher em Portugal” – um retrato com números…

Detalhe de “As três idades da mulher” - Gustav Klimt
As mulheres constituem 52,2% da população portuguesa, são cerca de 5.500.000, tendo aumentado 2,9%, na última década.
A idade média das mulheres ao primeiro casamento era de 29,2 anos em 2010.
As mulheres portuguesas são mais pobres, porque têm taxas de desemprego mais elevadas.
Têm filhos cada vez mais tarde.
Vivem mais do que os homens, em média até aos 82 anos, e têm nas doenças do aparelho circulatório a principal causa de morte.
Em 2010, cada mulher tinha em média 1,4 filhos e em 2000 tinha 1,6 crianças.
O número de mulheres que vivem sós, independentemente da idade, cresceu 26,6% na última década, mas entre os mais velhos as mulheres representam 77,1% dos idosos sozinhos.
As mulheres estão mais presentes na vida familiar e são quem mais se disponibiliza para tratar do próximo: 64,4% dos prestadores de cuidados a crianças e a pessoas dependentes são do sexo feminino, 648.000 mulheres.
São mais as mulheres do que os homens sem qualquer nível de escolaridade completo, mas, por outro lado, há mais mulheres com canudo.
O RETRATO:
São em maior número, casam cada vez mais tarde, cada vez menos são mães, estão mais presentes na vida familiar, são menos instruídas, são mais pobres, tem o maior número de formadas, vivem mais tempo e por isso vivem mais sós.
Nota – a comparação é feita em relação aos homens.

Reflexão do Relvas… 8 mar.

Miguel Relvas, desvalorizou a polémica gerada em torno da eventual demissão de Álvaro Santos Pereira, afirmado que "são aquelas questões que muitas vezes acontecem na vida pública portuguesa". "Fala-se muito. Há sempre uma certa tendência para querer debater as questões que são irrelevantes. O primeiro-ministro foi claro nessa matéria. O ministério da Economia tem muito trabalho pela frente e o ministro Álvaro Santos Pereira tem tido um desempenho muito significativo", disse. "É preciso lembrar que foi com este ministro da Economia que se assinou um acordo histórico em concertação social".
Questionado sobre se Álvaro Santos Pereira será um ministro a prazo, Relvas respondeu peremptoriamente que "não", e que o Governo não sai fragilizado desta polémica, antes "pelo contrário""Este Governo tem 4 anos de dificuldades pela frente, e tem de ter sucesso porque isso vai ser o sucesso do País na situação em que estamos", concluiu.

Contramaré… 8 mar.

O Estado vai receber menos dividendos este ano. A venda de parte das posições que mantinha no capital das empresas do sector energético, retirou-lhe a possibilidade de encaixar 180 milhões de euros com a remuneração accionista que será paga pela EDP e a REN.
O Estado alienou 21,35% da EDP e logo de seguida, vendeu 40% do capital da REN, operações que renderam 3,28 mil milhões de euros, mas que levaram o Estado a abdicar dos dividendos referentes ao exercício de 2011.

O novo pacto orçamental da UE: uma opinião de direita com força de lei!

A Irlanda será o único país a submeter o novo pacto orçamental da UE ao voto popular. Contudo, observa o colunista Fintan O’Toole, o que está realmente em causa é o facto de estar a ser concedido à ideologia neoliberal o estatuto de lei absoluta.
John Maynard Keynes
"… o crime essencial que continha em si todos os outros. Chamam-lhe crime de pensamento." George Orwell, 1984
No referendo que agora vamos ter, a pergunta é… ah, qual é a pergunta?
Não é, como afirmou erradamente, no ano passado, [o ministro das Finanças irlandês] Michael Noonan, um referendo sobre se a Irlanda deve abandonar a zona euro. Não é, como afirmou o primeiro-ministro, na semana passada, uma consulta sobre "recuperação da economia" ou "emprego" ou sobre se "queremos participar na Comunidade Europeia, no euro e na zona euro a partir de agora". Não é indubitavelmente sobre a maneira de definir um défice de 0,5% – e, se fosse, seria a coisa mais bizarra alguma vez submetida a voto popular.
No entanto, tem a ver com a criação de um crime de pensamento. Com uma determinada maneira de pensar que passará a ser considerada ilegal. Não se trata de nazismo, nem de racismo, nem de qualquer outra ideologia odiosa. Trata-se, na realidade, de uma maneira de pensar que, nas três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, representou o "senso comum" económico de quase todo o mundo desenvolvido: a filosofia de John Maynard Keynes. Esta constituiu o enquadramento intelectual da maior parte do centro-esquerda europeu e dos democratas do New Deal dos Estados Unidos. E está em vias de ser proibida por um tratado internacional, como o tráfico de seres humanos ou a guerra química.
Proibir o keynesianismo, depois da grande crise de 2007, é o mesmo que reagir a um massacre proibindo os coletes à prova de bala. A Irlanda é um bom exemplo. A ideia de Keynes era que os governos deveriam pôr em prática políticas anticíclicas, incorrer em défice para estimular as economias fragilizadas e fazer cortes orçamentais para arrefecer as economias em sobreaquecimento.
Um governo deve ser como uma unidade familiar
Mas a proposta fundamental do tratado orçamental é o conceito básico de que um governo deve ser como uma unidade familiar, ostentando o dinheiro nos anos bons e preparando-se para as emergências nos anos das vacas magras. A sua posição quanto à economia keynesiana é esta: nem pensar nisso. As políticas orçamentais anticíclicas estão proibidas.
Mesmo que pensemos que a abordagem keynesiana está errada, será realmente boa ideia elevar uma ortodoxia que está na moda à categoria de lei absoluta? É esta a estupidez de uma ideologia que não está disposta a admitir a mínima possibilidade de estar errada. Utilizar a crise para transformar uma visão facciosa da economia num facto inquestionável é oportunismo ideológico obtuso.
Mas o tratado orçamental não se ocupa de "factos". É uma opinião de direita a que foi dada força de lei. O "défice estrutural" é uma interpretação fortemente refutada de dados complexos – e tentar transformá-la num conceito jurídico é uma loucura.
E, ainda mais importante, a noção daquilo que é ou não um nível sustentável de dívida pública é totalmente discutível. A resposta depende sempre de circunstâncias como o crescimento económico, os dados demográficos e a estabilidade política.
São as circunstâncias que determinam se existe ou não uma crise
O Japão tem uma dívida pública de 230% do PIB – quase 4 vezes o limite da zona euro. Os mercados, cujos veredictos todos nós devemos acatar como verdades absolutas, não parecem muito incomodados: as obrigações japonesas a 10 anos têm uma taxa de rendibilidade inferior a 1%. São as circunstâncias, e não o nível absoluto da dívida, que determinam se existe ou uma crise.
No entanto, o tratado orçamental parte do princípio de que as circunstâncias são irrelevantes. Assume regras fundamentalmente arbitrárias sobre a dívida, transforma-as em obsessões e obriga-nos a prestar-lhes homenagem. Faz de conta que as circunstâncias e os contextos não existem: um determinado nível de dívida é correto em todos os momentos e em todos os locais.
Nem se dá ao trabalho de discutir os motivos pelos quais os limites específicos que consigna fazem sentido. O consenso aproximado entre os economistas é que uma dívida pública acima dos 80% do PIB prejudica o crescimento económico. Contudo, o limite da zona euro é 60% – um número escolhido simplesmente porque parecia bem.
Por outras palavras: pedem-nos que votemos num assalto ideológico ao poder mal concebido, que pretende tornar ilegal um dos aspetos da discussão sobre política orçamental. Isto é tão paradoxal como a "guerra para pôr fim às guerras": um debate democrático para ilegalizar o debate democrático sobre uma das questões políticas centrais. Um voto para limitar o significado de votar.
CONTEXTO - Dúvidas sobre a data e a redação do referendo
O Governo irlandês ainda não anunciou uma data exata para o referendo sobre o pacto orçamental de 25 Estados-membros da UE. Inicialmente deveria realizar-se em maio ou junho, mas segundo o Irish Times, após o anúncio do Taoiseach Enda Kenny a 28 de fevereiro de que o documento jurídico de dez páginas será submetido ao voto popular, o Governo está dividido relativamente à questão. Segundo fontes governamentais –
…apesar de um ponto de vista geral se pretender que o referendo seja realizado o mais rápido possível, alguns ministros não põem de parte a hipótese de a votação ser realizada após as férias de verão.
Numa entrevista ao diário de Dublin sob a condição de anonimato, um ministro declarou que o adiamento da data –
…nos permitiria esperar e ver o resultado das eleições presidenciais francesas e a alteração, caso exista, na sua abordagem ao Pacto Orçamental.
Irish Independent anuncia que apesar de a redação exata do referendo ainda não ter sido determinada, a questão colocada ao eleitorado será “estritamente técnica e concreta”, dizem fontes governamentais, e estará “apenas relacionada com a alteração da Constituição irlandesa para permitir ao Estado ratificar o pacto”. Dessa forma, a eventual questão colocada no boletim de voto não deverá colocar em causa a adesão ao euro, como foi sugerido pelo ministro das Finanças, Michael Noonan, em dezembro.
Segundo duas sondagens recentes, uma grande parte do eleitorado continua indecisa se irá apoiar a ratificação. Um inquérito do Sunday Business Post concluiu que 44% votará Sim, 29% votará Não e 26% continuarão indecisos. Outra sondagem, do Sunday Independent, conclui que 37% votará a favor, 26% contra e 15% ainda não sabe.

Ecos da blogosfera - 7 mar.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Há mais gente a desenhar o Plano B: o FIM DO EURO!

Decididamente, os populistas não gostam do euro. Após a francesa Marine Le Pen, chegou a vez do holandês Geert Wilders exigir a introdução de um "novo florim, o mais rapidamente possível", declara De Volkskrant. O chefe do Partido da Liberdade (PVV) afirmou no dia 5 de março que a adoção da moeda única teve efeitos negativos relativamente ao crescimento económico da Holanda e ao poder de compra dos holandeses. Wilders apoia-se num estudo que mandou realizar pelo gabinete de estudos económicos eurocético Lombard Street Research, de Londres.
Neste relatório, o Volkskrant, que o qualifica de "parcial", estima que o Lombard Street Research "não conseguiu superar as desconfianças iniciais sobre a imparcialidade do estudo". O jornal acrescenta que o relatório "não é suficientemente convincente ao demonstrar as vantagens de um regresso ao florim". Além disso, os investigadores fizeram um cálculo errado [o contributo holandês para o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira não representa 10%, mas 5,9%] e forneceram "poucas informações sobre os custos relacionados com a saída da zona euro", como os efeitos negativos sobre as exportações e o crescimento económico.
O jornal conclui que o debate sobre o futuro do euro faz sentido, mas que o relatório do Lombard Street Research não contribui em nada:
Estas omissões fazem com que o relatório seja pouco útil para um debate sério sobre um eventual regresso ao florim. Mas tendo em conta a preocupação à volta do euro, não custa nada aos dirigentes políticos refletirem sobre todos os tipos de cenários, incluindo as consequências de uma reintrodução do florim.
Dizem os eurocrentes que os populistas (extrema direita) e os partidos de esquerda (radical) não gostam do euro, mas não explicam porquê, como não explicam o contrário (a sua crença nos benefícios) e só espalham medos sobre os cidadãos, sem qualquer argumentação baseada em qualquer estudo.
É um facto, que a crise sendo sistémica, o é mais evidente na zona do euro, o que nos pode levar a adivinhar aí as causas, logicamente, porque é aí que se sentem mais os efeitos.
Na Holanda, que está longe de ter uma situação económica e financeira parecida com a nossa, houve alguém que se lembrou de exigir a introdução de um novo florim, o mais rapidamente possível, naturalmente porque concluiu que a adoção da moeda única teve efeitos negativos no crescimento económico da Holanda e no poder de compra dos holandeses (imagine-se em Portugal e para os portugueses), mas APOIANDO-SE NUM ESTUDO que mandou realizar.
Sem porem em causa o objetivo do estudo, logo vieram desqualificá-lo, rotulando-o de PARCIAL. E mais disseram que o estudo não é suficientemente convincente sobre as vantagens de um regresso à moeda antiga. E acusam o mesmo estudo de não fornecer informações sobre os custos relacionados com a saída da zona euro.
Mesmo aceitando eventuais insuficiências do referido estudo, uma coisa é certa, sem estudos sérios e com dados quantificados, discutir o assunto da continuação da moeda única ou a sua extinção é puramente especulação (no bom e mau sentido), o tal vazio de que falava José Gil.
Como síntese, reconhece-se que existe preocupação à volta do euro e que não custa nada aos dirigentes políticos refletirem sobre todos os tipos de cenários, não para refletirem com base em interesses, mas em estudos “imparciais”, que permitam a todos, cidadãos incluídos, saberem as linhas com que nos podem coser…
Palpites damos nós, os ignorantes, mas que não somos estúpidos.
Os responsáveis tem que nos provar que não são ignorantes, mas com apresentação de provas, pensando sempre que o contribuinte não é mesmo (todo) estúpido e é capaz de entender as provas, desde que sejam provadas…

Reflexão do Relvas… 7 mar.

Miguel Relvas saudou a mudança no sistema de medição das audiências de televisão, que tem suscitado polémica desde que passou no início deste mês para as mãos da GFK.
Sobre um eventual reflexo negativo que a recente vaga de baixas audiências possa ter no processo de privatização de um dos canais do Estado, Miguel Relvas é peremptório: “Uma coisa não tem nada a ver a outra, aí não bate a bota com a perdigota”“As audiências não têm a ver com a alienação”, justificando que a privatização da RTP implica vender “uma licença e não o serviço”, sendo que “quem adquirir essa licença pode seguir outro caminho, pode ter mais ou menos audiência”.
Sobre a “credibilidade” da empresa alemã neste parâmetro em concreto, o ministro descartou explicações: “Essa é uma questão que tem que ser tratada tecnicamente pela ERC, que é a quem cabe esse trabalho”, afirmou Relvas.

Contramaré… 7 mar.

O Comando Metropolitano de Lisboa da PSP vai ceder 2 veículos à divisão de Sintra, onde apenas 6 das 8 esquadras existentes têm 1 viatura operacional. As esquadras de Mira Sintra e São Marcos não têm qualquer veículo atribuído enquanto as restantes 6 do concelho têm somente 1 veículo operacional. Uma viatura a circular por esquadra em freguesias densamente povoadas e com grande extensão territorial põe em causa a operacionalidade das autoridades policiais.

Os RESPONSÁVEIS políticos, ou os CAUSADORES materiais? O PODER, ou o PODERIO?

O processo do antigo ministro islandês foi aberto a 5 de março. Geir Haarde é acusado de não ter conseguido responder à crise financeira que se abateu no seu país em 2008. Será este um exemplo a seguir por outros países? O “El País” colocou a questão a diversos peritos e jornalistas.
O antigo primeiro-ministro islandês, Geir H. Haarde comparece perante um tribunal especial por “grande negligência” no desastre financeiro de 2008. Na Islândia, a crise traduziu-se pela falência de três bancos, a suspensão do reembolso da sua dívida no estrangeiro, a queda da moeda e o aumento do desemprego que atingiu os 10%. Será que os governos europeus foram previamente alertados para a crise? Qual é a quota-parte de responsabilidade dos bancos? Será que a justiça deve ser mais firme em relação aos atores políticos e aos banqueiros?
Kattya Cascante, analista da Fundação Alternativas, próxima do Partido Socialista espanhol
A prestação de contas política supõe uma análise sobre a eficácia das ações, mas também o porquê de se terem escolhido determinados objetivos e não outros. Em democracia, o governo tem esse dever e o parlamento deve fazer uma fiscalização real do conteúdo das decisões políticas e dispor de informação. E essa informação, que está ligada à transparência e que fortalece a confiança nas instituições e aumenta o nível de exigência nas instituições públicas, é uma grande carência em todos os sistemas políticos.
Jordi Vaquer, diretor do grupo de reflexão sobre política internacional, CIDOB, em Barcelona
Sem dúvida, e uma vez levantada a imunidade, os políticos que incorreram em ilegalidade devem ser julgados. Mas a prestação de contas deve ser feita, sobretudo, por via de mecanismos políticos. O que inclui as eleições, mas também os parlamentos, que em muitos países não passam de espaços de mera encenação da competição entre partidos, e dentro dos próprios partidos, que estão a mostrar-se particularmente inaptos a pedirem contas aos seus líderes, sob o jugo da suposta ‘lealdade’. Cuidado com a idealização da Islândia! Antes da crise, era um país atormentado por redes clientelares e por uma conivência entre reguladores e banca de nível quase mafioso, e onde o velho sistema resiste a cair. Dirigentes que atrasaram decisões políticas para venderem ações, por exemplo, conseguiram escapar aos tribunais. Geir Haarde foi negligente, é verdade, mas o seu amigo David Oddsson, primeiro-ministro durante 20 anos, depois governador do Banco Central e agora diretor de um dos principais jornais não só conseguiu escapar à justiça como pressiona para obstruir as investigações.
Gonzalo Fanjul, jornalista de El País
Todos sentimos grande alegria quando vemos um político enfrentar os tribunais por causa da sua gestão da crise, mas não tenho a certeza de que seja esse o caminho desejável. A prisão é para os corruptos e para os ladrões. Os ineptos, os desavergonhados e os idiotas devem ser castigados nas urnas. Assim sendo, creio que é absolutamente fundamental averiguar as razões que levaram (e levam) os dirigentes políticos a agirem numa direção e não noutra. A que interesses são vulneráveis? Quem tem e quem não tem acesso a eles e às suas leis? Em alguns casos, as responsabilidades penais não são completamente descartáveis. Entretanto, contento-me com um pedido de desculpa ou, pelo menos, com uma dúvida. Por exemplo, dos que antes dirigiam instituições financeiras culpadas e que hoje ocupam os ministérios da economia. É um primeiro passo, mas ainda precisamos de começar a caminhar na direção certa.
Ana García Femenía, consultora na avaliação e planificação das políticas públicas na Universidade Complutense de Madrid
Oxalá o que está a acontecer na Islândia seja o início de um volte face necessário na consideração da política pelos políticos e pelos cidadãos. Provavelmente, chegou-se a esta situação por causa da tradicional falta de assunção de responsabilidades pelos políticos. Até a cidadania ter entrado numa espécie de plenitude do sistema. O facto de um político ter de chegar a ser julgado por causa das  consequências da sua gestão devia fazer-nos refletir sobre os mecanismos intermédios de seguimento e avaliação das próprias políticas públicas, de como se tomam as decisões, quem assume as responsabilidades, que instrumentos de análise e reorientação das políticas existem uma  vez postas em marcha, etc...
Antonio Elorza, analista político, professor de Ciências Políticas na Universidade Complutense de Madrid
As responsabilidades da crise, tanto nos níveis superiores da gestão política e administrativa, como em decisões causadoras de catástrofes bem conhecidas, devem ser expostas, primeiro, à luz pública. E depois, se existisse suficiente normativo para tal, a condenação desses responsáveis constituiria um grande ganho para a democracia.
Juan Árias, correspondente de El País no Brasil
Creio que o exemplo de Geir H. Haarde, levado a tribunal pela sua suposta responsabilidade na crise económica do país, deve ser seguido e estimulado. Não é possível que em crises desta dimensão, que afetam a vida de milhares de pessoas, não existam culpados que devem responder pelos seus atos. Até na mais pequena das empresas, o diretor tem de responder pela sua falência e pagar o preço se se provar que houve negligência. E creio que, ainda mais do que os banqueiros ou os empresários, os responsáveis em última instância são os políticos, pela sua falta de vigilância ou, pior ainda, por vezes, pelas suas cumplicidades políticas com aqueles. Os que têm grandes responsabilidades e que são remunerados, de uma maneira ou de outra, por essa responsabilidade, têm, também, o dever de responderem pelos descalabros da sua gestão. Sem culpados, uma  crise como a que estamos a viver é uma enorme bofetada nas suas vítimas. Ninguém vai responder por isto? Tiro o chapéu à Islândia.

Ecos da blogosfera - 6 mar.

terça-feira, 6 de março de 2012

Xeque ao “reizinho” agora, e depois mate à “rainha”?

"Conluio contra Hollande", anuncia esta segunda-feira Der Spiegel, revelando que a chanceler alemã pactuou com diversos parceiros europeus em não receber François Hollande, o candidato socialista à Presidência da França. O italiano Mario Monti, o espanhol Mariano Rajoy e o britânico David Cameron ter-se-ão juntado a esta aliança secreta. Merkel agiu por desconfiança em relação à sua política europeia. Hollande anunciou a sua intenção de, caso vença as eleições, renegociar o pacto orçamental que acaba de ser assinado em Bruxelas.
Na opinião do Standard, esta "estranha conspiração” demonstra que os chefes dos governos conservadores na Europa consideram que o seu domínio político está a enfraquecer. Pouco gentil para com Angela Merkel, este jornal diário afirma:
Tudo isto é transparente. O golpe falhou. A chanceler não poderia ter feito melhor coisa para ajudar Hollande. Os franceses estão fartos das promessas não cumpridas e dos gestos de submissão de Sarkozy. Sem falar da grande maioria, que não quer deixar que Berlim lhe imponha o próximo Presidente.
O facto de Merkel se apoiar em Cameron (que regularmente a contraria em relação ao euro) e Rajoy (que acaba de anunciar que fará rebentar o défice espanhol) mostra como está enfraquecida. Ignorar desta forma o possível próximo Presidente do parceiro mais importante, revela uma falta de instinto como já não se via há décadas.
Em Paris, o Libération realça que esta rutura aparece no momento em que, numa sondagem, 41% dos franceses questionados afirmam estar convencidos que a Alemanha "utiliza a crise para reforçar a sua economia à custa dos outros"... Se François Hollande for eleito, "teremos que começar por reparar os danos", afirma este jornal diário, citando a politóloga Sabine von Oppeln. Tanto mais que, em 2007, dois meses antes do escrutínio anterior, Angela Merkel recebeu a candidata socialista, Ségolène Royal, com uma conferencia de imprensa conjunta e aperto de mãos em frente às câmaras.
Se dizem que estamos mais dependentes do que acontecer na UE, mas sobretudo na Eurozona do que na nossa terrinha, por muito competentes que sejam os nossos governantes e “custe o que custar”, devemos mais focarmo-nos nos “cabeças” lá de fora do que nas tricas dos “cérebros” cá de dentro.
E é sintomático que a “rainha” da Europa (título comprado com dívidas) e “coroada” pelo atual presidente francês (seu súbdito) não se dê ao trabalho de receber o outro candidato francês (e eventual vencedor/parceiro?) e para tanto tenha tido a anuência e o concluio de 3 dos seus mais diretos contestatários, todos conservadores e interessados numas benessezinhas, que os colocam numa posição acocorada…
Tudo porque Hollande já anunciou, no caso de vencer as eleições francesas, renegociar o pacto orçamental assinado em Bruxelas, por discordar da liderança usurpada por Merkel, bem como das políticas de austeridade, que arrasam com as economias dos restantes países, originando uma supremacia da Alemanha, face a todos os países membro.
E se o eventual futuro presidente francês assim pensa e quer agir, muito mais os franceses pensam como ele, cansados também de assistirem a uma ditadura do défice e conscientes de que quem escolhe o seu presidente são eles. Como diz a notícia, a Sra. Merkel deu mais um tiro no pé (esperamos) empurrando os franceses para os braços de Hollande, com esta nega, mas sobretudo por se ter auto arvorado em Mandatária da candidatura de Sarkozy, anunciando-a, mesmo antes de ele a ter declarado.
E mais uma nota, que é notória e poderá ser notável, caso um candidato (que se diz) socialista seja eleito, o que iria contrariar a tese de que o “socialismo/social democracia” foi a razão deste imbróglio agiota e sociologicamente sádico, o que seria outra razão para os conservadores (eleitos e designados) se unirem para contrariarem uma tese mais do que falsa…
Mas como o povo é quem manda e como o povo francês tem sido o baluarte de todas os excessos quando há excessos, esperemos que escolha quem os defenda e não nos use como despojos de uma guerra de dois “robertos”…
Esperemos, embora tenhamos que espear mais um ano para assistir à deposição da “rainha”…

Contramaré… 6 mar.

Ex-Presidente da República sugere a Passos que siga o exemplo do homólogo espanhol e acusa a Alemanha de ingratidão.
"[Mariano] Rajoy fez aquilo que devia", concluiu Mário Soares, numa alusão às afirmações do primeiro-ministro de Espanha de que este ano, em conjuntura de crise, o seu país não cumprirá a meta de redução do défice para 4,5 %. "Mariano Rajoy pensou e bem que, se fizer isso [reduzir o défice com políticas de austeridade], acontece uma desgraça. Não sei o que o nosso Governo [português] vai fazer, mas ficamos à espera", disse, num recado ao executivo de Pedro Passos Coelho.

Outro “Público” para (in)formar o mesmo público?

Vivemos num país desconhecido. Por baixo da informação tangível, dos números e das estatísticas, correm fluxos de acontecimentos inquantificáveis e que, no entanto, condicionam decisivamente a nossa vida. Quantas doenças psíquicas foram desencadeadas pela crise? Quanta energia vital se desperdiça na fabricação da imagem de um rosto jovem necessário exigido por tal profissão? São "dados" incognoscíveis ou imateriais, não susceptíveis de se tornarem informação. São não-notícias.
O Público deu-nos a possibilidade, neste número, de fazer aparecer esse avesso do estado da nação, levantando uma ponta do véu que o recobre e o esconde. Não se tratou, pois, de informar ou de desinformar, mas de fazer pensar diferentemente no país que temos e na informação que dele dispomos.
Ordenámos a não-informação em três categorias:
 - o que é impossível conhecer (por exemplo, aquele factor decisivo, singular, único do "talento", que não entra numa grelha de avaliação de competências de um aluno), mas é condição essencial para que se ordene de modo inteligente, ético e eficaz a informação que se conhece;
- o que não se conhece mas que se poderia e deveria conhecer (o número de mortes estimado por atraso na lista de espera de uma operação) para o fazer entrar numa decisão política ou outra;
- o que seria possível conhecer mas que se torna impossível saber porque o seu conhecimento poria radicalmente em questão o regime das nossas sociedades pós-democráticas (por exemplo, o número de políticos corruptos).
As inúmeras perguntas que fizemos aos organismos competentes receberam não-respostas, confirmando a ideia de um vazio obrigatório de informação:
- na secção "Pobreza" os dados recolhidos não permitem um plano de combate exaustivo e eficaz à pobreza;
- na secção "Política" a ausência de números oficiais sobre os políticos que detêm depósitos em offshores indica que a transparência nesse domínio subverteria o nosso regime político;
- e assim por diante.
O nosso país está demasiado "cheio" (de informações, imagens, bugigangas de toda a espécie) e quanto mais se enche mais se enterra o vazio essencial a que não se dá a importância que tem. Acreditamos que a informação que, por definição, vive da positividade do dado, do pleno, que nos enche os olhos e o cérebro criando a ilusão de pensamento, pode ser tratada de outra forma. A massa de informação a que hoje temos acesso contribui para uma espécie de visão global que faz da realidade um conjunto de coisas e factos objectivos - de que decorre ao mesmo tempo a despoetização do mundo e um crescente caos afectivo. Contra isso, acreditemos nas virtudes do vazio.
O que fizemos - em trabalho extraordinário de equipa - sugere a possibilidade e a necessidade de traçar um mapa de Portugal que mostre os trajectos duplos, de um pleno que constantemente atropela e exclui o vazio; e dos movimentos do vazio que abrem linhas de fuga, incita a pensar diferentemente, desencadeia poderosas forças de criação. Não estamos condenados ao que julgamos que nos condenaram. Só assim poderemos conceber reformas radicais que libertem as energias e mudem o país.