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sábado, 19 de maio de 2012

ESQUERDA RACIONAL vencerá a DIREITA RADICAL?

Reação de implosão no núcleo de uma Bomba atómica
Schäuble, Merkel: mas para quê?
O que fazer quando a realidade é caótica e disfuncional e arriscada e assustadora, para não dizer mesmo extremamente perigosa e imprevisível? Pousamos os olhos no horizonte, respiramos fundo e dizemos com toda a candura do mundo: "Dentro de dois anos os mercados vão acalmar." 
A frase, inacreditável, é de Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão, e revela a terrível ignorância deste homem responsável por conduzir, de braço dado com Angela Merkel, a resposta da Europa à crise que está a centímetros de arrasar o euro. Não se trata de incapacidade para tomar decisões, mas da evidente falta de vontade para encontrar um caminho diferente do atual. Schäuble e Merkel são os únicos europeus que não ficaram com os cabelos em pé ao ver a Grécia aproximar-se cada vez mais da porta de saída do euro e do que isso pode significar: caos em Atenas, talvez guerra civil (escreve o prudente Financial Times), e uma recessão profunda na Europa inteira, salvamento in extremis de Espanha (via troika), Itália em pânico e Portugal nas mãos do desconhecido.
Ponto final - Os gregos estão a cavar a sua sepultura, mas Merkel está a ajudar. Pior: está a deixar que o euro se desintegre.
Os bancos gregos e os nossos
A portaria que define a maneira como os bancos portugueses podem recorrer à linha de 12 mil milhões de euros do Estado para se recapitalizarem saiu esta semana. Finalmente. Milagrosamente. O momento não podia ser mais certeiro: as regras que permitem aos bancos ter acesso aos fundos públicos para fortalecer a sua base de capital (que aumentam a capacidade de resistência aos ventos da crise) foram conhecidas 12 horas depois de se ter ficado a saber que se tinha intensificado a corrida aos bancos gregos, já a perder 700 milhões de euros todos os dias para o mais duro dos concorrentes - a zona francamente incómoda entre a cama e o colchão dos clientes. Felizmente, Vítor Gaspar e Bruxelas (que estava a mastigar o assunto) perceberam que tinham de deixar bem claro que, além de todas as diferenças entre Portugal e a Grécia, há mais uma: os bancos, como o Estado, têm uma linha de crédito que, não impedindo uma desgraça, dá um sinal claro aos depositantes portugueses. Se houver calma - e se o céu da zona euro não cair por causa da Grécia -, os bancos nacionais são seguros e confiáveis.
André Macedo
Se for eleito primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, o líder da Coligação da Esquerda Radical, quer renegociar o acordo de resgate. Porque a actual política de austeridade empurra todos "para o inferno". Há parceiros para a renegociação? Sim, diz Tsipras: Espanha, Itália ou Portugal. Não há é margem para dúvidas: o Syriza quer a Grécia no euro.
Tsipras diz que se a Grécia deixar de cumprir obrigações com os seus credores, o que fará se perder financiamento europeu, ficará com dinheiro para pagar aos trabalhadores e reformados.
O líder do Syriza está convicto de que não há grandes probabilidades de a Europa cortar o financiamento à Grécia, mas que, se isso acontecer, então Atenas deixará de pagar as suas dívidas. E a ameaça vai mais longe: Tsipras sublinhou que um colapso financeiro na Grécia arrastaria o resto da Zona Euro.
Os dirigentes europeus "e especialmente a senhora Merkel devem parar de brincar com a vida das pessoas", disse Alexis Tsipras.
Deste editorial retira-se o que já aqui disse sobre a verdadeira mente destas políticas de aniquilação das economias dos países-membros da Zona Euro, que afinal se chamava “Nicolschäuble”, com o intuito, ou pelo menos com o efeito de anular concorrências e criar um centro monopolista da Economia e das Finanças, na Alemanha.
Os rafeiros que se ajoelhem para pedirem o soro e agradecer a “ajuda” para a eutanásia… Só que, sabem os bosses europeus e o cidadão comum, que uma bomba quando rebenta atinge todos com estilhaços e ninguém nas redondezas fica imune, embora esta se possa classificar como bomba de neutrões…
E a Grécia, onde Schäuble e Merkel experimentam em laboratório teorias macabras, já percebeu que antes de morrer, há direito a uma última vontade e a um cigarro baforado na cara dos executores. Mas sabem também que se se sobreviver ao fuzilamento ganha-se direito à vida…
Por isso (ironia do destino) a esquerda (dizem eles, radical) corre o risco de ser o partido mais votado nas próximas eleições e sem papas na língua, diz o que vai fazer e avisa, sem “bluff”, que o vírus que lhes injetaram é contagiante... Se é para irem para o inferno, vão todos, mas antes há a possibilidade de uma aliança entre os infetados, que há muito, muita gente propõe, embora saibamos que o nosso governo prefere subservir e aplicar, mais uma vez o pacto de não beligerante…
No meio desta balbúrdia é notória a pressão e as ameaças (intermitentemente desmentidas) dos “líderes” europeus sobre os gregos (com Durão Barroso a colaborar), para que votem nos partidos do arco, ameaçando-os com o corte da próxima tranche, mas também esta chantagem tem a resposta que merece: se não viabilizam moeda, não pagam aos credores, mas apenas aos funcionários públicos e reformados o que nos dá a entender que afinal parece que há dinheiro para contrariar essa ameaça.
Incompreensível é que estas ameaças se façam, mesmo sabendo que o partido de esquerda não quer sair do Euro, só quer renegociar a dívida, reduzir a austeridade e iniciar o crescimento… Será porque os compromissos e a manutenção do status quo, são mais fáceis com quem levou a Grécia aonde a levaram e mais difícil (por enquanto) com os idealistas da ESQUERDA RACIONAL?
Já é tempo de alguém gritar aos usurpadores da democracia na Europa, que parem de brincar com a vida das pessoas, porque a questão, GRAVE, é só essa.
O dia das próximas eleições gregas, provavelmente a 17 de junho, será o princípio de algo novo, talvez mais inolvidável do que as eleições francesas.
Esperemos, porque ou vamos continuar a comer migalhas do bolo envenenado, ou brindar à vitória da democracia, da lógica na economia, do confronto com os mercados, da justiça social e da solidariedade entre parceiros a sério daqui para a frente…
Mas, há sempre um mas, os poderosos tem sempre trunfos nas mangas, mas sobretudo nos bolsos…

Contramaré… 19 maio

"A área do Governo que menos respondeu e menos responde aos pedidos de informação e aos contactos do provedor de Justiça é claramente o Ministério das Finanças, exatamente porque talvez haja a noção de que o que está neste momento em causa são os números e não as pessoas", apontou o provedor de Justiça, Alfredo José de Sousa.

Até a Merkel deixou de falar só na austeridade, mas…

Perante um novo agravamento da crise financeira, o Governo de Mariano Rajoy tenta fazer promessas aos mercados, exigindo o apoio da UE. Mas quando se compara a sua situação à de Portugal e da Grécia, percebemos que não há alternativa, constata El Mundo.
Faz hoje um ano que se consumou o resgate financeiro de Portugal. A 17 de maio de 2011, a UE e o FMI decidiram socorrer, com 78 mil milhões de euros, o Governo socialista de José Sócrates – que a 7 de abril tinha pedido a intervenção –, com a condição de que iniciasse um rigoroso plano de ajustes e reformas. Um mês depois, mudou o Governo e o centrista Pedro Passos Coelho, com o apoio da oposição, dispôs-se a aplicá-lo. Desde então, Portugal subiu os impostos diretos e indiretos, reduziu em mais de 15% o salário dos funcionários públicos, reduziu as despesas com a Saúde e a Educação e parou as novas infraestruturas. Tudo isto fez com que o desemprego registasse um recorde histórico e esteja agora em 14,9% da população ativa.
Queda inferior do PIB em Portugal
Mas este primeiro trimestre surpreendeu toda a gente com o PIB a cair apenas 0,1%, uma percentagem muito inferior à prevista graças, sobretudo, ao setor externo. Portugal continua em recessão, mas os seus cidadãos, pelo menos, já podem vislumbrar uma travagem na queda.
A Grécia é o caso contrário; há mais de 2 anos que tem um plano de resgate e quase não fez avanços nas reformas. A sua classe política está a dar provas de grave irresponsabilidade e os cidadãos estão desesperados porque veem que os seus sacrifícios de nada servem. E enquanto Portugal passou para segundo plano nos mercados, a Grécia mantém toda a União Europeia em sobressalto.
Estes dois países demonstram na perfeição a diferença que existe entre cumprir ou não cumprir com as nossas obrigações. O caminho do ajuste e de reformas iniciado pelo Governo de Mariano Rajoy, desde que tomou posse, é o único possível ainda que os vaivéns dos mercados, por vezes, nos façam duvidar. Como acontece por estes dias, em que a incerteza sobre o futuro da Grécia na zona euro aumentou o prémio de risco para mais de 500 pontos, pela primeira vez na história, e fez cair a Bolsa para níveis de meados de 2003.
Dar um salto em frente
Ontem, no Congresso, o ministro das Finanças, Cristóbal Montoro, reiterou que “ou fazemos o ajuste ou os mercados fá-lo-ão por nós”. Não pode ser de outra maneira e, sobretudo, não podemos fazer marcha atrás. Só assim podemos esperar ajuda da União Europeia e do BCE e neste contexto há que entender as queixas de Montoro e do próprio Rajoy, ao reclamarem mais decisão, em Bruxelas e em Frankfurt, em defesa de Espanha. O presidente do Governo pediu ontem à UE uma mensagem “clara e contundente” na defesa do euro e da “solvência das dívidas soberanas”. Referiu-se, em concreto, ao “sério risco” de os mercados deixarem de emprestar dinheiro a Espanha ou de o emprestarem a preços “astronómicos” de maneira a paralisarem o financiamento do país e o das empresas e instituições financeiras a quem já é difícil conseguir crédito para as suas atividades.
O Governo enviou estas mensagens quando se soube, nos mercados, que o BCE só agirá em defesa da dívida espanhola quando o prémio de risco ultrapassar os 500 pontos. Isso provocou uma rápida reação na baixa da cotação, que fechou o dia nos 482 pontos. O executivo tem razão em lamentar-se, porque, de modo algum, a economia espanhola pode assumir um diferencial com as obrigações alemãs em alta durante um tempo prolongado.
Mas, por sua vez, o Governo tem que reconhecer que ter o prémio de risco tão alto continua a ser mérito nosso, e não baixará enquanto os mercados não sentirem que as reformas começam a surtir efeito. Neste sentido, a forçada nacionalização da Bankia foi um passo atrás porque ressuscitou as dúvidas sobre o setor financeiro espanhol. Mas hoje podemos dar um salto em frente se, depois do Conselho de Política Fiscal e Financeira, pudermos ver que os défices das comunidades autónomas começam verdadeiramente a estar controlados.
VISTO DE LISBOA - À espera de mais más notícias
À beira do fim-de-semana da cimeira do G8, nos Estados Unidos, onde a crise da zona euro vai ser debatida, o Jornal de Negócios salienta que:
É normal que os gregos falem como tresloucados – afinal, estão à beira de uma catástrofe. Não é normal que na UE ajam como se controlassem a situação – afinal, estão à beira de uma catástrofe. (...) Em Portugal estamos aquietados, observando de longe o que determinará o nosso futuro. Olhamos para os mercados como se ouvíssemos num transístor um jogo que tememos perder. (...) É hora de sair da praia, trocar o Martini pelo chá de valeriana. Nos últimos dias, o custo da dívida de países como Espanha e mesmo França disparou. (Portugal foi atrás.)
O diário lisboeta acredita que a Europa não está a agir na base da solidariedade, antes reagindo a incentivos. E levanta algumas questões:
A moeda única vai prevalecer? Há dinheiro para acudir a Espanha? E se Espanha cai, treme a Itália, a França, o edifício inteiro? As "firewalls" que esterilizam a Grécia e evitam o contágio, protegerão Portugal? Pode a Grécia sair do euro e ficar na UE? Essas são as perguntas. De hoje. De sempre. (...) E assim voltamos a ter medo dos domingos, os dias para que estão guardadas as piores notícias.

Ecos da blogosfera - 18 maio

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Isto cheira muito a uma verdadeira social-democracia…

Três ex-ministros das Finanças debateram, na Faculdade de Economia do Porto (FEP), o futuro do Estado Social em Portugal. Os antigos governantes pedem uma reforma do modelo atual, mas prudentemente, tendo em conta a área de que se trata.
Manuela Ferreira Leite considera que as reformas resultam de "um contrato" assumido entre os cidadãos e o Estado, que passaram para este (o Estado) o risco "a troco das suas poupanças". Por isso, sublinha, tudo o que seja alterar este contrato é "algo extremamente delicado". "Não pode haver quebra de confiança entre os cidadãos e o Estado em algo tão importante", frisa.
Ferreira Leite critica o discurso vigente de que "as reformas que as pessoas recebem é um subsídio" e, salienta mesmo que o Estado "arroga-se o direito de definir o que é alto e o que é baixo" tentando estabelecer limites no pagamento das reformas, "quando não se arrogou a igual direito ao cobrar, quando as pessoas fizeram os descontos".
Manuela Ferreira Leite alertou que é preciso ter cuidado quando se alteram as regras da Segurança Social, porque há o risco de se criar uma nova classe de pobres sem capacidade para recuperar.
A antiga ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite afirmou que não é possível consolidar as contas públicas sem que haja um processo de crescimento económico a acompanhar essa consolidação.
"Defendo categoricamente que, se não houver crescimento económico, não há a possibilidade de se conseguir consolidar as contas públicas", declarou Manuela Ferreira Leite durante a sua intervenção numa conferência sobre a arquitetura do novo modelo do Estado social.
Sem apontar medidas que possam contribuir para esse mesmo crescimento, a antiga líder do Partido Social Democrata (PSD) lembrou apenas que há outras decisões que deviam ter sido tomadas de forma mais atempada para colmatar os problemas atuais.
Quando não se faz propaganda e se debitam os anseios de uma vida política, a essência vem sempre ao de cima…
Afinal, o Estado Social parece que existe, que é possível restaura-lo mesmo com algumas obras, desde que não se mexa muito nas suas estruturas e se queira ir por aí…
Estou farto, mas mesmo farto de repetir tudo isto, havendo quem conteste o que, MFL nos diz com simplicidade (contra o costume): as reformas que as pessoas recebem não são subsídios, mas o retorno das suas poupanças, por contrato feito entre o cidadão e o Estado. Se assim não fosse, o Estado não teria o direito de cobrar os descontos exigidos às pessoas durante o período laboral.
Pela mesma razão, MFL rebela-se contra o Estado se arrogar do “direito” de estabelecer limites no pagamento das reformas, sem limitar os respetivos descontos.
Ficou por dizer, mas torna-se mais fácil depreender que quem paga os montantes das reformas são os próprios que fizeram os descontos e nunca os trabalhadores no ativo, a não ser numa perspetiva contabilística, ou de tesouraria…
E por tudo isto, é mesmo de se ficar preocupado com a insensibilidade do ministro das Finanças (o da Segurança Social, caridosamente tapa os buracos) para a sustentabilidade da Segurança Social, de que se fala demais e se faz de menos, brincando ao “vamos consolidar o orçamento”…
E para remate, MFL vem falar da impossibilidade de se consolidar as contas públicas sem um processo de crescimento económico, não para estar de acordo com os economistas da esquerda radical, nem para se colar a Hollande, mas para fazer eco do que qualquer amador já concluiu há muito e só perde por o dizer tão tarde.
Afinal, parece que ainda existem social-democratas, que não querem renegar a ideologia e muito menos abastardar as práticas políticas.
Nem sempre estive de acordo com MFL, mas é sempre tempo para a sinceridade…

Às vezes surge uma vela acesa no meio do túnel…

Paulo Macedo anunciou no Hospital de Santo António, no Porto, que “O contrato celebrado entre a Infarmed e a empresa farmacêutica [Pfizer] resultou de um processo negocial em que as partes tiveram várias intervenções e no qual ficou definido um valor a suportar pelo SNS para 2 anos superior a 30 milhões de euros”.
Durante a cerimónia de assinatura do protocolo de utilização do Tafamidis, medicamento para a paramiloidose, através do SNS, o Ministro da Saúde acrescentou que, se os 30 milhões de euros forem ultrapassados, “a empresa farmacêutica devolverá a parte excedente ao SNS”. O acordo foi conseguido depois de “muitas negociações em que obviamente houve uma redução do preço proposto inicialmente” e o medicamento deverá estar disponível ao longo do próximo mês.
Nesta primeira fase deverão ser abrangidos 450 pacientes que sofrem de paramiloidose, uma doença que tem uma forte prevalência em Portugal, especificamente nas regiões norte e centro e, por isso, estima que serão de “extrema importância os ganhos de saúde esperados pela utilização do Tafamidis”.
O ministro da Saúde confirmou hoje que os custos para tratar a paramiloidose com os transplantes hepáticos rondam os 400 mil euros por doente e que o Tafamidis tem um custo de 120 mil euros por pessoa.
Paulo Macedo sublinhou, no entanto, que, clinicamente, a medicação não evita o transplante hepático a prazo e que, portanto, o SNS vai continuar a “dinamizar os transplantes”.
A paramiloidose ou a “doença dos pezinhos” é crónica, neurodegenerativa, progressiva e hereditária, manifestando-se entre os 25 e 35 anos.
Para quem tem como objetivo denunciar tudo que de mau, incompreensível, ou manipulado é noticiado nos media, poderá parecer que custa dizer bem das coisas boas, mas é com alegria, por não (querer) ser facioso que o faço, até porque já aqui mandei umas bocas sobre a morosidade das decisões, enquanto iam morrendo pessoas.
E por isso, quero congratular-me com a decisão do governo e do ministro da Saúde, e com o acordo entre a Infarmed e a Pfizer (que demonstra que esta empresa tem consciência social, o que lhe valorizará o currículo e a classificação), que dará vida e esperança de vida, a quem nasceu condenado a uma passagem breve e sofrida.
Vamos acreditar que Paulo Macedo consiga burilar os sentimentos do Ministro da Saúde e o convença de que é mesmo possível gerir objetivos comuns e que o SNS tem que estar, OBVIAMENTE, disponível para ir ao encontro das necessidades dos cidadãos, mesmo que o preço seja elevado, porque a vida não tem preço…
Às vezes uma velinha acesa chega para iluminar a escuridão.

Contramaré… 18 maio

O número de desempregados inscritos nos centros de emprego no país e ilhas registou em abril um aumento de 21% face ao mês homólogo do ano anterior. Os dados são do IEFP.
A taxa de desemprego real em Portugal rondou os 20% no 1º trimestre, o que corresponde a mais de 1.000.000 de desempregados, incluindo a população que não procurou emprego nas últimas semanas antes de ser inquirida pelo INE.

Um rito de penitência para imolar um bode expiatório?

Em vez de tratar as autoridades gregas como párias e os seus eleitores como leprosos, os dirigentes europeus, a começar pelos alemães, faziam melhor em escutá-los. À força de dar primazia às exigências da economia sobre a democracia, minam os alicerces da União Europeia.
As pessoas acostumam-se tão depressa aos lugares-comuns que já não se apercebem dos efeitos perversos, e repetem-nos mecanicamente, como se fossem verdades irrefutáveis, quando o seu papel é precisamente manter-nos na forma. O perigo de seguir o caminho da Grécia, por exemplo: tornou-se um chavão que nos transforma a todos em espetadores aturdidos de um rito de penitência, onde se sacrifica um bode expiatório para o bem coletivo. O diferente, o disforme, não tem lugar na nossa Cidade. E se as novas eleições que acabam de ser convocadas não derem a maioria desejada pelos parceiros, o destino helénico está traçado.
Quantas vezes já ouvimos os dirigentes insinuarem, de forma tenebrosa: "Não estão a querer o mesmo destino da Grécia, pois não..."? A saída da zona euro não está prevista nos tratados, mas pode ser sub-repticiamente exigida, facilitada. Na verdade, Atenas já caiu na zona crepuscular da não-Europa, é o papão a que se recorre para assustar as crianças.
Verdadeiras raízes do mal mascaradas
Talvez a secessão grega seja inevitável, mas pelo menos esclareçam-se as verdadeiras razões: se for, não é por o resgate ser demasiado caro, mas porque a democracia entrou em conflito com as estratégias que supostamente iriam salvar o país. Na eleição em 6 de maio, a maioria dos eleitores rejeitou a pílula de austeridade que o país engole há 2 anos – e que não apresenta qualquer sucesso: pelo contrário, precipita a Grécia numa recessão fatal para a democracia. Uma recessão que faz lembrar Weimar, com golpes de Estado militares perfilando-se no horizonte. Forçados a voltar às urnas, na ausência de acordo entre os partidos, os eleitores vão reafirmar a sua rejeição e dar ainda mais peso à esquerda radical, ao partido Syriza de Alexis Tsipras. E, mais uma vez, proliferam as ideias feitas: o Syriza é uma potência nefasta, contrária à austeridade e à União Europeia, e Tsipras é retratado como o protótipo do antieuropeu.
A realidade é diferente. Tsipras não quer sair do euro nem da UE. Quer outra Europa, tal como François Hollande. Sabe que 80% dos gregos querem manter a moeda única, mas não desta forma, não com estes políticos nacionais e europeus que os empobreceram, mascarando as verdadeiras raízes do mal: a corrupção dos partidos no poder, o Estado e a Administração Pública escravos dos políticos, os ricos poupados [pela austeridade]. Tsipras é a resposta para estes males, mas ninguém quer queimar-se por falar com ele. Nem mesmo Hollande, que se recusou a encontrar-se com o dirigente do Syriza, que se precipitou para Paris após as eleições.
E as esquerdas europeias, que afirmam ter a solidariedade no sangue, apoiaram George Papandreu quando ele defendeu que há que europeizar a crise grega para encontrar a solução? Quem levou a sério as palavras que dirigiu aos Verdes alemães em dezembro, após a sua demissão de primeiro-ministro? A ideia que então esboçou continua a ser a melhor solução para superar a crise: "Para os Estados-membros, o rigor; para a Europa, as políticas necessárias de crescimento."
As palavras de Papandreu passaram despercebidas, como se fosse uma vergonha dar ouvidos a um grego, nos dias de hoje. Como se não houvesse consequências para a desenvoltura leviana com que se transforma em pária o país que deu origem à democracia. Analisa-se de forma impiedosa as degenerescências: a oligarquia, o império do mercado, com resultados como a plutocracia e a impunidade com que a lei e a justiça são desconsideradas.
A expulsão de Atenas, o fracasso da Europa
Se tivéssemos um mínimo de memória, entenderíamos melhor a alma grega. Perceberíamos o escritor Nikos Dimou quando expressa nos seus aforismos a desgraça de ser grego: "O povo grego sente o peso terrível do seu próprio legado. Atingiu o nível sobre-humano de perfeição relacionado com as palavras e as formas dos antigos. Isso esmaga-nos: quanto mais orgulhosos estamos dos nossos antepassados (sem os conhecermos), mais nos preocupamos com nós mesmos." Os que evocam as raízes cristãs da Europa esquecem as raízes gregas e o entusiasmo com que Atenas, saída da ditadura militar de 1974, foi recebida na Europa como país simbolicamente essencial.
O que os nossos dirigentes não dizem é que a expulsão de Atenas não será apenas fruto do seu fracasso. O fracasso será da Europa, numa história sórdida de impotência voluntária. Nós não conseguimos combinar as necessidades económicas e as da democracia. Não fomos capazes, mesmo reunindo os nossos recursos e inteligência, de superar a primeira derrocada exemplar dos velhos Estados-nação. A Europa não agiu em bloco, como fez o secretário do Tesouro Alexander Hamilton logo após a Guerra de Independência dos Estados Unidos da América, ao decretar que o governo central assumia as dívidas de todos os Estados, unindo-os numa federação forte. A Europa não tratou a Grécia como um assunto europeu. Não viu a ligação entre as crises da economia, da democracia, da nação e da política. Durante anos, cortejou as elites de um regime grego corrupto e, agora, manifesta-se atónita perante um povo que rejeita as responsabilidades por esse desastre.
Este afastamento entre a União e a democracia, entre Nós e Eles, vai ter consequências dolorosas. A sua morte vai ser um pouco a nossa. Mas falta a esse declínio o autoconhecimento que Atenas nos ensinou. Não é a morte grega que Ajax o Grande invoca na Ilíada: "Só cortando o nevoeiro à espada se poderia achar um homem às apalpadelas… Zeus-Padre varre-nos daqui esta caligem, desempasta os filhos dos Acaios, torna claro o céu, restitui-nos aos olhos a vista; e depois, se assim te apraz, continua a destruir-nos, mas em plena luz!" [“Ilíada”, de Homero, tradução de Pe. M. Alves Correia para a editora Sá da Costa, vol.II, pág. 167.]
OPINIÃO - O abandono da austeridade, uma oportunidade
Numa entrevista ao sítio de Internet romeno CriticAtac, o grego Leonidas Chrysanthopoulos, secretário-geral da Organização de Cooperação Económica do Mar Negro, afirmou, a propósito da situação na Grécia, que o seu país já não tem mais nada a perder: “como é que a situação de um país em que a classe média procura comida nos caixotes de lixo pode deteriorar-se ainda mais? Já estamos na categoria Junk…”. Segundo ele, “a Grécia deixará o euro e esse gesto será feito de maneira gradual tendo, como prémio, o perdão integral da dívida pública. Só assim a zona euro terá possibilidade de sobreviver e, ao mesmo tempo, isto permitirá o relançamento da economia [grega]”.
É verdade, admite, que o facto de a coligação de esquerda radical Syriza ser a preferida dos eleitores com menos de 40 anos é inédito, mas não é surpreendente: “Não gosto da ideia de classificar alguns partidos gregos como radicais. Eles têm, simplesmente, uma outra opinião, [é uma] posição legítima e até mesmo benéfica. Quem tiver o poder, depois das eleições, herdará um país à beira do abismo. […] E se a austeridade não funcionou, abandoná-la pode transformar-se numa oportunidade”.

Ecos da blogosfera - 17 maio

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Desde o passado de alguns até ao nosso presente…

Donos de Portugal é um documentário de Jorge Costa sobre 100 anos de poder económico. O filme retrata a proteção do Estado às famílias que dominaram a economia do país, as suas estratégias de conservação de poder e acumulação de riqueza.
Mello, Champalimaud, Espírito Santo – as fortunas cruzam-se pelo casamento e integram-se na finança. Ameaçado pelo fim da ditadura, o seu poder reconstitui-se sob a democracia, a partir das privatizações e da promiscuidade com o poder político. Novos grupos económicos – Amorim, Sonae, Jerónimo Martins - afirmam-se sobre a mesma base.
No momento em que a crise desvenda todos os limites do modelo de desenvolvimento económico português, este filme apresenta os protagonistas e as grandes opções que nos trouxeram até aqui.
Produzido para a RTP 2 no âmbito do Instituto de História Contemporânea, o filme tem montagem de Edgar Feldman e locução de Fernando Alves.
A estreia televisiva teve lugar na RTP2 a 25 de Abril de 2012. Desde esse momento, o documentário está disponível na íntegra em donosdeportugal.net.
Donos de Portugal é baseado no livro homónimo de Jorge Costa, Cecília Honório, Luís Fazenda, Francisco Louçã e Fernando Rosas, editado em 2011 pela Afrontamento e com mais de 12 mil exemplares vendidos.

Um cumpridor de promessas? (1)

Jean-Marc Ayrault é o primeiro-ministro francês, segundo anuncio oficial após a tomada de posse de François Hollande como presidente.
Líder da bancada socialista no Parlamento desde 1997, Ayrault sentou-se lado a lado com Hollande no hemiciclo durante 15 anos. Professor de alemão, atualmente em part-time, o político de 62 anos é considerado um germanófilo com bons contactos no mundo político de Berlim.
Durante a campanha, Hollande disse que as mulheres ocupariam metade dos postos ministeriais.
Outra medida, será o regresso da reforma aos 60 anos para os assalariados que entraram cedo no mercado do trabalho e descontaram durante 41 anos para a caixa das pensões de reforma.
Para os restantes trabalhadores mantém-se a reforma aos 62 anos, decidida pelo anterior poder, mas o Governo socialista anunciou que vai reunir com os parceiros sociais, com o objetivo de permitir também a reforma a partir dos 60 anos aos assalariados empregados em funções mais duras e penosas. 
Depois das eleições legislativas, o novo Governo deverá igualmente elaborar uma reforma da política fiscal com o regresso da antiga barra menos elevada do imposto sobre as grandes fortunas - cerca de 300.000 contribuintes, até agora isentos desse imposto, passarão a pagar mais.
O Executivo de Jean-Marc Ayrault também não exclui decretar o controlo dos preços dos combustíveis se estes voltarem a subir nos próximos tempos.
Mais 3 promessas de Hollande.
O novo ministro das Finanças francês, Pierre Moscovici, confirmou mais uma vez que a França não vai ratificar o Pacto Orçamental Europeu se o documento não ter em conta medidas de estímulo ao crescimento da economia.
A renegociação do Pacto Orçamental Europeu foi uma promessa de campanha de François Hollande.
“Queremos que a Grécia continue na Zona Euro porque a Grécia é membro da União Europeia e porque a Zona Euro é uma zona unida, que não pode ser desfeita”, adiantou o ministro das Finanças francês.

Contramaré… 17 maio

A primeira decisão do novo Governo francês será a redução em 30% do salário do Presidente e dos ministros.
A reforma aos 60 anos regressa para os assalariados que entraram cedo no mercado do trabalho e descontaram durante 41 anos para a caixa das pensões de reforma.
A chefe do governo alemão e os seus ministros terão os seus salários elevados em 5,7%.
As altas salariais têm-se multiplicado em diferentes sectores da economia da Alemanha.

Debater ideologias ou render-se ao “pragmatismo”?

Até agora, não havia quaisquer discussões ideológicas na Europa, por falta de uma verdadeira cultura do debate. Com um Presidente francês e uma chanceler alemã politicamente opostos, a UE bem poderia aprender a discutir e a ressuscitar o interesse dos cidadãos.
A entrada no círculo dos chefes de Estado e de governo europeus permite respirar um pouco melhor. Quando se está ali, no meio de presidentes, chanceleres e primeiros-ministros, estamos no nosso lugar, tivemos sucesso, podemos olhar de alto a oposição no próprio país, o seu espírito medíocre e as críticas. Aqui, partilha-se o abundante bolo do poder. Na ausência de uma verdadeira concorrência no xadrez europeu, os chefes de governo passam por cima dos parlamentos e dos partidos. Puseram de lado a Comissão. É isto que torna o Conselho Europeu tão único – e também tão previsível.
Porque nada privaria mais rapidamente o Conselho do seu poder do que o conflito e um passo atrás. Um homem ou uma mulher de Estado está acima dos ideólogos. Foi por isso que o Conselho reagiu com tamanha perplexidade, quando, por alturas das campanhas eleitorais na Grécia e em França, foi feita de forma banal menção às alternativas desagradáveis perante as quais se encontrava a política europeia, uma vez que o nacionalismo e o populismo foram elevados à categoria de remédios universais: expulsar a Grécia para fora do euro ou permitir a sua permanência na zona da moeda única; distribuir ajudas ou apertar o cinto: aumentar os impostos dos ricos ou revê-los em baixa.
A imaturidade de um continente
Mas então, quem decide pela Europa? Um aparelho institucional incompleto? Se funcionasse melhor, este beneficiaria de uma maior confiança. As questões verdadeiramente centrais – a legitimidade democrática, a supervisão e o controlo – continuam por resolver. Outras tantas provas da imaturidade do continente.
As instituições nacionais também são demasiado frágeis para aguentarem por si próprias o peso de toda a Europa. O Estado-nação tornou-se demasiado estreito para essa Europa que, no plano comercial, se encontra sujeita, desde há demasiado tempo, às forças da globalização, e que só pode puxar dos seus galões no concerto das potências mundiais se estiver unida.
Há pelo menos dez anos que a Europa luta contra os problemas suscitados pela globalização. A sua primeira reação imatura foi criar o euro e dotar-se, sem convicção, de um protocolo adicional – o Tratado de Lisboa. O continente não se preparou realmente para as curvas ascendentes e descendentes da globalização, do mercado livre, dos capitais "nómadas" e do livre acesso à informação. É por isso que se torna cada vez maior a tentação de vestir a camisola de patriota e satisfazer a nostalgia do cómodo conforto da nação.
Contudo, o que é feito da estabilidade e da previsibilidade democrática? A situação também não é brilhante – conforme o demonstra o estabelecimento de um pacto orçamental periclitante. É certo que este pretende respeitar todas as soberanias (para que os irlandeses não votem "não" no referendo), mas, em simultâneo, prevê que seja conferido mais poder à Europa.
O despertar dos desejos de ideologia
Quais são os limites da capacidade de consenso da União? A Europa precisará de alternativas, de confrontos, de ideologia? Quando François Hollande se lançou na campanha eleitoral com os seus cavalos de batalha socialistas, a chanceler não foi a única a mostrar o seu desagrado. Seria preciso a crise resultar num confronto em torno do credo político da direita? Estariam mais uma vez de regresso os "camaradas" e as suas ideologias cobertas de pó: os socialistas, os neoliberais, os defensores do controlo estatal e os partidários da redistribuição da riqueza?
Ao despertar os desejos de ideologia, o novo Presidente apontou involuntariamente o dedo àquilo que fazia falta na Europa: a liberdade de escolha, a polarização, o debate democrático – e, portanto, a paixão que leva as pessoas a envolver-se na política. O instinto de François Hollande provou que a paixão permitia vencer eleições.
Mas sejamos prudentes: a Europa não está suficientemente forte para acolher esse debate. Ainda não. François Hollande dar-se-á em breve conta, no seio do clube dos poderosos, de que os grandes problemas que o continente europeu enfrenta requerem grandes coligações. Realista como é, não tardará a tornar-se um mestre do consenso, ao lado da chanceler alemã. Mas, sendo como é também um idealista francês, não deveria abandonar a sua fibra ideológica. Se fossem suficientemente fortes, a Europa e as suas instituições seriam capazes de suportar a virulência política.
VISTO DE PARIS - Uma cimeira de urgência
“Dupla franco-alemã chega a acordo sobre a Grécia”, titula Le Monde, um dia depois do primeiro encontro entre François Hollande e Angela Merkel. O novo Presidente foi a Berlim no próprio dia da sua tomada de posse “não só para sublinhar a importância da dupla franco-alemã na Europa, mas também porque era urgente”escreve o diário:
A Grécia patina. O doente grave dos dezassete membros da zona euro está com um novo acesso de febre. Não tem governo, vai ter de voltar às urnas. Não consegue escolher: deverá continuar na união monetária? (…) Não admira que o avião de Hollande tenha sido atingido por um raio, Zeus quis marcar, à sua maneira, a gravidade do momento.

Ecos da blogosfera - 16 maio

quarta-feira, 16 de maio de 2012

E as consequências da saída do euro não são “bluff”?

No momento em que aumentam as especulações sobre a saída da Grécia da zona euro, é preciso perceber que o país não pode sobreviver sem a moeda única e que a Europa não pode permitir a sua saída. Por isso, ambos têm que colocar as cartas na mesa.
Em diversos países e regiões, o veredicto dos eleitores está dado. A solução baseada apenas na austeridade é um fracasso. Agora, há que o interiorizar e iniciar negociações, que se preveem difíceis, que poderão levar a compromissos penosos. Mas, é urgente que a Grécia esteja pronta para tudo. E será necessário distinguir a realidade das ameaças e das chantagens que se trocam neste momento.
O regresso ao dracma
Em primeiro lugar, a Grécia não está preparada para sobreviver por si mesma. Sem as ajudas da Europa e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em breve o dinheiro faltará para pagar os salários dos funcionários públicos e para comprar ao estrangeiro aquilo de que necessita para sobreviver, a começar pelos produtos alimentares e pelo petróleo.
Em segundo lugar, após as reestruturações impostas aos credores privados, atualmente quase metade da dívida grega está nas mãos da Europa ou do Fundo Monetário Internacional. Portanto, se a Grécia não pagar, serão sobretudo os contribuintes da zona euro, ou seja, todos nós (mil euros por cabeça, numa estimativa sumária), quem irá desembolsar.
Em terceiro lugar, o regresso ao dracma só seria vantajoso na imaginação de economistas pouco informados, quase todos americanos. Soube-se recentemente que o governo de Georges Papandreou tinha encomendado um estudo que concluía que mesmo os dois setores que proporcionam à Grécia os seus rendimentos principais, o turismo e a marinha mercante, não beneficiariam com uma moeda desvalorizada.
Em quarto lugar, a verdade desconhecida é a dos prejuízos colaterais – para além do incumprimento da dívida – que uma eventual bancarrota da Grécia causaria aos outros países da zona euro. O diferencial em relação aos títulos do tesouro alemães [spread] não deixaria de crescer. Certamente, as consequências não teriam o mesmo peso para todos. Seriam mais pesadas para os países fracos, a começar por Portugal, em seguida a Espanha e a Itália, e mais leves para a Alemanha.
A solidariedade ou a rejeição
Não existe uma resposta evidente para esta questão que todos os ministros do Eurogrupo, reunidos em Bruxelas a 14 de maio, se colocam: É preciso continuar a sustentar a Grécia ou deixá-la cair a pique? À primeira vista, pelo menos para a Itália, a solidariedade parece menos dispendiosa que a rejeição. Mas, no entanto, se olharmos para o futuro, uma Grécia não depurada tornar-se-ia um problema.
Sendo certo que se misturam duas crises políticas, uma que diz respeito aos mecanismos de decisão da Europa, a outra, os partidos gregos, seria tempo de refletir sobre as alternativas disponíveis através de uma lógica política.
Em Atenas, afunda-se um sistema político. É preciso questionar se a derrota dos dois partidos políticos, até agora dominantes – a Nova Democracia e os socialistas –, se deveu aos prazos demasiadamente curtos exigidos pela Europa para liquidar a dívida, ou à distribuição injusta e ineficaz dos sacrifícios necessários, que continua a proteger as clientelas e os poderosos.
Abrir os cordões à bolsa
A Europa tinha exigido prazos mais curtos que os do FMI precisamente porque desconfiava dos políticos no poder em Atenas. Presentemente desconfia também dos eleitores. Os seus votos deslocaram-se para os políticos dos movimentos emergentes, mas que lhes contam mentiras, por exemplo, que a Grécia pode mais facilmente obrigar os outros países a pagar, ameaçando arrastá-los para o fundo se não voltarem a abrir os cordões à bolsa.
Cabe à Alemanha e aos outros países desfazer estas ilusões de chantagem vã, porque nós não nos deixaremos arrastar para o fundo. Será preferível que coloquem as cartas na mesa, esclarecendo quais os gestos de solidariedade que estariam dispostos a ter em relação aos outros países fragilizados pela crise, no caso de, em Atenas, vir a formar-se um governo decidido a braço de ferro. Caso contrário, dizer aos gregos que “nadem ou afoguem-se” revelar-se-ia um logro, em que os mercados já têm tendência para acreditar.
Ainda anteontem me queixava aqui de que ninguém apresentava as verdadeiras consequências de uma saída do euro (no caso, como agora, da Grécia) e eis que aparece esta lista mal amanhada e pouco sustentada, sem dados quantificados, que até dão a entender que o problema/prejuízo é maior para alguns países do Euro do que para a própria Grécia.
Dizer-se que em breve o dinheiro faltará para pagar os salários dos funcionários públicos e para comprar ao estrangeiro aquilo de que necessita para sobreviver, começa a tresandar à “história do lobo”, que acabará por não pegar…
Dizer-se que serão sobretudo os contribuintes da zona euro, ou seja, todos nós, quem irá desembolsar, é querer continuar a convencer os cidadãos de que são responsáveis pelos jogos da Banca, o que continua a ser injustificável e imoral…
Dizer-se que o regresso ao “dracma” só seria vantajoso na imaginação de economistas pouco informados, quase todos americanos, é desqualificar os vários Nobel, para levar a água ao moinho dos “credores”…
Dizer-se que a verdade desconhecida é a dos prejuízos colaterais, que seriam mais pesadas para os países fracos, a começar por Portugal, em seguida a Espanha e a Itália, e mais leves para a Alemanha é reforçar e estender o “bluff” aos países intervencionados e intervencionáveis, para que se mantenham obedientemente a distribuir injusta e ineficazmente os sacrifícios desnecessários, que continuam a proteger as clientelas políticas e os poderosos financeiros…
Já começa a ser revoltante que ninguém defenda os inocentes…

Reflexão do Relvas… 16 maio

Cecília Honório repetiu algumas das questões feitas na 1ª ronda de perguntas (nomeadamente se tinha informado o então líder do PSD e depois primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, das relações com Silva Carvalho).
"Não, não, não, não, não, não" a todas, respondeu Miguel Relvas.
O ministro Miguel Relvas foi hoje ouvido no Parlamento sobre o caso dos serviços secretos e do ex-chefe do SIED que lhe enviava recortes de “A Bola”, da “Nova Gente” e da “Despertai!”.
O ministro bebeu 14 garrafas de água e anunciou que o SIRP, o serviço de informações da república, vai ser desmembrado e vendido ao quilo. O SIS e o SIED serão extintos ou afogados em martinis. Com os walkie talkies que ainda puderem ser aproveitados, será criado um novo serviço secreto inspirado na série de televisão de culto “Duarte & Cª.”, com um cheirinho de “Zé Gato” e consultoria técnica do “A Team”, e um novo brasão representando duas coscuvilheiras à janela e o lema “aventureiros destemidos que enfrentam o perigo com um sorriso nos lábios”.
Mário Botequilha

Contramaré… 16 maio

Portugal é o 25.º num ranking de 34 sistemas europeus de saúde. Pior do que nós, só os países de Leste. A crise já se traduz em "resultados medíocres" e tempos de espera demasiado longos.
Enquanto os outros países conseguiram melhorar o desempenho, apesar da crise económica e financeira, Portugal estagnou e desce 4 posições, desde 2009, no Índice de Assistência Médica Europeu da autoria da organização independente Health Consumer Powerhouse (HCP). Portugal e Espanha são os únicos países em que "a crise afetou a assistência médica" e já tem impacto direto na qualidade do sistema de saúde.

Ninguém a quer e os europeus tem que a gramar?

“Triunfo do SPD na Renânia do Norte-Vestefália – Desastre da CDU”: é o resumo que o Frankfurter Allgemeine Zeitung faz do resultado das eleições locais de 13 de maio no estado federado mais populoso do país, que viu o partido de Angela Merkel, liderado pelo ministro do Ambiente, Norbert Röttgen, perder mais de 8% dos votos, ao mesmo tempo que a oposição social-democrata, os Verdes e o partido Pirata foram os grandes vencedores. As eleições são o último de uma série de infortúnios para a chanceler, que acumula derrotas eleitorais desde que a crise estalou na Europa.
Para o diário de Frankfurt,
o tema de redução da dívida, que já tinha estado no centro da campanha falhada da CDU nas eleições regionais do estado federado de Schleswig Holstein, não é mobilizador porque soa a nada. O ministro do Ambiente personificou esta contradição: temos de poupar, poupar, poupar, dizia ele, enquanto procedia a uma modificação do paradigma energético extremamente onerosa. Para além disso, era contraditório falar de “condições gregas” e constatar, ao mesmo tempo, que a Alemanha só agora é que começou a estar melhor. E, finalmente, é contraditório que a CDU se comporte como se os eleitores tivessem um endividamento suficiente, ao passo que os franceses e os gregos parecem vindos de outro planeta.
Em França, precisamente, Le Monde estima que os resultados das eleições alemãs “são, simultaneamente, uma má notícia para a chanceler alemã e uma boa notícia para François Hollande, com encontro marcado para dia 14 de maio em Berlim, assim que assumir as suas novas funções”.
François Hollande fez, nestas últimas semanas, de porta-voz europeu de uma estratégia de relançamento do crescimento para sair da crise do euro, ao passo que Angela Merkel dá prioridade ao saneamento orçamental, que servirá, a seus olhos, para garantir um “crescimento sustentável”. A vitória de François Hollande e das ideias por ele defendidas suscitou uma expectativa considerável nos países da UE, confrontados com a crise da dívida, e nas fileiras do SPD além-Reno. Angela Merkel tem noção disso e a humilhação eleitoral de domingo é mais um incentivo para que esqueça a questão do leste em relação ao pacto de crescimento.
“Os alemães tomam a Grécia e a Europa pela Jugoslávia”, indigna-se To Vima. O sítio de Internet do semanário escreve que “as eleições na Renânia do Norte-Vestefália foram uma terrível bofetada para Merkel: neste Land federal, transformaram-se em referendo nacional contra a política de austeridade”. Mas, no mesmo dia, “Der Spiegelfez ironia com o destino da Grécia” e pediu a sua saída do euro. “Berlim, começando pela Grécia, dissolve a Europa”, acusa To Vima. “Fazem ao nosso país o mesmo que fizeram à Jugoslávia no início dos anos de 1990, com bombas financeiras.”

A chanceler rejeita qualquer responsabilidade na derrota do seu partido nas eleições da Renânia do Norte-Vestefália. Horst Seehofer, líder do CSU, a organização bávara dos democratas-cristãos, fala, no entanto, de uma catástrofe política e exige que a coligação governamental de Berlim tire as consequências devidas deste ato eleitoral. 

Ecos da blogosfera - 15 maio