(per)Seguidores

sábado, 15 de outubro de 2011

Uma viagem ao futuro? Ou a ficção e a “vontade”?

Para o escritor italiano Antonio Scurati, a multiplicação dos investimentos chineses na Europa e da influência do capitalismo à moda chinesa na economia europeia, constituem uma ameaça à liberdade e à soberania dos europeus e ao seu modelo sociocultural.
Não sei qual a vossa opinião, mas, quanto a mim, não tenho vontade alguma de morrer chinês. No entanto, pelo caminho que as coisas levam, isso é altamente provável.
Em meados de setembro, no momento exato em que o sul da Europa se precipitava em direção ao desastre, durante o congresso anual do World Economic Forum – que decorre na China desde 2007 (será por acaso?) e este ano se intitula “Novos Campeões 2011” – o Primeiro-ministro Wen Jiabao anunciou que o seu país irá investir cada vez mais no “velho” continente.
Os chineses estão a salvar-nos ou a invadir-nos?
Com um sentido de oportunidade bastante aterrador, tinham circulado vozes insistentes nos dias anteriores sobre as intenções da China de fazer aquisições em massa de títulos do tesouro italiano, corroborados pela viagem a Roma do Presidente da China Investments Corp, um dos fundos de investimento mais ricos do mundo, que veio discutir a compra de posições firmes no capital de empresas estratégicas para a nossa economia nacional. Desde então, não passa um dia sem que nos perguntemos se os chineses estão a salvar-nos ou a invadir-nos?
No meu caso, a pergunta é um pouco mais preocupante pois quis o acaso que o meu mais recente romance – La seconda mezzanotte [“A segunda meia-noite” ou “A segunda metade da noite”] – tenha sido lançado a 14 de setembro, por coincidência exatamente o dia em que as agências noticiosas repercutiam os anúncios de Wen Jiabao. No romance, imaginei que, em 2029, a Itália tinha-se tornado um país satélite da China depois de lhe ter cedido a totalidade da sua dívida externa e que, após uma terrível inundação, Veneza tinha sido comprada por uma empresa multinacional de Pequim. Renascida com o estatuto de Zona Politicamente Autónoma, o seu destino era, a partir dali, o de um parque de diversões dedicado ao luxo e aos vícios desenfreados dos novos-ricos orientais. Portanto, a essa questão perturbadora só posso dar uma resposta igualmente perturbadora.
Conflito civilizacional entre Europa e China
Catastrofismos literários à parte, parece-me absolutamente evidente que o aparecimento de uma soberania político financeira chinesa no nosso velho continente precipitaria o declínio da civilização europeia tal como a conhecemos, sonhámos e amámos (pelo menos na nossa visão ideal). Temo que seja uma grave ameaça aos fundamentos culturais da civilização ocidental europeia moderna: soberania política do povo, liberdade de pensamento e de expressão, direitos dos trabalhadores e do cidadão, autonomia individual, solidariedade entre os indivíduos reunidos em sociedade, valorização pessoal, segurança alimentar, respeito pelo caráter sagrado da vida.
Sim, temo tudo isso, não só porque ainda tenho nos olhos a imagem desse jovem que defrontou um tanque na praça Tian'anmen, armado apenas com os seus dois sacos de compras (não esqueçamos que este jovem era, também ele, chinês), ou porque prevejo um conflito civilizacional entre a Europa e a China, mas também porque estou assustado com o descaminho de um capitalismo financeiro cuja espinha dorsal passou a ser representada por fundos soberanos chineses, com uma utilização do capitalismo concebido para financiar o trabalho e o projeto empreendedor, mas que acabou por os enterrar.
Se num futuro próximo a política não conseguisse percorrer em sentido inverso o caminho que a conduziu da soberania à obscenidade, o risco seria, efetivamente, que dentro de pouco tempo surgiria um conflito gigantesco entre os juros especulativos da finança apátrida – pouco importa se é chinesa, americana ou nossa – e as necessidades, as expectativas legítimas, as esperanças de cada um de nós.
Visto da China
A Itália acabará como Esparta, um parque temático.
Os receios exprimidos por Scurati no seu romance parecem ter feito eco na China: “Submergidos pelas dívidas, os países da Europa do sul estão a braços não com uma crise, mas com negociações comerciais. A Grécia e a Itália, que outrora dominavam o Mediterrâneo, envelhecem, e acabarão por ser resgatadas por uma multidão de turistas asiáticos, tal como Esparta”escreve o Asia Times. Este site da atualidade de Hong Kong compara de facto a cidade grega, “a primeira potência mundial a ser vítima de um suicídio demográfico, mas também a primeira antiga potência a sobreviver sob a forma de parque temático”, aos dois países mediterrânicos: “os últimos espartanos continuaram a olear o cabelo, a vestir túnicas, a tocar flauta e a colocar-se em falanges para satisfazer os visitantes romanos. Se os turistas que vinham de Itália permitiram a Esparta sobreviver durante 500 anos após o desaparecimento do seu modelo político, os visitantes chineses podem facilmente manter a Itália à tona durante um ou dois séculos. Tal como os espartanos, os italianos acabarão a vender pizas, a soprar vidro e engarrafar vinho para uma grande quantidade de asiáticos. Se as circunstâncias forem favoráveis, o número de turistas asiáticos poderá duplicar em poucos anos, ajudando assim a Itália reduzir a sua dívida externa. Mas há uma contraindicação: a China acabará por possuir grande parte do país”.

Contramarés sem contrapé… 15 Out.

Segundo um relatório da IGF à EP, "foi acordado o pagamento, a cargo do Estado, de cerca de 717,1 milhões de euros" às concessionárias das 3 antigas SCUT (Ascendi e Norte Litoral), em consequência da introdução de portagens. Deduzindo cerca de 80 milhões de euros de receitas, a introdução de portagens teve um resultado líquido negativo para o Estado de cerca de 637 milhões de euros no primeiro ano.

…mas o país merecia melhor! Pois merecia…

Passos Coelho falou em 15 minutos de austeridade para os próximos dois anos. Discurso para alemão ver, ou um simples tiro no pé?
Pedro Passos Coelho revelou aos portugueses, em cerca de 15 minutos, o que não queriam ouvir. E mostrou, num discurso eloquente, calculista e fabricado com precisão germânica, como de boas intenções está o Inferno cheio. Ou como das boas palavras o homem pode tirar as piores acções.
O primeiro-ministro português revelou que o sector privado terá “luz verde” para aumentar os horários de trabalho em 30 minutos por dia. Em nome de quê? “Para contrariar o risco da deterioração económica”, explicou Passos Coelho.
O chefe de Governo garantiu a partir do Palácio de São Bento que a sua equipa “não se limita a pedir sacrifícios e a impor limites” e quer “resolver os nossos problemas com mais trabalho, mais ideias, mais espírito de entreajuda e cooperação entre todos”. Mas desde já promete que em 2012 não há subsídios de Natal e de férias para os funcionários públicos com salários acima dos mil euros. Porquê? “Temos de salvaguardar o emprego”, argumentou.
Mais: “No orçamento para 2012 haverá cortes muito substanciais nos sectores da Saúde e da Educação”, afirmou Pedro Passos Coelho. Perdão… Como disse? “É preciso evitar também o colapso da estrutura básica do Estado social”, ouvimos do mesmíssimo primeiro-ministro.
A comunicação de Passos Coelho aos portugueses traduzir-se-á em reacções diferentes pelo país fora. Desespero para os mais pobres, com um poder de compra cada vez mais espartilhado. Triunfalismo liberal entre os mais ricos, a quem não faltarão paraísos fiscais para se refugiarem da fúria de cobrança do Ministério das Finanças.
Mas acima de tudo, o que o primeiro-ministro lê, com ar grave e pose de estadista, é a prova da desorientação. De um governar para alemão ver. A aprovação, em catadupa, de pacotes de austeridade é uma receita com todos os ingredientes para implodir o país.
A ruína de uma nação que, como bem disse Passos Coelho, acumulou “tantos erros” nos últimos anos, está latente. E o primeiro-ministro está a jogar uma roleta russa, que pode acabar, a qualquer instante, com a esperança de construir um país mais justo e desenvolvido.
Mais do que dar aos portugueses bons motivos para correrem à farmácia a comprar anti-depressivos, Passos Coelho aponta a Portugal a porta de um suicídio colectivo. A subida do IVA na restauração de 13% para 23% promete afastar ainda mais os portugueses dos cafés e restaurantes (que têm frequentado cada vez menos), pondo em risco milhares de empregos neste negócio.
O corte dos subsídios de Natal e férias para funcionários públicos deixará o comércio, dos maiores retalhistas aos mais pequenos comerciantes de rua, à míngua. Adivinham-se falências e lojas vazias. E mais desemprego.
Com menos despesa na saúde e na educação (assim promete Passos Coelho), o Governo vai destruindo os alicerces do desenvolvimento. Aponta o país para um futuro sombrio, de gente mal educada e doente. Passos Coelho esforçou-se por trazer para Portugal disciplina financeira e pulso firme e rápido. Mas o país merecia melhor.
Jorge Horta
Foto

Ecos da blogosfera – 14 Out.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Contramarés sem contrapé… 14 Out.

As acusações da Amnistia Internacional (AI) estão relacionadas com um programa secreto  da CIA, aplicado entre 2002 e 2009, que permitia o uso contra detidos "de tortura e de outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes". Durante o seu mandato presidencial, denunciou ainda a AI, George W. Bush terá autorizado "técnicas reforçadas de interrogatório",  incluindo simulação de afogamento. 

Mentira com mentira se paga! Venha o diabo e escolha!

Fazendo pelo futuro, por causa dos “presentes”…

O manifesto que está no site agregador de todas os protestos - united for #globalchange - já foi traduzido em 18 idiomas.
“No dia 15 de Outubro pessoas de todo o mundo tomarão as ruas e as praças. Da América à Ásia, de África à Europa, as pessoas estão a erguer-se para lutar pelos seus direitos e pedir uma autêntica democracia. Agora chegou o momento de nos unirmos num protesto não violento à escala global.
Os poderes estabelecidos actuam em benefício de uns poucos, ignorando a vontade da grande maioria e sem se importarem com o custo humano ou ecológico que tenhamos que pagar. Há que pôr fim a esta situação intolerável.
Unidos numa só voz, faremos saber aos políticos e às elites financeiras que eles servem, que agora somos nós, o povo, que decidirá o nosso futuro. Não somos mercadorias nas mãos de políticos e banqueiros que não nos representam.
No dia 15 de Outubro encontramo-nos nas ruas para pôr em marcha a mudança global que queremos. Vamos manifestar-nos pacificamente e vamos organizar-nos até atingirmos o nosso objectivo.
Chegou a hora de nos unirmos. Chegou a hora de nos ouvirem.”
15 October - United for Global Change - 951 cidades – 82 países


O próximo sábado - 15 de Outubro - promete ser um dia diferente. Em 662 cidades de 79 países, milhões de pessoas vão sair às ruas em protesto, exigindo os seus direitos e apelando a uma verdadeira democracia. Em Portugal, estão planeadas manifestações, às 15 horas, em Lisboa, Porto, Évora, Faro, Braga, Coimbra e Angra do Heroísmo.
"É hora de nos unirmos! É hora de eles nos ouvirem! Povos de todo o mundo, revoltem-se!". Esta é a palavra de ordem que está a ser utilizada pelo movimento "United for globalchange" (Unidos por uma mudança global", um site que coordena todas as acções que se realizarão por todo o mundo.
O movimento dos "indignados" ganhou nas últimas semanas um novo fôlego com a realização de manifestações em Nova Iorque sob o lema "Occupy Wall Street".
A falta de esperança no futuro e o aumento da injustiça - que faz crescer o fosso entre ricos e pobres - justificam o movimento de "indignados" que está a crescer em todo o mundo. É assim que o entende Romando Prodi, ex-presidente da Comissão Europeia e afirmou, "Por isso se explica que haja movimentos de indignados em países tão diferentes como Israel, Espanha ou Reino Unido".
A escritora chilena Isabel Allende disse hoje que espera que as manifestações previstas este mês em dezenas de cidades do mundo sejam "uma onda mundial de mudança" e que "acabem com a corrupção".

E assim se parte uma sociedade…

José Sócrates poderia ter deixado, como na anedota, três cartas a Pedro Passos Coelho, com três conselhos a usar, um por cada crise de contestação social.
José Sócrates poderia ter deixado, como na anedota, três cartas a Pedro Passos Coelho, com três conselhos a usar, um por cada crise de contestação social. O envelope número 1 diria "culpa-me a mim". O envelope 2, "culpa a banca". O envelope 3, "escreve três cartas". Neste Orçamento do Estado, Passos Coelho vai abrir o envelope número 1.
Culpar José Sócrates pela austeridade adicional que será apresentada neste Orçamento é até apropriado e verdadeiro. O tal "desvio colossal" existia mesmo e concretizou-se num défice orçamental no final do primeiro semestre de 8,3%. Este ano, o problema será resolvido com a receita extraordinária do fundo de pensões da banca, que permitirá cumprir o objectivo de défice comprometido com a troika. Mas uma receita extraordinária apenas adia o problema... para 2012.
É para o próximo ano que o Governo propõe o maior esforço de consolidação orçamental de sempre em apenas doze meses. Haverá mais impostos além dos mais impostos já anunciados; haverá mais corte de despesa além do mais corte de despesa já previsto.
Este esforço será muito difícil de alcançar. Primeiro porque, como dizia ontem Fernando Ulrich, uma queda do PIB de 2,5% já parece hoje demasiado optimista. Mas sobretudo porque a tolerância social, que existe e que incorpora um espírito de missão invulgar dos portugueses, é como uma camada de gelo de que não conhecemos a espessura. E, como se viu na Grécia, sem governados dispostos não há governos possíveis.
Historiadores e sociólogos têm avisado que os "brandos costumes" são um mito de metade do século XX que esconde o recalcamento de um país que foi incendiário no século XIX.
Se é banco, mata; se é Estado, esfola; se é gestor, prende; se é rico, sova; se é velho, é improdutivo; se é novo, é calão; se é funcionário público, é privilegiado; se é desempregado, é dependente. Portugal está zangado e, mesmo quando não há razão, há razões para isso. Nenhuma razão é mais forte do que uma taxa de desemprego crítica, que inclui um desemprego jovem lancinante e um desemprego de longa duração alarmante. E assim se parte uma sociedade.
Quando a catadupa de medidas de austeridade for formalizada pelo Governo, dentro de dias, o circo político vai armar-se. Abrindo o envelope número 1, Passos Coelho passa a primeira crise. Mas não vai demorar muito até precisar de abrir o envelope número 2. A única forma de evitar a carta derradeira é conseguir mostrar aos portugueses que está a valer a pena. Que a despesa está a ser cortada. Que o défice está a ser cumprido. Que as privatizações estão a ser um sucesso. Que o dinheiro está a voltar. Que o martírio tem fim.
Este Orçamento não é o mais difícil de sempre, é o mais difícil como sempre. Mas é mais decisivo do que nunca. É isto ou o caos? Sim, é isto ou o caos.
Pedro Santos Guerreiro, director do “Jornal de Negócios”

O remédio mata o doente, mas avia-se mais do mesmo!

O défice orçamental da Grécia continuou a crescer em setembro, por causa da recessão movida pela austeridade fiscal, apesar da nova rodada de medidas tributárias, que deveria começar a aumentar as receitas.
O défice do governo central cresceu 15%, para 19,16 mil milhões de euros, nos primeiros 9 meses do ano comparados ao mesmo período do ano passado, segundo o Ministério das Finanças.
A Grécia tem dificuldade para cumprir as metas fiscais estabelecidas pelos credores internacionais sob o pacote de ajuda financeira. Alcançar os objetivos definidos é preciso para que o país continue a receber empréstimos da UE e do FMI e evitar uma moratória da dívida.
Em setembro, Atenas aumentou o imposto sobre vendas de restaurantes para 23% e começou a coletar um imposto de 1% a 5% sobre o rendimento bruto. Mas, visivelmente, as medidas não conseguiram aumentar as receitas tributárias líquidas, que encolheram 4,2% em termos anuais entre janeiro e setembro, com a queda de 5,3% nos primeiros 8 meses do ano.
A Grécia disse que cumprirá a meta de aumentar as receitas tributárias líquidas em 0,8% para o ano como um todo, ajudada por um imposto sobre a propriedade e por outros cortes de gastos que começarão a fazer efeito no resto do ano.
Os credores internacionais da Grécia disseram na terça-feira que o país não cumprirá a meta do défice orçamental deste ano, mas que alcançará os objetivos em 2012 se agir de forma decisiva.
Como se vê, visivelmente, por causa da recessão movida pelas medidas de austeridade, acrescida de mais medidas de austeridade, com mais cortes e novos impostos, que, segundo o plano da troika, deveria começar a aumentar as receitas, tem um efeito absolutamente ao contrário, como qualquer merceeiro era capaz de prever.
Se repararem, as medidas são as mesmas que a “chapa 3” aplicou ao nosso país, mas que o nosso governo ainda ampliou, para irmos mais depressa e mais longe do que a Grécia…
E já nem os credores internacionais da Grécia acreditam que o país cumprirá a meta do défice orçamental deste ano, adiando para o ano e por aí fora, até à bancarrota…
O governo grego celebrou a decisão dos credores internacionais de atribuir a Atenas a 6ª tranche do resgate financeiro e elogiou o relatório da missão da 'troika' ao país.
Em comunicado, o ministério das Finanças grego considerou que o relatório da 'troika' do BCE, CE e FMI é "equilibrado, prático e positivo".
O ministro grego das Finanças comprometeu-se ainda a aplicar o novo programa de reformas, após receber este 6º pagamento, no valor de 8 mil milhões de euros, do resgate internacional.
No entanto, a troika até fez um relatório, equilibrado, prático e positivo, que permitiu que a 6ª tranche fosse libertada, demonstrando que o rigor da troika é virtual, pouco virtuoso e descaradamente falso. Assim, os gregos já sabem que tanto faz como tanto fez, desde que não iniciem as privatizações, caso contrário não terão anéis para garantia das mãos dos credores…
Técnicos europeus preparam um plano para apresentar no G20, que reestrutura a dívida grega, recapitaliza os bancos e aumenta o fundo de resgate.
A União Europeia está a rever os termos do 2º resgate à Grécia, elevando o corte de dívida de 21% para mais de metade, numa decisão que será compensada pela recapitalização da dívida da banca europeia em mais de 100 mil milhões de euros e pelo aumento da capacidade de intervenção do fundo de resgate europeu.
O acordo está a ser desenhado por técnicos nas capitais e deverá ser adoptado na cimeira de 23 de Outubro em Bruxelas, numa nova tentativa de solução definitiva para a crise do euro. A solução está a ser impulsionada pela Alemanha e França, mas terá de ser validada pelos 17 países do euro. O prazo final é o G20 de Cannes, a 3 e 4 de Novembro, onde a Europa terá de mostrar ao mundo que tem uma saída para a crise do euro.
O acordo assenta em três pilares: "Colocar a dívida grega num patamar sustentável, dar sustentabilidade à posição do sector financeiro europeu e dar ao fundo de resgate capacidade de intervenção", explica uma fonte europeia. Há vários números que começam a circular dos esboços de acordo. O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, foi o primeiro responsável europeu a falar abertamente num corte tão forte de dívida grega, admitindo que os líderes estão a "falar de valores superiores" a 50% ou 60% para a reestruturação da dívida. O aumento deste corte face à reestruturação implícita da dívida grega no acordo de 21 de Julho, fica a dever-se a dois factos: as necessidades de financiamento da Grécia são hoje maiores do que eram na altura; e, num erro de cálculo elementar, a escolha quase unânime dos credores pela troca de obrigações a 30 anos tornam o acordo incomportável para os cofres públicos.
E cá está a tão rejeitada reestruturação da dívida grega, com uma redução da dívida em mais de 50% e mais um (2º) resgate previsto, o que vem confirmar, mais uma vez, que as medidas aplicadas são o melhor que sai das melhores cabeças que nos dominam e em quem não podemos ter qualquer esperança de os beatificar…
Para quem leu aqui ontem, Troika navega pelas aldeias Potemkin da UE, não terá mais dúvidas sobre a análise do autor, que só nos ajuda a ver o futuro antecipadamente, por muitas homilias que o ministro das Finanças faça, acompanhado pelo PR e acolitado pelo PM…
Sacrificar as pessoas, sem redenção à vista!

Ecos da blogosfera – 13 Out.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A isto se chama “crise de liquidez”, ou da desfaçatez?

Na Grécia, na Irlanda e em Portugal, a UE e o FMI estão a viver a sua própria fantasia de países curados pela austeridade. Mas, para lá da fachada, começamos a ver a realidade dos bancos europeus a falirem por causa de maus investimentos, escreve o colunista económico Davis McWilliams.
Desenho satírico de Pawel Kuczynski
Alguma vez ouviu a expressão “Aldeia Potemkin”? No século XVIII, a elite russa gostava de fingir, perante o mundo, que era mais poderosa do que, de facto, era. Como resultado, a corte de São Petersburgo decidiu convidar dignitários estrangeiros e embaixadores a descerem o rio Dnieper para verem com os seus próprios olhos como os camponeses na recentemente ocupada Ucrânia estavam agradecidos aos seus novos e bondosos senhores russos.
Sabendo que os ocidentais – os dignitários eram britânicos, franceses e prussianos – não esperavam uma farsa, o marechal de campo Potemkin construiu aldeias móveis, que colocava nas curvas do rio pouco antes das barcaças reais aparecerem. O que os estrangeiros viam nas margens do rio eram camponeses felizes e agradecidos, que aclamavam as barcaças reais russas e saudavam Catarina, a Grande. Quando os barcos passavam, Potemkin levantava a “aldeia” e transportava-a para o local seguinte, onde voltava a montá-las antes de as barcaças acostarem para passar a noite.
Os estrangeiros voltaram para casa maravilhados com a força e a sabedoria dos russos, patente no facto de os ucranianos não pouparem louvores aos seus novos amos. Mas a verdade é que o sucesso e a credibilidade das aldeias Potemkin se deveu ao facto de os estrangeiros terem querido acreditar, porque precisavam de um sucesso na Rússia. Afinal, estava-se em 1787. A monárquica América tinha-se tornado uma República e a França estava periclitante. As velhas certezas desintegravam-se com a velha ordem. Os dignitários queriam ver o mundo como queriam que ele fosse, não como de facto era.
Avancemos até aos nossos dias. A chamada troika – completada com este seu nome que soa peculiarmente a russo – está em Dublin. E quando se for embora vai dizer que está tudo a correr lindamente. Vamos mostrar-lhe os números das exportações e do PIB – as Aldeias Potemkin de hoje – e a troika vai-se embora toda contente, sem ter tido em consideração o desemprego, a emigração, a falta de liquidez ou o facto de o consumo no retalho estar em colapso. Vê só aquilo que quer ver.
A troika não olha para as coisas verdadeiras, desagradáveis, porque, tal como os dignitários ocidentais na Rússia do século XVIII, não quer. Quer acreditar na sua própria  propaganda porque não consegue enfrentar a possibilidade de falhar.  Lembre-se, para a Troika, os programas de austeridade têm de prevalecer porque a perspetiva de efeito dominó é demasiado horrível para ser contemplada.
Mas o jogo continua. Deixe-me contar-lhe um segredinho desagradável: a Troika é redundante. Sim, redundante. Os resgates FMI/UE são história. Não interessa o que fazemos, estamos a ser ultrapassados pelos acontecimentos.
A Troika falhou porque o seu objetivo não era salvar a Irlanda, a Grécia e Portugal, mas sim isolá-los – peões de um jogo muito maior para salvar o euro. Para fazer isto, a Troika teve de designar a Irlanda, a Grécia e Portugal como os únicos delinquentes que, assim, podiam ser tratados isoladamente. A política isolacionista é concebida como uma espécie de quarentena financeira para evitar contágio. Se a missão  da  Troika tivesse funcionado, ter posto esses países em quarentena teria fortalecido as  defesas dos bancos europeus. Assim, o objetivo do FMI e da UE não era salvar estes países, mas sim garantir que não haveria muitas perguntas sobre aquilo que estava escondido por baixo dos balanços dos bancos da Europa.
Mas não resultou. Os balanços dos bancos da Europa estão cheios de maus investimentos. Coisa que assusta toda a gente. Por isso, os bancos deixaram de emprestar dinheiro uns aos outros porque ninguém confia em ninguém. Como toda a gente mentiu, não é surpreendente. A isto se chama crise de liquidez. Esta  crise da  dívida soberana aumenta o sentimento de pânico e significa que o único comprador de dívida soberana será o Banco Central Europeu. Mas isso contraria as próprias regras do BCE e faz tremer os alemães porque temem que o seu banco central se torne o principal financiador do desperdício financeiro da Europa.
Isto parece ser contágio, exatamente aquilo que a Troika queria prevenir. Mas a receita da “quarentena de países” falhou. Agora, abunda o contágio e a infeção alastra. Qualquer futuro resgate de todo o sistema financeiro poderá envolver biliões de euros. Nada disto se resolve sem o preço político de uma integração política acelerada. Mas agora, a irresistível força de uma maior integração política embate contra o objetivo imóvel dos cidadãos da Europa que não querem o federalismo. Esperam-se referendos e, então, começará o verdadeiro fogo de artifício.
Lembra-se do que aconteceu ao país que construiu as Aldeias Potemkin?  Foi invadido pela pós-revolucionária França napoleónica, que era exatamente o género de Armagedão político que aquela pequena mentira das “aldeias” queria evitar.
No dia em que o governo institucionalizou a austeridade através do OE 2012, mas ainda a tempo de nos indignar, uma denúncia da situação em que nos emparedaram, uma perspetiva feita por quem está distante da nossa partidarite e acima dos interesses dos “nossos” interesseiros… Ou será da esquerda radical?
Elucidativa e bastante credível, por já poder ser avaliada por quem está atento e interessado na verdade dos factos e numa solução justa...

Contramarés sem contrapé… 13 Out.

O bispo de Leiria-Fátima, António Marto foi muito crítico em relação à actual situação política e económica, notando mesmo que há uma grande impotência dos políticos – mesmo de grandes potências como os Estados Unidos, a Alemanha ou a França. “São incapazes de estabelecer regras para governar esta situação, que é intolerável” e da qual “são vítimas os mais débeis, os mais fracos e os mais pobres”, afirmou. Mas, acrescentou, é “cada vez mais urgente” regular os mecanismos financeiros, para enfrentar esta “face de uma globalização completamente desregulada, desgovernada”.

“Regresso ao futuro”, ou regressão ao passado?

As páginas de perfil do Facebook foram completamente redesenhadas e passarão a ser navegáveis cronologicamente, para facilitar o acesso a informação antiga. É o “regresso ao futuro” que Mark Zuckerberg apresentou esta quinta-feira, em São Francisco: uma viagem ao passado para avançar no presente. A ambição é que cada utilizador use o seu perfil para fazer um resumo de vida. Não desde a entrada na rede: desde que nasceu.
A Bitdefender alerta para o perigo das novas atualizações feitas na rede social e da introdução de novas funcionalidades.
A privacidade e segurança dos clientes parecem estar ameaçadas com as novas atualizações do Facebook. O alerta lançado pela Bitdefender explica que as novas listas inteligentes do Facebook levam os utilizadores a partilhar mais informação, como o local de trabalho, habilitações literárias, etc.
De acordo com o provedor da Bitdefender, as listas da rede social, que permitem distinguir amigos, colegas, entre outros grupos, dão aos “ciberdelinquentes a arma perfeita para os ataques dirigidos” e adianta, “Tendo em conta essa informação pública e indexável nos motores de busca”, os “atacantes saberão exatamente em que empresa trabalha essa pessoa, que atividade desenvolve na mesma e, mais ainda, em que projeto particular está a trabalhar”.
Outro problema é a opção disponível de “Subscrever”, pois pode aumentar o número de contas fictícias.
A terceira fragilidade apontada é os utilizadores criarem uma espécie de “diário do dia a dia”. Se os utilizadores do Facebook não mudarem a configuração predeterminada de privilégios, o diário fica disponível para todos.
O quarto ponto é o tema Saúde, que passa a ser público por defeito. Se um utilizador partilhar um tema sobre uma doença ou uma cirurgia, esta informação fica automaticamente pública.
Por último, o conceito de “widgets”, ou seja, novas aplicações, como uma “porta aberta para as fraudes interativas”. A Bitdefender alerta que “com cada vez mais e mais informação sobre o utilizador no seu perfil, o problema do roubo de contas converter-se-á numa ameaça cada vez mais importante. O Facebook está a fazer muito pela melhoria da interação, mas não vemos nenhum passo importante em matéria de segurança", refere a diretora de Marketing da Bitdefender para Portugal e Espanha.
Para além destes alertas, que tem proveniência séria, muita matéria sobre o Facebook tem circulado nas cadeias de mails, avisando-nos para outros perigos mais conspiratórios e daí a divulgação para que amanhã não nos queixemos…
Não sendo um grande utilizador da ferramenta, a partir de agora terei o cuidado de restringir ao máximo o acesso à informação disponível na minha página, se para tanto souber o suficiente, o que deve servir de conselho a todos os que se quiserem “proteger”.
Com alguma relação com o tema e de forma generalizada, parece que a internet em geral, interfere na nossa saúde mental, o que cada um pode confirmar, ou não, embora pense e sinta, que há uma cota parte do diagnóstico, que tem a ver com o (ab)uso do computador.
Não estamos a falar de quando você digita “estinção” no campo de pesquisa e o Google prontamente responde “você quis dizer ‘extinção’”, deixando a sua auto-estima lá em baixo. Cientistas da Universidade de Leeds mostraram que as pessoas que usam as ferramentas de pesquisa com mais frequência tem mais chances de apresentarem sintomas de depressão.
Alguns usuários desenvolveram um hábito compulsivo na internet, substituindo as suas relações “reais” com relações virtuais e o estudo mostrou que isso pode ter um impacto sério na saúde mental.
O elo entre o uso desenfreado da rede e os sintomas de depressão foi encontrado, mas os cientistas ainda não sabem se é a depressão que causa esse uso ou o uso que causa a depressão.
De qualquer forma fica o alerta: usar muito a internet pode ser um sintoma de depressão. [Scientific Blogging]
Para além das redes sociais, que nos expõem e da internet, que mexe connosco por dentro, ainda sobram os sites e blogues, que (penso e sinto) potenciam as consequências referidas, com o cansaço a dar mostras de ser o primeiro sintoma… Ou serão os conteúdos que nos minam, ou a indiferença dos cidadãos, ou a prepotência do poder instalado?
Mais uma preocupação, via internet…

Ecos da blogosfera – 12 Out.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Um sinal das prioridades para se sair do túnel…

O Ministério Público deduziu acusação sobre 5 jogadores do FC Porto, por crimes de ofensa à integridade física, devido aos incidentes protagonizados no Benfica-FC Porto disputado a 20 de Dezembro de 2009. A notícia sobre o processo foi dada a 3 de Janeiro de 2010.
Pelo menos um dos stewards agredidos apresentou queixa na Polícia, num processo que tem agora o desenlace anunciado. As agressões foram dadas por provadas pelo Ministério Público.
O jurista Carlos Abreu Amorim defende o FC Porto no caso do túnel da Luz, não entendendo a ação do Ministério Público em pedir pena de prisão para Hulk e Sapunaru. "Trata-se de zelo excessivo, quando em matérias futebolísticas há incidentes com outros clubes”, defende.
Abreu Amorim recorda casos em que o MP poderia ter agido. “Com o ex-seleccionador Scolari [agrediu o sérvio Dragutinovic] à vista de toda a gente, num escândalo público de dimensão mundial, o MP ficou quedo e mudo. Com incidentes da mesma ordem, entre jogadores do Sporting de Braga e do Benfica, não se viu o MP fazer coisa nenhuma. Agora aparece o MP a fazer esta tristíssima figura”, sublinhou.
Longe de qualquer sinal clubista (embora simpatizante) e independentemente da justeza e competência para assumir a intervenção num caso destes, é ridículo que tal empenho tenha emergido quase 2 anos depois e numa altura em que Portugal, o País, esteja na situação em que está, económica e socialmente falando, por culpa de pessoas com nome e se tenha a coragem de publicitar, desta forma, a escala de prioridades do MP, que retrata bem o conceito de Missão…
E as consequências das atividades dos burlões estarão espelhadas amanhã no OE 2012, sem que os Furacões, Faces Ocultas, Freeport, BPP, BPN, etc., tenham resultado num único culpado e só se preveja, literalmente, a Luz ao fundo do túnel…
Se a notícia fosse de um país africano (sem ofensa para nenhum), ou da América Latina (sem ofensa para nenhum), talvez não lhe déssemos importância, mas num país que se diz “europeu” traduz bem o nível a que chegou a justiça, gerando involuntariamente, queremos acreditar, uma manobra de diversão, ou de distração, que desvia a atenção dos amantes do futebol das agruras da vida e da política de austeridade para um fait divers, que mais do que divertir, faz rir quem leva a vida a sério, por muito triste que seja a figura com que fica o MP no retrato...
Sucatada!

Contramarés sem contrapé… 12 Out.

Os presidentes dos maiores bancos portugueses e o responsável da Associação Portuguesa de Bancos, estão reunidos com o ministro das Finanças. A reunião dos banqueiros com as Finanças acontece numa altura em que se discute a necessidade de os bancos recorrerem ao fundo de capitalização de 12 mil milhões e em que se desenham várias possibilidades para a recapitalização dos bancos a nível europeu.

Afinal, é uma questão de RELAÇÕES HUMANAS…

O QUE É... PRODUTIVIDADE
É quando o funcionário reage a uma preocupação genuína da empresa para com ele.
Uma das lembranças mais vívidas que tenho do meu primeiro emprego era o grande escritório. Todo aberto, com um pé-direito enorme e paredes nuas. O ambiente era tão espartano, que a única coisa que podia ser vagamente chamada de "decoração", eram os dois pomposos retratos dos fundadores, pendurados na parede do fundo. E era ali, sob os retratos, que ficavam as mesas dos diretores, estrategicamente posicionadas para que eles tivessem uma visão total do local. De frente para a direção ficavam todas as outras, e a hierarquia funcionava por filas de mesas. Na primeira fila estavam situados os chefes, para que eles pudessem ir rapidamente até à mesa dos diretores quando fossem chamados. Na última fila, ficavam os supervisores. E no meio, observados o tempo todo, tanto pela frente como pela retaguarda, ficávamos nós, o resto dos funcionários. Cada funcionário tinha a sua mesa, e só.
Mesmo os cestos de lixo ficavam junto às mesas dos supervisores, para que eles pudessem conferir tudo o que estava a ser descartado.
Um dia, apareceu na empresa um pessoal estranho, bem vestido e bem falante. Definiam-se como "atualizados com as tendências da administração moderna", algo que nós ali nem desconfiávamos que pudesse existir. Este povo tinha sido contratado com o objetivo de mudar a mentalidade já meio ultrapassada da empresa, e começou a alterar o layout: construíram salas para os gerentes, salinhas para os supervisores e minisalões para cada departamento. Como tudo isso requeria espaço, o escritório teve de ser ampliado. E aí, aproveitando o embalo, foram inseridos vários itens, digamos, mais atualizados com as tendências da administração moderna, como vasos com flores, reproduções de pinturas clássicas e persianas coloridas nas janelas.
O efeito foi incrível. A produtividade geral dobrou da noite para o dia. E, para nós, tudo pareceu óbvio: quando se dá ao ser humano mais espaço e mais tranquilidade, ele funciona melhor. O escritório tinha deixado de ter aquele aspecto de estádio de futebol para se transformar num ambiente que privilegiava a individualidade. E o agradecimento resumiu-se numa palavra que qualquer empresa entende e aprecia: produtividade.
Há um mês, encontrei-me com um funcionário de uma grande instituição financeira e ele contou-me, todo entusiasmado, a grande mudança pela qual o escritório acabara de passar.
Dezenas de salas e salinhas tinham sido colocadas abaixo e o local tinha sido transformado num imenso salão, onde todo mundo podia ver todo mundo. E o resultado tinha sido positivo, em todos os sentidos: de repente, passou a haver mais espaço, mais luminosidade, mais contacto humano e, principalmente, muito mais produtividade!
"Isto é o Século XXI!", disse-me ele. E eu, tentando não o melindrar, expliquei que aquilo, a bem da verdade, era o Século IXX. Grandes escritórios abertos, sem paredes, divisórias ou baias, foram o início de toda a história, lá pela época da Revolução Industrial. O facto de a produtividade melhorar quando a empresa constrói ou derruba salas, tanto faz, é resultado não da arquitetura, mas da mensagem que a empresa está a passar: estamos a mudar para oferecer melhores condições de trabalho. E, quando o funcionário sente que existe uma preocupação genuína com ele, fica mais produtivo. Até no escuro.
Artigo escrito por Max Gehringer publicado na Revista VOCE SA.

Ecos da blogosfera – 11 Out.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Tanto mar, tanto mar, a nos separar…

Pelo 3º ano consecutivo, o Brasil é o país mais preparado na luta contra a fome considerando os resultados de 28 países em desenvolvimento, mostra o levantamento da ONG ActionAid, entidade que atua no combate à pobreza em mais de 40 países.
De acordo com o relatório, o Programa Fome Zero – política do governo federal para assegurar o direito à alimentação – conseguiu reduzir a desnutrição infantil em 73% entre os anos de 2002 e 2008.
Outras medidas elogiadas pela ONG foram a inclusão do direito à alimentação na Constituição, em fevereiro de 2010, e o Programa Bolsa Família, que possibilitou o acesso à educação e à saúde para 12.400.000 de famílias com rendimento per capita abaixo de 67 euros (R$ 160).
Apesar do bom desempenho no combate à fome, a ActionAid alertou para o défice na distribuição de terras no Brasil. “Cerca de 3,5% de fazendeiros possuem 56% de terras cultiváveis, enquanto os 40% mais pobres possuem apenas 1% de terras cultiváveis. De maneira semelhante, os grandes fazendeiros têm mais de 43% de todo crédito destinado à agricultura, enquanto fazendeiros que possuem menos de 100 hectares obtêm apenas 30% dos créditos", afirma o relatório.
Para não ser sempre do contra, quando há razões para se aplaudir o que de bem se faz em prol do combate à pobreza, ao sofrimento humano e ao direito à vida com dignidade, seja onde for, tenho que o fazer. Não é cá, não é para a nossa gente, mas é para gente nossa…
Apesar de receber muitos mails oriundos do Brasil, que “chingavam” o Lula e as suas políticas, as informações que aqui chegavam contradiziam as críticas e pelos vistos não foi muita a asneira, antes pelo contrário. Sabemos que Dilma continua afincadamente a mesma luta e esperemos que os brasileiros sejam os campeões por muitos anos. Claro que lá há recursos naturais, ainda mal distribuídos, mas “um dia eu chego lá”, ou perto…
Entretanto por cá, parece que as coisas se inverteram e somos nós que podemos dizer, com propriedade, se calhar por falta de vontade política e saber,
que ainda há: “Tanto mar, a nos separar” …
Lula receberá prémio nos EUA por combate à fome

Contramarés sem contrapé… 11 Out.

A electricidade vai subir 9 % em 2012, mais 23% de IVA. 2% vêm de novo imposto ao consumo, o resto são 7%.
O ministro da Economia e o presidente da EDP não se entendem sobre a subida do preço da electricidade, que em 2012 pode rondar os 30% para os consumidores domésticos.
Álvaro Santos Pereira diz estar totalmente contra serem os portugueses a pagar esta subida significativa do preço da luz.

Receitas avulsas para a terapia do SNS…

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) disse que vai ser feita uma auditoria para avaliar se as medidas do Governo prejudicam o tratamento oncológico.
"Queremos avaliar se o tratamento segue as 'guidelines', se é uniforme em vários hospitais e se não está a ser prejudicado por medidas do Governo que receamos que possa colidir com a rapidez que o doente oncológico é diagnosticado e tratado, porque isso está directamente relacionado com a sua possibilidade de sobrevivência", revelou José Manuel Silva, dizendo que "é uma equação impossível" que o diagnóstico e o tratamento oncológico suporte "cortes tão drásticos", admitindo que era possível fazê-lo de forma progressiva.
No dia em que o secretário de Estado da Saúde anunciou um corte de 300 milhões de euros nas verbas para os hospitais públicos o Bastonário criticou "os cortes cegos" que entende terem sido definidos pelo Governo.
"Os sucessivos cortes que têm sido feitos não têm sido direccionados para sectores onde reconhecidamente haja desperdício ou duplicação de recursos e vão ter consequências inevitáveis no Serviço Nacional de Saúde", acusou, ainda que sublinhe concordar com a esmagadora maioria das medidas da 'troika' na área da Saúde, José Manuel Silva expressa "uma profunda preocupação porque se está a ir além do que é preconizado pela 'troika'".
A informação e contrainformação sobre as medidas para a “sustentabilidade” do SNS baralham qualquer um, sobretudo porque não se entende este conceito de sustentabilidade e de “prejuízos” que se imputam a serviços públicos. Sempre pensei que estes “prejuízos” fossem uma variável, contabilizada e que traduzia a classificação dos Estados numa escala social, naturalmente previsíveis no OE e suportados pelos impostos, mas parece que não.
Mas pelo que se lê, para a tal sustentabilidade, haverá cortes tão cegos, que poderão chegar aos doentes oncológicos, em que não podemos acreditar e esperemos que a contabilidade não supere a humanidade…
O funcionamento da Maternidade Alfredo da Costa está em risco porque a maioria dos anestesistas se recusa a aceitar o novo pagamento proposto e ameaça deixar a instituição.
Em causa está o cumprimento de um despacho do Ministério da Saúde, de 18 de agosto, que fixa 25 euros por hora para os médicos não especialistas e 30 euros por hora para os especialistas.
Isto já não pode ser considerado cegueira, classificaria mais como afronta, já que pagar 30 euros/hora a um médico especialista, leva-nos logo a fazer comparações com outros prestadores de serviços, com o mesmo nível de formação académica (governantes e legisladores incluídos) e até com menos e muito menos…
Um relatório agora publicado revela que 76% dos hospitais Entidades Públicas Empresariais1 (EPE) teve prejuízos operacionais em 2010.
Na lista dos hospitais com piores resultados operacionais estão: o Centro Hospitalar de Lisboa Norte, o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, o Centro Hospitalar de Lisboa Central e o Centro Hospitalar de Setúbal e do Médio Tejo.
O défice dos EPE para 2011 deve rondar os 300 milhões de euros.
Claro que convinha conhecermos os resultados dos hospitais públicos com Gestão privada2 para podermos comparar a eficácia dos dois sistemas, que ora são melhores, ora são piores uns do que os outros, porque talvez esteja mais aqui parte da solução, do que nos cortes salariais e se pensa que Hospitais públicos poderão ter gestão privada
Como não há coincidências(?), não se entende por que em Lisboa os hospitais andam em roda livre, o que não terá nada a ver com a geografia, antes com a tradição de mais “carinho” com a capital e mais paisagismo com o resto do país. Não seria bom saber as razões da diferença entre os hospitais que se sustentaram e os que o não conseguiram? Isto porque a lista dos hospitais com resultados positivos é liderada pelo IPO do Porto, em que a Liga Portuguesa contra o Cancro, Núcleo Regional do Norte, ajuda a fazer “milagres”, oferecendo agora o Centro de Dia LPCC, um espaço acolhedor para doentes com cancro e gratuitamente…
A baralhação continua e a cegueira evolui…
1As Entidades Públicas Empresariais são pessoas colectivas de natureza empresarial, com fim lucrativo, que visam a prestação de bens ou serviços de interesse público, nas quais o Estado ou outras entidades públicas estaduais detêm a totalidade do capital. São Entidades públicas empresariais os Hospitais públicos empresarializados.
2A Gestão Privada de Hospitais Públicos consiste na utilização de recursos administrativos privados na gestão dos hospitais públicos.