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sábado, 26 de janeiro de 2013

Danos infligidos ao povo serão defendidos em Davos?

No Fórum Económico Mundial, a chanceler federal alemã defende o curso de reformas adotadas pela União Europeia para salvar a moeda comum. O discurso soa como resposta a Cameron.
SV
No seu discurso no Fórum Económico Mundial, em Davos, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, destacou 3 números: "A União Europeia tem 7% da população mundial e é responsável por 25% da produção económica, mas responde por 50% das despesas sociais". Segundo a chanceler, "precisamos de inovações para mantermos o nosso bem-estar também no futuro".
Para a chefe alemã de governo, a palavra-chave é competitividade. Por isso, há necessidade de reformas na Europa. "Precisamos adotar medidas estruturais hoje para poder viver melhor amanhã", afirmou. Embora o défice público dos países da União Europeia tenha caído para metade desde 2009, é preciso tempo até que os efeitos das reformas se tornem visíveis, acentuou a chanceler federal.
Redução do desemprego entre os jovens
Até que esses efeitos sejam de facto palpáveis, é importante reduzir o desemprego entre os jovens em países em crise como Grécia, Portugal e Espanha, se necessário através de medidas temporárias, ressaltou Merkel. Segundo ela, é preciso tomar cuidado para que a situação política não se agrave e não haja novamente instabilidade.
Para assegurar o bem-estar no continente, é preciso também regular os mercados financeiros, na visão da chefe de governo alemã. Entre outros, é preciso controlar os bancos. "Depois da crise de 2008, já tínhamos chegado a um ponto no qual todos concordávamos com a necessidade de regulação. E estamos longe disso." Merkel alertou ainda para o facto de que o estouro de uma outra "bolha financeira" pode ser perigoso para a manutenção da democracia.
Cameron: Competitividade europeia está desfasada
O depoimento de Merkel em prol de uma Europa unida foi uma espécie de resposta ao discurso do primeiro-ministro britânico, David Cameron, no dia anterior. Ele tinha anunciado que, caso seja reeleito em 2015, irá renegociar a permanência do Reino Unido na União Europeia, colocando a decisão nas mãos da população através de um referendo.
Em Davos, Cameron acrescentou ainda que o seu país "jamais entrará para a zona do euro". Segundo ele, Londres não está, com isso, a virar as costas à Europa. "É exatamente o contrário", acentuou o primeiro-ministro, afirmando defender "argumentos em prol de uma Europa competitiva, aberta e flexível", na qual o Reino Unido tenha "o seu lugar assegurado". Para ele, toda a Europa se encontra hoje ultrapassada em termos de inovação e competitividade.
Merkel abordou exatamente o mesmo assunto que Cameron, embora as suas conclusões não pudessem ser mais distintas. Enquanto o britânico quer diminuir as responsabilidades de Bruxelas, a chanceler federal alemã defendeu uma Europa mais coesa, com mais integração e menos barreiras. Apenas uma vez a líder alemã citou o britânico no seu discurso, ao afirmar que, assim como ele, também ela quer elevar a competitividade da União Europeia.
O Fórum Económico Mundial no balneário suíço de Davos reúne anualmente chefes de governo, políticos de alto escalão, grandes empresários e cientistas de todo o mundo. A meta oficial do encontro é "melhorar a situação do mundo".
Embora esteja a decorrer um fórum com importância (relativa para nós) mundial sobre finanças, economia e psicologia social, os nossos media nem falam nem comentam e por isso…
Quando Merkel vem apregoar que a União Europeia com 7% da população mundial, é responsável por 25% da produção económica e responde por 50% das despesas sociais, devia dizer isto com orgulho e fazer todos os esforços para estender os mesmos objetivos a todos os países do mundo democrático, sobretudo os direitos sociais. Isto é a Europa!
Mas quando vaticina que precisamos de inovações para mantermos o nosso (de algumas pessoas em quase todos os países) bem-estar no futuro, deveria dizer que as inovações, no limite, produzem aumento de desemprego e sem emprego, sem salários, sem subsídios e sem inclusão social, o bem-estar fica em causa…
E já sabemos, de experiência feita, que quando diz que precisamos adotar medidas estruturais (já sabemos, até o Dotor “vai estudar”), que se refere ao aumento do desemprego hoje para poder viver melhor amanhã, percebe-se que depois de chegar ao fundo, ou se morre ou se emerge… E é isso mesmo que está a aplicar aos PIIGS, por castigo ou filosofia barata!
Mas no meio de tanto desemprego já gerado e com tendência a aumentar, diz ELA que é preciso ter cuidado para que a situação política não se agrave (entre os partidos paradigmáticos) e não voltem as manifestações de rua, que desmascaram as boas intenções dos responsáveis dos governos algozes. E como os jovens vitimizados são o maior perigo social, é preciso dar-lhes algum trabalhinho (mesmo com baixos salários e recibos verdes) na Grécia, em Portugal e na Espanha, mesmo que sejam medidas temporárias (é o que se arranja), para tentar enganá-los e fazê-los pensar que os sonhos se podem realizar. Esta é a prioridade da estratégia de defesa do seu conceito restrito de bem-estar…
A segunda prioridade, é REGULAR os mercados financeiros, o que tem sido mais difícil do que conter manifestantes, porque não há forças de intervenção, nem tribunais, que carreguem, forte e feio, sobre a fraude e a especulação e as suas consequência no bem-estar de TODOS.
E só em terceiro lugar, finalmente, acaba por confessar, que é preciso controlar os bancos (logicamente!), sem deixar de alertar para outra "bolha financeira", que pode vir por aí (se há fumo…) e por em perigo a própria democracia (o que não a deve incomodar demais, dada a sua experiência).
Entretanto, para a construção da União Europeia, vem o “Camarão” (aqui chamamos-lhes lagostas) dizer que jamais entrará para a zona do euro, logicamente, para não incomodar os senhores da City, responsáveis em grande parte por esta selvajaria desregulada...
E não tem vergonha de declarar, sem rodeios, que assim está a defender uma Europa, na qual o Reino Unido tenha o seu lugar (de privilégios) assegurado. Não queria mais nada! “Quem não gosta não estraga!” e já basta o papel à solta que tem desempenhado e desvinculado da política da UE, sobretudo quando de guerras se trata (lembremo-nos do Iraque).
A rainha de Inglaterra é da Inglaterra e já nos chega a Chanceler (da Alemanha)! E nesse sentido, o “Camarão” quer diminuir a intervenção de Bruxelas (certo, se for por processos democráticos), enquanto a chefe alemã (da Alemanha) prefere uma Europa mais coesa, com mais integração e menos barreiras, o que quer dizer que quer continuar a mandar, sem mandato democrático…
Depois de Davos, tudo na mesma, mas convém ler as entrelinhas para lhes seguirmos os passos…
No ano passado comentamos aqui: Ainda vamos gastar mais cera com fortes defuntos?

Ecos da blogosfera – 26 jan.

E se fosse aplicada ao pagamento de impostos?

Um museu e um zoológico registaram aumento de visitas e até mesmo de arrecadação com a fórmula, que dá aos clientes o direito de decidir quanto pretendem pagar.
Martin Koc
Os responsáveis pelo Museu Koenig, em Bona, estavam um pouco temerosos quando iniciaram o projeto "pague quanto quiser", em outubro de 2012. Mas para sua surpresa, o resultado foi extremamente positivo. "É claro que pensamos no que aconteceria se os visitantes pensassem que todos os museus deveriam ser de graça. Se a grande maioria não pagasse a entrada, teríamos um significativo prejuízo financeiro. Mas esse, felizmente, não foi o caso", afirma a vice-diretora da instituição, Angelika Hühnerbein.
Pelo contrário, poucos visitantes realmente aproveitaram a oportunidade de entraram sem pagar. Em vez disso, no final da experiência de 4 semanas, o Museu Koenig registou um número de visitantes cerca de 20% maior e um aumento de arrecadação de 40%.
O zoológico de Münster também recebeu até 5 vezes mais visitantes do que o normal durante o período "pague quanto quiser", do início de dezembro de 2012 até o início de janeiro deste ano. Nos EUA, especialmente em Nova York, muitos restaurantes e museus também têm sucesso com a proposta de deixar os seus clientes decidirem quanto querem pagar.
Bom e barato
Para o especialista em marketing Marcus Kunter, da Universidade Técnica de Aachen, isto não é surpresa. Participa há 2 anos de pesquisas sobre formação de preços e fez testes, não apenas no Museu Koenig e no zoológico de Münster, mas também num restaurante e num solário. Em todos os casos, o resultado foi positivo.
A combinação, noção de preço justo e bom negócio, é o que atrai os clientes, segundo Kunter. "As pessoas querem ser justas e pagar uma quantia para receber o serviço. Mas também querem sair com o sentimento de que fizeram um bom negócio, pagando menos do que normalmente."
De acordo com o especialista, o sistema "pague quanto quiser" é especialmente bem-sucedido se os clientes não ficam anónimos na hora de pagar, mas se o fazem diante de uma pessoa. "O contacto direto leva a uma espécie de pressão social, que faz com que as pessoas paguem mais." E a maioria dos que dão menos, justifica a sua baixa contribuição. Alguns dizem que recebem pouca de reforma, outros culpam os salários baixos. Hühnerbein, do Museu Koenig, fez essa mesma experiência durante a fase de testes, em outubro. "Nos primeiros dias, eu mesma ficava na entrada e informava os visitantes, explicando como o sistema funcionava e por que estávamos a fazer assim."
Basicamente, se os consumidores se convencem de que apoiam uma boa causa com a sua contribuição, são mais generosos. No caso do Museu Koenig, por exemplo, muitos dos visitantes disseram que as exposições eram tão boas que mereciam uma entrada com preço decente. Ao serem questionados sobre quanto pagariam, quase todos apontaram uma quantia maior do que o preço normal da entrada.
Modelo Radiohead
O método "pague quanto quiser" já existe há tempos. Quem atira dinheiro para um músico de rua, por exemplo, decide naquele momento quanto vale o show. O sistema também existe há muito tempo em alguns bares alternativos. Doações para uma causa de caridade são também resultado de uma análise sobre quanto dinheiro parece apropriado.
Nos últimos 5 anos, o método ganhou um impulso significativo, desencadeado sobretudo pela banda de rock britânica Radiohead. Após 6 álbuns de estúdio, os cinco músicos de Oxford não renovaram o seu contrato com a gravadora EMI e disponibilizaram na internet o seu 7.º álbum, “In Rainbows”, para download gratuito. Os fãs decidiam se e quanto queriam pagar pela obra. Na altura, a ideia foi controversa no meio musical, mas é tida hoje como um marco do "pague quanto quiser" na indústria da música e até mesmo além dela.
Depois de “In Rainbows”, esse princípio começou a ser cientificamente estudado a sério, destaca Kunter. No entanto, é mais apropriado para estabelecimentos com altos custos fixos, tais como zoológicos, por exemplo. Os animais devem ser alimentados e as jaulas, cuidadas, independentemente se 10 ou 1.000 pessoas visitam o lugar. "Eles têm poucos custos adicionais por visitantes. Nesses casos, o 'pague quanto quiser' funciona sempre muito bem. Não funciona quando você quiser, por exemplo, vender uma TV que já tem um alto custo de produção e pela qual as pessoas não pagariam o suficiente."
Por isso, o especialista em marketing recomenda que os interessados em iniciar tal promoção procurem antes o conselho de especialistas. Caso contrário, o modelo pode fracassar.
Uma das questões mais interessantes, conforme Kunter, é até que ponto o "pague quanto quiser" funciona. "Talvez estas promoções só funcionem bem quando são lançadas de tempos em tempos. Pode ser que o apelo se perca quando as pessoas se acostumam com o sistema." Mas não se atreve a fazer previsões, que exigiriam mais pesquisas.
Só me ocorre uma questão, sempre atual: E se a fórmula fosse aplicada aos impostos (que deixavam de ser impostos), tendo em conta o retorno em Serviço e Segurança Social prestado pelo Estado? Talvez funcionasse como incentivo aos governantes e como livre concorrência entre ministérios…
É que nas circunstâncias de hoje, ou o saldo seria muitíssimo mais negativo ou nenhum governante pensaria apenas em cortar, mas em oferecer o melhor e até se poderia prescindir de sondagens…

Contramaré… 26 jan.

Tendo em conta o montante de dívida colocado, de 2,5 mil milhões de euros, e a taxa mais elevada, de 0,5%, significa que o sindicato bancário composto pelo BES Investimento, Barclays, Deutsche Bank e Morgan Stanley terá ganho 12.500.000 de euros em comissões. Cada banco de investimento terá encaixado 3.130.000 de euros em fees.
Já quando aplicada a taxa de comissão mais baixa, de 0,3%, a "despesa" do Estado com o regresso aos mercados ascende a um montante total de 7.500.000 de euros, com cada um dos 4 bancos a ganhar 1.880.000. Questionados, nem o Ministério das Finanças nem o IGCP quiseram revelar as comissões pagas pelo Estado às 4 instituições.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Eis os 1% a tratarem da sua vidinha… Todos os anos!

A elite política e financeira internacional encontra-se reunida mais uma vez em Davos, na Suíça, para o seu encontro anual, no 43º Fórum Económico Mundial. Os debates arrancaram ontem num clima de certo otimismo com os primeiros sinais da retoma económica.
“Neste momento as coisas vão muito melhor do que há um ano”, reconheceu o número 3 do FMI, o chinês Zhu Min, que adverte porém que, “graças às políticas adoptadas, a situação acalmou muito, mas devemos ser muito prudentes”, referindo-se à comunidade bancária a que atribui um peso ainda muito importante na economia mundial.
Penso que os bancos têm que virar a página da crise, muitos deles portam-se bem, continuam a desenvolver-se e a emprestar dinheiro”, defendeu o presidente executivo do banco norte-americano JP Morgan, Jamie Dimon. Na opinião deste banqueiro, se houve excessos, “em princípio agora todos fazem bem o seu trabalho”. Para o CEO do JP Morgan, se os banqueiros e os reguladores “fizerem as coisas corretamente, conseguiremos sair [da crise]. Caso contrário, poderá durar 10 anos”.
5 anos depois do início da crise financeira que abalou o planeta, a regulação tem ainda muito que fazer, reconheceram os participantes neste primeiro grande debate em Davos, onde são esperados este ano cerca de 2.500 participantes, com a presença de 40 chefes de Estado e de Governo, um número recorde.
Este ano o Fórum é marcado pelo regresso à acalmia depois dos sobressaltos em torno da Zona Euro e da moeda única. Os grandes patrões do planeta estão menos pessimistas nas suas previsões sobre a economia mundial em 2013 comparativamente ao ano anterior, mas continuam mesmo assim prudentes, de acordo com um estudo publicado em Davos, à margem do Forum.
Como se vê, quem tem que fazer pela vida, faz! Os amos do mundo já vão na 43.ª assembleia para tratar dos seus problemas “de caixa” e de como garantir, no futuro, que o negócio deles corra… E enquanto andamos todos com as calças na mão, este ano a realeza financeira até dá mostras de otimismo com os primeiros sinais da retoma económica, a deles…
E à cautela, o n.º 3 do FMI aconselha prudência à comunidade bancária, atribuindo-lhes um peso muito importante na economia mundial, não se sabe se pelas culpas no cartório, se num aviso a não emprestarem para aumentar o “mal parado”.
Entretanto, o boss do JP Morgan (com culpas no cartório) admite que houve excessos da Banca, mas que agora todos estão a fazer bem o seu trabalho (o trabalho deles) e alerta que se os BANQUEIROS e os REGULADORES fizerem as coisas corretamente, a crise (a deles) se resolve em pouco tempo. No entanto, os participantes reconhecem que a REGULAÇÃO tem ainda muito que fazer (e convém andar muito de-va-gar), porque se fizer alguma coisa (e depressa) lá se vai o negócio…
Se as coisas se mantiverem (desreguladas para eles) os amos do planeta estão menos pessimistas nas suas previsões sobre a economia mundial em 2013, apesar de as previsões das instituições que eles alimentam sejam ao contrário para o cidadão comum, que vai continuar a pagar aos acionistas dos bancos, com uma REGULAÇÃO apertada e confiscadora, mas para os contribuintes…
É pena que os “pobrezinhos” não tenham a mesma ousadia de se manifestarem nos mesmos moldes, por falta de dinheiro para a caminheta e para a bucha…
Em paralelo, a Greenpeace distribuiu prémios aos “sem vergonha”, distinguindo o banco Goldman Sachs, que sem REGULAÇÃO faz o que muito bem lhe apetece, com impunidade e a necessária conivência.
E são estes os tais 99%!
O banco norte-americano Goldman Sachs e a petrolífera holandesa-britânica Shell foram galardoados com os “prémios da vergonha” 2013 atribuídos pela Greenpeace e pela organização não-governamental suíça Declaração de Berna.
Os prémios são entregues anualmente à margem do Fórum Económico Mundial de Davos a empresas acusadas de “violação dos direitos humanos” e de “crimes ambientais particularmente graves”.
“Este ano premiamos duas empresas que representam de modo exemplar (…) aquelas cujos crimes a nível social e ecológico revelam o lado negro de uma globalização focada exclusivamente no lucro”, indicou a organização.
O Goldman Sachs obteve o prémio do júri enquanto “ator central da globalização, alimentando os lucros de uma minoria rica através de enormes desigualdades e do empobrecimento de grandes segmentos da população”.
A Greenpeace e a Declaração de Berna criticaram ainda o facto dos dirigentes do Goldman Sachs ocuparem alternadamente cargos no banco e cargos públicos ou políticos “garantindo os negócios de amanhã”.
“Os produtos derivados do Goldman Sachs, que permitiram à Grécia integrar a União Monetária de modo fraudulento, hipotecaram o futuro da população grega”, considerou Andreas Missbach, especialista financeira da Declaração de Berna.
Chamando a atenção para os números do desemprego na Grécia – “400.000 desempregados antes da crise e agora 1.400.000” – a jornalista grega Evridiki Bersi salientou: “o pior é que o Goldman Sachs e os seus parceiros não vão parar na Grécia, Portugal e Espanha, estão à procura de novas vítimas e serão os cidadãos de outros países europeus”.
O prémio do público, com 41.800 votos obtidos através da Internet, coube à Shell, acusada de ter contribuído para as alterações climáticas, através das suas explorações petrolíferas no Ártico.
A Shell, com aqueles furos num dos “últimos paraísos naturais sobre a terra põe em risco 4.000.000 de pessoas assim como uma incrível vida selvagem”.
Missbach recordou que a Shell tem “a honra” de receber o prémio pela 2.ª vez, depois de em 2005 ter sido "galardoada" pelas suas atividades poluidoras na Nigéria.

Ecos da blogosfera – 25 jan.

A “obscuridade” de uma resposta com EVIDÊNCIAS!

Existe uma curiosa tendência neste país para acreditar no poder mágico das palavras. Basta passar à letra de forma as mais belas intenções para elas se materializarem e modificarem a realidade. Claro que esta forma de pensamento mágico só se mantém à custa de um persistente desinteresse das pessoas e das instituições em verificar se se passou das palavras aos atos. O controlo de execução seja lá do que for é coisa que dá muito trabalho e geralmente conduz a desavenças com quem é medido e avaliado no seu desempenho. É uma maçada a evitar - tanto quanto for possível...
Há um ano, precisamente a 16 de janeiro de 2012, 4 confederações patronais - agricultura, indústria, turismo e comércio e serviços -, uma sindical - a UGT -, mais o Governo assinaram o "Compromisso para o Crescimento, Competitividade e Emprego". É um documento de 53 páginas com capítulos dedicados às políticas económicas, às políticas ativas de emprego e formação profissional, para além de nova legislação laboral, do subsídio de desemprego e das relações laborais.
Das últimas tem-se falado muito: foram prontamente postas em prática, existindo mesmo algumas medidas, tais como as indemnizações por despedimento, que se pretende já rever muito para além do acordado. Mas o ponto essencial é este: passado um ano, vemos e ouvimos os dirigentes patronais queixar-se, em debate televisivo, que o grosso das medidas de apoio à economia e à criação de emprego nunca saíram da gaveta. E ninguém parece particularmente incomodado com isso. A pergunta impõe-se: passado um ano, em nome de um escrutínio sério e fundamentado da atividade governamental, empresarial e sindical não deveriam os partidos da oposição (já que os da maioria não tomam a dianteira nesta matéria) pedir para que se convoque uma série de audições dos parceiros sociais e do Governo na Comissão parlamentar de Economia, para que os signatários do acordo fundamentem em pormenor o que pensam do grau da sua concretização? Pela certa, assistindo a avaliações diferenciadas, ou mesmo contraditórias, tornar-se-ia mais claro aos legisladores o que falta fazer para inverter o ciclo descendente da produção e do emprego. E quem faltou, por ação ou omissão, aos compromissos assinados. Não valia a pena?
António Perez Metelo

E não há, realmente, Estados-membros honorários?

O discurso do primeiro-ministro britânico, de 23 de janeiro, sobre o futuro das relações entre o seu país e a UE, é tema de primeira página da maioria dos jornais europeus. A hipótese de saída do Reino Unido suscita reações que vão da indignação a uma certa compreensão.
São também muitos os jornais que, tal como uma boa parte da imprensa britânica, reconhecem que Cameron levantou questões legítimas e que merecem uma resposta, tanto a nível nacional como europeu.
Em Paris, Les Echos considera que o discurso de David Cameron lança "desafios perigosos". Este diário económico não hesita em comparar o primeiro-ministro à sua distante antecessora:
Como fez no seu tempo Margaret Thatcher, David Cameron não se preocupa com o interesse comum que representa a construção de uma Europa como potência económica – e, necessariamente política. A sua visão passa por uma Europa feita por medida, da qual seja possível ser membro sem aceitar todas as obrigações, estar na União sem estar no euro e em Schengen. No entanto, se a crise do euro e os planos de salvamento da Grécia serviram para alguma coisa, foi para mostrar a necessidade de uma integração mais estreita dos países europeus, designadamente em matéria orçamental, fiscal e financeira. Pelo menos entre os 17 países do euro. Não é evidentemente esse o objetivo de David Cameron.
Na Alemanha, Die Welt considera que "Cameron põe o dedo nas feridas da UE" e opina – como a esmagadora maioria dos comentadores alemães – que as dúvidas do primeiro-ministro britânico são absolutamente legítimas e até "libertadoras".
Cameron está longe de estar isolado na sua análise das mudanças que a UE enfrenta e não se pode responder a essa análise com um simples “continuemos em frente”. […] A atitude do primeiro-ministro britânico de pôr em cima da mesa [a questão da estabilização da zona euro através de um aprofundamento da UE] não é antieuropeia. Também não é antieuropeu da parte de Cameron recordar que a competitividade da União se encontra ameaçada e atribuir a responsabilidade por isso (nomeadamente) a uma gestão esclerosada da UE – as regras e ordens exageradas que paralisam muitas forças criativas na economia. E não é de modo algum antieuropeu recordar o défice democrático humilhante e a falta de confiança dos cidadãos na UE e nas suas instituições. […] O Reino Unido segue uma abordagem “mais prática que emocional”, diz Cameron. Isso talvez fizesse bem a todos nós.
"O Reino Unido não sonha com uma existência confortável e isolada na orla da Europa", diz o comentador do Gazeta Wyborcza, Tomasz Bielecki, que recorda o discurso de Margaret Thatcher, de 1988, salientando que, para Cameron, que, tal como Thatcher, é um forte crítico da UE, mas defende ao mesmo tempo a continuidade da qualidade de membro da Comunidade Europeia para o Reino Unido, a Brexit seria um acidente de trabalho fatal, tal como
(…) seria um duro golpe contra a união de 27 países, e a zona euro tornar-se-ia o único polo de verdadeira integração, rodeado pelas periferias da UE. Para nós [polacos], é certamente muito mais perigoso que para os britânicos. O zloti polaco não é a libra britânica e as Ilhas Britânicas não são a Polónia, que tem vizinhos que nem sempre são fáceis. O jogo de David Cameron deveria levar-nos a seguir em frente com planos concretos para aderir à zona euro.
Em Estocolmo, o Svenska Dagbladet salienta que Cameron não é o único na Europa a exprimir a ideia segundo a qual "a adesão à UE não deve ser o equivalente a comprar um bilhete para um comboio fantasma, que não para em nenhuma estação e tem destino desconhecido". As reações ao seu discurso eram previsíveis, sublinha este diário: "em toda a Europa, ouvia-se dizer que a UE não é um smörgåsbord [bufete escandinavo], onde cada um pode escolher livremente o que quer." "Mas haverá apenas um caminho possível?", pergunta o diário:
A resposta é claramente não, dado o modo como a UE já funciona hoje: a Suécia não tem o euro. O Reino Unido não faz parte do espaço Schengen. Os exemplos são muitos. […] Para os britânicos, a alternativa é fazer face a uma UE que parte em todos os sentidos, com as seguintes perguntas: ‘How? Why? To what end?’ [Como? Porquê? Em que direção?]. Perguntas que deveriam ser do interesse de todos os Estados-membros e no interesse da União.
No mesmo comprimento de onda, o România liberă considera que a União "flexível, adaptável e aberta" proposta por Cameron é uma provocação muito séria. Este diário de Bucareste salienta que,
pela primeira vez, um dirigente europeu apresenta uma visão da UE diferente da visão de uma integração política mais profunda; uma visão mais modesta, mas mais liberal e mais centrada no mercado livre. Até agora, a Roménia optou pelos Estados Unidos da Europa e pelo modelo alemão da União Europeia. Agora que existe outra visão, os nossos dirigentes políticos talvez se empenhem num verdadeiro debate sobre o modelo europeu mais vantajoso para um país como o nosso, pois é certamente isso que vão fazer outros países.
"Cameron lança uma sombra sobre a UE", lamenta por seu turno o jornal De Volkskrant. Este diário de Amesterdão, a cidade onde o primeiro-ministro deveria à partida ter pronunciado o seu discurso, considera contudo que o seu projeto deve ser levado a sério pela UE, se esta quiser garantir a sua sobrevivência:
Será muito difícil responder às exigências de Cameron, sem prejudicar toda a construção europeia. Quando um Estado-membro deseja voltar atrás sobre determinados acordos, haverá sem dúvida outros países que irão exigir exceções. Mas a saída do Reino Unido não é do interesse da UE – e, designadamente, da Holanda. É por isso que a Comissão Europeia e os outros Estados-membros devem levar seriamente em consideração as propostas britânicas. Além disso, a iniciativa britânica dá a Bruxelas matéria para reflexão: seria insensato lançarmo-nos em projetos de integração, se estes puserem em perigo a unidade da União Europeia.
Em Madrid, Lluis Bassets refere, em El País, que "a Europa britânica" se assemelha mais a uma "simples zona de comércio livre", como foi "a EFTA, criada como alternativa à Comunidade Económica Europeia". Este editorialista considera que,
para o primeiro-ministro, a UE é um mero instrumento e não um objetivo. Para Cameron, embora não o diga ainda com todas as letras, a questão é clara: ou a UE se converte naquilo que os eurocéticos estão dispostos a tolerar ou não haverá outro remédio senão sair. O descaramento da chantagem é espantoso […]. O sonho conservador é relacionar-se sem intermediários com o mundo global e utilizar a UE como um mero espaço de comércio livre, o mais desregulamentado possível. É uma ideia que, um dia, pode ter sido atraente à partida, mas que agora choca com uma série de obstáculos; o maior é a dificuldade de todos os países europeus, incluindo o Reino Unido, de existirem por si mesmos num mundo global, como se fossem potências emergentes e não velhas antigas potências europeias. Washington e Pequim recriminam Cameron pelas suas ambiguidades: preferem relacionar-se com Londres através de uma UE forte.

Contramaré… 25 jan.

António Borges disse que a economia portuguesa está equilibrada e não precisa de mais austeridade. “No sentido macroeconómico, claro que não [precisamos de mais austeridade], porque já não temos défice externo. É necessário cortar o défice público, o que é uma coisa diferente. Mas esse corte deve ser acompanhado de um regresso ao crescimento no investimento e no consumo”, adiantou. Mais, “os nossos compromissos já são exclusivamente com a Europa”. Ou seja, “já não precisávamos de mais austeridade nenhuma. Temos é o compromisso de ir gradualmente reduzindo o défice”, atirou.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O insustentável e gratuito peso de mais austeridade!

As recentes conclusões sobre a execução orçamental da unidade independente de análise não deixam margem para dúvidas. Em Setembro, o défice público estava nos 6% do PIB e as receitas fiscais continuaram a deslizar significativamente face ao objectivo.
Carlos Bastardo, Economista
Aqui reside a minha maior preocupação: com um OE para 2013 mais severo que o OE anterior, como vai ser possível cumprir os objectivos?
O PIB só vai cair 1% quando a generalidade das casas nacionais e internacionais apontam para valores de 2,5% em média? O défice público face ao PIB em 2013 conseguirá ser 4,5% quando, muito provavelmente, as dificuldades na colecta de impostos vão continuar, dada a recessão económica? O desemprego que terminou acima dos 16% em 2012 (quando um ano antes se previa que ficasse nos 14,5%) ficará nos 16.5% previstos ou irá para 18% ou mais, ou seja, 1.000.000 de pessoas? Os nossos parceiros comerciais irão recuperar o suficiente para que as exportações portuguesas continuem a crescer e aumentar o seu peso no PIB para os tão desejados 50% do mesmo? Com um OE que reduz fortemente o rendimento disponível face ao OE de 2012, o que vai acontecer ao consumo privado, só cairá os 3% previstos quando em 2012 caiu 6%? O investimento que em 4 anos caiu mais de 40%, continuará a evidenciar o mesmo caminho ou vão surgir medidas e incentivos concretos para travar esta tendência?
Portugal vai ou não seguir o caminho da Grécia? Christine Lagarde disse que não. Mas política é política e os dados concretos são o que são. E estes apontam para um crescimento significativo da dívida pública (capital e juros), aumentando as dificuldades no seu pagamento. No final de 2013, a dívida pública será de 124% do PIB como previsto ou será superior? E nos anos seguintes, será possível reduzi-la? Mas como é possível reduzir a dívida sem crescimento económico e sem criação de riqueza sustentada?
Nem tudo é negativo. O crescimento das exportações e a grande queda das importações praticamente levaram ao equilíbrio da balança comercial e da balança de transacções correntes mas este facto, por si só, não chega.
Enquanto o Estado e as empresas pagarem os juros actuais, bastante acima dos praticados noutros países europeus, como vai ser possível reduzir a dívida e ganhar competitividade. Ok, nos últimos meses, a rendibilidade até à maturidade das obrigações de dívida pública a 10 anos baixaram de 16% para 6,5% mas mesmo 6,5% é um valor elevado quando comparado com os 1.5% pagos pela Alemanha. É lógico que cada país tem o seu risco: o problema é que com as taxas de juro actuais é muito difícil fomentar-se o crescimento dos negócios e das empresas (o handicap é significativo).
Portanto, o ano de 2013 vai ser "complitroikado". Nesta altura, com o ajustamento de 2011 e sobretudo de 2012, já deveríamos estar mais avançados na consolidação orçamental para podermos pensar na segunda fase que é o relançamento económico. O problema é que o cenário internacional é negativo. Os EUA estão com um problema orçamental que só está no início (parece que os políticos americanos já foram contagiados pelos políticos europeus ao empurrarem os problemas para a frente, como foi o caso do acordo alcançado às duas da manhã do dia 1/1/2013). A Europa ainda não resolveu a crise e as decisões mais importantes com vista a um maior federalismo têm sido sucessivamente adiadas (se formos a ver o BCE acabou por fazer mais pela resolução da crise do que o Eurogrupo, quando deveria ser o contrário). E a China apesar de estar a querer recuperar, depende muito do que aconteça nos EUA e na Europa, assim como os restantes países emergentes.
Mas os investidores começaram alegremente o ano, com as bolsas a subirem e após um 2012 que poucos esperavam que tivesse sido tão bom (o índice MSCI World subiu 13% e houve bolsas como a alemã a subirem mais de 25%). Contudo, nestes primeiros meses do ano, as incertezas macroeconómicas são muitas e quando tal acontece, existe normalmente volatilidade nos activos financeiros com risco.
Estou a ser pessimista? Não, apenas realista!
Pelos vistos o “sucesso” da volta aos Mercados não tem nada a ver com a realidade do nosso quotidiano e apenas resolve os problemas dos homens da massa, enquanto a massa de homens e mulheres continua a pagar-lhes as fraudes e as dívidas…
O mesmo é dizer, que a austeridade vai continuar, sustentada pela contínua passividade dos confiscados, que na opinião de muitos analistas se pode alterar, como sociologicamente é previsível…
Fica mais um alerta, de quem sabe, não só das causas e efeitos, mas sobretudo dos Direitos Humanos, reforçados não só na Constituição como nos tratados da União Europeia e que a legislação europeia nos confere e podem ser ativados…
O juiz jubilado Cunha Rodrigues, antigo procurador-geral da República, considerou que a austeridade pode levar a mais manifestações de protesto na rua e sustentou que "não pode ser excluída a hipótese de quebra da paz social".
Cunha Rodrigues recusou a ideia de se chamar "indignados" aos manifestantes que protestam em ações de rua, sublinhando que "são pessoas com direitos".
"As pessoas não são apenas indignados, são titulares de direitos. Não só a Constituição como os tratados da União Europeia e a legislação europeia conferem-lhes direitos que podem ser ativados", referiu Cunha Rodrigues, no debate conjunto com Teresa Pizarro Beleza, subordinado ao tema "Abundância de Direitos em Tempo de Crise".
O juiz jubilado referiu ainda que um período de crise económico-financeira pode ainda afetar a Justiça. "É evidente que, com a austeridade, todos os bens, mesmo aqueles que são bens essenciais como a Justiça, sofrem uma compressão e esse fenómeno não deixa de existir em relação à Justiça", disse, defendendo que deve existir "o primado do Direito e não dos jogos de poder ou das relações económicas e sociais".
Cunha Rodrigues concluiu afirmando que é necessário que "se coloque com primazia a questão da Europa jurídica de comunidade e de Direito".

Ecos da blogosfera – 24 jan.

REFERENDO é uma coisa que só os ricos podem fazer

Após semanas de especulação, o primeiro-ministro britânico fez finalmente o seu discurso decisivo sobre o futuro da Grã-Bretanha na União Europeia. Comprometeu-se a negociar um novo acordo com a União Europeia antes de promover um referendo até ao final de 2017. Para a imprensa do Reino Unido, o discurso deixou grandes incertezas quanto ao futuro.
"Não há inevitabilidade nenhuma na saída da Grã-Bretanha da União Europeia. Contudo, a história pode registar que David Cameron colocou a nação nesse caminho", escreve o colunista Philip Stephens, do Financial Times, após o primeiro-ministro britânico ter discursado em Londres, no dia 23 de janeiro.
Não era esse o propósito do primeiro-ministro, quando fez o seu muito protelado discurso sobre o futuro da Grã-Bretanha na Europa. Apesar de ter prometido uma dura renegociação dos termos da participação britânica, seguido de um referendo em termos de ficar ou sair na próxima legislatura, se os Conservadores ganharem a eleição geral de 2015, tratou o caso como indo permanecer na UE. Trata-se de uma política de corda bamba – um discurso calculado para manter unido um Partido Tory [Conservador] rebelde e cada vez mais eurocético, e não a expressão corajosa de um estadista.
"O Reino Unido vai ter um referendo sobre a UE", traz o Daily Express na primeira página, clamando vitória para a sua campanha pela votação pelo Não. O colunista Patrick O'Flynn observa que Cameron anunciou a sua intenção de defender um voto pró-europeu, antes de saber que concessões consegue negociar. Diz mais:
Cameron tem a possibilidade de entrar para a história como um primeiro-ministro que marcou uma época privilegiada, ao considerar que a Grã-Bretanha tem um futuro melhor fora da UE, enquanto nação de comércio global. Dado que a longo prazo as tendências económicas estão a condenar a Europa, enquanto outras regiões da economia mundial estão a crescer depressa, estou confiante em que ele alinhe com este jornal e os seus leitores, quando houver um referendo. Muitos em Westminster vão achar isso impensável. Mas há 2 anos, diziam que era impensável um referendo sobre a adesão. E veja-se onde estamos hoje.
Esta decisão de colocar a participação na UE nas mãos do povo é "um risco elevado, mas um apelo corajoso", escreve o editor de política nacional de The Sun, Tom Newton Dunn, comparando a iniciativa a colocar "uma arma carregada à cabeça dos dirigentes europeus e dizer: deem à Grã-Bretanha o que ela quer ou vamos embora". Descrevendo as futuras negociações do primeiro-ministro como "um jogo de póquer de intenso bluff com Bruxelas, e com a parada mais alta", acrescenta:
O sucesso ou fracasso irá definir toda a sua governação. O primeiro-ministro é culpado de uma das suas próprias acusações de hoje: também ele tentou ignorar o cisma crescente no país relativamente à Europa, na esperança de que desaparecesse por si. Não aconteceu e hoje ele vai tentar transformar esse fracasso em virtude. Cameron está, pelo menos agora, a enfrentar a questão de frente, e só por isso merece elogio.
Para o correspondente de política nacional da BBC, Iain Watson, a decisão de um referendo de ficar ou sair irá fazer as delícias dos muitos eurocéticos do partido de Cameron e unir os Conservadores antes da eleição de 2015. Mas o processo de renegociação pode vir a desencadear novas divisões.
O que o primeiro-ministro não disse hoje foi o que faria se as negociações ficarem aquém do que gostava. Os Trabalhistas e os democratas-liberais dizem que David Cameron está a criar uma incerteza prejudicial para os negócios, mas ele retribuiu-lhes a acusação. Vão deixar que seja ele o dirigente do único grande partido que pretende dar aos eleitores uma palavra a dizer sobre a participação na União Europeia, após a próxima eleição?
O blogue "Blighty" de The Economist observa que qualquer renegociação dos termos da participação do Reino Unido será "mínima e terá um pesado custo diplomático".
Westminster tem dificuldade em compreender o vasto projeto político que ganha vida do outro lado do Canal da Mancha. Para a Grã-Bretanha, a relação com a União Europeia coloca-se ao nível das transações. Para as nações que estão no centro da Europa, é um sentimento de destino partilhado que lubrifica a engrenagem dos compromissos. Daí a perplexidade dos vizinhos da Grã-Bretanha. A noção de exigências definitivas e quase unilaterais está o mais afastada que é possível das preocupações de Paris, Berlim ou Bruxelas. No entanto, estão no cerne do plano de Cameron para manter a Grã-Bretanha na União Europeia. Não é de admirar, pois, que o plano pareça pouco firme.
James Kirkup, editor-adjunto de política nacional do Daily Telegraph diz que o discurso de Cameron recolocou o foco do projeto europeu num princípio económico e com base no mercado, o que pode ser bem acolhido pela Holanda, Suécia e Finlândia. No entanto, outros "não vão reagir bem ao que lhes vai parecer uma tentativa de chantagem por parte de um dirigente politicamente demasiado fraco para resistir no seu próprio partido". Acrescenta:
Cameron só vai conseguir negociar o seu acordo se o resto da União Europeia concordar. Portanto, sim, a forma como o resto da UE, especialmente a Alemanha, encara este discurso é importante. De facto, pode muito bem determinar o destino de Cameron: quanto mais progressos fizer na sua negociação, mais gente do seu partido arrastará consigo para o campo do Sim, em 2017. É a tua deixa, Angela.

Contramaré… 24 jan.

O primeiro-ministro britânico anunciou que, se vencer as próximas eleições, avança com um referendo para perguntar aos britânicos se querem ficar ou sair da União Europeia.
David Cameron justificou a necessidade de um referendo com o “desencanto atual da opinião pública, que chega a um nível sem precedentes”. “As pessoas consideram que a UE ruma para uma direção que nunca quiseram. Elas não gostam das interferências na nossa vida nacional, através de leis e regulamentos que consideram supérfluos”, sublinhou.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Se uma derrota eleitoral dói, quanto dói a austeridade?

A chanceler alemã, Angela Merkel, reconheceu a "derrota dolorosa" do seu partido conservador CDU aliado aos liberais do FDP na eleição regional realizada no domingo. "Vocês podem imaginar quais são os nossos sentimentos em relação a tal acontecimento", declarou.
No fim de uma noite cheia de suspense na Baixa Saxónia (norte), os sociais-democratas do SPD, aliados aos Verdes, superaram a coligação dos conservadores (CDU) e liberais (FDP), a mesma que governa o país em nível nacional. "Uma derrota nestas condições é ainda mais dolorosa", acrescentou em referência à vitória com apenas 1 assento a mais que a oposição nesta região.
Desde o início de seu 2º mandato, em 2009, o partido da chanceler perdeu espaço em quase todas as eleições locais e acumulou grandes derrotas, principalmente nos grandes estados do oeste, como a Renânia do Norte-Westfália e Bade-Wurtemberg.
No domingo, a CDU registou um recuo de mais de 6% em relação à eleição anterior, mesmo que grande parte desta perda se explique pelo apoio acordado pelos eleitores conservadores ao FDP, que aparecia quase morto nas pesquisas, a fim de o ajudar a superar a linha de 5% que permite eleger candidatos. Os liberais, por sua vez, terminaram com o seu melhor resultado na história, 9,9%, mas isso custou a vitória da CDU, considerou a imprensa.
"Hoje, estamos tristes por não ter funcionado", admitiu Merkel, que tentou minimizar o efeito dessa derrota nas eleições legislativas de 22 de setembro. "Ainda não estamos em campanha eleitoral (...) Temos uma série de tarefas a cumprir, a situação económica é frágil", explicou.
O seu porta-voz Steffen Seibert foi ainda mais categórico: "Um ponto fundamental: ontem, moradores da Baixa Saxónia votaram pelo seu parlamento regional, nada mais, nada menos", disse.
Ainda assim, a chanceler deve estar alerta, apesar da sua grande popularidade pessoal, que permite ao CDU manter-se acima dos 40% das intenções de voto a nível nacional, isso pode não traduzir-se em votos, como foi "com David McAllister (o ministro-presidente da Baixa Saxónia derrotado no domingo), que também era muito apreciado, mas que não foi capaz de vencer", considerou Niels Diederich, cientista político da Universidade Livre de Berlim.
A vitória na Baixa Saxónia, reduto do último chanceler social-democrata, Gerhard Schröder, deve trazer uma nova dinâmica à campanha dos sociais-democratas (SPD) e do adversário de Angela Merkel, Peer Steinbrück. Este último distanciou-se nas sondagens, após um início de campanha desastroso, marcado por polémicas, como as suas palestras muito bem pagas, e gafes, como sobre o salário de chanceler, que ele considerou "insuficiente". "Após as eleições na Baixa Saxónia, o SDP não está tão mal" com vista às legislativas, acrescenta Diederich. "A campanha será mais acirrada", profetizou o Der Spiegel.
Tenho registado por aqui todos os resultados das eleições regionais da Alemanha (em que o partido de Merkel apenas ganhou uma), não só porque os media nacionais não lhes deu nem dá qualquer importância, mas mais por estar em desacordo com as políticas da senhora que nos vitimizam e pelo desamor que nutro pela prepotência de quem, como ela, se impõe sem outra legitimidade, que não seja a de credor…
Bem sabemos todos, que o somatório dos resultados das eleições regionais não serão o resultado das eleições legislativas de 22 de setembro, mas querem dizer alguma coisa e que a haver mudanças (para que faço figas) essas mudanças se possam refletir aqui, no nosso dia-a-dia, porque hora a hora sentimos o peso de uma germanização (ilegítima) e a volatilidade da esperança num futuro melhor…
Esperemos pelo próximo futuro, pacientemente…

Ecos da blogosfera – 23 jan.

“Bocas nazis” de um democrata Liberal (des)orientado

O ministro das Finanças do novo governo japonês afirmou que os idosos doentes devem "morrer rapidamente" para aliviar o Estado do pagamento de cuidados médicos.
"Deus queira que (os idosos) não sejam forçados a viver até quando quiserem morrer" disse Taro Aso durante uma reunião, em Tóquio, sobre as reformas da segurança social.
O ministro está a ser alvo de fortes críticas por declarações como: "O problema não tem solução, a não ser que os deixemos morrer, e depressa".
O mesmo ministro chamou ainda "entubados" aos doentes que já não se conseguem alimentar pelas próprias mãos e acrescentou que "o ministro da Saúde está consciente das despesas de saúde por paciente".
Os comentários de Aso são motivo de ofensa no Japão, onde 1/4 da população, de cerca de 130.000.000 de habitantes, tem mais de 60 anos de idade.
O ministro das Finanças, neto de um primeiro-ministro do pós-guerra, já foi também chefe do Executivo e ministro dos Negócios Estrangeiros, e é conhecido pelas declarações polémicas: foi considerado particularmente insultuoso para com os doentes de Alzheimer e em 2001 afirmou que gostava que o "Japão fosse o país em que os judeus ricos gostassem de viver".
Um relatório divulgado em Tóquio indica que mais de 2.000.000 de japoneses dependem da segurança social.
Se se tiver em conta que o autor da sentença é um “jovem” de 73 anos, poderíamos concluir que está a falar em causa própria, embora se desconfie que o mesmo não precise da Segurança Social para sobreviver e a dúvida esbate-se, surgindo à clarividência um caráter doentio a precisar de tratamento, mesmo tendo em conta o desprezo do poder, a nível mundial, pela vida humana e pelo valor das pessoas…
Se acrescentarmos outras afirmações, em tempos feitas pelo mesmo, podemos passar da avaliação do caráter para a Ética, para a Política e para a Ideologia, que o coloca noutro tempo e noutro continente. É demais estranho que alguém que presenciou a História: a II Guerra Mundial em que foram humilhados, as experiências da bomba atómica que ajoelhou o seu país, o esforço dos seus concidadãos para recuperar uma nação, tenha impunidade para dizer aquilo que os partidos neonazis não dizem…
Temos que reconhecer que afinal temos a sorte grande de o nosso ministro das Finanças e da Saúde, serem mais comedidos do que este personagem e à beira dele poderem vir a ser candidatos à beatificação…
Só para registo e denúncia!

Todas as guerras deixam marcas na história da gente…

Em Sedan, de Bismarck a Hitler, os franceses tentaram, por 3 vezes, resistir, em vão, aos alemães. Um jornalista foi até lá para ver como está a reconciliação franco-alemã, 50 anos depois do Tratado do Eliseu, e descobriu uma cidade minada pela pobreza e que vive das recordações do passado.
Ilustração histórica da Batalha de Sedan, em 1870
Os flocos de neve dançam à luz dos candeeiros. O terreiro da estação brilha sob o manto branco do inverno. Os raros passageiros do TGV que desceram aqui, em Sedan, afastam-se em passo rápido. Um silêncio quase solene paira sobre aquele lugar. Não vemos ninguém durante alguns minutos, nem carros, nem autocarros, nem táxis.
A cidade nem sempre foi assim tão calma. Durante a guerra de 1870-1871, as tropas de Bismarck tomaram de assalto, pela primeira vez, o forte de Sedan. Refugiado no Palácio dos Príncipes, o imperador Napoleão III mandou içar a bandeira branca e, desde então [até 1918], os alemães celebraram, todos os anos, o "Sedantag" [o dia de Sedan], a 2 de setembro.
Em maio de 1940, durante a II Guerra Mundial, as unidades blindadas de Hitler varreram de surpresa o Norte. Um mês mais tarde, a França era derrotada. As feridas infligidas na altura estão cicatrizadas – num momento em que a França e a Alemanha celebram o quinquagésimo aniversário do Tratado do Eliseu e 50 anos de amizade? A cidade está em festa?
Poucos vestígios da reconciliação
Laurent Poncelet não está, em qualquer caso. Aos 45 anos, este homem que foi ele próprio militar e agora dirige uma empresa de táxis com dois veículos, abana a cabeça da esquerda para a direita. “Só queremos uma coisa, sair daqui. Sobretudo os jovens”, confessa ele. Todas as grandes empresas voltaram as costas a esta região fronteiriça com a Bélgica, lamenta, a começar pelos empregadores históricos, do fabricante de componentes automóveis Delphi ao fabricante de eletrodomésticos Electrolux. A maior parte dos habitantes de Sedan vive das ajudas do Estado, 42% das casas são habitação social e a taxa de desemprego atinge os 26%. “Aqui não há futuro. Só há muito passado. Muita história franco-alemã. E mesmo essa não tem nada de bonito”, diz Laurent Poncelet.
Depois de séculos de guerra, não se veem muitos traços do milagre da reconciliação nesta pequena cidade de 19.400 almas. Sedan parece até desinteressada do aniversário do Tratado do Eliseu. Laurent Poncelet não é, evidentemente, o único a pensar que a história franco-alemã parou na II Guerra Mundial.
A senhora do posto de turismo sorri, encolhe os ombros. Não sabe nada sobre as cerimónias organizadas para comemorar o cinquentenário, garante. Mas a "Maison de la Dernière Cartouche" é um excelente local a ser visitado. “Os lambris da casa, ocupada pelas tropas de Bismarck, ainda têm as marcas das balas da época”, diz ela. Os quadros a óleo mostram os franceses a resistirem aos alemães, em muito maior número, e enfrentando uma morte certa. “Porque não vai visitar o nosso castelo do século XV? Com 35.000 m2, é a maior fortaleza da Europa!”
O “castelo-fortaleza” fica mesmo do outro lado da rua. É preciso uma boa meia hora para percorrer as muralhas. Placas de mármore lembram que, também durante a I Guerra Mundial, os soldados alemães semearam a morte e a desolação em Sedan. De janeiro de 1917 a novembro de 1918, o forte serviu de local de execuções. Ali estiveram presos 18.000 habitantes e 8.000 foram executados.
Habitantes recusam participar nas comemorações
Os jovens que vêm aquecer-se na entrada do posto de turismo não ouviram falar do Tratado do Eliseu nem das celebrações do aniversário da amizade franco-alemã. “Nas aulas só estudamos as guerras”, explica Karim, um adolescente de 16 anos, alto e de cabelo encaracolado, que quer entrar para a polícia “numa cidade grande, seja ela qual for”, depois de terminar o 12º ano. Lilia mete-se na conversa. “Já tive um namorado alemão, eles são muito abertos e simpáticos”, garante ela. “Não sabes o que dizes”, intervém Karim, “eles mataram os teus antepassados”.
No café "Au Bon rhum", Richard, um empresário da construção civil, bebe uma cerveja com a mulher, Jeanine. Já ouviram falar das comemorações do Tratado do Eliseu, mas não querem participar. “Não gostamos de alemães”, reconhece Richard, 48 anos. Pode ser que a geração mais jovem consiga reaproximar os dois povos, admite ele. Atrás deles, na parede, um painel enferrujado ostenta a seguinte inscrição: “Praça de Armas”.
Um passeio pelas ruas da zona antiga de Sedan confirma as palavras de Laurent Poncelet, que fala de uma cidade sem futuro. Portões enferrujados, estuque a cair, cartazes de “cessação de atividade”, são testemunhos da pobreza e do declínio da cidade. As persianas fechadas há muito tempo transmitem-nos uma mensagem clara: já não vive ninguém aqui. E, na maioria das vezes, ficaram apenas os que são demasiado pobres para partirem. Ao todo, apenas 35% das famílias de Sedan têm rendimentos tributáveis.
Acabamos por perceber que, se a ilusão do reaquecimento das relações franco-alemães vem morrer aos pés das muralhas do forte de Sedan, não é só por causa dos enormes danos causados pela guerra. Mas também porque a cidade, para além das recordações de uma resistência heroica, não tem muito mais que a conforte. O sacrifício, a fraternidade e a grandeza ostentados na derrota são motivo de orgulho que ajudam a suportar as horas difíceis.
Demolição de um monumento
Será então de admirar que Didier Herbillon, professor de história, historiador de arte e presidente do município de Sedan, se tenha recusado a falar? O socialista não se mostrou disponível para uma entrevista sobre as alterações na cidade e a obra de reconciliação iniciada por Konrad Adenauer e Charles de Gaulle. Na página de Internet do município, na agenda do presidente, a data de 22 de janeiro nem sequer menciona um minuto de silêncio pelo aniversário do Tratado do Eliseu.
É numa outra vertente que Didier Herbillon coloca as relações franco-alemãs. Para grande escândalo dos historiadores de arte alemães e franceses, no ano passado, ele autorizou a demolição de um monumento, no cemitério de Sedan, em memória dos soldados alemães mortos durante a I Guerra Mundial. O monumento em causa era uma “provocação”, afirmou o autarca.
Em Paris e em Berlim, os funcionários do Gabinete franco-alemão para a juventude lamentam que a geração mais jovem seja incapaz de apreciar a amizade franco-alemã em todo o seu justo valor. Para esta geração, a paz é um dado adquirido e a França é um país interessante, entre muitos outros. Sedan é prova disso mesmo: os que cultivam a memória da guerra estão longe de estarem prontos para se comprometerem com o caminho da paz. E, sobretudo, este exemplo mostra completamente a audácia do general De Gaulle que, menos de 20 anos depois do fim da guerra, estendeu a mão da reconciliação a Adenauer.