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sábado, 28 de dezembro de 2013

Fomos à bruxa! (2/3)

Ano novo, vida nova, as dúvidas de sempre. O que vai acontecer aos salários e pensões? Os impostos vão aumentar? A electricidade vai ficar mais cara? Estas e muitas outras questões são aqui abordadas.
Tudo indica que sim. O congresso de Abril deste ano teria sido complicado para António José Seguro caso António Costa tivesse levado a sua candidatura à liderança até ao fim. Mas isso não aconteceu, e António José Seguro foi reeleito secretário-geral do partido. Além de ter, aparentemente, calado a oposição interna, a reeleição de Seguro neste último congresso teve ainda outro significado: pelos estatutos, não haverá outro antes das próximas eleições legislativas, que deverão ter lugar em Junho de 2015.
As relações entre Portugal e Angola, no plano empresarial, estão bem e recomendam-se, mas a entrada em vigor da nova pauta aduaneira vai exigir uma nova estratégia às empresas portuguesas.
Sim. E não. Baralhado? Não fique. Acontece que para quem consome poucos medicamentos, a "saúde" ficará mais cara, uma vez que as taxas moderadoras pagas pelo acesso aos cuidados de saúde hospitalares vão subir já a partir de Janeiro. Este aumento resulta da já esperada actualização anual à inflação, que deverá rondar os 0,6%. Assim, uma consulta de especialidade num hospital em vez de custar 7,75 euros, deverá passar a custar 7,80 euros.
Esse era o objectivo inicialmente previsto pelo ministro da Educação, Nuno Crato. No próximo ano lectivo deveriam já arrancar projectos-piloto em torno do "cheque-ensino". Porém, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, já veio afastar essa ideia.
Falar ao telefone ou ver televisão vai custar mais a partir de Janeiro. PT e Zon Optimus já comunicaram as subidas de tarifários quer para os telemóveis, quer para os serviços fixos (voz, internet e televisão). A Vodafone não aumenta já em Janeiro, mas a partir de Fevereiro deve também subir preços.
Este ano, os preços dos combustíveis ficaram praticamente inalterados: descidas de 2% na gasolina e no gasóleo. No próximo, tendo em conta as estimativas dos analistas para a evolução dos preços do petróleo, há margem para que os valores de venda ao público baixem. A grande incógnita é o mercado cambial. Uma queda do euro poderá travar a descida dos preços de venda dos combustíveis nos postos de abastecimento em Portugal.
As famílias portuguesas beneficiaram de um forte alívio das taxas de juro em 2013. As Euribor, que são utilizadas como referência no crédito à habitação, afundaram para mínimos históricos. Nesta recta final, começaram a subir. A perspectiva é de que no próximo ano ocorra um aumento moderado.
O incumprimento deverá continuar a aumentar em 2014, mas a um ritmo mais lento do que tem acontecido até agora. Os economistas antecipam que o atraso no pagamento dos créditos vai acompanhar a diminuição da taxa de desemprego, mas com algum desfasamento. Os pacotes legislativos também deverão ajudar a colocar um "travão" nas dificuldades das famílias portuguesas.
Comprar casa a crédito tem sido tarefa complicada. Com o incumprimento em alta, que fez disparar a carteira de imóveis detidos pela banca, o sector tem mantido a "torneira" quase fechada. Este ano, até Outubro, foram concedidos 1.661 milhões em novo crédito com destino à habitação, bem menos que os 11.746 milhões registados no mesmo período antes da crise, em 2008. Em 2014, a tendência de corte deverá manter-se.
Se a recuperação da economia portuguesa se confirmar, a tendência de crescimento do novo crédito a empresas, sobretudo pequenas e médias empresas (PME) de sectores de bens transaccionáveis, iniciada no segundo semestre de 2013 deverá manter-se ou até ser reforçada.

Ecos da blogosfera - 28 dez.

Com tanta violência os violentos podem acordar…

A revista “The Economist” vê em Portugal um “elevado risco” de agitação social no próximo ano. Não é o único. Espanha, Brasil, África do Sul e Paquistão são outros exemplos. Na Grécia, a situação poderá ser mais grave, com um risco “muito elevado”.
A Economist Intelligence Unit, uma empresa “irmã” da revista britânica, mediu o risco de agitação social em 2014 em 150 países de todo o mundo, tentando perceber onde é mais provável o surgimento de protestos, uma realidade que tem vindo a crescer ao longo do tempo.
“De movimentos anti-austeridade a revoltas de classe média, tanto nos países pobres como nos países ricos, a agitação social tem vindo a aumentar em todo o mundo”, escreve a revista sobre o estudo que concluiu que 65 dos 150 países têm um “elevado” ou “muito elevado” risco de instabilidade social em 2014.
No caso europeu, os protestos têm sido entendidos como respostas à crise económica. A publicação não fala especificamente de Portugal mas refere que, de um modo geral, a instabilidade social tem-se justificado um pouco por todo o mundo não só pela crise económica mas pela sua conjugação com factores como a desigualdade salarial, os reduzidos níveis de apoio social, as tensões étnicas e, mais importante, a crise na democracia, que mina a confiança nas instituições e na elite política.
Em Portugal, desde que, em 2011, Portugal iniciou a implementação de medidas de austeridade, grande parte delas incluídas no programa de ajustamento económico e financeiro acordado com os credores financeiros, quase paralelamente têm emergido vários protestos. “A austeridade está ainda na agenda para 2014 em muitos países e isso vai ser um motor de agitação social”, opina a “The Economist”.
Em 2014, Portugal vai ter de manter a implementação de medidas de consolidação orçamental ao mesmo tempo que vai tentar recuperar a confiança dos investidores para conseguir deixar o programa de resgate e financiar-se autonomamente nos mercados.
Portugal encontra-se no nível de “elevado risco” de agitação, ao lado de países como Espanha mas também como África do Sul, Paquistão e Brasil (no ano que se irá realizar o campeonato mundial de futebol, cuja preparação esteve, em parte, na origem dos protestos ocorridos no país este ano).
Há países numa situação potencialmente pior. Um deles é a Grécia, que vive a mais aguda situação desencadeada pela crise da dívida europeia. Líbia, Argentina e Egipto são outros dos países com “muito elevado” risco de ocorrência de protestos.
São 65 países com “elevado” ou “muito elevado” risco em 2014, 43% do total, mais 19 do que há 5 anos, explica a publicação.
Irlanda, no ano em que vai provar se consegue libertar-se das “amarras” da troika, algo que iniciou no final deste ano, apresenta um risco “médio” no mesmo indicador, ao lado de Angola, Cabo Verde, Moçambique e Itália.
Áustria e Japão estão entre os países que não se precisam de preocupar por não serem propícios a revoltas no próximo ano, dado o “muito baixo” risco. Com um risco “baixo” está a Alemanha mas também se encontram os EUA ou Hong Kong.
Há muito que se fala e se espera que a violência social seja a resposta de um povo que é violentado infundamentada e quotidianamente, não só em Portugal, mas em muitas outras latitudes. Recentemente disse o Papa Francisco: "Esta economia mata", chamando a atenção para as causas que este estudo elenca e as consequências que lhes estão determinadas.
Entretanto a surdez dos governantes revela-se endémica e confundindo os desejos com a realidade, como se pode depreender destes exemplos: Rajoy: “2014 será um ano muito melhor” e "Os melhores anos estão para vir”, prevê Passos Coelho.
Assim seja!

Contramaré… 28 dez.

O McDonald’s fechou um site chamado McResource, com conselhos de consumo para os seus próprios funcionários, e que tinha causado polémica por lhes recomendar que não comam diariamente os seus próprios produtos, informou “The Wall Street Journal“.
O grupo “Löw Pay is Not OK” (“Pagar pouco não está certo”) tinha denunciado as mensagens da empresa para os que seus empregados reduzissem as suas despesas, e entre elas incluía conselhos sobre como praticar o multiuso, ter uma alimentação saudável
ou que gorjeta dar a baby-sitters e outros empregados domésticos.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Fomos à bruxa! (1/3)

Ano novo, vida nova, as dúvidas de sempre. O que vai acontecer aos salários e pensões? Os impostos vão aumentar? A electricidade vai ficar mais cara? Estas e muitas outras questões são aqui abordadas.
Para algumas delas, a resposta é curta e directa; para outras, é mais complexa. Central na vida de todos será o comportamento da economia que, de acordo com as previsões oficiais, deverá registar o primeiro crescimento anual desde 2010.
Decisivo para o país é também o que acontecerá no final do programa de ajustamento. Ninguém quer um 2.º resgate, mas são muitas as dúvidas sobre como funcionará um programa cautelar.
A cinco meses da conclusão do programa de ajustamento, o grau de incerteza sobre o futuro das relações com Comissão Europeia, FMI e BCE permanece elevado. O mais provável parece ser que a troika se mantenha por cá em 2014, podendo mudar a sua forma de intervenção.
A evolução dos salários tem sido um dos principais temas de debate nos últimos meses em Portugal, dividindo o Governo e a troika. Para o próximo ano, o Banco de Portugal antecipa um crescimento das remunerações do sector privado. A Comissão Europeia, contudo, que tem apenas dados para toda a economia (incluindo sector público), espera nova queda dos salários.
A Lei do Orçamento do Estado, que está dependente de promulgação pelo Presidente da República, prevê cortes mais acentuados nos salários dos funcionários públicos já a partir de 1 de Janeiro. Mas o futuro da medida estará nas mãos do Tribunal Constitucional.
O Tribunal Constitucional travou a lei que permitia generalizar a possibilidade de despedimentos na Função Pública, mas nem todos os funcionários estão protegidos do desemprego.
Entre os cerca de 3.000.000 milhões de reformados que há em Portugal existem situações muito distintas, que enfrentarão regras diferentes no próximo ano. Desde logo quanto ao valor da pensão.
A fiscalidade para as empresas vai ter alterações significativas já em 2014, consequência da reforma do IRC que foi aprovada no Parlamento nas últimas semanas de Dezembro.
As previsões oficiais apontam para que sim. Tanto o Banco de Portugal como a troika antecipam um regresso ao crescimento económico em 2014, estimando ambos um avanço de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB).
Curiosamente, uma parte decisiva da resposta a esta pergunta depende daquilo que acontecer durante os próximos seis meses em Portugal. Depois de a Irlanda ter terminado o seu programa sem necessidade de recorrer a um programa cautelar, Portugal tem seis meses para decidir e provar que também consegue fechar o seu ciclo de ajustamento com êxito.
Será uma das grandes incógnitas do próximo ano, pois os objectivos orçamentais são exigentes e os riscos grandes.
Há 3 condições que serão fundamentais para perceber se o Governo se pode manter em funções. Uma delas é o comportamento da economia. O próximo ano tem sido sucessivamente apresentado como o ano do crescimento. Se não for, isso será um duro golpe nas políticas e na retórica do Executivo – em especial na ala centrista, encabeçada por Paulo Portas e Pires de Lima, que assumiram a condução económica.

Ecos da blogosfera - 27 dez.

Porque não basta amar só Deus, também os homens…

"Os pastores foram os primeiros que receberam o anúncio do nascimento de Jesus. Foram os primeiros porque estavam entre os últimos, os marginalizados", disse o Papa na sua breve homilia da Missa do Galo.
"Se amamos Deus e os irmãos, caminhamos na luz, mas se nosso coração se fecha, se prevalecem o orgulho, a mentira, a busca do interesse próprio, então as trevas rodeiam-nos, interiormente e por fora."
Há neste Papa algo que simultaneamente entusiasma e perturba.
O Papa Francisco foi, sem dúvida alguma, a figura mundial que emergiu no ano de 2013, que agora está quase no fim.
Eduardo Oliveira Silva
Neste dia de Natal é justo dizer que Francisco, o Papa argentino, que apareceu na varanda do Vaticano no dia 13 de Março, já marcou profundamente a comunidade católica, a hierarquia da Igreja e o mundo em geral, independentemente de credos e opções políticas e sociais.
Logo que surgiu, e passada a surpresa da nacionalidade de origem, desenvolveu-se em poucos minutos e à escala planetária uma vaga de empatia, logo que se percebeu a forma simples como se apresentou mal chegou ao Vaticano.
Nos actos e nas palavras que foi praticando e proferindo, Francisco foi surpreendendo tudo e todos, ao misturar-se com os crentes e ao falar de coisas simples e complexas de forma descodificada para que todos entendam. Por tudo isso, mas também pela firmeza com que tem actuado contra as fraquezas da Igreja, que tem ajudado a eliminar e a denunciar, Francisco mostrou já ser um Papa fracturante relativamente aos seus antecessores imediatos.
Apesar de a sua condição de chefe religioso lhe impor certas limitações, o novo Papa atingiu uma projecção e um grau de respeitabilidade que o tornam já o único ser humano à escala mundial que pode ombrear com Mandela.
Sem ter um passado comparável, tem, porém, palavras de afecto e actos de bondade que remetem, embora noutro plano, para o exemplo do grande líder sul-africano e mundial que era Mandela.
O Papa Francisco está preocupado com a missão da Igreja, a sua mensagem e a sua adaptação aos novos dias, procurando novas respostas para problemas dos quais a hierarquia católica vinha fugindo como o Diabo da cruz.
A sua mensagem não se limita a ser doutrinária ou pastoral, passando para o plano político e enfrentando problemas concretos da sociedade que eram tabu até há bem pouco tempo nas sociedades civis, quanto mais nas confissões religiosas.
Por isso, lembrou, por exemplo, que "uma fé autêntica comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo e transmitir valores", verberou o actual sistema económico, preso a um mercado divinizado, e falou da homossexualidade sem a estigmatizar.
Há neste Papa algo que entusiasma e simultaneamente perturba. Entusiasma o seu discurso, a sua abertura aos problemas concretos das pessoas e a sua simplicidade, bem distante do racionalista Bento XVI ou do empático mas conservador João Paulo II. Do mesmo modo que João Paulo II viveu o comunismo mais duro, Francisco conheceu a opressão do regime militar que subjugou a Argentina e as ditaduras de todo o tipo que afectaram a América Latina. São experiências das quais ambos tiraram ensinamentos profundos.
No entanto, Francisco pode ser referenciado em primeiro lugar como um seguidor de João XXIII, que foi reformista de vanguarda no seu tempo. O novo Papa remete para esse antecessor de boa memória, mas com o ritmo instantâneo dos dias de hoje.
Esse imediatismo envolve riscos, pois as interpretações e as modificações súbitas são susceptíveis de retirar à Igreja uma parte mística e doutrinária essencial, que não se pode desconstruir porque é o fundamento da sociedade judaico-cristã, cuja influência é absolutamente determinante em todos os comportamentos, até daqueles que não são crentes embora estejam ocidentalizados.

Contramaré… 27 dez.

O plano que tinha como objectivo colocar em empresas privadas bases de dados com documentos classificados do Estado, sob a tutela do ex-ministro Adjunto e dos Assuntos parlamentares, Miguel Relvas – que causou polémica há um ano e foi contestado por toda a oposição – foi reformulado pelo Governo. Colocar informação estatal confidencial em empresas privadas ficou fora de questão.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Mais uns "suplementos" que ajudam à convergência…

A Direcção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) contratou o escritório de advogados Morais Leitão, Galvão Teles da Silva e Associados para assessoria jurídica na gestão de contratos swap de empresas públicas. O contrato foi assinado em Setembro, mas só foi divulgado em Dezembro. Têm um valor máximo de 340.000 euros mais IVA, o que totaliza 418.000 euros.
Este valor soma-se aos 497.000 euros do preço de assessoria financeira adjudicada um ano antes à StormHarbour pelo IGCP (Agência para a Gestão do Crédito e da Dívida Pública), mas o IGCP não conseguiu chegar a acordo com os bancos e foi necessário as Finanças liderarem o processo em nome das empresas. Foi neste contexto que o escritório “Morais Leitão” foi contratado para apoiar juridicamente o Estado por ajuste directo em detrimento de concurso.
O escritório já tinha trabalhado com o ICGP nos swaps, num contrato de 60.000 euros e esteve envolvido nas renegociações efectuadas na primeira metade do ano e que resultaram no acordo com 9 bancos para cancelar 69 swaps, em troca do pagamento de 1.000 milhões de euros à banca. O contrato só foi autorizado em Agosto pela ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e assinado já em Setembro, mas produz efeitos desde 20 de Fevereiro. E não foi remetido à comissão parlamentar de inquérito aos swaps.
Seria demagógico se pensássemos que este pequeno valor (no total 975.000 euros, a acrescentar aos 2.500 milhões de perdas) poderia cobrir o montante planeado no roubo às pensões e reformas, chumbado pelo TC, que pelo que dizem é mais ou menos o correspondente a 368 milhões correspondentes aos suplementos pagos às Empresas Públicas (Empresas públicas gastam 368 milhões em suplementos), ou cerca de metade dos 700 milhões de suplementos pagos à Administração Central, Regional e Local (Estado paga 700 milhões de euros em suplementos remuneratórios), mas prova que a tão “desejada” e “justa” convergência entre tudo que é Público e Privado dê preferência aos Privados para resolver problemas Públicos. Mais uma incoerência…
Então não há técnicos nos serviços Públicos com capacidade bastante para dirimir estes conflitos? Se não há, realmente não se justificam os suplementos, mas se os há, nada justifica que se paguem (mais) “suplementos” aos Privados… Se é a isto a que se chama rigor na gestão, eu vou ali e já venho!
De sublinhar mais 2 pontos em que o mesmo rigor é posto em causa, quer quanto à gestão, quer quanto à transparência. Um é o ajuste direto, que não garante o melhor preço vs. o melhor serviço. O outro é não ter sido remetido este contrato à comissão parlamentar de inquérito aos swaps, que assim sendo não poderia repartir responsabilidades com o executivo, ilibando a redatora do mesmo de conclusões eivadas de qualquer ligação partidária…
Dentro do basismo lógico de que “grão a grão enche o Privado o papo”, fica provado que cada grão é pago pelo Estado e como “o Estado somos nós”, somos nós que temos que pagar os suplementos dos Públicos e ainda mais dos Privados, até porque se os suplementos são “excessivos”, mais excessivo é aumentar a fatura dos suplementos, sejam para quer for…
Nacionalizem-se os suplementos e privatizem-se os swaps!
“Rosaline-se!”

Ecos da blogosfera - 26 dez.

O direito a gerir o nosso tempo/corpo e a privacidade…

Nós, que podemos ser contactados por telemóvel ou internet 24 horas, 7 dias por semana, estamos a viver no tempo de quem?
Eliane Brum
Há dias atrás, Gabriel Prehn Britto, do blog Gabriel quer viajar, tuitou a seguinte frase: “Precisamos redefinir, com urgência, o significado de URGENTE”. (Caixa alta, na internet, é grito.) “Parece que as pessoas perderam a noção do sentido da palavra”, comentou, quando perguntei por que tinha postado esse protesto/desabafo no Twitter. “Urgente não é mais urgente. Não tem mais significado nenhum.” Referia-se tanto ao urgente usado para anunciar notícias nada urgentes nos sites e nas redes sociais, quanto ao urgente que invade o nosso quotidiano, na forma de procura, tanto da vida pessoal como da profissional. Depois disso, Gabriel passou a postar uns “tuites” provocatórios, do tipo: “Urgente! Acordei” ou “Urgente: hoje é sexta-feira”.
A provocação é muito precisa. Se há algo que se perdeu nesta época em que a tecnologia tornou possível a todos alcançarem todos, a qualquer tempo, é o conceito de urgência. Vivemos ao mesmo tempo o privilégio e a maldição de experimentarmos uma transformação radical e muito, muito rápida no nosso ser/estar no mundo, com grande impacto na nossa relação com todos os outros. Como tudo o que é novo, é previsível que nos atrapalhemos. E nos lambuzemos um pouco, ou até bastante. Nesta nova configuração, parece necessário resgatarmos alguns conceitos, para que o nosso tempo não seja devorado por banalidades como se fosse matéria ordinária. E talvez o mais urgente desses conceitos seja mesmo o da urgência.
Estamos a viver como se tudo fosse urgente. Urgente o suficiente para contactar alguém. E para exigir desse alguém uma resposta imediata. Como se o tempo do “outro” fosse, por direito, também o “meu” tempo. E até como se o corpo do outro fosse o meu corpo, já que posso invadi-lo, simbolicamente, a qualquer momento. Como se os limites entre os corpos tivessem ficado tão fluidos e indefinidos como a comunicação ampliada e potencializada pela tecnologia. Este apossar-se do tempo/corpo do outro pode ser compreendido como uma violência. Mas até certo ponto consensual, na medida em que este que é alcançado se abre/oferece para ser invadido. Torna-se, ao se colocar no modo “online”, um corpo/tempo à disposição. Mas exige o mesmo do outro – e retribui a possessão. Olho por olho, dente por dente. Tempo por tempo.

Contramaré… 26 dez.

Vaias mesclam-se com votos de feliz aniversário: críticos atacam hábito do Fed de se intrometer em questões políticas, com repercussão sobre a economia mundial. Com nova presidente, o perfil não deve mudar.
Em  23 de dezembro de 1913, cercado pelos protestos dos opositores, o Federal Reserve Act foi colocado em vigor pelo presidente Woodrow Wilson. Consta que o democrata fizera um pacto com os banqueiros JP Morgan e John D. Rockefeller, que lhe proporcionaram a vitória eleitoral, em troca do sinal verde para o primeiro banco central. Mais tarde, Wilson lamentaria no seu diário: "Arruinei o meu país, sem querer. Uma grande nação é controlada pelo seu sistema de crédito [...] todas as nossas atividades estão nas mãos de uns poucos homens."

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Poema de Natal - Vinicius de Moraes

Contramaré… 25 dez.

De maio de 2011 a novembro deste ano, o período que decorreu do programa de ajustamento do Governo e da troika, registou-se uma redução brutal (28,1%) no número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI), cuja prestação média ronda agora os 86,6 euros por pessoa.
Esta prestação dirigida a famílias carenciadas sofreu muitas alterações nos últimos 2 anos e meio, sobretudo nos critérios e nas facilidades de acesso à medida. Em novembro, o universo de beneficiários rondava as 234.929 pessoas, menos 92.000 do que em maio de 2011, quando a troika entrou, mostram dados da própria Segurança Social.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

"A vida corre atrás de nós para nos roubar aquilo que em cada dia temos menos." - Joaquim Pessoa

A vida é cheia de surpresas, e isso não constitui surpresa alguma.
Viver é construir. Destruir, também. Quando falamos de vida, falamos do geral, do conjunto de acontecimentos, bons e maus, de sentimentos e emoções que dão sentido e permitem aferir um colectivo. Raramente "a vida" significa "a nossa vida", aquele percurso individual que retira do colectivo o melhor e o pior, à nossa medida, à medida do nosso talento, das nossas capacidades, das oportunidades que soubemos criar e soubemos, ou não, aproveitar. E "nosso" ou "nossa", neste caso, quer dizer "de cada um". Sabemos alguma coisa da vida, mas sabemos muito pouco da nossa vida. Opinamos desmesuradamente sobre os outros mas não tanto sobre nós.
Atrevemo-nos a pensar e a "saber" o que é melhor para os outros, mas temos dificuldade nas escolhas que devem orientar o nosso caminho. Nem tudo está errado, mas tudo está muito longe de estar certo. E mesmo "certo" e "errado" são conceitos que diferem de cada ser, de cada grupo, de cada sociedade, de cada cultura, de cada religião.
Está aí o Natal. E não importa já o que isso significa.
Sem que possa querer dizer para mim a mesma coisa, desejo para si, o melhor. E seja isso o que for, que possa ajudá-lo a ser feliz.
A minha vida e a sua tocaram-se, um dia. Independentemente da nossa vontade.
Vou chamar Pai Natal a esse acaso.
Boas Festas, mr. Simon.
Joaquim Pessoa, in ANO COMUM

Ecos da blogosfera - 24 dez.

OUTROS NATAIS

Onde a magia dos Natais de outrora
O presépio dos olhos da infância
São José, a Virgem, o Menino
Figuras modeladas
Quase gente
A mostrar-se ao espanto
Dos pastores que vinham
Em fila pelo musgo dos caminhos
Para ofertar cordeiros e presentes.

Onde a azáfama do rumor das mãos
Nos alguidares de barro onde a farinha
A abóbora, os ovos, o fermento
Tomavam forma e gosto tão distantes.

Aonde o sono arredio que não vinha
Nessa Noite Sagrada em que os pinheiros
Choram saudades de bosques e de estrelas
Sob a caruma de luzes e de enfeites.

Onde o mistério que seguia os passos
Dos adultos no ranger das tábuas
Em nossos passos furtivos de criança
Na ânsia de encontrar em qualquer canto
De barbas e de saco o Pai Natal.

Quantos Natais assim em que a Família
Se reunia inteira à grande mesa
Da sala de jantar tão velha e gasta
Mas que nessa noite por magia
Transformava em cristal os vidros baços.

Quantos presépios retidos na memória
Quantos aromas ainda a Consoada
Quantos sons a deixar nos meus ouvidos
Os risos, os beijos, os abraços.

Quantas imagens cingidas na penumbra
Desta lembrança que se fez saudade
Dos rostos, dos gestos, das palavras
Na lonjura das vozes e da Casa.

Noite Divina em que torno a ser criança
Ante o meu olhar adulto e me desperto
Na emoção que nos traz os anos:
O meu Natal é hoje mais concreto
Mas muito menos belo e mais deserto.

Soledade Martinho Costa

Contramaré… 24 dez.

As taxas de juro implícitas no crédito à habitação aumentaram ligeiramente em novembro e o valor médio da prestação vencida para a totalidade dos contratos em vigor foi pelo 6.º mês consecutivo de 258 euros, revela o INE. 
Nos contratos para aquisição de habitação, a taxa de juro fixou-se em 1,429%, mais 0,002% do que em outubro, e nos contratos celebrados nos últimos 3 meses, a taxa de juro fixou-se em 3,050%, mais 0,049% do que em outubro.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

“Suplemento”: o que serve para suprir qualquer falta.

O Governo ainda não sabe quanto gasta o Estado em suplementos salariais. Apesar dos dados conhecidos na semana passada através do inquérito feito pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças, muitas empresas não responderam ou fizeram-no de forma parcial. A taxa de respostas ficou-se pelos 49%.
Os dados conhecidos mostram que os funcionários públicos recebem um total de 700 milhões de euros anuais em suplementos salariais, a que se somam mais 368 milhões de euros do Setor Empresarial do Estado e, pelo menos, outros 18 milhões às empresas que orbitam na esfera do setor empresarial local.
O Estado paga anualmente cerca de 700 milhões de euros em suplementos remuneratórios, o que corresponde a quase 5% do total das remunerações, de acordo com um relatório da Direção Geral do Emprego Publico (DGAEP).
Neste montante não estão incluídos os encargos com subsídio de refeição (cerca de 520 milhões de euros por ano), com o trabalho extraordinário (cerca de 120 milhões de euros por ano) e com despesas de outra natureza, como as ajudas de custo.
Os valores relativos a remunerações anuais ilíquidas na Administração Pública ascenderam em 2012 a 14.700 milhões de Euros.
Depois dos números sobre os suplementos remuneratórios na função pública, soube-se que as empresas públicas gastam 368 milhões de euros por ano também em suplementos salariais.
Isto significa que as empresas públicas gastam em suplementos remuneratórios mais ou menos o valor que o Governo precisa de conseguir para compensar o chumbo do Tribunal Constitucional à convergência das pensões.
Os suplementos associados ao horário de trabalho são os que absorvem a maior fatia, mas o subsídio de função e as deslocações são outras das categorias que assumem relevância.
No setor empresarial do Estado, além da remuneração base, a rubrica suplementos é a que assume maior peso e as sociedades anónimas tendem a seguir políticas remuneratórias mais generosas do que as entidades públicas empresariais.
Pronto! Somando tudo, que não tem base rigorosa, dá 700+368+18=1.086 milhões de euros anuais, o que não é mais do que uma operação de somar, simples. E depois?
Desde que o TC disse que é inconstitucional roubar os pensionistas e reformados, são mais que muitas estas contas em todos os jornais, que podemos presumir que não tiveram origem nas redações, mas que fazem eco de “fugas” sem proveniência definida, mas com objetivos maquiavélicos… Ou seja, alguém tem que pagar a conta, seja quem for, desde que não seja quem deve e pode…
Quanto aos suplementos remuneratórios (que suprem salários baixos), estes dividem-se pelo “subsídio de refeição”, “trabalho extraordinário” e “despesas de outra natureza, como as ajudas de custo”.
Pelos vistos parece haver uma grande variedade de tipos de suplementos, em várias áreas da Administração, ao nível Central, Regional e Local… E depois?
No que respeita às Empresas Públicas, o cenário não é diferente, a não ser nos montantes, que devem ter a ver com o menor número de pessoal… No entanto os suplementos têm a ver com os mesmos itens: horário de trabalho, subsídio de função e deslocações.
Querer-se-á convencer o cidadão comum e incauto de que as “horas extraordinárias” não devem ser pagas? Ou que o “subsídio de refeição” deve ser abolido? Ou que as "deslocações" em serviço devem ser pagas pelo funcionário? Ou que as “ajudas de custo” têm que ser aguentadas pelos trabalhadores públicos que se deslocam para o exercício das funções que lhes distribuem?
Está tudo doido ou querem por toda a gente doida? Roubar é roubar e não tem nada a ver a quem! Esta ainda parece uma medida do Rosalino, que de tanto tentar endoidar os FP e demais, endoidou os colaboradores…
E não deixa de ser sintomático, que por trás destas contas de merceeiro, surja esta conclusão desconcertante e sem qualquer ligação, de que só as Empresas Públicas “gastam” em suplementos remuneratórios (“subsídio de refeição”, “trabalho extraordinário” e “ajudas de custo”) mais ou menos o valor que o Governo precisa de conseguir para compensar o chumbo do Tribunal Constitucional à convergência das pensões. Ora toma, que já almoçaste!
Perceberam a relação? Só os números contam, estejam onde estiverem e esquecem-se sempre das PPP, dos swaps, das rendas, dos fraudulentos, dos assessores, dos…
Curiosamente, para confirmar a convergência entre o Público e o Privado, constata-se que as sociedades anónimas tendem a seguir políticas remuneratórias mais generosas do que as entidades públicas empresariais…
Pronto, assim também eu preferia ir para o Privado, mais generoso e sem ameaças!
Entenderam a mensagem? Finos! Mas fazem-nos de burro (do presépio)…

Ecos da blogosfera - 23 dez.

Enquanto não chega o dito…

É impressionante a capacidade que um ser humano tem para atafulhar criaturas no estômago durante a ceia de natal. O que pomos em cima da mesa da consoada, num dia normal, dava para alimentar Badajoz. E Badajoz ainda levava um tupperware, com restos, para dar a Elvas.
João Quadros
No Natal vai tudo. Parecemos ceifeiras a debulhar comida. É como se as pessoas tivessem recebido, de prenda, um casal de ténias do antigo tamanho do Malato. Já imaginei o que seria se o bacalhau fosse como frango. Se em minha casa já há discussão por causa da posta alta e posta baixa, o que seria se o bacalhau viesse só com duas pernas?! Haveria feridos. E lá ficavam os miúdos com as asas do bacalhau. Em minha casa, o bacalhau vem com tudo. E, quando eu digo com tudo, inclui duas norueguesas vestidas com couve, por causa dos dentes do avô. Eu gosto do meu bacalhau com arroz doce. Assim, salto logo para as prendas.
No meu Natal, também costuma haver canja de peru com massa de letras. É um clássico. Dá trabalho mas, com a colher, consigo mandar alguns dos meus familiares para sítios porreiros sem eles darem por isso.
Também é tradição haver uma coisa que é - a travessa de carnes frias. As mais fascinantes carnes frias são as mortadelas com chocapic de azeitonas em pickles. Parecem uma rodela, cortada, fininha, de uma perna de uma senhora com varizes. Não sei quem foi que se lembrou de decorar rodelas de porco com mais comida, mas é de certeza alguém que, na infância, comia sandes de banha com rodelas de ketchup. E deve ser a mesma pessoa que se lembrou de deitar confettis em cima de broas. Irritam-me estas pessoas que gostam de alterar o que estava bem. Têm sempre que adicionar mais qualquer coisinha. Como aqueles que põem fios de ovos à volta do bolo-rei. O bolo-rei é uma coisa de homem, maciça, não é para estar a juntar cenas da Accessorize.
Sinceramente, não tenho assim muito mais para vos dizer. Só de estar aqui nisto, já fiquei com um ratito no estômago. Felizmente, ofereceram-me uma fatia dourada para cama de casal e já não fico a seco até mais logo quando for buscar o peru. O peru é um bicho que comemos mais por causa do tamanho do que pelo sabor. É só porque é um bicho que matava um frango com uma patada e, nos outros dias, comemos frango. Porque a carne do peru, propriamente dita, é uma coisa que sabe a beliche. Talvez por isso, recheiam-no de comida com sabor. Mais uma vez, acrescentam comida à comida. Não chega comer uma ave do tamanho - e peso - dos 2 netos mais novos, ainda lhe enfiam castanhas - e patés - onde antes estavam coisas que faziam falta ao peru para fazer um vida normal. Se o peru soubesse que, depois de morto, vai para a mesa com coisas que ele nunca comeu enfiadas no buxo, andava atrás de pavões enquanto era vivo. Que se lixe a fama se é para acabar assim.
Bom Natal para todos e para a outra meia-dúzia.
TOP 5 - Consoada
1.º -  Ronaldo sobre Irina: "Ela tem o que procuro: um corpo excepcional e a beleza" - é o mesmo que a Maria do Rosário Mattos e Associados procura numa advogada.
2.º -  O San Lorenzo de Almagro, equipa do Papa Francisco, sagrou-se campeã de futebol da Argentina - maldito sistema!
3.º -  Draghi: Ainda é cedo para saber quando é que Portugal sairá do resgate - mostrem-lhe o relógio do Portas!
4.º -  Swaps: Relatório do PSD responsabiliza gestores, Costa Pina e iliba ministra das Finanças - O relatório dos swaps é um swap.
5.º -  Galp comunica descoberta no poço do Pitu - Quim Barreiros rejubila.

Contramaré… 23 dez.

Enquanto centenas de milhares de emigrantes regressam a Portugal para passar o Natal em família, milhares de outros "fogem" do país à procura de emprego. Os números não param de aumentar.
Uma média de 333 portugueses estão diariamente a emigrar, de acordo com o INE. Em 2012, mais de 121.000 abandonaram o país, um novo máximo histórico. Há 46 anos que não se registava um valor tão elevado. Especialistas dizem que "a sustentabilidade do país está posta em causa, dado o inevitável agravamento do saldo já negativo de nascimentos [89.841, em 2012] face ao número de óbitos [107.612]".