(per)Seguidores

sábado, 8 de dezembro de 2012

Equilíbrio(?) sem rede e nós mais enredados…

A economia portuguesa já está em equilíbrio, afirma António Borges. A que é que se estará a referir? Provavelmente, ao quase equilíbrio da balança de transações correntes (BTC), estando nós a um ano de podermos deixar de contrair lá fora ainda mais dívida - dívida nova - do que aquela que já está acumulada. 
António Perez Metelo
Ora, seria este um indicador essencial para os credores externos verem que conscientes e responsáveis se tornaram os portugueses. Num ápice, decidiram passar a viver daqui para a frente com os montantes correspondentes à sua efetiva capacidade de produção. Estaria, assim, consumado o essencial do ajustamento prosseguido pelo programa de assistência: conseguir o encolhimento fulminante do nível de vida da maioria dos portugueses e habituá-los a ajustar as suas despesas ao novo padrão.
Mas poder-se-á, em boa verdade, falar em equilíbrio perante a situação que o país atravessa? A insuperável contradição da receita seguida com a troika conduz a que se tomem as medidas necessárias para empobrecer os ativos e os reformados, para limpar os balanços dos bancos do lixo que se haviam permitido acumular neles há vários anos, para reduzir o endividamento excessivo das empresas não financeiras - e, ao mesmo tempo, se pretende encetar um novo arranque produtivo no tecido económico, contra a força avassaladora contrária dos objetivos enunciados.
O resultado está no desempenho da economia e no reflexo negativo dele nas contas públicas - segunda meta essencial do programa de assistência: segundo a UTAO, a receita do Estado afasta-se mais, de mês para mês, dos objetivos, já de si revistos em baixa, e o resultado previsível do défice público em 2012 é o de se desviar, em termos efetivos, cerca de 3.000 milhões de euros do objetivo inicialmente fixado no OE 2012. O tal que não nos podíamos dar ao luxo de falhar custasse o que custasse...
Com um agravamento dessa ordem de grandeza na carga fiscal, pretende-se fazer em 2013 o que a economia não deixou que se fizesse em 2012. Mas volta a haver um efeito negativo sobre os produtores de riqueza: com nova retração do investimento, dita o simples bom senso, não há equilíbrio económico à vista, entendido como gerador de mais produto e mais rendimento e criador de novos postos de trabalho. Sem isso, os ganhos financeiros podem ruir como um baralho de cartas.
Já foi tempo em que via o mundo da economia pelas análises de Perez Metelo, mas desde que a crise se instalou, a frequente utilização do economês foi um sinal de que não queria ver a situação pelo prisma do cidadão comum...
Mesmo nesta análise, não é correto dizer que os portugueses decidiram passar a viver com proventos relacionados com a capacidade de produção do país, só porque foram obrigados a isso, pagando o que não era dívida de cada contribuinte e porque cada contribuinte só pode ser responsável pela sua própria produtividade e receber e viver de acordo, com a mesma liberdade e direito como vivem os ricos...
E a prova da imposição de um estilo de vista mais do que monástico, é referenciado pelo analista e imputado ao programa da troika, que o próprio duvida que se tenha conseguido o tal equilíbrio sentenciado por um tal Borge(a)s (que já mete nojo!):
Empobrecimento dos trabalhadores no ativo (redução de salários);
Empobrecimento dos reformados (confisco de subsídios de férias e Natal);
Limpeza do lixo da Banca acumulado há anos (transformando-o em dívida pública e a ser paga pelos contribuintes);
Redução do endividamento das empresas não financeiras (eliminando o crédito à economia);
E ir falando-se de crescimento (o que a realidade contraria).
Entretanto os objetivos enunciados iam (e vão) caindo um a um, com a receita do Estado a diminuir de mês para mês (evidentemente!)…
Conseguido o empobrecimento (fulminante) do país e dos portugueses (passo a passo) durante 2012, com a eliminação da economia, resta empobrecer ainda mais os cidadãos através de mais confiscos e impostos, demonstrando uma COMPETÊNCIA excecional deste governo para atingir os objetivos ocultos (que se semeia por toda a UE e principalmente pela Eurozona), sem qualquer efeito no investimento, nem na redução do desemprego, como se apontava (aos incautos ou inocentes)…
Realmente, o bom senso obriga a que Perez Metelo confesse, finalmente, que não há equilíbrio económico à vista (geração de mais produto, mais rendimento e novos postos de trabalho), o que financeiramente significa poder ruir tudo do pé para a mão…
Se “água o deu, água o levou”, pode-se dizer também que “a troika o emprestou, a troika nos levou”

Ecos da blogosfera – 8 dez.

Estão a enevoar o “Monte Branco”?

O nome do ex-ministro das Finanças fazia ontem a manchete de um jornal - o 'Sol'. Dizia assim: "Apanhado na rede" e informava que a "investigação do caso Monte Branco (...) apanhou um nome totalmente improvável". A fotografia de Medina Carreira era a maior mancha gráfica da primeira página.
Henrique Monteiro 
O ex-ministro e comentador reagiu com calma, dizendo que tinham ido a sua casa e ao seu escritório e nada tinham encontrado. Não ficou sequer como arguido.
Hoje, diversos jornais, entre os quais o Expresso, indicam que o nome de Medina Carreira seria um código usado na rede Monte Branco (e referente a outra pessoa), nada tendo a ver com a participação na rede do advogado e fiscalista que foi ministro das Finanças nos anos 70.
Vamos, pois, reconstituir a notícia: um nome aparece em documentos apreendidos num processo de investigação; a justiça naturalmente investiga e, aparentemente, chega à conclusão de que a pessoa a que corresponde esse nome nada tem a ver com o caso.
Pelo meio, alguém ligado à investigação, revela a um jornal o nome concreto que surgiu em documentos e o jornal espeta-o na primeira página.
Na verdade, como muito bem disse o visado Medina Carreira, não tem de haver aqui nenhuma conspiração ou cabala. Basta existir, como existiu, digo eu, um agente ligado à investigação completamente idiota ou tolo, uma jornalista que gosta de servir de eco a esse tipo de tolos e um jornal que publica qualquer coisa que lhe chegue sem tentar aprofundar, confirmar ou contrastar.
Gostava que houvesse uma investigação a sério e que, pelo menos, se soubesse quem é o agente tolo... porque a jornalista sabe-se que é costumeira neste tipo de andanças.
Digam lá agora se não é verdade que mais vale não haver segredo de Justiça. Ao menos, desse modo, ficaríamos com a história toda, contada por ambos os lados e não apenas com a versão do agente tolo e da jornalista eco. 

A cartelização (na Europa) compensa os "cartolas"…

Quer vendam cimento, televisores, eletricidade ou café, os grandes grupos preferem entrar em acordos entre si para inflacionar os preços – modelo de atuação conhecido por “cartel” – do que correrem os riscos de entrarem em concorrência. E apesar de essa prática ser ilegal, raramente são incomodados. Excertos.
Os respeitáveis empresários encontravam-se quase sempre nos congressos da federação dos profissionais de eletrónica, em Frankfurt. Faziam apresentações sobre novos mercados, novas tecnologias e outras novidades no setor dos transformadores de potência, dispositivos constituídos por grandes ímãs e bobinas, essenciais para qualquer fornecedor de eletricidade. Mas após o encerramento do programa oficial do congresso, tudo se tornava realmente mais emocionante, durante encontros informais ou excursões de grupo.
Aí, os diretores-gerais e os responsáveis de vendas encontravam-se em pequenos grupos, dizem os investigadores, para “trocas de informações centradas em projetos específicos", cujos frutos eram especialmente lucrativos. Concluíam acordos, garantindo aos pseudoconcorrentes lucros adicionais na casa das dezenas de milhões de euros. Os envolvidos acertavam detalhes de partilha dos contratos e, sobretudo, os preços a praticar.
Os funcionários do Gabinete Federal de Luta contra os Cartéis, em Bona, descobriram que, durante pelo menos 5 anos, o Grupo Siemens, a empresa Starkstrom-Gerätebau de Regensburg, a francesa Alstom e o gigante suíço de eletricidade ABB partilharam o mercado alemão de transformadores, anulando toda a concorrência, em prejuízo dos consumidores, forçados a pagar muito mais do que se os fornecedores disputassem os preços entre si. A investigação durou 4 anos, terminando, em setembro passado, com um conjunto de sanções financeiras. No total, as 4 empresas e os dirigentes envolvidos tiveram que pagar €24,3 milhões de multa ao Tesouro Federal alemão. Mas mais nada. Ninguém teve de responder em tribunal. Nenhum protagonista foi citado nominalmente. Fora umas notícias breves, a Comunicação Social não se alargou sobre o caso.
Falta de combatividade na luta contra cartéis
É quase sempre o que acontece quando os cartéis são apanhados na Europa. Todos os anos, as autoridades para a concorrência investigam centenas de empresas que violam a proibição de formação de cartéis. Café, detergentes, cimento e produtos químicos, ecrãs planos e leitores de DVD, janelas e cablagens elétricas para a indústria automóvel, até carros de bombeiros e camarões-tigre, a lista de setores envolvidos é quase infinita.
Na realidade, o custo do flagelo dos acordos entre grandes empresas é muito maior do que geralmente se julga. Com base na sua experiência, as autoridades para a concorrência concluíram que os cartéis aumentam em média 25% aos preços dos produtos; assim, em 4 anos, recolhem o equivalente ao seu volume de negócios anual. Obviamente, é impossível saber as quantias exatas. Afinal, estes acordos são "filhos das trevas", como diz Jürgen Franz Sacker, antigo juiz de cartéis e atualmente um dos principais especialistas em Direito da Concorrência, a lecionar na Universidade Livre de Berlim.
No entanto, uma equipa de 9 economistas de 3 institutos de investigação europeus, a trabalhar desde 2007 num estudo encomendado pela Comissão Europeia, concluiu que as perdas imputáveis a acordos europeus ascendem a mais de €260 mil milhões por ano. Ou seja, 2,3% do PIB anual na União Europeia ou 2 vezes o orçamento anual da Comissão Europeia.
A consciência do impacto devastador deste tipo de acordos não é de hoje. Um dos mais reputados teóricos da economia alemã, Walter Eucker, considerava a concentração do poder económico nas mãos de sindicatos e cartéis como a fonte de todos os males da economia de antes da guerra. Preconizava, portanto, que o Estado endurecesse a sua posição e obrigasse a que houvesse concorrência, para baixar os preços. Recomendações que não deram grandes resultados na vida real. Realmente, o Bundestag votou, em 1957, a primeira lei sobre restrições à concorrência, antes mesmo da introdução de uma legislação europeia “antitrust”, por via dos tratados comunitários. Mas, durante muitos anos, a luta contra os cartéis tem sido pautada por falta de combatividade e, ainda hoje, a sua eficácia é posta em dúvida.
Surto de condenações
Os dados sobre reincidência não contribuem em nada para aplacar a desconfiança. Economistas norte-americanos estudaram 283 casos de “trusts” internacionais. As conclusões são assombrosas. Só o grupo químico alemão BASF terá participado em 26 cartéis, entre 1990 e 2005. Quanto à petrolífera francesa Total, foi processada 18 vezes e a [química] alemã Degussa, 13 vezes.
Não podemos culpar os investigadores de falta de zelo. Desde o início de 2010, a Comissão Europeia esteve a trabalhar em 15 casos de grandes dimensões, em que 112 empresas foram condenadas a pagar multas num total de quase 4.000 milhões de euros. Ou seja, 4 vezes mais, no espaço de 3 anos, do que durante toda a década de 1990.
As causas deste surto de condenações não se prendem, contudo, com um empenho redobrado das autoridades competentes, mas mais com a introdução de regulamentação generosa relativamente às testemunhas-chave. Desde 2004, as empresas e dirigentes que denunciem um acordo de cartel e produzam as provas necessárias à Comissão Europeia não incorrem em qualquer penalidade, ainda que tenham sido eles próprios no passado os principais beneficiários desses acordos.
Acrescente-se a isso que as sanções financeiras foram limitadas a um máximo de 10% do volume de negócios. Uma gotinha de água, como evidencia o caso do cartel das cimenteiras alemãs, revelado em 2002. De acordo com os cálculos da autoridade da concorrência, terão espoliado os clientes em quase 2.000 milhões de euros. No entanto, as empresas em causa acabaram por pagar €400 milhões de multa.
Benevolência não é igual para todos
Apesar de causarem danos consideráveis, os “trusts” pagam multas dignas de violações das regras de trânsito. As suas ações são vistas como meras infrações. Resultado: nenhum dos autores é pessoalmente responsabilizado perante a justiça. Na maior parte das vezes, a opinião pública nem fica sequer a saber os seus nomes.
Já o mesmo não acontece nos Estados Unidos da América. Aí, a participação num cartel pode, há muito, dar uma longa pena de prisão. Em 2004, a pena máxima foi estendida para 10 anos de prisão efetiva. Irlanda e Grã-Bretanha seguiram o modelo norte-americano. A República Federal Alemã, por seu turno, nem quer ouvir falar nisso. O secretário de Estado Adjunto da Economia, Philipp Rösler, declarou que o seu ministro considerava o regime de sanções em vigor "adaptado" e tinha “reservas em relação à criminalização em matéria de cartéis pelo direito europeu".
Se a persistência da Alemanha em sancionar a ação de cartéis como simples pecadilhos levanta questões, na opinião de muitos advogados essa benevolência não é igual para todos. Os acordos em concursos públicos, chamados "licitações concertadas", são efetivamente punidos com dureza.
UE-Comissão Europeia - Sanção recorde contra o cartel dos ecrãs
Dia 5 de dezembro, “a Comissão Europeia decretou uma coima recorde de €1,47 milhões a sete empresas que acordaram a fixação de preços dos tubos catódicos para televisores e ecrãs de computador durante cerca de 10 anos”, desde finais de 1990, refere Le Figaro. O diário parisiense lembra que a Comissão Europeia fez buscas a essas empresas no final de 2007 e sublinha que se tratou “da maior coima cumulativa decretada pela Comissão Europeia em relação a um caso de cartel”.
As empresas sancionadas são a LG Electronics, a Philips, a Samsung, a Panasonic, a MTPD (atual filial da Panasonic), a Toshiba e a Technicolor. [...] A Chunghwa Picture Tubes, tailandesa, que revelou a existência desta aliança, não sofreu qualquer sanção.

Contramaré… 8 dez.

Marques Mendes criticou severamente as declarações contraditórias de Vítor Gaspar em relação às condições de empréstimo concedidas a Portugal pela troika. "Eu acho que ficava bem ao ministro das Finanças, em vez de andar a fazer dos outros parvos, dizer esta coisa muito simples: 'A União Europeia não considerou desejável para não nos comparar à Grécia', porque é até compreensível essa parte", acrescentando que "o que não lhe fica bem é fazer dos portugueses um conjunto de atrasados mentais que não são capazes de perceber as coisas”.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Depois de nomeados muitos “bosses for the jobs”?

O presidente da comissão que seleciona e recruta os funcionários públicos de topo, João Bilhim, já chumbou 10 dos 160 gestores sobre os quais o Governo pediu o parecer da Comissão de Recrutamento e Seleção da Administração Pública (CRESAP).
“Dos 160 pareceres sobre gestores públicos que já demos, não houve nenhum caso de nomeação de uma pessoa a quem eu tenha posto reservas, o que aconteceu em mais ou menos 10 casos”, disse o professor universitário que o Governo nomeou para gerir as contratações nos lugares de topo do Estado.
Nestes 10 casos, garantiu Bilhim, a última palavra foi da CRESAP. “Houve casos em que me chegou outro nome, houve outros em que o assunto não foi resolvido, noutro o conselho de administração tem menos essa pessoa sobre quem eu mostrei reservas”, contou o presidente da entidade, sublinhando que “o Governo não era obrigado [a seguir essa indicação], porque o parecer não era vinculativo”.
Criada em setembro deste ano, a comissão concluiu esta semana as primeiras 8 propostas de nomeação relativas aos concursos que tiveram, no total, mais de 100 candidatos para 7 vagas, sendo que cerca de 1/3 são “propostas vindas de fora da Administração Pública”.
Com a conclusão destes concursos ficam preenchidos 3 lugares na Secretária-geral da Presidência de Conselho de Ministros (Secretário-Geral e Secretários-Gerais Adjuntos), 3 na Agência para a Modernização Administrativa, I.P. (Presidente do Conselho Diretivo e Vogais do Conselho Diretivo) e 2 na Direção-Geral das Atividades Económicas (Diretor-Geral e Subdiretor-Geral), lê-se no site da CRESAP.
“É a primeira vez que se abre concurso para lugares de direção superior na Administração Pública, [porque] os diretores gerais, subdiretores gerais, presidentes de institutos públicos e vogais eram nomeados pelo Governo e agora há concurso”, no final do qual o Governo fica obrigado a escolher 1 dos 3 candidatos que são apresentados por esta comissão, explicou o presidente.
“Acabaram-se os jobs for the boys
A meritocracia passou a ser a regra nas nomeações de topo na função pública, assegurou João Bilhim, questionado sobre se a célebre frase do antigo primeiro-ministro António Guterres sobre ‘no more jobs for the boys’, referindo-se ao fim dos chamados tachos na Administração Pública, era agora uma realidade. “Ah, isso posso garantir. Eu tenho uma história de vida que fala por mim, e só sofre influências quem se põe a jeito, eu tenho 66 anos, não dependo disto, presido a um órgão que não pede nem recebe instruções do governo, e desde o princípio que disse que não sou influenciável.”
Além da introdução de critérios objetivos para a emissão de pareceres sobre as nomeações do Governo, que se regem por 12 alíneas (liderança, colaboração, motivação, orientação estratégica, orientação para resultados, orientação para o cidadão e serviços de interesse público, gestão da mudança e da inovação, sensibilidade social, experiência profissional, formação académica, formação profissional e aptidão para o cargo), a CRESAP lança também concursos para preencher as vagas de topo na Administração Pública, ou seja, diretores e sub diretores gerais, presidentes de institutos públicos e respetivos vogais.
João Bilhim admitiu, por exemplo, que “se fosse hoje não teria dado parecer” sobre a composição da administração do metro do Porto. “Numa manhã pediram-me parecer sobre 4 currículos. De acordo com a informação que lá estava, apresentámos reservas. Disse ao membro do Governo [do Ministério da Economia] que a comissão tem reservas porque não temos informação. Na altura, dei parecer, mas com reservas, e condicionado a receber mais informação. Mesmo assim não foi suficiente, e depois mandámos 12 perguntas à pessoa em causa, que foram respondidas de forma cabal”, contou.
“Conclusão? Um indivíduo honrado revê a sua posição se vê que está errado”, assumiu Bilhim.
Apesar de só estar previsto para depois de dezembro de 2013 a abertura de concursos para lugares de topo da Administração Pública, somos surpreendidos com esta antecipação de processo (setembro de 2012), o que é de louvar.
Pelo que nos é dito, das propostas do governo (160), das 10 rejeitadas pela CRESAP, nenhuma dessas pessoas foi nomeada, embora o Governo não fosse (seja) obrigado a seguir a indicação (ora bolas!), já que o parecer não era vinculativo e o Governo ainda fica com a possibilidade de escolher 1 dos 3 candidatos apresentados pela comissão, o que deixa ainda uma certa liberdade à escolha governamental… Mas é melhor do que dantes.
Mas quando se diz que a meritocracia passou a ser a regra (que não era!) nas nomeações de topo na função pública com a introdução de critérios objetivos (antes eram subjetivos!) para os nomeados pelo Governo, está-se a dizer que até agora, a coisa funcionou ao contrário, ou seja, o critério era o “amiguismo”, mais propriamente o partidarismo, confirmando-se o que se dizia à boca cheia, que a prática era a dos “jobs for the boys”, mais propriamente “jobs for the bosses”
Quando ouvimos da boca do presidente da comissão dizer que agora o “no more jobs for the boys” na Administração Pública seria uma certeza, dando como garantia a sua hombridade, parece que só isso não chega e ficam ainda no ar algumas reticências, porque é o próprio a confessar que “foi levado” (sabe-se lá por quem) sobre a composição da administração do metro do Porto…
Quererá dizer que a honestidade não chega e é preciso ser mais esperto do que os "chicos"?
Uma verdade fica confirmada, os nomeados pelo governo até agora (eventualmente) não são os que tinham mais mérito para o lugar, quod erat demonstrandum!

Ecos da blogosfera – 7 dez.

Naturalmente que todos precisamos, às vezes…

Quantas vezes já falou ou ouviu alguém dizer “hoje estou stressado”? O stresse é muitas vezes usado como justificativa para o mau humor ou até mesmo para a falta de sorte. Então que tal esquecer os calmantes químicos que podem causar dependência e tentar acalmar-se naturalmente?
Confira as 10 dicas que selecionamos, para ficar relaxado e pronto para enfrentar o dia a dia sem atropelos.
1. Maracujá
A fruta é o calmante mais popular, conhecida por combater o stresse e a insónia. Embora não esteja comprovado, acredita-se que aumenta os níveis de um produto químico chamado ácido gama-aminobutírico no cérebro, diminuindo a atividade de algumas células do órgão e fazendo com que se sinta relaxado.
2. Massagem
Relaxa os músculos tensos, reduz a dor e melhora a circulação, detalhes que podem fazer maravilhas para a mente.
3. Meditação
Guarde de 15 minutos a 30 minutos por dia para ir até um local calmo, fechar os olhos e relaxar. Deixe os seus pensamentos correrem soltos ou concentre-se apenas na sua respiração e tente não pensar em nada.
4. Exercícios físicos
Exercitar-se libera endorfinas, que nos deixam de bom humor e longe do stresse, além de evitar problemas de saúde, como obesidade e outros. Praticar uma atividade física regularmente dá a possibilidade de reservar um tempo para si e deixar os pensamentos fluírem, da mesma maneira que na meditação.
5. Organizando a vida
Ninguém gosta de viver no meio da desarrumação, não é? Independente se a desarrumação é externa, como uma casa suja e desorganizada, ou interna, como uma lista de afazeres enorme que nunca chega ao fim, o importante é tentar organizar-se. Estudos revelam que o simples facto de ver a desarrumação já nos deixa instáveis.
6. Alimente-se bem
Como já mencionamos, a ingestão de alguns alimentos podem melhorar o seu humor. Em especial, mirtilo (blueberry), salmão e amêndoa são os grandes vilões do stresse, enquanto a ingestão de cafeína em excesso pode deixá-lo nervoso e ansioso.
7. Desconecte-se
Deixe um pouco de lado o telemóvel e o computador e faça outra atividade, como ler um bom livro. Com os limites entre o trabalho e a casa cada vez menos definidos por causa da internet – afinal, basta abrir a sua caixa de email para lembrar o que foi deixado de lado durante o horário comercial -, desconectar-se te deixará mais calmo e evitará a insónia.
8. Vitaminas B
Opte por alimentos ricos em vitaminas B, como grãos de cereais, feijão, ervilha, nozes, fígado, ovos e produtos lácteos. Já foi comprovado que essas vitaminas promovem o funcionamento adequado do sistema nervoso e do cérebro, assim como ajudam a induzir o relaxamento e combater a fadiga. De facto, os indicadores de deficiência de vitaminas B incluem irritabilidade, depressão e apatia.
9. Aromaterapia
Óleos aromáticos de lavanda, cipreste e alecrim são conhecidos por aliviar o stresse e a fadiga, uma vez que a inalação dos aromas provoca o aumento do humor, reduzindo a ansiedade e auxiliando a concentração. Especialistas explicam que os cheiros podem estimular o sistema límbico, que, por sua vez, liberta substâncias químicas que afetam o cérebro, promovendo sensações de relaxamento, calma, amor e emoção.
10. Dormir
Além de ser importante para o seu cérebro, uma boa noite de sono evita o stresse e a depressão. Evite realizar atividades físicas 3 horas antes de dormir, tome um bom banho quente e opte por alimentos ricos em triptofanos, como carboidratos, banana, amendoim, figo e leite.

As REGIÕES poderão subsistir contra os IMPÉRIOS?

Catalães, escoceses, flamengos… Chegou a vez de a Europa Ocidental ser tentada pelas sereias do separatismo. Para o ensaísta búlgaro Ivaïlo Ditchev, a coberto da defesa da sua identidade, os novos nacionalistas entrincheiram-se, como os senhores feudais, por trás do seu bem-estar económico.
Para compreendermos os movimentos separatistas europeus dos últimos 20 anos, proponho que procedamos à seguinte simulação.
Lança-se a ideia de uma autonomia substancial de Sófia, a capital búlgara, com o objetivo final de a separar do território nacional. Para tal, mobilizamos uma brigada de historiadores mediáticos para provar – por exemplo – as raízes celtas da cidade que ficou sob o jugo de invasores do Norte, responsáveis pelo massacre de milhares de cristãos pacíficos e inocentes. A História é vasta e os temas não faltam! A independência de Sófia do resto do país, economicamente muito menos desenvolvido, conduz automaticamente ao aumento da prosperidade dos seus habitantes – de 37% da média europeia, os seus rendimentos passam para os 70% e, com a exclusão hábil dos bairros ciganos da cidade, mesmo para os 100%. Só nos falta proclamar que a nossa capital é "o Luxemburgo dos Balcãs". Fácil!
Seria o mesmo se, um dia, a cidade de Munique começasse também a querer libertar-se do "jugo" alemão; idem para Londres. Neste caso, os rendimentos dos seus habitantes atingiriam números astronómicos: de 300% da média da UE para uns, e 600% para os segundos!
Interesses motivam sede de independência
O que pode impedir os ricos de se libertarem do peso dos seus compatriotas mais pobres? Recordemos que, quando da queda do Império Otomano, os Balcãs mergulharam numa crise que durou várias décadas. Ao longo de todo o século XIX, por exemplo, a economia grega dependeu de transfusões dos grandes bancos internacionais – exatamente como hoje. Das ruínas do Império Austro-Húngaro nasceu um pequeno país rural, provincial e folclórico – a Áustria. No tempo do seu esplendor, estas entidades possuíam vastos territórios controlados pelo Estado central – uma fonte de matérias-primas e de mão de obra à qual, em troca, a indústria vendia os seus produtos. Um intercâmbio que requeria uma boa dose de solidariedade: os ricos dedicavam uma parte dos seus rendimentos para instruir os seus futuros empregados, construir estradas, defender as fronteiras do país. Tudo isto deixou de se aplicar à situação de hoje: se declarar a independência, Sófia não terá este tipo de preocupações. A economia é agora global e a segurança é garantida pela Aliança Atlântica. Em vez de comprar tomates em Plovdiv (Sul), a cidade poderá comprá-los em Esmirna (na Turquia); em vez de contratar motoristas de autocarro em Vidin (Norte), poderá empregar indianos de Nova Deli.
Mesmo que fantástica, a construção identitária tem a sua importância – é certo. Mas é sobretudo um meio, na luta pelo poder e pelos recursos económicos. Ao contrário de Sófia, a Catalunha tem realmente uma história milenar, uma cultura e até uma língua próprias. Mas o argumento mais sério dos independentistas continua a ser o facto de esta região ser sensivelmente mais rica que o resto de Espanha: os separatistas conquistam a simpatia dos eleitores, graças à sua recusa de pagar para os outros. Em comparação, os independentistas bascos, que não hesitam em recorrer à força e ao terror, parecem muito mais determinados na sua luta contra Madrid. Mas a sua independência parece-me muito mais distante que a dos seus compatriotas catalães pela simples razão de que são muito mais pobres. O discurso é mais ou menos o mesmo na Escócia, que se prepara para organizar um referendo sobre a independência, daqui a 2 anos. Também ali, temos uma história antiga, diferenças culturais e as marcas do imperialismo britânico – em suma, todo o arsenal de identidade necessário para apoiar este movimento de separação. Mas será que esta sede de independência seria a mesma, se não tivessem sido descobertas no Mar do Norte jazidas de petróleo que poderão fazer da Escócia uma segunda Noruega – um país que, por outro lado, se recusa obstinadamente a aderir à UE? Em comparação, o nacionalismo irlandês é mais antigo, feroz mesmo. Contudo, a maioria dos irlandeses do Norte tem-se pronunciado regularmente contra a independência.
Uma lógica neoliberal destruidora
Os flamengos da Bélgica pedem igualmente a independência por causa do empobrecimento dos seus compatriotas valões, nos anos 1970. Talvez a única coisa – tirando o Rei, a cerveja e o futebol – que faz com que este simpático pequeno país continue a existir seja a cidade de Bruxelas, que as duas entidades não conseguem dividir entre si. Por outro lado, o processo de desintegração está bastante avançado e a maior parte dos belgas que conheço habituou-se à ideia de, um dia, assistir ao desaparecimento do seu país. Em contrapartida, o nacionalismo corso, muito mais barulhento, tem muito menos hipóteses de chegar a algum lado, pois é pouco provável que a população da Ilha da Beleza (onde, todos os anos no verão, são incendiadas moradias do "intruso francês") renuncie aos generosos subsídios e vantagens proporcionados pela metrópole.
Por que motivo a Europa Ocidental sucumbe, por seu turno, aos separatismos e à desintegração que se verificam no Leste do continente? Será preciso procurar esse motivo na política irresponsável dos regionalismos pregada pela UE? Essa política tinha por objetivo enfraquecer os Estados nacionais em proveito de Bruxelas. A ideia falhou, porque os Estados enfraqueceram realmente, mas Bruxelas enfraqueceu ainda mais.
Em meu entender, a principal razão da desintegração dos territórios nacionais é a lógica neoliberal, para a qual o lucro económico imediato continua a ser o critério único e universal. E é por isso que um país, uma região ou mesmo uma cidade se tomam por empresas e agem de maneira egoísta no mercado mundial. O aspeto visível deste processo é o endurecimento do discurso identitário, que se torna mais agressivo ou mesmo fascizante. Britânicos cada vez mais antieuropeus, alemães que não querem pagar pelas extravagâncias dos gregos… O novo nacionalismo é defensivo e, para além dos símbolos, exprime o desejo de um pequeno grupo de ricos de se entrincheirarem atrás das muralhas do seu castelo, abandonando os outros à sua sorte. Bem-vindos à Idade Média!
Muita tinta irá por certo correr ainda sobre todos estes assuntos. Mas não esqueçamos as lições da História: enquanto a Europa regressa ao feudalismo, os grandes impérios vão de vento em popa. Foi o que aconteceu com a Sublime Porta, e é o que continua a acontecer hoje com a China e os Estados Unidos.

Contramaré… 7 dez.

O presidente da República defendeu que Portugal deveria ver reduzida a comissão que paga pelos empréstimos europeus e ter um alargamento do prazo de reembolso, apesar de viver uma situação muito diferente da Grécia. "A vida na União Europeia é uma negociação permanente e eu sei isso por experiencia própria, as negociações são às vezes muito, muito difíceis, mas nós não podemos desistir. Por isso há interesses que Portugal, independentemente da situação da Grécia não pode deixar de continuar a defender", afirmou.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Ainda há um alemão (sem poder) com alguma lucidez!

"A austeridade só não é suficiente para resolver a crise. A austeridade asfixia as economias e em Portugal isto já está a acontecer", alertou o antigo chanceler alemão, Gerhard Schröder.
O ex-chefe de Estado, do SPD (centro-esquerda), foi o orador principal da 15ª conferência da consultora Cunha Vaz, em Lisboa. Na intervenção fez eco das palavras do ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, que defendeu a primazia das políticas voltadas para o crescimento e uma menor ênfase na austeridade.
Schröder lembrou que a pressão sobre as contas públicas também se deve aos erros passados do sector financeiro. "É preciso lançar programas para o crescimento. As receitas com a taxa sobre as transações financeiras, que eu apoio, deve servir para financiar essa estratégia. Parece-me razoável que os que causaram a atual crise contribuam agora para a recuperação", disse o advogado a uma plateia com banqueiros e muitos profissionais do sector financeiro.
O ex-chanceler insistiu que os Orçamentos dos Estado ficaram "sobrecarregados com o impacto da crise financeira" e enumerou que são necessárias mais reformas em países como Portugal, como aquelas que a Alemanha fez no período de 2000 a 2005 (agenda 2010), sob o governo do próprio Schröder. "Essas reformas lançaram as fundações do atual crescimento económico da Alemanha". "A inovação, a modernização produtiva, a orientação da Alemanha para a indústria e para as pequenas e médias empresas é algo de crucial nesta agenda", disse.
"A existência de acordos salariais flexíveis e de moderação salarial" e "a capacidade de manter  trabalhadores qualificados nas empresas mesmo em tempo de recessão" foram outros aspetos realçados pelo alemão.
Schröder falou ainda do "impacto do envelhecimento demográfico nos sistemas de Segurança Social". "É preciso um reajustamento dos sistemas. Na Alemanha subiu-se a idade legal de reforma para os 67 anos", exemplificou.
Se se pode falar de lucidez sobre as ideias de Schröder, é só sobre o que diz acerca da austeridade e dos seus efeitos, não só na economia, mas sobretudo nas consequências no tecido social e na vida pessoal de cada cidadão.
Se por um lado, se o próprio reconhece como razoável (devia dizer lógico) que os que causaram a atual crise devem contribuir para a recuperação, devia antes dizer que deviam ser apenas eles a resolver, exclusivamente, o problema que criaram!
Por outro lado, a apologia às “reformas” que fez em tempo oportuno, também elas contem um certo grau de austeridade, que apenas impediram mais austeridade nos tempos atuais.
Mas convém também ter consciência de que a AUSTERIDADE, que ele condena, só por si, ela passa exatamente pelos acordos salariais flexíveis e de moderação salarial (baixa de salários imposta) pelo impacto do envelhecimento demográfico nos sistemas de Segurança Social, que não pode passar pelo “reajustamento” do sistema, subindo-se a idade legal de reforma para os 67 anos… Isto sem falar no encurtamento no tempo e na eliminação de subsídios sociais, nos impostos exorbitantes, desiguais e inversamente proporcionais às “regalias” a que dão direito, na redução do comércio interno, na restrição de crédito às empresas levando à eliminação das mesmas e no desemprego galopante e calculado (embora se fale de surpresas)…
Claro que a inovação, a modernização produtiva, a orientação para a indústria e para as pequenas e médias empresas é crucial numa agenda de inversão do processo para o crescimento. Mas, para além da força das palavras de quem tem autoridade para o fazer, pelo que fez, faltou-lhe falar de solidariedade, que foi o que não faltou, quando a Alemanha precisou dela, após a queda do muro…
Austeridade? Chega! Solidariedade? q.b.! Crescimento? Já!
Se não, é só paleio para conferência, do que já estamos fartos e nos asfixia…

Ecos da blogosfera – 6 dez.

Um arquiteto/cidadão, que perseguiu a utopia…

Igreja de Pampulha
O brasileiro Oscar Niemeyer, figura maior da arquitetura internacional, morreu durante a noite de quarta-feira (05-12-2013) no Rio de Janeiro (23h55 em Lisboa), a 10 dias de perfazer 105 anos de idade.
Com o desaparecimento do criador das linhas mais icónicas da futurista Brasília, resumiu nas últimas horas a ministra brasileira da Cultura, Marta Suplicy, o país tropical perde “um dos seus grandes” e um “exemplo para a humanidade”.
A Presidente Dilma Rousseff propôs que o velório se realizasse no Palácio do Planalto, uma criação do arquiteto que “sonhou uma sociedade igualitária”.
“Eu acho que o arquiteto não se pode limitar à arquitetura. Passei a vida inteira debruçado na prancheta, mas guardei um tempo para pensar melhor, pensar nos que sofrem, nos explorados, nesse Brasil tão difícil de se viver” – Oscar Niemeyer fazia assim a súmula do seu pensamento em 2000, numa conversa com o jornalista da Antena 1 Ricardo Alexandre.
“Nestes momentos de pausa e reflexão é que me permito dizer que a vida é mais importante do que a arquitetura. Que, um dia, o mundo será mais justo e a vida o levará a uma etapa superior, não mais limitada aos governos e às classes dominantes, atendendo a todos, sem discriminação”, escrevia Oscar Niemeyer num texto publicado a 16 de julho de 2006 pela Folha de São Paulo, com o título “Conversa de arquiteto”.
No momento de render uma primeira homenagem após a morte de Niemeyer, a Presidente brasileira evocou a aguda consciência social e política do arquiteto, os laços com o comunismo e a “invariável revolta” contra a injustiça e a desigualdade: “Da sinuosidade da curva, Niemeyer desenhou casas, palácios e cidades. Das injustiças do mundo, sonhou uma sociedade igualitária. A minha posição diante do mundo é de invariável revolta, dizia. Uma revolta que inspira a todos que o conheceram”.
“A curva livre e sensual”
Catedral de Brasília
Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares nasceu a 15 de dezembro.
Em 1929 entra para a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Obterá em 1934 o grau de engenheiro e arquiteto, trabalhando, depois, no gabinete dos arquitetos Carlos Leão e Lúcio Costa. Ali fará parte da equipa responsável pelo projeto do Ministério da Educação e Saúde.
No início da década de 40, por indicação de Juscelino Kubitschek, então à frente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Niemeyer assina a primeira das suas obras mais marcantes, o Conjunto de Pampulha.
A filiação no Partido Comunista Brasileiro acontece em 1945. Receberá um convite, no ano seguinte, para lecionar na Universidade de Yale. Mas é-lhe negado o visto de entrada nos Estados Unidos. Em 1947, porém, acabará por integrar a comissão de arquitetos incumbida do projeto da sede das ONU, em Nova Iorque – a proposta traçada por Niemeyer e pelo arquiteto franco-suíço Le Corbusier servirá de ponto de partida para a construção do edifício. Nas décadas seguintes viajará ciclicamente para países da esfera soviética, forjando amizades com vários dirigentes políticos.
Ao longo dos anos de 1950, assinará obras como o parque Ibirapuera e o edifício Copan, em São Paulo. E à frente do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Novacap, titular do projeto de Brasília, moldará sobre o estirador a futura capital federal. De 1957 a 1958 projeta edifícios como os palácios da Alvorada e do Planalto. Brasília nasce em abril de 1960 para se tornar um farol da moderna arquitetura.
Niemeyer é apanhado de surpresa pelo golpe militar no Brasil. Estava fora do país. Será chamado a prestar depoimento no regresso. Impedido de trabalhar pela ditadura, muda-se para Paris em 1966. Na capital francesa abre um ateliê de arquitetura e assina os projetos da sede do Partido Comunista Francês e do Centro Cultural Le Havre, hoje Le Volcan. Em 1970 demarca-se da Academia Americana de Artes e Ciências em protesto contra a guerra no Vietname.
Amnistiado, regressa ao Brasil no início da década de 80. Entre 1990 e 2000 mantém uma produção constante, vendo inaugurados o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e o Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Em 2003 haverá um pavilhão de exposições criado pelo arquiteto brasileiro na galeria Serpentine, em Londres.
8 anos depois, é inaugurada a sua primeira obra em Espanha, o Centro Cultural de Avilés – a crise económica e desentendimentos entre o poder político local e a gestão do Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer levam a que o complexo seja encerrado ao fim de 9 meses, no dia do 104.º aniversário do arquiteto; as portas foram reabertas em meados de 2012.
Em julho de 2006, Oscar Niemeyer escrevia na secção “Tendências/Debates” da Folha de São Paulo: “Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida”.
Oscar Niemeyer foi distinguido com o Prémio Pritzker, nos Estados Unidos, em 1988. Recebeu também o Leão de Ouro da Bienal de Veneza em 1996.
O arquiteto é responsável por obras tão notáveis como o Museu do Cinema e o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, no Rio de Janeiro, o Sambódromo, na mesma cidade, o Memorial da América Latina, em São Paulo, ou a Universidade de Constantine, na Argélia.
Em Portugal foi responsável, em 1966, pelo primeiro projeto do Pestana Casino Park, no Funchal, que seria alterado por Viana de Lima, um dos seus colaboradores. Projetou ainda uma urbanização no Algarve em 1965. Que nunca foi concretizada. Assim como o edifício-sede da Fundação Luso-Brasileira, esboçado em 1990.

Por cá, o Poder vai moldando as atitudes de um povo

Ao escolherem Pier Luigi Bersani, do Partido Democrático, como candidato do centro-esquerda a primeiro-ministro, os eleitores italianos contrariaram a ideia de que a crise da zona euro está a destruir o sistema tradicional de partidos políticos, na Europa do Sul.
Pier Luigi Bersani, de 61 anos, é um ex-comunista originário da classe trabalhadora, que, nas eleições primárias de domingo, contou com o apoio da sua fiel base sindical para derrotar Matteo Renzi, presidente da Câmara de Florença e seu opositor, de 37 anos.
As sondagens indicam que o Partido Democrático conta com um apoio nacional de 30%, bem à frente dos seus rivais, pelo que Bersani parece bem colocado para vir a ser primeiro-ministro de um governo de coligação de esquerda, depois das eleições legislativas, previstas para março.
Contudo, tanto em Itália como em toda a zona do Mediterrâneo, a posição dos partidos tradicionais é mais confusa do que o sucesso de Bersani tende a indicar. A evolução mais significativa da política italiana continua a ser a desintegração das forças de centro-direita, que dominaram a cena nacional desde 1994. O partido Povo da Liberdade, do antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, em tempos conhecido como Forza Italia, regista um recuo acentuado. Boa parte da sua base de apoio está a transferir-se para o idiossincrático Movimento Cinco Estrelas, do humorista Beppe Grillo.
Contudo, os atrativos da destruição da política têm os seus limites, mesmo num país como a Itália, onde as elites partidárias estão desacreditadas por terem arrastado o país para a beira do desastre financeiro. Imediatamente a seguir à II Guerra Mundial, irrompeu na cena política um partido “antiestablishment” conhecido como Uomo Qualunque (Homem Comum), que obteve mais de 1.000.000 de votos nas eleições de 1946 e 1948 e cerca de duas dezenas de assentos no parlamento.
Uma força esgotada
A verdade é que o “qualunquismo” desapareceu quase tão rapidamente como tinha aparecido, varrido pelos democratas cristãos, à direita, e pelos comunistas, à esquerda. A questão é se o movimento de Beppe Grillo sobreviverá ao ressurgimento inevitável do centro-direita italiano, depois de Berlusconi finalmente desistir.
A Grécia representa o exemplo mais claro do colapso da ordem estabelecida. Até à crise da dívida de 2009, a política tinha sido controlada por dois partidos, desde o fim do regime militar, em 1974: o conservador Nova Democracia e o socialista PASOK. Mas, nas eleições gerais de há 6 meses, a votação combinada desses dois partidos mal chegou aos 42%.
O PASOK, em especial, com apenas 12,3%, parece uma força esgotada. Os eleitores transferiram-se em massa para o Syriza, uma alternativa mais explicitamente de esquerda. No entanto, além do facto óbvio de que o eleitorado estava a expressar a sua cólera pela descida da Grécia ao abismo, uma das razões pelas quais se deu a fuga de apoios dos partidos tradicionais residiu no facto de estes terem muito menos benefícios a oferecer em troca dos votos.
Os sistemas de partidos construídos em Espanha e Portugal, após as transições democráticas dos anos 1970, estão, para já, a resistir melhor do que na Grécia. A nível nacional – embora não a nível regional em Espanha – a competição é, em larga medida, entre um grande partido, à direita, e um grande partido, à esquerda. A mudança é travada pela natureza altamente centralizada destes partidos e pelo poder das lideranças partidárias para escolher candidatos às eleições, sem o contributo dos membros comuns do partido ou dos eleitores.
Apoio a Rajoy em queda livre
No entanto, existem algumas diferenças entre Espanha e Portugal. Apesar de os índices de popularidade do primeiro-ministro de centro-direita, Mariano Rajoy, estarem em queda livre, os cidadãos espanhóis não dão mostras de gostar mais do líder da oposição socialista, Alfredo Pérez Rubalcaba. Mesmo entre os eleitores do seu próprio partido, verifica-se uma espantosa ausência de convicção de que Rubalcaba governaria mais eficientemente a Espanha do que Rajoy.
A Espanha apresenta algumas condições essenciais para uma reformulação do sistema de partidos, mas isso parece ser menos verdadeiro no caso de Portugal. Ali, os sociais-democratas (centro-direita), no poder, e os socialistas, na oposição, mantêm a capacidade de moldar as atitudes de um povo que parece quase sempre mais passivo a nível político do que os seus primos espanhóis. Em 1975, quando se realizaram em Portugal as primeiras eleições livres em 5 décadas, a afluência foi de 92%. Mas, nas eleições gerais do ano passado, foi de 58%.
É desanimador pensar que, mesmo num período de crise, os jovens nascidos numa sociedade democrática votam menos do que os seus pais, que viveram diretamente o autoritarismo.
França - Caos no partido de Sarkozy
Le Figaro, o grande diário conservador, qualificou a situação como “suicídio em direto”. Desde 18 de novembro, o UMP (União para um movimento popular) desfaz-se abertamente. Nesse dia, os militantes votaram para eleger o presidente do partido do antigo Presidente francês Nicolas Sarkozy. Mas o resultado foi muito renhido e os 2 candidatos em competição acusam-se mutuamente de fraude.
Jean-François Copé, atual secretário-geral, foi eleito vencedor por 2 comissões internas. François Fillon, antigo primeiro-ministro de Sarkozy, contesta o resultado e criou um grupo dissidente na Assembleia Nacional. Chamados como reforço, tanto o antigo primeiro-ministro Alain Juppé como Sarkozy não conseguiram resolver a situação, que está agora nas mãos da Justiça, à qual Fillon recorreu.
Devemos associar esta história exemplar ao que se vê emergir um pouco por todo o lado: regimes “pós-democráticos”, onde o escrutínio não passa de um pretexto e onde o verdadeiro poder está nas mãos de outras pessoas, estima o jornalista Philippe Thureau-Dangin em Le Monde:
O politólogo britânico Colin Crouch analisou este fenómeno no início dos anos 2000, explicando por que motivo, pouco a pouco, os interesses privados e o poder dos lóbis financeiros, mediático e outros, retiravam todo o sentido e alma à democracia, algo que também acontece na Europa (o filósofo Jürgen Habermas considerou a chanceler Angela Merkel pós-democrata). Neste universo pós-democrático, os políticos têm dificuldade em respeitar a separação dos poderes. Acabaram-se os golpes de Estado, entramos numa era de ataques permanentes.

Contramaré… 6 dez.

O ministro das Finanças anunciou uma redução nos impostos para as empresas a partir de abril de 2014 e para os particulares já em 2013. Porém, esta medida não beneficiará os bancos, cujo imposto especial sobre os rendimentos do setor aumentará 0,13% para o próximo ano.
George Osborne anunciou aumentos de 1% em apoios sociais, de 2,5% nas pensões mais baixas e o cancelamento do aumento no imposto sobre combustíveis para 2013. Por outro lado, agravou em 1% a carga fiscal do escalão mais elevado dos contribuintes a partir de 2014, mas aliviará nos escalões mais baixos já a partir de 2013.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Não andam, crescem como cogumelos, venenosos…

Portugal é um país corrupto? Bem, é mais do que devia, mas menos do que a maioria dos países. Isto é quase um slogan, mas é a mais pura das verdades. Estar em 33º lugar é mau, porque se está ao nível do Butão e do Porto Rico; é menos mau, porque ainda assim se está acima de muitos países da Europa, como a Itália, a Grécia, a República Checa, etc.
A verdade é que os portugueses acham o seu país, provavelmente, ainda mais corrupto do que ele é. E têm razão para isso. Porque as leis não são claras, porque quase ninguém vai preso (alô, alô, presidente Isaltino Morais), porque há gente que fica subitamente rica sem se perceber como. Mas convém lembrar uma coisa: a maior parte da corrupção deve-se à falta de autoridade do Estado, ao facto de este estar capturado por corporações que também cativaram os partidos políticos. Sempre que se fala em PPP ou em privatizações, muita gente se atira aos privados como se fossem eles a causa da corrupção. Não são. Ainda que muitos sejam corruptores, toda a fonte de corrupção está na forma como o Estado se relaciona com a sociedade. O crime de corrupção, aliás, só existe nos setores que vivem ou dependem de dinheiros públicos.
A mim preocupa-me que a diplomacia económica portuguesa tenha, nos últimos anos, e independentemente dos Governos, apostado tanto em países como a China, Angola e a Venezuela. Vejam o ranking que se publica aqui : a China está em 80º lugar; Angola é o 157º e a Venezuela o 165º. Em 174 países isto pode ter um significado. Portugal não está a tentar fazer negócios com os países mais reprodutivos, mas com aqueles onde é mais fácil ir buscar dinheiro e lavá-lo por cá. Será isso?  
Leis mais claras, justiça mais célere e implacável e opinião pública mais exigente. Só assim saberemos onde andam, verdadeiramente, os corruptos. É aliás esta a combinação dos países com menos corrupção no mundo.
Henrique Monteiro