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sábado, 24 de março de 2012

E insistem, insistem! Mas “NÃO, OBRIGADOS”!

A Cimeira da Indústria Nuclear 2012, que reúne mais de 200 representantes do setor, arrancou em Seul, com um apelo à colaboração entre grupos privados e governos para garantir o uso seguro da energia atómica.
Durante a sessão inaugural deste encontro o diretor-geral da Associação Nuclear Mundial salientou que o êxito de uma estratégia política internacional para elevar a segurança nuclear "dependerá do papel essencial desta indústria".
O responsável por aquela organização, que representa as empresas responsáveis pela produção de 90% da energia nuclear do planeta, salientou que os principais desafios da indústria passam por prevenir que materiais perigosos caiam em mãos terroristas e promover-se a proteção ambiental com o uso seguro da energia atómica.
O presidente da Associação Mundial de Operadores Nucleares (WANO), fundada após o acidente de Chernobil em 1986, destacou a importância de se prevenir desastres como o da central japonesa de Fukushima e garantiu que a indústria nuclear "é mais sólida e segura depois de Fukushima" graças à cooperação da WANO com a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) para otimizar as medidas de segurança nas centrais como os parâmetros da segurança nuclear em geral.
No âmbito deste encontro, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, destacou em comunicado a necessidade de fortalecer o Estado de Direito e aplicar de forma "mais eficaz" os instrumentos jurídicos internacionais para enfrentar a ameaça do terrorismo nuclear.
E lá vem, mais uma vez, o lobby da Indústria Nuclear, manhosamente, “virar o bico ao prego”, pregando a necessidade de colaboração entre os grupos privados e os governos (para reforçar os laços do lobby) para garantir o uso seguro da energia atómica (não só na produção de eletricidade) colando-se assim ao “combate” ao terrorismo, classificando como principais desafios da indústria prevenir que materiais perigosos caiam em más mãos, para esquecermos as fragilidades, os custos e as mortes causadas pelas Centrais Nucleares de energia elétrica.
Não deixa de ser curioso que se refiram à necessidade de uma estratégia política internacional para elevar a segurança nuclear das Centrais, o que prova que afinal não há mesmo segurança, contrariando os argumentos dos que entre eles afirmam que o Nuclear é mais do que seguro. Em que ficamos? E a história não conta?
É de chamar a atenção para a manhosice da notícia, quando refere que as empresas presentes na Cimeira são responsáveis pela produção de 90% da energia nuclear do planeta, repetindo que se refere a 90% DA ENERGIA NUCLEAR, que representa apenas cerca de 17% DA ENERGIA ELÉTRICA EM TODO O MUNDO e com tendência a descer até acabar...
Mais curioso ainda é a preocupação dos industriais do nuclear em promoverem a proteção do ambiente com o uso seguro (confirma-se a insegurança) da energia atómica, ambiente que tem sido ferido várias vezes com o nuclear e que está ameaçado constante e indomavelmente.
E por isso, o acidente de Chernobil levou à criação da Associação Mundial de Operadores Nucleares (WANO), para prevenir desastres idênticos, como aconteceu na central de Fukushima, mas pelos vistos não valeu de nada, nem valerá qualquer renovada promessa que façam, porque não tem garantias a dar e o que querem é “o deles”…
O planeta, o ambiente e os seus habitantes que se fundam, a quente ou a frio, mas a resposta ha de ser sempre a mesma: “Não, Obrigado!”

Reflexão do Relvas… 24 mar.

Miguel Relvas afirmou hoje estar no Congresso  do PSD também para ouvir eventuais críticas de militantes ou autarcas às  reformas do Governo, mas salientou que o executivo está "a governar para  o país" e não para o seu eleitorado. "Eu aceito todas (as críticas), nós estamos a governar para o país,  não estamos a governar só para os autarcas, por quem tenho muito respeito,  deixe-me aliás dizer que a maioria dos autarcas portugueses são bons autarcas,  excelentes autarcas, com boa governação nas suas câmaras, mas nós não estamos  a governar para o eleitorado do PSD, estamos a governar para o país, é essa  a nossa exigência", frisou o social-democrata. 
O ex-dirigente do PSD sustentou que "são medidas que numa primeira fase são difíceis de aceitar" e que por "ter razão antes do tempo na nossa cultura,  e na nossa sociedade, muitas vezes se paga um preço"

Contramaré… 24 mar.

A cada semana que passa, o Governo cria um novo grupo de trabalho. Tem sido sempre este o ritmo do actual Executivo desde que tomou posse, há 8 meses, que já nomeou 43 grupos de trabalho. Passos Coelho fez questão de anunciar, quando foi eleito primeiro-ministro, que queria fazer um Governo pequeno. Mas o choque com a realidade fez com que os ministros tenham sentido necessidade de pedir ajuda a vários especialistas.

Não tenhamos vergonha! Mas alguém ha de ter…

Portugal visto de fora: “RAI Tre” mostra o país da pobreza e das desigualdades, dos desalojados às casas de luxo, dos hospitais sem medicamentos e dos salários em atraso. O Negócios participa na reportagem da televisão italiana, em que Mário Soares acusa a Alemanha de se esquecer de duas guerras mundiais que provocou. Retrato de um país entristecido.
“Presa Diretta” é um programa semanal de reportagem de grande audiência da estação italiana “RAI Tre”. Esta semana, o programa incluiu uma reportagem em Portugal, que a jornalista Lisa Lotti visitou no início deste mês, visitando praças, a Feira da Ladra, restaurantes, lojas de ouro, Alfama, casas de pobres, casas de ricos, hospitais, os escritórios de Mário Soares e também a redação do Negócios.
“A feira da ladra será o último negócio a falir em Portugal”, diz um feirante. A reportagem reúne testemunhos de pobreza, de austeridade, de fábricas vazias na margem sul do Tejo, da fila enorme para pedir subsídio na Segurança Social, de cantinas, do Banco Alimentar contra a Fome, dos salários em atraso de quem, assim, não paga a renda e será despejado. “Há em Portugal mais de um milhão de famílias em risco de perder as suas casas”, diz Romão Lavadinho, presidente da Associação de Inquilinos Lisbonense. É, também, o retrato da desigualdade, “dos portugueses riquíssimos”, das moradias de luxo de Cascais e da Quinta da Marinha, dos campos de golfe. 
Hospitais sem dinheiro
No Hospital de Santa Maria, a médica Ana Moleiro diz que o número de doentes está a aumentar, por exemplo, na unidade de doenças respiratórias, porque “as pessoas não têm dinheiro para comprar medicamentos”. Além do aumento do número de doentes, há uma alteração nos horários das urgências, que deixou de ser homogéneo, relata. Há doentes que só vão às urgências depois do horário de trabalho, “porque têm medo de perder o emprego”.
Já João Álvaro Correia da Cunha, presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte, fala do corte de fornecimento de medicamentos a crédito por uma farmacêutica, que não identifica mas que é conhecida (a Roche). “É uma forma de pressão sobre o Governo para pagar a dívida”, diz. “É um problema. Se não tivermos estes medicamentos não poderemos curar os pacientes, sobretudo na área oncológica”. “Eu não sou político, não conheço os segredos das negociações entre o Governo e a troika. Mas sei que o sistema nacional de saúde é a maior conquista da sociedade portuguesa dos últimos 50 anos”, conclui. 
Soares e a ameaça à paz
No final da reportagem, em entrevista, Mário Soares diz que “Portugal não pode pagar sozinho a crise internacional”. E desenvolve: “A União Europeia rege-se pela solidariedade entre países ricos e países pobres, entre grandes e pequenos. O projeto europeu é um projeto de paz, antes de tudo, um projeto de democracia, um projeto de bem-estar social e tudo isso está a desaparecer, sobretudo o princípio da solidariedade entre os povos da Europa. Se nós perdemos a solidariedade é a paz que está em jogo.” É por isso que Soares considera “muito perigosa” a política de Angela Merkel. “Sobretudo para a Alemanha. Os povos não esquecerão a situação. A Alemanha esqueceu-se que a Grécia, como Portugal, como os espanhóis e todos os outros [deram apoio] para que a Alemanha voltasse a ser uma só. Quem pagou a reunificação da Alemanha? Fomos nós, europeus”. E agora, prossegue Soares, “esquece-se que se deve ajudar”.
“A Alemanha é responsável por duas guerras mundiais e agora vamos para outra guerra mundial? Mas a União Europeia nasce para conseguir o oposto, para alcançar a paz”, acrescenta Mário Soares, que conclui: “A mim o que me interessa são as pessoas, não os mercados”.
I parte da reportagem


II parte da reportagem


Ecos da blogosfera - 23 mar.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O nosso modelo: Um país, dois critérios (ou mais)…


"Dominio del hombre", Victor Cauduro Rojas 
Na denominada locomotiva da União Europeia (UE), a Alemanha, a pobreza expande-se, enquanto as suas vítimas mais trágicas são as crianças. Um estudo do Instituto Bertelsmann revela que o estado de Renania do Norte-Westfalia regista a trágica "primazia" de ser o estado confederado da Alemanha com o mais alto índice de crianças pobres, 22,7% das crianças com idade inferior a três anos (isto é, quase uma em cada quatro) sobrevivem abaixo do nível de pobreza absoluta.
Entretanto, o Instituto Bertelsmann, junto com estes, extremamente preocupantes números, oferece um "calmante", ao sustentar que "o índice total de pobreza infantil tem recuado ligeiramente". No específico estado confederado de Renania do Norte-Westfalia foi reduzido em 0,3 ponto percentual desde 2008. Este "recuo" não impressiona nada e, seguramente, não constitui razão para comemorações, considerando que a realidade não é muito diferente.
Seguramente existem muito mais crianças sobrevivendo na pobreza, pelos números que sustenta o Instituto Bertelsmann, isto porque o Instituto identifica como "crianças pobres" aquelas cujos pais recebem, ainda, o muito reduzido salário-desemprego da lei Hartz-IV, em vigor desde 2004. Mas também famílias que não recebem este auxílio estão a cair abaixo do nível de pobreza absoluta, em consequência dos violentos cortes que sofreram os seus rendimentos.
Números manipulados
O problema da pobreza infantil fez parte da programação da XVIII Conferência da Associação dos Pediatras e Médicos para Adolescentes (BVKJ) da Alemanha, realizada na cidade de Weimar. As percentagens apresentados pelo Serviço Federal do Trabalho, de acordo com os quais a pobreza em crianças abaixo de 15 anos tem sido reduzida em 13% desde setembro de 2006, foram recebidos pelos pediatras e demais médicos para adolescentes com grande reserva, considerando que, no mesmo período, recuou também o número de crianças e adolescentes, conforme contestou o presidente da Associação. "Ao que tudo indica, os números foram devidamente manipulados pelo Serviço Federal do Trabalho", sentenciou o Dr. Hartman. "Porque", prosseguiu, "de acordo com cálculos de entidades sociais alemãs, 1 em cada 7 crianças deverá ser considerada pobre na Alemanha". E explicou que "atrás dos números oficiais está escondido um número negro, considerando que foram incluídos, só os pais que ainda recebem o salário-desemprego da lei Hartz-IV. Não estão incluídas as crianças daquelas famílias que, por causa dos baixos rendimentos, estão obrigadas a sobreviver com menos recursos, ainda".
As consequências destas situações desastrosas são enfrentadas diariamente pelos médicos alemães. Por exemplo, ouvem por ocasião do preenchimento de uma receita que deverá pagar o beneficiado pela Hartz-IV: "Seja lá como for, minha mãe não poderá pagar isto", enquanto, outras crianças pedem licença médica enquanto durar uma excursão escolar, porque suas famílias não podem pagar a despesa e as crianças ficam com vergonha de contar a verdade na escola. 
Cresce a exploração
O Instituto de Trabalho e Especialização da Universidade de Dulburg-Essen, em relatório especial, calculou que 11% dos trabalhadores alemães recebem menos de 7 euros por hora de trabalho. Quase 8.000.000 de trabalhadores alemães recebem menos de 9,15 euros por hora de trabalho, 1.400.000 recebem menos de 5 euros, enquanto 800.000 trabalhadores contratados em regime de ocupação plena recebem pagamentos mensais indefinidos, inferiores a 1.000 euros.
Segundo o relatório, os 9,15 euros por hora de trabalho definem o salário "baixo", isto é, aquele que é menor do que 2/3 do salário médio no país, enquanto o número dos trabalhadores remunerados com baixos pagamentos por hora de trabalho aumentou no período 1995-2010 em mais de 2.300.000 de pessoas, de acordo com o relatório, número que corresponde a cerca de 23% - quase 1/4 do total da mão-de-obra do país - e, apesar da ligeira curva nos últimos quatro anos, mantém-se estável.
Ainda, segundo o relatório, a escala dos "remunerados com baixos salários" conformou-se assim: 4.100.000 de trabalhadores receberam em 2010, em média, 6,68 euros por hora de trabalho na Alemanha Ocidental, e 6,52 euros por hora de trabalho, os da Alemanha Oriental.
O relatório comprova, também, que os milhões de empregados que hoje trabalham nos denominados "minijobs" correm o alto risco de trabalhar por menos do que o limite geral aceite de 9,15 euros por hora de trabalho, enquanto existem outros grupos, igualmente de alto risco. São os trabalhadores com idade inferior a 25 anos, os ocupados provisoriamente, ou os ocupados no interior do país, as categorias de trabalhadores que não concluíram ainda os programas de especialização profissional e, naturalmente, os estrangeiros e os imigrantes.
Talvez o mais revelador e importante "achado" do relatório é que o programa corretivo Agenda 2010 do governo social-democrata-verde do ex-chanceler Gerhard Schröder conseguiu apagar as diferenças salariais entre a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental. Para baixo, naturalmente. 
O número de trabalhadores com baixos salários aumentou na Alemanha Ocidental em 68% e apenas 3% na Alemanha Oriental. O pequeno aumento na Alemanha Oriental é devido ao facto de desde o início, após a queda do socialismo na República Democrática, a esmagadora maior dos trabalhadores ser remunerada com salários baixos.
Nota – Embora na Alemanha não haja Salário Mínimo Nacional, o “salário baixo" deve ter a mesma leitura do nosso (e de outros países) SMN.
Alguns sublinhados sobre o retrato da pobreza e dos salários na Alemanha, que nos querem apresentar e impor como modelo (sublime) numa e noutra área, mas em que são os próprios alemães (provavelmente da esquerda radical, embora técnicos), que denunciam e desmontam as estatísticas oficiais. Os números, por outro lado, expõem várias discriminações, não só entre os “verdadeiros alemães” mas também entre imigrantes.
A “fábrica de fazer pobres” é uma máquina recente e aplicada eficazmente em todos os países desenvolvidos, naturalmente para que sejamos todos nivelados por baixo.
As primeiras e mais inocentes vítimas desta política/ideologia são, também transversalmente, as crianças.
O Salário Mínimo Nacional ou equivalente, tende a ser mais baixo do que o indicador de pobreza (2/3 da média salarial do país), método eficaz para que a “máquina de fazer pobres” funcione bem oleada.
O “mileurismo” e a precariedade laboral são a garantia de que a “máquina de fazer pobres” não pare mais e o futuro seja a instabilidade.
A manipulação estatística é o remédio encontrado para iludir a (des)esperança.
A discriminação salarial funciona, mesmo, como discriminação social.
O assistencialismo estatal é cada vez mais temporário e a melhor arma para os cidadãos irem aceitando as medidas e práticas anteriormente sublinhadas.
Exploração é mesmo o nome que se deve dar a toda esta máquina maquiavélica, que isola mais concidadãos e os amarra às máquinas de fazer dinheiro, para cada vez menos “gente”.
E é este o modelo ideal que nos prometem, de que já vamos vendo algumas aplicações e muitas tentativas de explicações…
Retórica, mentiras e retrocesso!

Reflexão do Relvas… 23 mar.

Os últimos números da execução orçamental, que revelam o aumento da despesa e a diminuição da receita do Estado, serviram de argumento para críticas reforçadas da Oposição num debate parlamentar suscitado pelos comunistas. Coube a Miguel Relvas rebater os ataques.
O ministro, relativamente à receita, defendeu que as medidas do Governo “só terão um impacto parcial em março, e definitivamente em abril". Já o aumento da despesa deveu-se sobretudo a “dois fatores extraordinários": “A fatura de juros nos dois primeiros meses do ano” (quase o dobro relativamente ao período homólogo de 2011) e a dívida da RTP que o Estado teve de assumir, no valor de 348 milhões de euros, fatores também avançados pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, para justificar o aumento da “despesa efetiva”.
"a despesa primária, a que verdadeiramente conta na lógica orçamental", baixou 5,5% no início de 2012, relembrou Miguel Relvas, garantindo, por isso, que "o ano de 2012 vai desmentir as palavras [da oposição] e confirmar as ações" do Governo. E perante os protestos das restantes bancadas citou o histórico líder chinês Mao Tsé-tung: "Quem não sabe ouvir, não sabe governar".

Contramaré… 23 mar.

Portugal tem "boas hipóteses" de evitar a reestruturação da sua dívida soberana, disse Moritz Kraemer, analista da agência de notação financeira Standard & Poor's.
O analista da agência de "credit rating" acrescentou ainda que "não se pode subestimar o tempo que vai ser preciso" até que as finanças dos países da periferia europeia se reequilibrem.

O que somos verdadeiramente no aqui e agora?

Qual é o nosso verdadeiro tamanho em relação ao desenvolvimento humano? Será que somos potencialmente maiores e bem pouco se vê a esse respeito? Não ver o prémio futuro pode causar desânimo e até oposição frente ao exigido e essencial exercício do crescimento que se tem no presente? Nada é de graça! O que nos pode levar a perceber tal possibilidade de avanço para que o estímulo resultante nos impulsione em direção a um nível evolutivo sem precedentes, superando as lentas passadas com as quais temos caminhado através da estrada da vida?
Para tratar sobre o processo evolutivo, é prudente lançar mão da teoria darwinista encontrada no livro “A origem das espécies”, a qual atribui ao tempo, o acaso e a seleção natural o resultado daquilo que hoje somos. A valiosa aptidão que se adquire faculta ao ser humano (e às outras espécies) a possibilidade de se manter vivo e ainda transmitir tais informações à sua descendência. No entanto, esbarra-se numa delicada e complexa questão: como foi possível ter-se dado a gênese de tudo o que conhecemos sem se levar em conta um criador com a necessária capacidade de planear e concretizar?
Alguns pontos permanecem obscuros sem a devida análise, tais como as capacidades de desenvolvimento preexistentes (semelhantes aos típicos softwares da informática): desenvolvimento do apego para o convívio; aquisição da linguagem; aprendizagem do saber e formação da inteligência; constituição do modo ético de ser; eclosão das muitas consciências; noção e sentimento espiritual, por exemplo.
As discussões são travadas, infelizmente, em planos distintos e isolados, com rara chance de conciliação. Vê-se orgulho, teimosia, fanatismo e cegueira obstruírem o acesso ao merecido conhecimento. Tal sapiência é capaz, a propósito desta reflexão, de promover maior consciência e melhor desempenho na escalada rumo à maturidade pessoal que hoje é pobremente encontrada no convívio social.
Não obstante, é possível detectar algumas movimentações em prol de novas e interessantes perspectivas. Em 1993, o Professor Phillip Johnson, da Universidade da Califórnia, reuniu alguns estudiosos de diferentes áreas para que se debatesse o tão polémico assunto. Entre alguns aspectos lá refletidos, destacou-se que havia uma lacuna não preenchida por Charles Darwin. O facto é que, acerca da primeira vida primitiva, segundo o que se concluiu, não seria possível à seleção natural atuar antes da existência da primeira célula viva. A seleção natural só atua sobre organismos capazes de se reproduzirem. Então, o que causou, inteligentemente, o início da vida? A tal indagação, respondeu-se com o que se denominou de “Teoria do Design Inteligente”, condição anterior à existência. Assim, é possível atribuir, de modo mais equilibrado, à maneira de cada lado na ferrenha contenda, uma nova e mais justa explicação (ainda que temporária, pois sabemos muito pouco ainda a respeito de muita coisa) para a origem das espécies e a sua evolução. Vale a pena, ainda, lembrar da afirmação de Darwin na qual não lhe parecia existir qualquer incompatibilidade entre a aceitação da teoria evolucionista e a crença em Deus. Será que há um esboço, ao menos, de harmonização entre as partes concorrentes?
Cabe, pois, ponderar exaustivamente acerca de tal proposta, repensando, portanto, o que somos verdadeiramente no aqui e agora, enquanto seres carecedores de considerável consciência e desenvolvimento. Mas cumpre-se salientar o gigantesco potencial a ser extraído através do necessário e pertinente exercício. Há muito mais dentro de nós do que se pode perceber, mas cabe a cada um autoconhecer-se através da autoavaliação e tirar as próprias conclusões com o passar do tempo.
Armando Correa de Siqueira Neto, psicólogo (CRP 06/69637), diretor da Self Consultoria, palestrante, professor e mestre em Liderança, coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Ecos da blogosfera - 21 mar.

E são os gestores destes partidos que gerem o país?

As depauperadas contas dos partidos são uma realidade bem patente num pedido feito pelo PSD e CDS ao Tribunal Constitucional, para que permitisse que as multas – devido a irregularidades cometidas pelos partidos nas suas contas relativas a 2006 – fossem pagas a prestações, durante um período alargado de tempo.
Estes dois partidos conseguiram dividir o pagamento das multas em prestações suaves, mas a abertura do TC ficou longe da vontade de centristas e sociais-democratas. O PSD que queria os 65.000 euros de coima fossem pagos em 10 prestações, conseguiu dividir o pagamento em 2 fases. Já o CDS que pretendia 24 prestações, apenas recebeu permissão para pagar em 4 parcelas, porque o TC foi sensível aos argumentos.
Apesar de terem sido os únicos partidos a solicitar a divisão do pagamento em prestações, o CDS e o PSD não são os únicos com contas irregulares. Também no que diz respeito a contas de 2006, o PS foi multado em 55.000 euros, mais 10 mil do que o PCP (45.000). O Bloco de Esquerda enfrenta uma coima de 10.000 euros.
Primeira conclusão: Todos os partidos (exceto Os Verdes?) viveram acima das suas possibilidades, na proporção direta da sua “riqueza”.
Segunda conclusão: Todos os partidos, ou não conheciam as regras (o que é grave) ou sabiam que estavam a prevaricar (o que é mais grave).
Terceira conclusão: Os partidos com coimas (dívidas) menores vão pagá-las a pronto (como é uso entre os mais pobres).
Quarta conclusão: Os partidos com coimas (dívidas) maiores queriam pagar em prestações, com “muito mais tempo”, conseguindo em parte a pretensão (por compreensão do credor).
Se extrapolarmos o caso das coimas (dívidas) para a situação do país, constataremos duas bizarrias:
1 – Se os dirigentes dos partidos e os seus gestores não dão conta do recado (gestão da “economia” e “finanças” do respetivo partido) como serão competentes para governarem um país?
2 – Se quem deve mais (os partidos no poder) acham justo e razoável que se lhes dê “mais tempo” para não desestabilizar as suas tesourarias, por que não pensam da mesma maneira para pagar a dívida do país? Ao TC tiveram coragem de fazer a proposta e a humildade de aceitarem a decisão, mas à troika nem proposta fizeram e mostram orgulho em pagar tudo(?), o mais depressa (im)possível(?) e até oferecendo soluções mais penalizadoras do que as propostas pelos credores…
Moral da história: Não há moral!

Reflexão do Relvas… 22 mar.

O ministro Miguel Relvas lembrou o legado dos anteriores Governos para justificar a austeridade e reforçou a ideia que Passos Coelho vai levar ao congresso do PSD: não há crescimento enquanto as contas públicas não estiverem controladas.
“A consolidação continuará até libertarmos os portugueses do fardo insuportável da dívida e porque sabemos que não há crescimento económico nem criação de emprego sem uma redução significativa dos nossos níveis de endividamento”, explicou Miguel Relvas no Parlamento, no debate convocado pelo PCP, sobre o memorando da troika. O ministro considerou que é “curioso que seja precisamente da ala mais à esquerda do Parlamento que se entenda um projecto de mudança para o País como uma agressão”. “Para o Governo, essa mudança era necessária e desejável porque o País do status-quo, o País em que vivemos nos últimos anos, era um País de crescentes desigualdades, crescente desemprego, crescentes injustiças, crescente empobrecimento, crescente emigração”, enumerou.

Contramaré… 22 mar.

O secretário geral da OCDE alertou contra "falsas esperanças" quanto à superação da crise na eurozona, sublinhando que Portugal e Espanha "podem ser as próximas vítimas" dos mercados, porque "ficou claro" que os mercados financeiros atacam os países mais fracos da moeda única e, por isso, recomenda que se erga "a barreira de todas as barreiras" contra eventuais tentativas dos especuladores, aumentando o "plafond" do futuro Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE).

Isto é o pós (da) democracia? Ou lixo democrático?

Numa UE em que se pretende mais democracia, os deputados europeus continuam sem cumprir o seu papel de representantes do povo. A culpa é do sistema comunitário que os priva de soberania, mas também da sua forma inadaptada de trabalhar.
O grupo de viajantes junta-se na Gare do Midi, em Bruxelas, de onde um enorme comboio fretado leva membros do Parlamento Europeu, assistentes e outros (incluindo jornalistas) para a sua casa alternativa, em Estrasburgo. Depois de, num único século, ter mudado cinco vezes de mãos entre a França e a Alemanha, a cidade mantém-se como um símbolo da reconciliação pós-guerra. Nestes dias, no entanto, a caravana mensal torna-se um símbolo gritante da capacidade de desperdício da União Europeia.
Carros com motorista transportam os eurodeputados entre o seu elegante complexo parlamentar e os hotéis e restaurantes da cidade, onde os preços são desavergonhadamente inflacionados para a ocasião. A maior parte dos eurodeputados detesta a interrupção. No entanto, pouco podem fazer sobre este sistema de duas sedes (a que se juntam as funções de apoio sediadas no Luxemburgo) consagrado em tratados que só podem ser alterados por unanimidade. Uma tentativa dos eurodeputados para cortarem uma das 12 sessões plenárias que se realizam, por ano, em Estrasburgo, levou a França a abrir um processo. Infelizmente, o Parlamento Europeu não é soberano.
Assim, a magna reunião de Estrasburgo convida a um duplo desrespeito. Primeiro, os custos extra da estadia em Estrasburgo, estimados em cerca de 180 milhões de euros (235 milhões de dólares) por ano, são escandalosos em tempos de grande austeridade. E segundo, porque o Parlamento é irrelevante quando se trata de procurar uma reparação legal. Isto ajuda a explicar o paradoxo: quanto mais poder tem o Parlamento, cada vez menos cidadãos votam na eleição dos seus membros.
A maior parte dos assuntos que interessam aos eleitores, como a saúde, a educação ou a segurança, são tratados pelos parlamentos nacionais. A UE trata, sobretudo, de misteriosas questões regulamentares. Mas esta é apenas uma parte da razão pela qual os eleitores não veem como é que a sua escolha de eurodeputados pode fazer alguma diferença. A legislação é proposta pela Comissão Europeia, a função pública da UE (liderada por um colégio de comissários que são nomeados). Depois, as leis têm de ser aprovadas pelo Conselho de Ministros (os governos selam acordos à porta fechada) e pelo Parlamento Europeu (onde as alianças mudam conforme o assunto em discussão). Os desacordos têm de ser resolvidos por conversações entre os três corpos. O sistema fornece muitos travões e contrapesos. Mas os eleitores não podem correr com os preguiçosos.
Parlamento não é solução mas parte do problema
Este problema crónico de falta de legitimidade democrática tornou-se mais aguda graças à crise do euro. Bruxelas ganhou novos poderes para vigiar os orçamentos nacionais e outros “desequilíbrios” possíveis. Foram impostas austeridade e reformas aos países resgatados da falência – Irlanda, Portugal e, sobretudo, Grécia. Mas a “governação económica” também se faz sentir noutros sítios. O primeiro-ministro de Itália, Silvio Berlusconi, foi substituído por um tecnocrata, Mario Monti. Poucos dias depois de ter tomado posse, o novo primeiro-ministro socialista da Bélgica, Elio Di Rupo, foi avisado de que tinha de fazer cortes orçamentais ou sofreria sanções. A Hungria acabou de saber que perderá 495 milhões de euros de ajudas para o próximo ano se não conseguir controlar o défice.
“Os governos começam agora a perceber quanto poder entregaram nas mãos da UE”, diz um eurocrata. Mas quem deve controlar esse poder? O Parlamento Europeu é um corpo imperfeito num sistema imperfeito. Pode compensar a perda de soberania nacional?
Há quem pense que sim. No mês passado, Mario Monti foi a Estrasburgo louvar o Parlamento pelo controlo apertado que faz (da omissão de que ele próprio já fez parte). Num artigo escrito com a eurodeputada francesa Sylvie Goulard, defende que a crise é sobretudo culpa das democracias nacionais. Angela Merkel, a chanceler alemã, fala de uma futura “união política” com um parlamento forte e também com um presidente da Comissão que seja eleito diretamente.
Para outros, o Parlamento não é a solução mas sim parte do problema. Recentemente, Jack Straw, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, defendeu que o Parlamento Europeu devia ser abolido. O “défice democrático”, afirmou, resolvia-se melhor com uma assembleia de deputados nacionais do que com um corpo diretamente eleito. O Tribunal Constitucional alemão decidiu, em 2009, que o parlamento não tem as credenciais exigidas ao Bundestag para que lhe seja entregue o controlo orçamental, entre outras coisas. Assim, os eurodeputados podem influenciar a maneira como o dinheiro da UE é gasto, mas não sobre a maneira como é conseguido.
754 eurodeputados têm de ser podados drasticamente
O Conselho de Ministros olha para o Parlamento como para um adolescente truculento: os eurodeputados pensam que percebem melhor do que os ministros o interesse europeu; fazem bonitos discursos, comparam-se com o Congresso dos Estados Unidos da América, sem terem os mesmos meios; estão constantemente a pressionar para terem mais poder e mais dinheiro; e querem sempre mais Europa, independentemente do que possam pensar os eleitores. Os funcionários da Comissão também exprimem o seu desespero (em privado). Apesar de aliado frequente, dizem, o Parlamento Europeu tem o poder de demitir a Comissão, sem ter de pagar o preço pelas suas ações.
Não há uma solução absoluta para o problema de uma democracia num sistema que em parte é intergovernamental e em parte é federal. É difícil argumentar que Bruxelas precisa de menos democracia direta quando está a adquirir mais poderes. Os assuntos da UE são agora demasiado exigentes para poderem ser tratados em part-time. Olhemos para o vizinho de Estrasburgo do Parlamento Europeu, o Conselho da Europa (uma instituição mais velha e separada da UE): tem uma assembleia de deputados nacionais que reúne 2 vezes por ano, mas o seu trabalho é tão obscuro que os conservadores britânicos podem ser aliados do partido Rússia Unida de Vladimir Putin.
A legitimidade precisa de reformas, tanto a nível nacional como a nível europeu. Os 754 eurodeputados do Parlamento Europeu têm de ser podados drasticamente, bem como os seus altíssimos custos. O seu trabalho envolve demasiados acordos confortáveis entre as alianças dos grandes partidos europeus. Ou seja, os países continuarão a ser fundamentais para a UE, não importa quão longe vá a integração. O dinheiro e as competências da UE são conferidos pelos Estados. A legislação da UE é promulgada através dos Estados-membros. Acima de tudo, a política é sobretudo nacional. Por isso, os parlamentos nacionais têm de estar mais envolvidos no trabalho da UE, a começar por um maior controlo das suas políticas. O sistema dinamarquês, em que o Folketing (parlamento) aprova os mandatos negociais dos ministros antes de estes irem a Bruxelas, é disso um bom exemplo. Com todas as suas falhas, o Parlamento Europeu está cá para ficar. Todos a bordo do próximo comboio para Estrasburgo.
OPINIÃO - Um lóbi pró-europeu
No dia 15 de março, o Parlamento Europeu adotou uma resolução apelando “fortemente” ao primeiro-ministro holandês, o liberal Mark Rutte, que se afastasse do sítio de Internet de denúncia dos trabalhadores estrangeiros, lançado pelo Partido da Liberdade (PVV) de Geert Wilders. Os eurodeputados consideram que este sítio constitui um “ultraje aos valores e aos princípios europeus”No Volkskrant, Martin Sommer constata que Rutte foi
repreendido por uma grande coligação ativa que vai desde os comunistas aos conservadores. Mas não pensem que esta forte aliança foi criada para o sítio de Internet do PVV. É algo que se repete todos os meses.
O cronista lamenta que o Parlamento Europeu não se baseie nas regras democráticas habituais:
Não existe Governo nem oposição. Há apenas o Parlamento Europeu que toma a palavra face a si mesmo e ao resto do mundo. [...] Na ausência de luta democrática para obter uma maioria normal, este visa obter uma maioria absoluta, sendo que a ideia é que o Parlamento Europeu funcione para interesse da Europa, à exceção de alguns tristes eurocéticos.
O Parlamento Europeu, conclui Martin Sommer, funciona como “um clube de lóbi bem pago para defender a ideia europeia”.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Ecos da blogosfera - 21 mar.

Menino Jesus

Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.  
Limpa o nariz ao braço direito, 
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.  
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas 
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido" —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória, 
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
e eu levo-o ao colo para casa.
..................................................................................
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer nos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
.............................................................
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
...............................................................
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
Alberto Caeiro
"O Menino Jesus" de Alberto Caeiro, dito por Paulo Autran

No teu Poema

No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um canto, chão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra
E um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.
José Luís Tinoco

Aos Poetas

Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde os tempos de Esopo conhecidos.
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras,
Asas que em certas horas
Palpitam,
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
mas sim do mosto que a beleza traz!

E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestreis
De uma gesta de amor universal!
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!

Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!




Miguel Torga

Contramaré… 21 mar.

A partir da próxima semana, os desempregados vão ter direito a entradas grátis em museus, monumentos e palácios tutelados pelo Estado, bem como descontos nos teatros, na Cinemateca e na Companhia Nacional de Bailado. 
Na mesma semana em que foi anunciada esta oferta cultural, foram publicados os diplomas que alteram as regras do subsídio de desemprego e agravam ainda mais o anterior regime…

Director-geral das Artes cancela concursos anuais e pontuais para 2012

ESCADA SEM CORRIMÃO

É uma escada em caracol
E
que não tem corrimão.
Vai a caminho do Sol
Mas nunca passa do chão.
Os degraus, quanto mais altos,
Mais estragados estão,
Nem sustos nem sobressaltos
servem sequer de lição.
Quem tem medo não a sobe
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
O lastro do coração.
Sobe-se numa corrida.
Corre-se p'rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
A escada sem corrimão.


David Mourão Ferreira

Um Poema

Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
Miguel Torga

terça-feira, 20 de março de 2012

Ecos da blogosfera - 20 mar.

O mundo não acaba em 2012! Portugal, de mal a pior…

Estudo da Ernst & Young diz que o fosso entre economias prósperas e os países em crise da zona euro vai agravar-se nos próximos 3 anos.
A Europa vai crescer a 2 velocidades e Portugal está no grupo de países que vai avançar com a marcha mais lenta. De tal forma que o retrato de 2015 vai mostrar um agravamento no fosso entre países ricos e pobres.
De acordo com o estudo da Ernst & Young, o crescimento da Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal, até 2015, não irá além de 0,5% – um ritmo lento e incomparável com o progresso de 9% que os restantes 12 países da zona euro deverão registar.
O ritmo de crescimento lento, a par com a quebra no investimento público, taxa de desemprego elevada e recuo no consumo público e privado são alguns dos indicadores que definem um país “pobre”. “O fosso entre países relativamente prósperos do norte da Europa e os países em crise do sul do continente prosseguirá, nos próximos anos”, afirmam os especialistas da consultora.
Este estudo vem, assim, reiterar que Portugal continua a ser um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido, sendo aquele em que a desigualdade é das mais acentuadas entre as economias europeias. Não será por isso de estranhar que, ao ficar classificado com um país pobre, o fosso na distribuição dos rendimentos também aumente. Tal como a OCDE revelou em Dezembro do ano passado, o fosso entre ricos e pobres em Portugal atingiu o nível mais elevado dos últimos 30 anos. Os 20% mais ricos têm rendimentos 6 vezes superiores aos dos 20% mais pobres.
Do outro lado do barómetro está a Alemanha que deverá, em 2013, crescer 2% e aproximar-se do pleno emprego com a taxa a situar-se em 4,9% em 2015.
Portugal vai precisar de ajuda adicional segundo a mesma consultora
“A fim de conseguir regressar aos mercados em meados de 2013, quando o montante do programa de ajustamento terminar, o juro dos títulos precisa recuar entre 800 e 900 pontos base”, descida que parece “altamente improvável”, devido “ao lento avanço na consolidação das finanças públicas e fraca melhoria na competitividade”. Perante este cenário, arrisca a consultora, “Portugal irá quase certamente necessitar de assistência financeira adicional da União Europeia e do FMI”.
A previsão da Ernst & Young aponta para uma contracção de 4% da economia nacional este ano e 2,1% em 2013. Esta estimativa baseia-se no pressuposto de que as autoridades da zona euro são capazes de impedir que a crise helénica contagie outros países periféricos.
Ainda ontem referia aqui a necessidade de uma nova fórmula (ou variante) para a definição do conceito de pobreza e logo hoje nos classificam como futuros pobres, mesmo ganhando mais do que 1,25 dólares (0,95 euros) por dia, partindo do pressuposto de que Portugal continua a ser um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido, sendo aquele em que a desigualdade é das mais acentuadas entre as economias europeias e em que o Salário Mínimo Nacional (de quem trabalha) é de 485 euros/mês, abaixo dos 2/3 do salário médio nacional (518 euros/mês), atirando quem o ganha abaixo do limiar da pobreza. Se contarmos com os valores dos pensionistas… já somos mais do que pobres, mesmo trabalhando.
Se no final de 2010 o fosso entre ricos e pobres em Portugal atingiu o nível mais elevado dos últimos 30 anos, é fácil concluir que, para além das fórmulas estatísticas e das respetivas variáveis, a fonte da nossa pobreza está mesmo na imoral distribuição da “riqueza” (disponível) e na estrutura legislativa que a sustenta, mesmo que concertada, que parece que vai continuar no mesmo caminho, com os mesmos efeitos agravados. E já não bastava isto! Acrescente-se a recessão prevista e continuada (4% em 2012 e 2,1% em 2013, se Deus quiser), para nos convencermos de que Portugal vai de mal a pior, apesar das “análises” otimistas do nosso Gaspar, que é o único que sabe, mas não é o único que desmente esta inevitabilidade.
Entretanto: BCE: recessão em Portugal pode chegar aos 5%, contudo, com crescimento de 3% a partir de 2017.
E já se começa a noticiar, cá dentro, o que lá fora se diz há muito, que vamos ter 2º empréstimo, apesar do repetido “nem mais tempo, nem mais dinheiro”, para nos irmos habituando à ideia de que a culpa dessa previsão está no Oráculo grego…
Até parece que Portugal está a fazer o que os privados fizeram (vivendo acima das suas possibilidades) e que se condena, pedindo empréstimo para pagar empréstimos, sabendo-se já o que resultou de tais manigâncias.
Daí que o significado de ECONOMIA se traduzir do grego como "regras da casa" ou "administração doméstica", ao contrário do que nos querem dizer os “verdadeiros economistas”, de que a economia doméstica não tem nada a ver com a Economia que eles pensam e praticam, mas só tem…
Que os nossos governantes sejam boas donas de casa e repartam o pão pela família para não ralharmos todos e com muita razão!