(per)Seguidores

sábado, 23 de outubro de 2010

Premonição, ou clarividência (de uma Jurista!)?

Já a música de intervenção dizia, escrita e cantada por José Mário Branco:
Não há lenha que detenha o FMI
Não há ronha que envergonhe o FMI
Quase 20 anos depois, as aves de mau agoiro e os profetas da desgraça sentenciam o regresso do Fundo Monetário Internacional ao país. Ainda que o FMI diga não ser necessário intervir em Portugal e creia na redução do défice - pergunto até se a instituição presidida por Strauss-Khan se preocupa particularmente com os 3%, criação da UEM - o fantasma assombra-nos.
A primeira questão, para qualquer pragmático, prende-se com a tolerância e com a agenda de Cavaco Silva. Ora, alguma vez o professor aceita ir a eleições - às quais se apresentará, não há tabu que me demova deste absoluto - com um orçamento chumbado, duodécimos a reger as contas do país e as instituições internacionais à perna? Além do mercado? E a UEM e a senhora Merkl porventura sancionavam um projecto orçamental que não servisse os propósitos da Eurolândia, e admitiriam posteriormente a falência nacional desse mesmo projecto? As respostas são todas na negativa, sejamos práticos!
O fantasma do FMI é uma espécie de mito urbano temporário, fabricado por quem tem interesse em antagonizar o governo, sem no entanto o retirar da governação. Ditadura das sondagens. E a semente faz-se flor porque a crise financeira internacional perdura, a despesa pública portuguesa galopa, e vivemos na ressaca do segundo leilão em que Portugal não consegue colocar toda a dívida pública emitida, apesar da procura superar a oferta, por causa dos juros atingidos: 6,24 por cento, nas emissões a 10 anos, e 4,69 por cento a 4 anos. O risco da nossa dívida está no patamar da grega.
Só que nenhum destes dados recomenda uma visita do FMI. Ignorando a questão da eficácia das políticas da instituição, que Joseph Stiglitz contesta tão vivamente e eu subscrevo, a própria ditadura do mercado financeiro em que vivemos repreende tal auxílio. É interessante este movimento de captura dos países soberanos pelo "mercado": os governos não controlaram ou incentivaram a liberalização das forças do mercado, e agora vêem o seu poder de decisão soberano cada vez mais limitado por aquele.
Quando economistas e (sobre)viventes da visita de 1983 afirmam desnecessária a vinda do Fundo, o PSD, pela voz do professor Diogo Leite de Campos, afirma que o governo de Portugal é "o menos credível da Europa" e que não "terá a sorte" de ver o FMI no país, a fazer o que o governo não fez. Diz também que Bruxelas está há um ano a reclamar deste governo que seja credível. Com o devido respeito, Bruxelas não exige credibilidade a ninguém. Antes, Berlim reclama resultados e estabelece meios: aumentar a receita, porque cortes na despesa não têm efeito imediato e são de prova dúbia.
Mas para o PSD a crise "é o governo" e por saber "isto bem" vai (apenas) escrutinar o OE. Ou, como cantou José Mário Branco:
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução.
Marta Rebelo, Jurista
Há um mês, esta senhora dizia o que disse e se não era premonição, era conhecimento de muitas matérias, que conjugadas dariam no que deu.
Afinal, não é preciso ser economista, basta ter umas noções básicas de matemática, saber umas coisas sobre as teorias dos melhores especialistas mundiais em economia e sobretudo conhecer o universo dos nossos mandantes.
Depois todos fazem o mesmo…

2 comentários:

  1. Pois é mais do mesmo, já se vê... mas será até um dia.

    ResponderEliminar
  2. Anabela
    Até eu já estou cansado de tanto bater no mesmo, sabendo que o futuro é pior e que o dia ou noite nunca mais chega...

    ResponderEliminar