O Orçamento é um mal transaccionável - João Quadros
Estamos a viver acima das nossas possibilidades. É triste, mas é verdade - as nossas possibilidades ainda são mais chochas e reles do que pensávamos.
Quando éramos apenas os mais pobres da União Europeia, era um luxo. Nos dias de hoje, com a Europa empobrecida e o Brasil, a China, a Índia, etc, com milhões de pessoas a sair da pobreza, estamos desgraçados. É a sina das nossas possibilidades.
Agora, que parece afastado o espectro do FMI (eu acho que o FMI eram estrangeiros, endinheirados, que vinham para cá gastar em hotéis e restaurantes, e era bom para a dívida externa) e que Passos Coelho vai assumir o Orçamento como um mal transaccionável, não é despiciendo (mas é ordinarote) dizer que a grande diferença entre o Acórdão da Casa Pia e o Orçamento é que o segundo tem menos páginas mas mais sodomizados.
O ministro das Finanças expôs o seu raciocínio - Não pedir ajuda também é questão de auto-estima - é uma ideia. É bom haver auto-estima porque o Estado está a pensar cobrar um imposto automóvel sobre a auto-estima.
Eu aposto que o ministro das Finanças não é o que aparenta. Teixeira dos Santos, quando chega a casa, despe aquele fato (feito em espuma de PVC) de senhor balofo, de cabelo branco e aspecto sadio e, lá de dentro, sai um cara de fuinha, careca, de óculos, muito magrinho, com um lápis atrás da orelha - isto não é Orçamento de quem gosta da vida.
Mapa do Orçamento na óptica do humor
Estudei o Orçamento de Estado para 2011 do ponto de vista da despesa, da receita e da comicidade (infelizmente, os mercados têm pouco sentido de humor). Aqui ficam os meus números favoritos (mas não peço bis) deste 0rçamento:
1. Cobrança de taxas pela pesquisa electrónica aos dados das finanças pelos agentes de execução de dívidas. Ou seja, temos de passar a pagar taxas para consultar informação sobre quem nos deve massa - em breve, o Cobrador do Fraque vai ser substituído pelo Cobrador de Cuecas.
2. Sou todo sorrisos quando leio a rubrica de 4,3 milhões para os senhores da ERC e, em contrapartida, 15 milhões para o Instituto dos Museus e Conservação - um senhor da ERC, sem cavalos, vale bem um Museu dos Coches.
3. Quem não bate palminhas ao descobrir que os bebés terão de ser colectados e pagar para ter número de identificação fiscal? Eu acho que devia haver cartão do contribuinte para as ecografias e deviam aumentar o IVA das botinhas em croché. E falta um imposto sobre as bolhinhas com cuspo.
4. IVA dos livros "não educativos" sobe para 23%. Fica a dúvida - o livro "Testemunho de um Banqueiro", de João Rendeiro, aumenta para 23%? Em termos literários, eu acho que os livros de auto-ajuda podiam dar uma grande ajuda se tivessem o IVA a 78%. PS - Até o IVA da marmelada aumentaram! Aumentaram o preço da marmelada e ninguém diz nada?! Onde é que anda o Quim Barreiros quando precisamos dele?
5. Novo imposto vai custar 90 milhões à grande banca - Vai? O presidente da Caixa Geral de Depósitos já avisou que vamos ser nós (clientes) a pagar. Consta que há menos na Caixa do que nós imaginamos. Dizia Fernando Ulrich (que tem "rich" no nome), "existe um fascínio com os lucros da banca". Talvez, mas a minha fascinação (não tenho olhos para mais nada) vai toda, não para os lucros, mas para os impostos que pagam. Como dizia o governador Carlos Costa, eles são os "donos da bola". Eu sei, vê-se que têm o futebol como inspiração quando olhamos para os prémios de jogo dos gestores bancários.
6. Cartão do cidadão aumenta 25% - vou comprar o meu a Espanha.
7. Governo vai extinguir cerca de 50 organismos públicos - Estou assustado com esta medida, dado que Governo pretende extinguir alguns organismos públicos que já não existem. Isto poderá levar o Estado a contratar exorcistas e espíritas. Não concordo. A não ser que... por cada exorcista que entrar saiam três funcionários públicos possessos.
8. Portagens na Ponte 25 de Abril passam a ser pagas em Agosto - faz algum sentido, porque este ano ninguém tem férias.
9. Agricultores deixam de pagar taxa da RTP - Desde que acabou o TV Rural que esta medida era justa. Por outro lado, entre ir receber o subsídio da UE (para não produzir) e o fim do dia, o agricultor fica a fazer o quê numa casa sem televisão?
10. Utensílios e outros equipamentos exclusiva ou principalmente destinados ao combate e detecção de incêndios passam de 6% para a taxa de IVA de 23% - Excelente ideia! Deixar arder devia ser o grande Desígnio Nacional. E, tal como nas Scut, existe uma alternativa aos equipamentos de combate ao incêndio: soprar.
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