Ética e Política são dois campos de investigação da Filosofia que nasceram na Grécia Antiga, existindo entre as duas uma inseparabilidade, considerando que a política precisa de se desenvolver como um sistema normativo, fundado em valores e critérios que regulam um conjunto de acções envolvendo o colectivo, o que implica compreender que elas não estão isentas de deveres, e naturalmente, devem respeitar os direitos. Enquanto actividade colectiva, a Política pressupõe exigências éticas no seu desenvolvimento, embora haja confrontos de grupos antagónicos, o que potencializa o choque entre os princípios ético-morais da formação dos indivíduos e leva claramente a um desvirtuamento do poder.
Constata-se que as alianças políticas, não são construídas muitas vezes, visando o bem comum da colectividade, pelo contrário, levam em conta os interesses particulares e a busca de satisfação deste ou daquele grupo político, que deseja manter-se com privilégio na esfera do poder e camuflar as suas reais intenções. Por incrível que pareça, a bandeira da ética é empunhada por todos e as posições baralham-se: uns, com postura astuciosa, procurando sustentar o processo eleitoral; outros, procurando tomar medidas mais incisivas contra a corrupção incrustada em várias instituições do Estado e nos Órgãos Executivos.
No entanto, o que se vê é uma degeneração político-moral e, entre muitos deslizes, destacam-se os desmatamentos e prevaricações, improbidade administrativa, falcatruas, actos abusivos do poder, que representam “as doenças” do sistema político. Vale ressaltar que, sendo a política divulgada pelos meios de comunicação, acentuando-se os pontos precários, esta acaba por ser avaliada negativamente pelo comportamento amoral de muitos políticos que pertencem a diversas esferas do poder; contudo, essa generalização é perigosa e desencadeia uma insatisfação com a própria classe política, surgindo uma forte tendência para o voto nulo.
Seria essa a decisão mais acertada? A nosso ver, essa atitude indica a renúncia injustificada á participação no processo democrático, um descomprometer-se, um jogar no “lixo” um direito e um dever e isso só beneficiaria os que comentaram desvios de conduta no exercício do poder. E por falar em participação, como seria a sua efectivação? Enquanto seres sociais precisamos amadurecer o nosso entendimento de ser-cidadão e, de forma deliberada, racional e reflexiva, saber co-participar e assim constituirmo-nos como seres políticos, na medida em que toda a acção que gera consequências no colectivo, tem o caráter de politização e deverá estar pautada por princípios de natureza ética, que envolvem valores de justiça, de liberdade, de responsabilidade.
Diante de tais considerações, não podemos eximir-nos de tantas questões de natureza política, nem retirarmo-nos do processo decisório; não devemos ser passivos nem silenciosos, porque, quanto menos participarmos, mais as decisões serão tomadas pelas “engrenagens da máquina governamental” a todos os níveis. Será que nós, que compomos a sociedade, estamos a abdicar do nosso direito de participação? Precisamos, sim, procurar entender para poder sugerir, discordar, actuar como sujeitos do processo democrático, conquistar espaço, enfim, exercer a nossa cidadania.
Afinal, é necessário ter consciência de que na sociedade, seja a alimentação, a saúde, a moradia, tudo depende das decisões políticas. Assim sendo, neste momento ímpar de votação, na maior eleição de nosso país, convém examinarmos criteriosamente os problemas nacionais e estaduais, ter discernimento para fazer objectivamente as devidas ponderações, construir a nossa compreensão e escolher com cuidado os políticos que representem uma renovação qualitativa e que possam desempenhar as suas reais funções com rectidão, eficiência e responsabilidade, comprometidos com o coletivo, portanto, imbuídos do espírito público. Urge que a política brasileira venha instaurar uma nova forma de fazer política, tendo na ética um de seus principais pilares e operando uma grande viragem cultural para que possamos alcançar um Brasil mais justo e democrático.
Elza Maria Brito Patrício, Professora Universitária de Filosofia, aposentada da UFMA
O texto, embora no último parágrafo se centre nas eleições brasileiras, na parte restante define conceitos absolutos, que encaixam em todas as sociedades “democráticas” como a nossa e daí o seu interesse, para quem se interessar.
Excelente texto.Este vou imprimir porque me vai ser muito útil, devido aos conceitos absolutos que se encaixam em todas as sociedades demcráticas.
ResponderEliminarIbel
ResponderEliminarEstou aqui para servir.
O texto é de uma Associação Brasileira de Filosofia, de que sou aderente e que se chama SER. Tem muita coisa sobre Ensino.
Logo os teus meninos podem deliciar-se com músicas "Contra a Pobreza" de 6 portugueses que foram seleccionados.