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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Conceitos absolutos e relativos (eleições no Brasil)

Ética e Política são dois campos de investigação da Filosofia que nasceram na Grécia Antiga, existindo entre as duas uma inseparabilidade, considerando que a política precisa de se desenvolver como um sistema normativo, fundado em valores e critérios que regulam um conjunto de acções envolvendo o colectivo, o que implica compreender que elas não estão isentas de deveres, e naturalmente, devem respeitar os direitos. Enquanto actividade colectiva, a Política pressupõe exigências éticas no seu desenvolvimento, embora haja confrontos de grupos antagónicos, o que potencializa o choque entre os princípios ético-morais da formação dos indivíduos e leva claramente a um desvirtuamento do poder.
Constata-se que as alianças políticas, não são construídas muitas vezes, visando o bem comum da colectividade, pelo contrário, levam em conta os interesses particulares e a busca de satisfação deste ou daquele grupo político, que deseja manter-se com privilégio na esfera do poder e camuflar as suas reais intenções. Por incrível que pareça, a bandeira da ética é empunhada por todos e as posições baralham-se: uns, com postura astuciosa, procurando sustentar o processo eleitoral; outros, procurando tomar medidas mais incisivas contra a corrupção incrustada em várias instituições do Estado e nos Órgãos Executivos.
No entanto, o que se vê é uma degeneração político-moral e, entre muitos deslizes, destacam-se os desmatamentos e prevaricações, improbidade administrativa, falcatruas, actos abusivos do poder, que representam “as doenças” do sistema político. Vale ressaltar que, sendo a política divulgada pelos meios de comunicação, acentuando-se os pontos precários, esta acaba por ser avaliada negativamente pelo comportamento amoral de muitos políticos que pertencem a diversas esferas do poder; contudo, essa generalização é perigosa e desencadeia uma insatisfação com a própria classe política, surgindo uma forte tendência para o voto nulo.
Seria essa a decisão mais acertada? A nosso ver, essa atitude indica a renúncia injustificada á participação no processo democrático, um descomprometer-se, um jogar no “lixo” um direito e um dever e isso só beneficiaria os que comentaram desvios de conduta no exercício do poder. E por falar em participação, como seria a sua efectivação? Enquanto seres sociais precisamos amadurecer o nosso entendimento de ser-cidadão e, de forma deliberada, racional e reflexiva, saber co-participar e assim constituirmo-nos como seres políticos, na medida em que toda a acção que gera consequências no colectivo, tem o caráter de politização e deverá estar pautada por princípios de natureza ética, que envolvem valores de justiça, de liberdade, de responsabilidade.
Diante de tais considerações, não podemos eximir-nos de tantas questões de natureza política, nem retirarmo-nos do processo decisório; não devemos ser passivos nem silenciosos, porque, quanto menos participarmos, mais as decisões serão tomadas pelas “engrenagens da máquina governamental” a todos os níveis. Será que nós, que compomos a sociedade, estamos a abdicar do nosso direito de participação? Precisamos, sim, procurar entender para poder sugerir, discordar, actuar como sujeitos do processo democrático, conquistar espaço, enfim, exercer a nossa cidadania.
Afinal, é necessário ter consciência de que na sociedade, seja a alimentação, a saúde, a moradia, tudo depende das decisões políticas. Assim sendo, neste momento ímpar de votação, na maior eleição de nosso país, convém examinarmos criteriosamente os problemas nacionais e estaduais, ter discernimento para fazer objectivamente as devidas ponderações, construir a nossa compreensão e escolher com cuidado os políticos que representem uma renovação qualitativa e que possam desempenhar as suas reais funções com rectidão, eficiência e responsabilidade, comprometidos com o coletivo, portanto, imbuídos do espírito público. Urge que a política brasileira venha instaurar uma nova forma de fazer política, tendo na ética um de seus principais pilares e operando uma grande viragem cultural para que possamos alcançar um Brasil mais justo e democrático.
Elza Maria Brito Patrício, Professora Universitária de Filosofia, aposentada da UFMA
O texto, embora no último parágrafo se centre nas eleições brasileiras, na parte restante define conceitos absolutos, que encaixam em todas as sociedades “democráticas” como a nossa e daí o seu interesse, para quem se interessar.

2 comentários:

  1. Excelente texto.Este vou imprimir porque me vai ser muito útil, devido aos conceitos absolutos que se encaixam em todas as sociedades demcráticas.

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  2. Ibel
    Estou aqui para servir.
    O texto é de uma Associação Brasileira de Filosofia, de que sou aderente e que se chama SER. Tem muita coisa sobre Ensino.
    Logo os teus meninos podem deliciar-se com músicas "Contra a Pobreza" de 6 portugueses que foram seleccionados.

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