Apareceu por aí um grupo (Agenda para Portugal), que segundo consta se destina a promover a candidatura de Rui Rio a presidente do PSD. Acho muito bem: quanto maior for a confusão, mais fraco e menos perigoso será o Governo.
Mas, fora isso, os nobres varões do Porto cometem um erro essencial: o erro de pensarem que Passos Coelho não representa de facto o partido como ele hoje é. Passos Coelho nasceu no PSD, cresceu no PSD e não fez mais nada na vida senão tratar do PSD. Não deve haver um único militante com quem ele não se tenha alternativamente zangado e reconciliado e, sobretudo, metido numa intriga qualquer inútil e esquecida. O "Pedro", educado por Luís Filipe Menezes, por Marco António Costa e por exemplares do mesmo género, acabou por se tornar no menino da casa.
Ora nem Rui Rio, nem Rangel, nem Pacheco Pereira, nem sequer a lucidíssima Dr.ª Manuela Ferreira Leite são meninos da casa e alguns já entraram mesmo, ou estão a entrar, na 3.ª idade. Que percebem eles da JSD, das concelhias, das distritais, da gente das câmaras que aguentou o partido nos 15 anos de vacas magras, quando o PS distribuía a sopa do convento? A importância que lhes dá agora a televisão (e os jornais), por amor a um pouco de racionalidade, não se reflecte na importância que lhes dão as "bases" (para excepcionalmente usar a "linguagem" da seita). As "notabilidades" do partido são vistas com desconfiança, quando não são, como Pacheco Pereira, objecto de um ódio histórico e tenaz. Os proclamados "sociais-democratas", que a esquerda tanto estima, não pertencem ao submundo que empurrou Passos Coelho para primeiro-ministro.
Pior ainda: não existe maneira de "reformar" o PSD, com uma "agenda" ou sem "agenda" nenhuma. Basta lembrar a gente que dirigiu aquela gerigonça desde a morte de Sá Carneiro e do intermédio Cavaco. Barroso fugiu e entre o resto não apareceram mais do que incapazes, irresponsáveis, criaturas de acaso e um ou outro oportunista. Porquê? Pela simples razão que lá em casa era o que havia. O Dr. Rui Rio pode ser um génio e um justo, mas se por milagre se conseguir alçar a presidente, a canzoada do costume não o deixará governar. A canzoada da província e a canzoada de Lisboa e do Porto, que se imagina superior (como, por exemplo, Morais Sarmento) e predestinada a pastorear o próximo. O PSD é uma doença terminal. Para nós, claro.
António Costa comentava durante o programa Quadratura do Círculo, a conferência em Defesa da Constituição organizada por Mário Soares, sendo o antigo primeiro-ministro e Presidente da República o único orador do Partido Socialista.
Apesar de o autarca reconhecer “especial autoridade” a Soares, considerou que “em condições normais o Dr. Mário Soares não teria que se tirar dos seus cuidados para estar na liderança e mobilização de uma iniciativa deste tipo”. “O facto de o fazer representa também um grande vazio de iniciativa política, porventura designadamente por parte do Partido Socialista”, acrescentou, sem contudo fazer qualquer referência directa ao secretário-geral do partido, António José Seguro.
Porém, ainda no mês passado, no mesmo programa, António Costa considerou que o seu partido ainda não é uma “alternativa clara e imediata à actual solução governativa”, justificando na altura, num comentário ao resultado das eleições autárquicas, que via tanto na abstenção como nos votos brancos e nulos “um espaço de alternativa que ainda está por mobilizar”.
Por muito que não goste dos 1.ºs, no caso os presidentes dos 2 maiores partidos, faz-me impressão assistir a uma oposição velada de 2.ªs figuras desses partidos, independentemente das suas potenciais virtudes governativas, apenas pela atitude de dissimulação e de espera de oportunidade de assalto.
É o caso de António Costa, que um dia está contra Seguro e no outro está (mais ou menos) de acordo, não perdendo aso para mostrar ter mais razão do que o seu presidente.
O mesmo se passa com Rui Rio, que apesar de fazer críticas às políticas do governo, não refere nunca o responsável pelo executivo, que é o seu presidente.
Bem sei que António Costa parece ser um socialista de origem (Seguro também será), mas participou de um governo de Sócrates, que de socialista pouco tinha e provavelmente por isso se afastou, para voltar quando o PS for governo…
Bem sei que Rui Rio parece ser um social-democrata de origem (Passos nem de perto nem de longe) e livrou-se, “coerentemente” do isco que lhe lançaram, ganhando liberdade para andar por aí, quando o PSD for oposição…
Bem sei que entre o socialismo e a social-democracia a diferença não é nenhuma, mas o que sustenta as ideologias não são as doutrinas, mas os homens que as corporizam ou adulteram e por isso as minhas ressalvas em relação a estas duas pessoas tem a ver com o que alguém disse: “reputação é o que você faz quando todos o observam e caráter é o que você faz quando ninguém te está a ver”.
Só por isso…
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