Ao abrir o debate sobre o papel do Banco Central Europeu, Nicolas Sarkozy tentou ganhar votos junto dos eleitores que querem uma política de crescimento. Mas virou as costas a Angela Merkel, adaptando-se às circunstâncias por razões de política interna.
"Merkozy" suicidou-se no domingo, na praça da Concórdia. Há já várias semanas que o (a?) sabíamos muito doente.
Longe vão os dias em que a “fusão” indivisível dos dois chefes de Governo francês e alemão abria caminho à nova Europa das regras de ouro e das sanções orçamentais reforçadas onde, nas cimeiras, se esperava por Angela para apoiar o seu “querido Nicolas”! Desta vez, o seu destino parece definido. As suas próprias contradições acabaram com ele(a).
Ao reclamar a revisão do estatuto do BCE em nome da luta contra a deflação, Sarkozy declarou um pouco a guerra à Alemanha, por razões de política interna.
A linha ordoliberal
Porque a independência do BCE, é a condição “sine qua non” para a presença da primeira economia da Europa na zona euro. Não há compromisso possível e, ao invocar este assunto, disparou a bale que matou “Merkozy”.
O Presidente francês bem o sabe. No outono passado, tentou evocar a questão do estatuto de “emprestador de último recurso” do BCE e foi secamente repreendido pelo Governo alemão. Entrou na linha rapidamente.
Para a Alemanha, o sentido da história é muito diferente daquele que agora quer emprestar à Europa o candidato Sarkozy.
Se a zona euro quer ser viável, tem de adotar os princípios do ordoliberalismo que fizeram o sucesso da RFA nos anos de 1950 e 1960: um Estado discreto, uma política salarial comedida, uma política orçamentar estrita e um banco central absolutamente independente e focado apenas na política monetária e na luta contra a inflação.
Nicolas Sarkozy adotou essa “Weltanschauung” (essa “visão do mundo”) logo que aceitou o tratado orçamental proposto por Berlim.
Esse tratado é a segunda tentativa de Berlim para fazer da União económica e monetária uma zona de competitividade à alemã onde alguns países deixam de apoiar o seu crescimento na procura interna subsidiada pelo Estado.
É, de resto, o preço a pagar para salvar o euro. Hoje, é impossível querer conservar a moeda única e alterar o papel do BCE. A Alemanha nunca tolerará que se ponha em causa a absoluta independência desta instituição que era uma condição não suscetível de discussão quando a moeda única foi criada.
Preferirá sair da moeda única. Por duas razões: o trauma da grande inflação, mas também a vontade de não se tornar a “vaca leiteira” infinita dos países menos competitivos.
2013 ao virar da esquina
De repente, o fosso entre os dois antigos companheiros de passeio de Deauville não para de aumentar. Na segunda-feira, Angela Merkel discordou abertamente do seu ex-“querido Nicolas”. E muito secamente. “É conhecida a posição da Alemanha sobre o BCE e sobre o seu papel independente. É igualmente conhecida em Paris e é imutável desde há muito tempo”, recordou o porta-voz do Governo.
Dito de outra maneira: nós não mudamos e somos coerentes. Como poderia ser de outra maneira? Todas as semanas, o Bundesbank (o Buba), cujo prestígio além Reno é dificilmente imaginável para um francês, critica a sua política orçamental e europeia.
Não ter discordado de Nicolas Sarkozy teria significado discordar dos seus esforços. Em termos de política interna, seria muitíssimo perigoso porque, mesmo no seio do seu partido, há quem seja muito sensível às críticas do Buba. E a independência da política monetária é absolutamente intocável.
Ora, e esta é a chave do suicídio de “Merkozy”, tal como o seu antigo amigo, Angela Merkel quer conservar o seu lugar depois das eleições de setembro de 2013. A única possibilidade de continuar a ser chanceler repousa atualmente em dois pilares: não pode ser contestada no seu próprio campo e não ferir os sociais-democratas para reconstituir uma “grande coligação” sob a sua liderança.
Agora, compreensivelmente, uma vitória de Nicolas Sarkozy já não é tão atraente como era há 2 meses. Muito pelo contrário, ao discordar das fanfarronadas do candidato da UMP, mostra boa vontade para com o SPD e prova a sua firmeza ordoliberal perante o seu próprio campo político.
"Merkozy" já faz parte da história. A não ser, evidentemente, que Nicolas Sarkozy seja reeleito. Os 2 meses de campanha e as suas promessas poderão ser esquecidos muito rapidamente...
PACTO ORÇAMENTAL - Berlim disposta a apoiar o crescimento
Enquanto François Hollande reclama uma renegociação do pacto orçamental caso se torne Presidente da República, a “Alemanha não está contra uma cláusula de crescimento” no tratado, realça La Croix. O diário explica que mesmo que a Alemanha seja “hostil a uma renegociação da disciplina orçamental”, não se irá opor totalmente “a uma nova cláusula que impõe objetivos de crescimento”.
Para que esta cláusula seja acrescentada ao tratado assinado a 2 de março, “seria necessário que os partidários do crescimento propusessem um novo texto na próxima cimeira dos chefes de Estado e do Governo”, que ocorrerá nos dias 28 e 29 de junho. E este deverá ser “alvo de consenso”, alerta La Croix, o que equivaleria a “desprezar o voto dos países que já ratificaram o tratado”.
Por agora, Portugal foi o único a ratificar o tratado, mas as novas negociações estão a atrasar a sua entrada em vigor.
A esquerda(?) ganhará em França e provavelmente ganhará na Alemanha dentro de ano e meio.
ResponderEliminarVeremos o que mudará.
Mesmo que mude pouco, é preciso mudar! Oxalá.
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