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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Não nos pisem mais com os PISAs

Gillian Lynne, quando no Royal Ballet - 1949
Aqui vão uma entrevista e um vídeo interessantes sobre como revolucionar a maneira de ensinar, gerando criatividade e inovação no aluno.
É de Sir Ken Robinson, na entrevista de 3 de Novembro de 2010 em A contra de A Vanguarda, esperamos que agrade, especialmente aos docentes...
Um dia visitando uma escola, vi a uma menina de 6 anos concentradíssima a desenhar.
Perguntei-lhe: - "O que desenhas?".
E respondeu-me: - "A cara de Deus". 
- ¡. ..! "Mas ninguém sabe como é", observei.
- "Melhor - disse ela sem deixar de desenhar -, agora vão saber".
Toda a criança é uma artista - Porque toda a criança acredita cegamente no seu próprio talento. A razão é porque não têm nenhum medo de se enganar... Até que sistema lhes vá ensinando pouco a pouco que o erro existe e que devem ter vergonha dele.
As crianças também se enganam - Se comparar o desenho dessa menina com a Capela Sistina, desde logo que sim, mas se a deixa desenhar Deus à sua maneira, a menina continuará a tentá-lo. O único erro num colégio é penalizar o risco criativo.
Os exames fazem exactamente isso - Não estou contra os exames, mas sim de os converter no centro do Sistema Educativo e às notas na sua única finalidade. A menina que desenhava deu-nos uma lição: se não estás preparado para errar, nunca acertarás, só copiarás. No serás original.
Pode-se medir a inteligência? - A pergunta não é quanta inteligência, mas que tipo de inteligência tens. A educação deveria ajudar-nos a todos a encontrar a nossa e não se limitar a orientar-nos para o mesmo tipo de talento.
Qual é esse tipo de talento? - O nosso Sistema Educativo foi concebido para satisfazer as necessidades da industrialização: talento só para ser mão-de-obra disciplinada, com preparação técnica hierarquizada em distintos graus e funcionários para servir o Estado moderno.
A mão-de-obra ainda é necessária - Mas a industrialização já não existe! Estamos num outro modo de produção com outros requisitos, outras hierarquias. Já não necessitamos de milhões de trabalhadores e técnicos com idênticas competências, mas o nosso Sistema continua a formar. Assim aumenta o desemprego.
Mas repetem-nos: inovação! - Pedem os mesmos que a penalizam nas suas organizações, universidades e escolas. Temos estigmatizado o risco e o erro e, em troca, incentivamos a passividade, o conformismo e a repetição.
Não há nada mais passivo que uma turma - É professor, não é verdade? As turmas são passivas porque os incentivos para estar calado e tirar apontamentos que repetirá são maiores do que os de arriscar-se a participar e talvez “meter a pata na poça”. Assim, depois de 20 anos de educação em 5 níveis, que consistem em nos formar para fábricas e oficinas que já não existem, nada és inovador.
Quais são as consequências? - A maioria dos cidadãos gasta mal a sua vida fazendo coisas que não lhes interessam realmente, mas que crêem que devem fazer para serem produtivos e aceites. Só uma pequena minoria é feliz com o seu trabalho, e só eles podem ser os que desafiarão a imposição da mediocridade do sistema.
Tipos com sorte... São os que se negarão a assumir o grande erro anti-criativo: acreditar que só uns poucos superdotados têm talento.
"Sê humilde: aceita que não te tocou" - Falso! Todos somos superdotados em algo! Trata de descobrir em quê. Essa deveria ser a principal função da educação. Hoje, ao contrário, está focada em clonar estudantes. E deveria fazer o contrário: descobrir que cada um deles é único.
A criatividade não vem nos genes? - É puro método. Aprende-se a ser criativo como se aprende a ler. Pede-se aprender criatividade incluse depois de o sistema nos tenha feito desaprender.
Por exemplo...
Sou de Liverpool e conheço o instituto onde tiveram aulas de música o meu amigo Sir Paul McCartney e George Harrison... Meu Deus! Esse professor de música tinha na sua turma 50% dos Beatles!
E... Nada. Absolutamente nada. McCartney explicou-me que o tipo lhes punha um disco de música clássica e saia para fumar. Apesar da escola, foram génios.
Elvis Presley não foi admitido no clube de canto da sua escola porque "desafinava". A mim, ao contrário um poliomielítico, admitiram-me no Conselho do Royal Ballet… Acertaram em cheio.
Ali conheci alguém que tinha sido um fracasso escolar durante 8 anos. Incapaz de estar sentada ouvindo uma explicação.
Uma menina hiperactiva? - Ainda não se tinha inventado isso, mas já se tinham inventado os psicólogos, por isso levaram-na a um. E foi bom: falou com ela a sós 5 minutos; deixou-lhe a rádio ligada e foi chamar a mãe à sala de espera; juntos espiaram o que fazia a menina só no consultório e... estava a bailar!
Pensando com os pés - Foi o que disse o psicólogo à mãe e assim começou uma carreira que levou essa menina, Gillian Lynne, ao Royal Ballet; a fundar a sua companhia e a criar a coreografia do “Cats”, de “O fantasma da Ópera” com Lloyd Webber.
Se se tivesse feito caso às suas notas, hoje seria uma frustrada.
Seria qualquer coisa, mas medíocre. A educação deve focar-se em que encontremos o nosso elemento: a zona onde convergem as nossas capacidades e desejos com a realidade. Quando a alcanças, a música do universo ressoa em ti, uma sensação a que todos somos chamados.


Para escolher as legendas em português (de Portugal) escolha, clicando em View subtitles

2 comentários:

  1. Gostei muito deste artigo.Efectivamente, sou professora há 37 anos e questiono-me vezes sem conta se sempre ensinei algo que prestasse.Consta-se por aí que sou uma excelente( não faço por menos!)professora de português. Serei? Acho que sempre que ensino melhor, é quando me esqueço dos programas e deixo sair as borboletas que andam acotoveladas nesta coisa que se chama coração. Não sei, se recomeçasse, se faria tudo igual...
    Recordo-me pequenita a querer ser bailarina na minha cabeça. Era essa promessa em sonho que eu deveria ter realizado, mas havia os preconceitos...
    Eu sou bailarina.Passo as horas a ver o tropel dos meus passos em palcos que só pisei pela imaginação.
    Adorei este artigo. O meu inglês é que é uma desgraça. Porquê? Porque tive uma péssima professora. Ora aí está...

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  2. Ibel
    O que é absurdo no PISA e nos Sistemas Educativos, é a predominância da Língua Materna, das Ciências e da Matemática, como se as artes e a Educação através dela não fossem tão ou mais importantes, para a formação da pessoa.
    A seguir vai sair outro video do mesmo especialista.
    Para veres as legendas em Português, segue as instruções abaixo dos vídeos: clica em View sutitles, escolhe a língua e aparecem as legendas.
    E lá se foi uma bailarina. Que pena!

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