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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Outra Banca, outra postura ante a Pobreza

Numa altura em que banqueiro é provavelmente a profissão mais odiada do mundo, Muhammad Yunus é celebrado. Em vez de ser acusado de ganância desmedida, é elogiado pelo seu apoio aos "mais pobres dos pobres". O fundador do Grameen Bank e prémio Nobel da Paz em 2006 tornou o microcrédito global, ajudando milhões de pessoas no Bangladesh através de pequenos empréstimos.
Tudo começou com 19 euros. Em 1976, Yunus conheceu Sufia Begum, uma mulher pobre que vivia na província de Jobra, no Bangladesh. Sufia tinha de pedir empréstimos para comprar o bambu com que depois fazia cestos e peças de mobiliário. Como os bancos se recusavam a emprestar dinheiro aos mais pobres, ela tinha de recorrer a agiotas, que chegavam a cobrar 10% de juros por semana. Resultado: Sufia conseguia um lucro de pouco mais de um cêntimo por dia, num regime praticamente de escravatura. Na situação desta mulher estavam outras 41 da sua aldeia. Yunus decidiu emprestar-lhes um total de 27 dólares do seu bolso (19 euros) com juros baixos. Contra todas as expectativas, todas as mulheres pagaram o empréstimo.
"Nas minhas cadeiras na universidade lidava com milhões e biliões de dólares, mas ali, mesmo à minha frente, os problemas de vida e morte cifravam-se em cêntimos. Algo estava errado", recorda Yunus no seu livro "Banqueiro dos Pobres".
19 € a 8 mil milhões
Esta primeira experiência acabaria por se transformar no Grameen Bank, o maior banco do Bangladesh. Em pouco mais de três décadas, aquelas 42 famílias transformaram-se em quase 8.000.000 de pessoas e aqueles 19 € em 8.700.000.000 € emprestados. A média de empréstimo pedido é de apenas 158 €, com uma taxa de pagamento perto de 98%. O banco acredita que este sistema já retirou 12.000.000 de pessoas da pobreza, tendo sido criadas réplicas deste modelo em 100 países, do Zimbabué aos Estados Unidos.
Os esforços de Muhammad Yunus valeram-lhe o Nobel da Paz em 2006. "Todas as pessoas na Terra têm potencial e também o direito de viver com um mínimo de qualidade de vida. Em todas as culturas e civilizações, Yunus e o banco Grameen mostraram que até os mais pobres entre os mais pobres podem trabalhar para o seu desenvolvimento", considerou então o Comité Nobel.
Aos 70 anos, Yunus é um académico que não encontrava ferramentas na teoria económica para resolver o problema de pobreza que tinha à sua frente. O seu modelo é simples: emprestar dinheiro aos mais pobres, sem necessidade de garantias colaterais, confiando que eles pagarão o empréstimo. Quando tentou convencer os banqueiros a emprestar aos pobres na década de 70, estes disseram-lhe que não era possível. Quatro décadas depois, a crise financeira provou que Yunus tinha razão. Ao contrário dos gigantes financeiros, o Grameen quase não foi afectado pela crise. "O que é ser merecedor de crédito? São os grandes bancos com grandes clientes? Eles não conseguem reaver o dinheiro... enquanto os pobres, com pequenos empréstimos, sem garantias colaterais, estão a pagar cêntimo a cêntimo e a mudar de vida", afirmou Yunus no ano passado.
Elogio ao neoliberalismo?
No entanto, Yunus não tem sido imune a algumas críticas segundo as quais o seu modelo não retira famílias da pobreza, apenas dá a ilusão disso mesmo. Os pobres ficam presos num ciclo vicioso de endividamento, para o qual contribui o facto de as taxas de juro do microcrédito serem mais elevadas que o normal.
Além disso, alguns académicos discordam dos números apresentados pelo Grameen em relação ao número de pessoas que retiraram da pobreza, enquanto outros consideram que apoiar este sistema é concordar com o modelo neoliberal que defende que a pobreza não é um fenómeno com causas estruturais, mas depende de comportamentos individuais.
Duas coisas são certas: o sistema de Muhammad Yunus e do Grameen Bank têm ajudado a melhorar a qualidade de vida muitas famílias, mas dificilmente acabará com a pobreza no mundo.
Há sempre outro caminho, haja um bastão para apoio.
O microcrédito já não é exclusivo do Grameen Bank e já faz parte de muitos bancos comerciais em todo o mundo, quando incentivados por ONGs, ou Governos, como aconteceu em Portugal.
Há sempre outro caminho…
Há sempre outras posições…

2 comentários:

  1. Tenho uma admiração imensa por Muhammad Yunus, sobretudo desde que li "O Banqueiro dos Pobres". O microcrédito,talvez desse melhores resultados do que os que estão à vista, numa Europa em que os bancos incentivavam ao consumismo de forma compulsiva.
    Abraço, Miguel!

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  2. Eu sei umas coisas sobre o microcrédito, há anos, porque quem começou a negociar em Portugal a sua aplicação com os Bancos comerciais, foi o Rotary, através de um Governador de quem fui Assistente.
    Não é remédio, mas não é placebo.

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