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sábado, 9 de outubro de 2010

Sector Público, Administrações Públicas, ou Funcionários Públicos? E as Administrações Público/Privadas?

Os trabalhadores portugueses ganham demais, tendo em conta o valor daquilo que produzem, especialmente os Funcionários Públicos, mostra o Banco de Portugal (BdP) num relatório ontem publicado.
Para além disso, o BdP aponta o dedo ao Sector Público pela explosão registada nas taxas de juro cobradas à economia, relegando para segundo plano as fragilidades estruturais do tecido produtivo.
No diagnóstico que fez à situação da economia, o banco central deixa os recados mais duros ao governo e aos funcionários públicos. O Sector Público será responsável pelo comportamento negativo deste indicador considerado crucial para a retoma, embora o Banco não o concretize em números.
A instituição acusa as Administrações Públicas de estarem na raiz do problema na questão da crise da dívida e de terem, assim, ajudado a encurralar os bancos, dando argumentos para a subida pronunciada das taxas de juro impostas à República.
No privado, que representa uma parcela esmagadora da economia, o quadro é igualmente sombrio.
Ontem, vários empresários, como Américo Amorim, referiram que julgam não ser necessário cortar salários nos seus negócios. "No meu caso não está previsto cortar nos salários", afirmou.
Mesmo sabendo que pode ser sacrilégio um leigo ter dúvidas acerca de quem define os dogmas, não deve ser pecado pedir explicações, até para se converter e daí o meu atrevimento.
1 – O título da notícia fala em Função Pública.
Presume-se que se refere aos Funcionários Públicos.
2 – No corpo da notícia, para além dos Funcionários Públicos, há referências ao Sector Público e às Administrações Públicas.
Não há também Administrações Público/Privadas? E são excluídas do relatório com que propósito?
3 - O BdP aponta o dedo ao Sector Público pela explosão registada nas taxas de juro, embora não o concretize em números.
E pode-se fazer um relatório, com conclusões exactas, sem números rigorosos? Se calhar…
4 – Depois vem acusar as Administrações Públicas de estarem na raiz da crise da dívida e de terem, ajudado a encurralar os bancos.
Então foram os Funcionários Públicos, o Sector Público ou as Administrações Públicas (pondo de lados as Administrações Público/Privadas), que arruinaram o País, encurralando os Bancos? Mas são os Bancos ou o País que está encurralado?
5 – No privado, uma parcela esmagadora da economia, o quadro é igualmente sombrio.
Em que ficamos? O Sector Privado é a maior parcela, é mais produtivo, mas o quadro também é negro? E para complicar, o relatório no que concerne ao Sector Privado, vários empresários dizem que não será necessário cortar nos salários do sector. Não entendi, ou melhor, perdi-me.
6 – Os trabalhadores portugueses ganham demais, tendo em conta o valor daquilo que produzem, especialmente os Funcionários Públicos.
Pode-se inferir daqui, que os trabalhadores devem ganhar conforme o que “produzam”, contrariando o que é quase aforismo, que diz que se deve trabalhar conforme o que se ganha. A diferença estará claramente no conceito do “ganhar demais”. O Funcionário Público, que só presta serviços, produz o quê, quando o comparamos com o trabalho do sector privado, que cria mais-valias, na transformação e na produção de bens? Pode-se comparar o que não é comparável?
Quando se indiferenciam os Funcionários Públicos, o Sector Público e as Administrações Públicas (pondo de lados as Administrações Público/Privadas) como responsáveis e raiz do problema, está-se a colocar de lado a hierarquização das responsabilidades e mesmo dos montantes de salários de cada uma das fatias (mesmo nas proporções entre elas)? Há poucos anos (já dentro da crise) um “pregador de verdades” e até Comendador palestrava sobre “isso” da produtividade, culpando os trabalhadores portugueses dessa “doença”, até que uns calores me obrigaram a interromper-lhe o “sermão” e perguntar-lhe: “O Sr. Comendador sabe quem é mais responsável pela fraca produtividade, se os trabalhadores ou os Administradores?” Entalado, o Sr. Comendador lá teve que confessar, que os estudos provavam que 18% eram imputáveis aos trabalhadores e 82% aos Administradores”. Nem sei se é verdade, mas se não fosse ele não se retrataria.
Assim sendo, para além dos Administradores Públicos (em que se devem incluir todos os Administradores da res publica), os Governantes (talvez em 1º lugar) e sobretudo os Consumidores vorazes (que os Governantes, Administradores Públicos e Privados deixaram acontecer) é que foram os responsáveis pela Crise, que os Funcionários Públicos têm que pagar, por ganharem demais, deixando de fora os Funcionários Privados.
Finalmente, as estatísticas não dizem que os nossos Administradores são os mais bem pagos do mundo e em que se traduz, na “produção”, essa mordomia? Numa CRISE… e sacudindo a água do capote.

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