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domingo, 3 de outubro de 2010

Cultura geral, nunca é demais: "maquiavelismo"

Todos já ouvimos falar de Maquiavel, ou escutamos que alguém "é maquiavélico". As citações a seguir foram extraídas do livro O Príncipe. Talvez a leitura destas linhas possa levar a pensar que o que chamamos "maquiavélico" é, na realidade, um profundo conhecimento psicológico do ser humano e um grande senso comum. A obra completa é um tratado sobre a arte da política e, o que nela se expõe vigora ainda hoje em dia, pois o maquiavelismo é universal e perpétuo.
Alianças - Deves precaver-te de não estabelecer uma aliança com alguém mais poderoso do que tu para atacar os outros, a não ser que te vejas forçado a isto. A razão é que, em caso de vitória, te tornas seu prisioneiro e os príncipes devem evitar, na medida do possível, ficar à mercê dos outros. Também se adquire prestígio quando se é um verdadeiro amigo ou um verdadeiro inimigo, isto é, quando se coloca resolutamente em favor de alguém contra outro. Esta forma de agir sempre é mais útil do que permanecer neutro, porque quando dois estados vizinhos entram em guerra, o vencido haverá de temer o vencedor. O vencedor não quer amigos duvidosos que não o defendam na adversidade; o derrotado não te concede refúgio por não teres querido compartilhar a sua sorte com as armas na mão.
A Arte da Guerra - O príncipe que não se preocupa com a arte da guerra, além das calamidades que lhe possam acontecer, jamais poderá ser apreciado pelos seus soldados, nem confiar neles.
Castigos - Com pouquíssimos castigos, porém exemplares, [o príncipe] será mais clemente do que aqueles que, por excessiva clemência, permitem que a desordem continue, da qual surgem, sempre, assassinatos e rapinas.
Crueldade - A crueldade pode ser bem ou mal usada. Bem usada pode-se dizer daquela (se do mal for lícito falar bem) que se faz repentinamente, pela necessidade de se garantir (ou precaver), e, depois, não se repete, tornando-a da maior utilidade possível para os súbitos. Mal usada é aquela que, mesmo pouca a princípio, vai aumentando no decorrer do tempo ao invés de diminuir.
Delegar as medidas impopulares - Os príncipes devem executar, através dos outros, as medidas que lhes possam acarretar ódio e executar por si mesmo aquelas que lhes angariam o favor dos súbitos. Deve estimar os nobres, mas não se fazer odiar pelo povo.
Eleição e manipulação dos conselheiros - Não há outro meio de se defender das adulações do que fazer os homens compreenderem que não te ofendem se te dizem a verdade, mas, quando toda a gente te pode dizer a verdade, falta-te reverência. Um príncipe prudente deve ter uma terceira opção: escolhendo homens sensatos e concedendo só a eles a liberdade de lhe dizer a verdade, mas unicamente sobre aqueles assuntos que questionarem e nenhum outro.
Entreter o povo - Ademais, deve, nas épocas convenientes do ano, distrair o povo com festas e espectáculos.
Evitar o ódio do povo - O príncipe deve inspirar temor de forma que, se lhe for impossível ganhar o amor do povo, consiga evitar o ódio, porque se pode combinar perfeitamente o facto de ser temido com o de não ser odiado. O príncipe deve evitar tudo aquilo que possa torná-lo odioso ou desprezível.
Fidelidade à palavra dada - Um senhor prudente não pode, nem deve, manter a sua palavra quando tal fidelidade se vire contra si mesmo e tenham desaparecido os motivos que determinaram a sua promessa. Se todos os homens fossem bons, este preceito não seria correcto; mas, posto que são maus e não manteriam a sua palavra para contigo, também não deves manter a tua.
Generosidade - Tem de ser generoso com aqueles de quem não tira nada - que são muitíssimos - e avarento com aqueles que nada dão, que são poucos. Com aquilo que não é teu nem dos teus súbitos podes ser consideravelmente mais generoso. Gastar o que é dos outros não tira a reputação, ao contrário, aumenta-a.
Imitar os grandes homens - Um homem prudente deve discorrer (ou percorrer), sempre, os caminhos trilhados pelos grandes homens e imitar aqueles que se têm destacado extraordinariamente dos demais, para que mesmo que não alcance a sua virtude, algo da sua essência permaneça.
Injustiças e favores (o mal é rápido e o bem é lento) - As injustiças devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, pouco saboreadas, ofendam menos, ao passo que os favores devem ser feitos aos poucos, para que sejam melhor apreciados. Quando os homens recebem o bem de quem esperavam o mal, sentem uma obrigação maior pelo benfeitor, o povo exige mais daquele que foi conduzido ao principado sem o seu apoio.
Natureza humanaPode-se dizer dos homens o seguinte: são ingratos, volúveis, simulam o que não são e dissimulam o que são, fogem do perigo, estão ávidos de ganância. E, enquanto lhes fazes favores são totalmente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando a necessidade está distante; quando esta se aproxima, viram-te a cara. Os homens esquecem com maior rapidez a morte do seu pai do que a perda do seu património. A natureza dos homens é contrair obrigações entre si, tanto pelos favores que fazem como pelos que recebem.
O que se deve fazer - Quem deixa de lado o que faz pelo que deveria fazer, conhece antes a sua ruína do que a sua preservação.
Prestígio - Também ajuda bastante dar exemplos surpreendentes na sua administração, dos assuntos internos, de forma que quando algum subordinado praticar uma acção extraordinária (boa ou má) lhe confira um prémio ou um castigo que dê suficiente motivo para que dele se fale. Temos de ser ardilosos para que cada uma das nossas acções nos proporcione fama de grandes homens e de talento excelente. Muita gente julga que um príncipe sábio deve, quando tiver a oportunidade, fomentar com astúcia alguma oposição a fim de que, uma vez vencida, brilhe a maior altura a sua grandeza.
Prudência - Aquele que não detecta os males quando nascem, não é verdadeiramente prudente.
Qualidades do príncipe - Há certas qualidades que o príncipe poderia ter - inclusive atrever-me-ei a dizer que se as têm e as observa, sempre são prejudiciais – porém, se aparenta tê-las são úteis; por exemplo, parecer clemente, leal, humano, íntegro, devoto e de facto sê-lo, porém, ter o ânimo predisposto de tal forma que se for necessário não sê-lo, possa e saiba adoptar a qualidade contrária.
Quando iniciar o combateJamais se deve permitir a continuação dos problemas para evitar uma guerra; não se evita, apenas se retarda, ficando, porém em desvantagem.
Recompensas - Quem acredita que novas recompensas farão os grandes homens esquecer as antigas injustiças de que foram vítimas, engana-se.
Resistência às mudanças - Os homens vivem tranquilos se mantidos nas antigas formas de vida. A sua incredulidade faz com que acreditem no novo, apenas quando adquirem uma sólida experiência dele. A natureza dos povos é muito inconstante: é fácil convencê-los de alguma coisa, porém é difícil mantê-los convictos.
Simulação e dissimulação - É necessário ser um grande simulador e dissimulado: e os homens são tão simples e se submetem a tal ponto às necessidades presentes, que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar. Cada um vê o que aparenta ser, mas poucos tentam conhecer o que tu és realmente. A pouca prudência dos homens impulsiona-os a iniciar uma coisa e, pelas vantagens imediatas que ela apresenta, não percebem o veneno que por baixo está escondido.
Vingança - Os homens devem ser afagados ou esmagados, porque se vingam das pequenas ofensas já que das graves não podem fazê-lo. A afronta deve ser tal, que não gere a ocasião de temer a vingança.



Tradução feita do espanhol e cotejada com o original italiano por Elizabeth Fornés.

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