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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Melhor economia à custa da nossa humanidade?

A crise económica e política dos Estados Unidos deverá agravar-se após as próximas eleições de Novembro.
O presidente Barack Obama vai perder todas as oportunidades de conseguir aprovar legislação em prol dos mais pobres e do ambiente. De facto, é provável que as principais legislações e reformas fiquem paralisadas até 2013, altura das novas eleições presidenciais. Muito provavelmente, uma situação que já é má - marcada pelo impasse e pela causticidade - deverá piorar. E o mundo não deverá esperar demasiada capacidade de liderança por parte de uns Estados Unidos fortemente divididos.
A maioria dos norte-americanos está de mau humor e a linguagem de compaixão foi, em grande parte, abandonada. Os dois partidos políticos servem os doadores ricos das suas campanhas, ao mesmo tempo que afirmam que defendem a classe média. Nenhum dos partidos menciona os mais pobres, que, de acordo com os números oficiais, representam actualmente 15% da população mas que na verdade abrangem uma percentagem muito mais elevada, quando contamos com todas as famílias que lutam para pagar os cuidados de saúde, as casas e outras necessidades, e tentam manter os seus postos de trabalho.
O Partido Republicano emitiu recentemente a "Pledge to America" ("Promessa à América") para explicar as suas crenças e promessas de campanha. O documento está cheio de ideias sem sentido, como o argumento insensato de que os impostos elevados e a sobre-regulação explicam o elevado desemprego no país. Está igualmente cheio de propaganda. O presidente John F. Kennedy afirmou que impostos elevados podiam estrangular a economia. Mas Kennedy falava há meio século, quando as taxas marginais máximas eram o dobro das actuais. Acima de tudo, a plataforma republicana está desprovida de compaixão.
Os Estados Unidos vivem actualmente o paradoxo de serem um país rico que se está a desmoronar devido ao colapso dos seus principais valores. A produtividade norte-americana está entre as mais elevadas do mundo. O rendimento nacional médio por pessoa é de cerca de 46 mil dólares, cerca de 33 mil euros. Este valor é suficiente não só para viver bem, mas também para prosperar. Ainda assim, o país está a sofrer uma terrível crise moral.
A desigualdade dos rendimentos atingiu níveis históricos, mas os mais ricos argumentam que não têm responsabilidades para com o resto da sociedade. Recusam ajudar os mais pobres e defendem, sempre que podem, reduções da carga fiscal. Quase todas as pessoas se queixam. Quase todas as pessoas defendem de forma agressiva os seus interesses egoístas e de curto prazo. E quase todas as pessoas abandonaram qualquer tentativa de olhar para o lado e tentar resolver os problemas das outras pessoas.
O actual debate político norte-americano é um concurso entre partidos para saber quem oferece as maiores promessas à classe média, principalmente em forma de reduções fiscais numa altura em que o défice orçamental do país já supera os 10% do produto interno bruto (PIB). Os norte-americanos parecem acreditar que têm um direito natural aos serviços públicos sem terem que pagar impostos. No vocabulário político norte-americano, os impostos são definidos como uma negação da liberdade.
Houve uma altura, não há muito tempo, em que os norte-americanos falavam sobre o fim da pobreza no país e no estrangeiro. A "Guerra à Pobreza" de Lyndon Johnson, em meados dos anos 60, reflectia uma era de optimismo nacional. A sociedade acreditava que devia fazer um esforço colectivo para resolver problemas comuns, como a pobreza, a poluição e os cuidados de saúde. Nos anos 60, os Estados Unidos desenvolveram projectos para reconstruir as comunidades mais pobres, para lutar contra a poluição da água e do ar e para assegurar cuidados de saúde para os mais velhos. Mas as profundas divisões em torno da guerra do Vietname e dos direitos civis, juntamente com o surgimento do consumismo e da publicidade, parecem ter colocado um ponto final numa era de sacrifícios partilhados com o objectivo de alcançar o bem comum.
Durante 40 anos, a compaixão na política retrocedeu. Ronald Reagan ganhou popularidade ao cortar benefícios sociais para os mais pobres (argumentando que os mais pobres enganavam o Estado para receber um pagamento extraordinário). Bill Clinton continuou estes cortes durante os anos 90. Actualmente, nenhum político se atreve a mencionar ajuda para as pessoas mais pobres.
Os grandes doadores das campanhas políticas pagam para garantir que os seus interesses dominam os debates políticos. Isso significa que os dois partidos defendem cada vez mais os interesses dos mais ricos, apesar dos republicanos o fazerem mais do que os democratas. É muito pouco provável que mesmo um pequeno aumento da carga fiscal para os mais ricos encontre apoio entre os políticos norte-americanos.
É muito provável que o resultado desta política seja um declínio de longo prazo do poder e da prosperidade dos Estados Unidos, porque os norte-americanos já não investem colectivamente no seu futuro comum. A América vai continuar a ser, durante muito tempo, uma sociedade rica mas cada vez mais dividida e instável. O medo e a propaganda podem levar a mais guerras internacionais, lideradas pelos Estados Unidos, tal como aconteceu na década passada.
E o que está a acontecer nos Estados Unidos é muito provável que aconteça noutros países. Os Estados Unidos são vulneráveis ao colapso social porque são uma sociedade muito diversificada. Os sentimentos racistas e "anti-imigrantes" são uma parte importante dos ataques aos mais pobres, ou pelo menos são a razão porque tantas pessoas estão dispostas a seguir a propaganda contra a ajuda aos mais pobres. À medida que outras sociedades enfrentam o aumento da diversidade, podem enfrentar a mesma situação dos Estados Unidos.
Recentemente, um partido de direita "anti-imigração" sueco teve votos suficientes para ter representação parlamentar. Esta votação reflecte uma crescente reacção contra o aumento do número de imigrantes na sociedade sueca. Em França, o governo de Nicolas Sarkozy tentou ganhar popularidade junto da classe trabalhadora através da deportação de ciganos, alvo de um ódio generalizado e de ataques étnicos.
Os dois exemplos mostram que a Europa, tal como os Estados Unidos, é vulnerável às divisões políticas, à medida que as nossas sociedades são cada vez mais etnicamente diversificadas.
A lição que podemos tirar da situação dos Estados Unidos é que o crescimento económico não é garantia de bem-estar social e de estabilidade política. A sociedade norte-americana está a tornar-se cada vez mais dura, onde os mais ricos compram a sua participação no poder político e os mais pobres são abandonados à sua sorte. Nas suas vidas privadas, os norte-americanos tornaram-se dependentes do consumismo, o que lhes rouba tempo, poupanças, atenção e propensão para participar em actos de compaixão colectiva.
O mundo deve ter cuidado. A não ser que acabemos com as horríveis tendências do dinheiro na política e do consumismo desenfreado, corremos o risco de alcançar a produtividade económica à custa da nossa humanidade.
Jeffrey D. Sachs é professor de Economia e director do Instituto da Terra na Univerdade de Columbia. É também conselheiro especial do secretário-geral das Nações Unidas para os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
A análise não se restringe aos EUA, antes a todos os países ocidentais, ou ocidentalizados, cujas economias se baseiam na "sagrada" teoria do deus menor, chamado Mercado...
Alternativas? Há muitos especialistas em economia que as têm, como é o caso de Jeffrey Sachs e muitos outros, basta que o conceito de Economia seja diferente, no que concerne ao objecto dessas teorias, ou o HOMEM ou qualquer outra coisa.

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