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sábado, 16 de outubro de 2010

Beber em boas fontes, não nos intoxica

Paul Krugman, Economista e Prémio Nobel 2008
A insuficiência do plano Obama de estímulos à economia está à vista e deixou o presidente sem argumentos para responder à campanha contra a imagem falsa da administração gastadora.
Lemos em toda a parte que o presidente Barack Obama tem sido responsável por um enorme aumento do peso do Estado mas mesmo assim o desemprego continua alto, o que prova que os gastos públicos não criam emprego.
Ora convém que se saiba que tudo isto não passa de uma mentira. Não houve qualquer aumento dos gastos públicos. Aliás, tem sido essa a grande falha da política económica americana durante a administração Obama. Nunca tivemos um aumento da carga fiscal como seria necessário para criar os milhões de empregos de que precisamos.
De resto, procure lembrar-se: quais foram os grandes programas federais iniciados desde que o presidente tomou posse? A reforma do sistema de saúde em grande parte ainda não foi posta em prática, portanto não pode ser por aí. Há grandes projectos de infra-estruturas em curso? Não. Grandes benefícios para pessoas de fracos recursos? Também não. Então onde foram feitos os grandes gastos de que passamos a vida a ouvir falar? Não foram feitos.
Para sermos justos, os gastos com programas de protecção social, sobretudo com os seguros contra o desemprego e de saúde, aumentaram, isto porque, para quem não tiver reparado, também aumentou muito o número de americanos sem trabalho e a precisar de ajuda. Além disso houve gastos substanciais com o resgate de instituições financeiras em risco, embora tudo indique que o Estado vai reaver a maior parte desse dinheiro. No entanto, quando as pessoas denunciam os gastos governamentais, em geral têm em mente o reforço das burocracias e os grandes programas estatais. Ora isso é que na realidade não existiu. Há um facto em particular que talvez o surpreenda: o número total de funcionários públicos nos Estados Unidos desceu no tempo de Obama, não subiu. O pequeno aumento federal foi largamente compensado pela enorme descida nas administrações estatais e locais - sobretudo devido aos despedimentos de professores. O número total de empregados do Estado baixou mais de 350 mil desde Janeiro de 2009.
É um facto que o emprego directo não é uma medida perfeita do peso do Estado, uma vez que este também emprega de forma indirecta, quando compra bens e serviços no sector privado. E as compras de bens e serviços feitas pelo Estado têm subido. No entanto, se fizermos o cálculo com as correcções devidas à inflação, só subiram 3% nos últimos dois anos - ou seja, a um ritmo inferior ao dos dois anos anteriores e ao ritmo normal de crescimento da economia.
Em resumo, como eu disse, o tal crescimento do peso do Estado de que todos falam na realidade não aconteceu. Isto levanta duas questões. Para começar, sabemos que o Estado aprovou um pacote de estímulos no princípio de 2009. Por que razão não se traduziram esses estímulos num aumento da despesa pública? Em segundo lugar, se esse aumento na realidade não aconteceu, porque é que todos estão convencidos do contrário?
Parte da resposta à primeira pergunta é que o estímulo não era assim tão grande se tivermos em conta o tamanho da economia. Além disso, não se concentrou no aumento dos gastos do Estado. Se considerarmos o custo aproximado de 600 mil milhões de dólares do Recovery Act de 2009 e 2010, mais de 40% saiu de cortes fiscais enquanto outra grande parte representou ajudas às administrações estatais e locais. Apenas o restante envolveu gastos governamentais directos.
A ajuda federal às administrações estatais e locais não foi suficiente para compensar a descida em flecha das receitas fiscais numa situação de retracção económica. Assim, tanto os estados como as cidades, sem capacidade para assumir grandes défices, foram obrigados a reduzir os gastos de forma drástica, o que mais que compensou a modesta subida dos orçamentos federais.
A resposta à segunda pergunta - porque existe uma impressão generalizada de que os gastos do governo aumentaram quando isso não é verdade - é que a direita tem conduzido uma campanha de desinformação baseada na habitual mistura de afirmações sem base factual e de números manipulados. Esta campanha tem sido parcialmente bem-sucedida porque a administração Obama não lhe tem respondido de forma eficaz.
A verdade é que este governo tem dificuldades de comunicação em matéria económica desde que iniciou funções, altura em que lançou um programa de ajuda que muitos considerámos insuficiente dada a profundidade dos problemas da economia. Pode argumentar-se que Obama conseguiu aquilo que era possível - que um plano mais ambicioso não teria sido aprovado no Congresso (o que é discutível) e que um plano de estímulos insuficiente é melhor que nada (o que é verdade). Só que a administração nunca disse isto. Pelo contrário, sempre insistiu que assim é que estava bem, uma afirmação que, com a economia cada vez mais estagnada, se está a tornar difícil de justificar.
Um dos efeitos secundários desta postura inábil é que os seus responsáveis não conseguem encontrar argumentos eficazes contra a ideia de que aqueles gastos imensos não conseguiram resolver os problemas económicos - sobretudo não podem dizer que, devido à insuficiência do Recovery Act, os gastos nunca tiveram lugar.
Mas se eles não o dizem digo eu: se o investimento público não consegue reduzir o desemprego na era Obama, não é por a medida não ser eficaz, é porque nunca foi realmente tomada.
por Paul Krugman, Economista e Prémio Nobel 2008
Hoje não dá para falar da nossa “economia”, fruto do choque e para não entrar em pânico.
Para entendermos(?) o nosso “destino” e a força do PODERIO a nível mundial, nada melhor do que ouvir quem sabe, que não consta que seja de esquerda, que conhece da poda e pode fazer emergir as razões do nosso desassossego.
Paralelismos…
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