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terça-feira, 14 de setembro de 2010

"A República Educadora" foi o tema da Conferência de António Nóvoa

Da esq. para a dir.: João Costa, António Nóvoa,
Macedo Vieira e José Carlos de Vasconcelos
O especialista em História da Educação António Nóvoa fez uma análise cronológica do estado da escola em Portugal que dividiu em três fases:
1890 a 1910 – O chapéu da moda;
1910 a 1926 – Período da I República e
1910 a 2010 - 100 anos de República.
Segundo ele, no primeiro período vários países começam a construção do modelo escolar contemporâneo, movimento no qual Portugal marca presença. Esta altura coincide com o movimento de produção de estatísticas internacionais que comparam os diversos países e começa a tornar-se muito nítido o discurso do atraso educacional em Portugal nos finais do século XIX e a ideia de que a Monarquia quer o atraso e o analfabetismo das pessoas. A esse propósito, o orador referiu o enorme impacto causado pelo Manifesto de 1897 de Benardino Machado onde é dito que “dos 5.000.000 de habitantes que constituem a população portuguesa, 4.000.000 vivem na mais sombria ignorância: são analfabetos. Tudo isto é mais do que uma vergonha, é um verdadeiro crime”. É neste debate, na transição do século XIX para o século XX, que o sentimento se torna num debate político, afirmou António Nóvoa, acrescentando que a falta de instrução é apontada como causadora de todos os males sociais. Neste sentido, o orador citou António José de Almeida que defendia que “à Monarquia convém a ignorância. A Monarquia dá-se bem com a ignorância e a degradação intelectual do povo. Só a República poderá dar instrução ao povo, fazendo cidadãos, essa é a matéria-prima de todas as pátrias”.
Sobre o período da I República (1910-1926), António Nóvoa disse que “introduziu Portugal na Modernidade educativa”. Criou um sistema escolar comparável ao dos outros países europeus mas os seus resultados e realizações ficaram muito aquém do que havia sido sonhado e prometido, informou, acrescentando que “é este talvez o drama da nossa educação: voluntarismo a mais e concretizações a menos”. Este período é marcado por uma convicção fortíssima dos republicanos de que o homem vale sobretudo pela educação que possui e é na escola primária que verdadeiramente se há-de formar a alma da pátria republicana. Na luta contra o analfabetismo são criadas, nesta altura, as Escolas Móveis que iam pelo país procurar alfabetizar as pessoas. No entanto, esta iniciativa não deu grandes frutos tendo em conta que “no início da I República havia 69% de analfabetos e em 1930 esse número tinha reduzido somente para 62%, ou seja, em cerca de 20 anos, só houve uma redução de 7% na taxa de analfabetização”. Perante estes números, os republicanos sentem-se profundamente desiludidos com o resultado da sua acção. Outra desilusão prendeu-se com a inclusão da escolaridade obrigatória (5 anos) e ensino primário superior (8 anos) pois “no final da I República apenas 1 em cada 3 crianças frequenta o ensino primário geral e apenas 2% estão inscritas na 4ª classe”. Consciência social, cidadania e associativismo marcam este ciclo republicano.
António Nóvoa definiu os 100 anos da República como: “100 anos de esforços para conseguir que todas as crianças e jovens tenham acesso à escola”; “100 anos de esforços para conseguir inscrever uma cultura letrada, uma cultura escolar num país avesso ao conhecimento e à ciência”; “100 anos de esforços para criar infra-estruturas e condições, materiais e profissionais, para o desenvolvimento da escola”. A propósito, o orador citou Agostinho Campos: “a realidade impõe-se ao sonho, ao ideal, mas não passa ao querer”. E lembrou António Sérgio, que já em 1918 referia a “plasticidade do português que foi capaz de se adaptar a tantas culturas” mas, em contrapartida “tem dificuldade em lidar com a cultura escolar”.
António Nóvoa falou como convidado da Comemoração na Póvoa de Varzim do Centenário da Implantação da República, no programa “Na Maré da República”.

António Sampaio da Nóvoa é Reitor da Universidade de Lisboa desde Maio de 2009.
É também professor catedrático da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa e presidente da Associação Internacional de História da Educação - ISCHE (2000-2003). Áreas de especialização: História da Educação e Educação Comparada.
Publicou mais de uma 150 trabalhos científicos (livros e artigos) na área da Educação – em particular sobre temáticas da profissão docente, da história da educação e da educação comparada –, em diversos países, nomeadamente Alemanha, Bélgica, Brasil, Canadá, Colômbia, Espanha, Estados Unidos da América, Finlândia, França, Portugal, Reino Unido e Suíça.

2 comentários:

  1. Este senhor não pode deixar de saber que a I República não "Criou um sistema escolar comparável ao dos outros países europeus": Tal sistema foi concebido na reforma educativa de 1894-1895, por Jaime Moniz. A I República dá-lhe continuidade: embrulha-a sobretudo em dilúvios de retórica e legislação; e revelou pouca capacidade de realização.
    A prioridade política consistiu em destruir as instituições religiosas de ensino,na continuidade com a política de vinha de Pombal.O anti-clericalismo e anti-jesuitismo fez Portugal perder a colaboração da única elite docente de que dispunha.

    14 de Setembro de 2010 16:49

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  2. Caro Anónimo
    Não sendo especialista, não vou meter a foice em seara alheia e presumivelmente o Professor António Nóvoa não visitará este blogue (quem sabe) para o contraditório do contraditório.
    Para todos os efeitos, obrigado pela visita e pelo comentário.

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