O presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz (CNJP), Alfredo Bruto da Costa, afirmou que o que se faz em Portugal na acção social é "apreciável e necessário, o que não quer dizer que não possa ser aperfeiçoado", mas acrescentou, "no que respeita ao combate à pobreza o impacto dessa acção é muito diminuto", dizendo que "a pobreza não é um problema periférico", mas "estrutural da sociedade" e "uma consequência lógica do modo como a sociedade e a economia estão organizadas e funcionam".
Para este investigador pioneiro dos estudos sobre a pobreza em Portugal, há vários factores a explicar esta situação. O mais importante, referiu, é a "limitação que os programas e políticas de luta contra a pobreza têm de não poderem afectar privilégios, nem o padrão de desigualdade que caracteriza a sociedade portuguesa. Consequentemente, tudo quanto se faz neste domínio é periférico e não toca nas causas da pobreza" e vincou ainda o facto de "a maior parte das acções abordarem o problema da privação e não atingirem o problema da falta de recursos".
Bruto da Costa reafirmou que "nem todo o esforço e os recursos aplicados se destinam a reduzir a pobreza", mas apenas a "atenuar o estado de privação em que os pobres se encontram, a suprir carências básicas", ao invés de "ajudar os pobres a reconquistarem um lugar na sociedade, de modo a terem meios de vida próprios e não precisarem de ajuda".
Para o Presidente da CNJP, organismo da Igreja Católica vocacionado para as questões sociais, "o verdadeiro combate à pobreza exige mudanças sociais, que vão necessariamente bulir com situações de privilégio intoleráveis" e acrescentou que a sociedade deve ter um maior protagonismo no combate à pobreza, já que "do Estado e das instituições que dele dependem não devem esperar-se mudanças apreciáveis, em parte por razões eleitoralistas".
Não se pode acrescentar nada a um especialista do tamanho de Bruto da Costa, nem contrariar as suas convicções, baseadas em dados e trabalhos de longa data.
Uma excelente critica. O facto é que em Portugal a acção social não visa tirar ninguém da pobreza mas sim dar-lhe apenas o suficiente para que as pessoas possam viver pobres.
ResponderEliminarÉ a eterna questão do dá-se o peixe em vez de se ensinar a pescar.
Obrigado por esta referência, Miguel. É para reter.
Elenáro
ResponderEliminarInfelizmente não é só em Portugal, é em todo o mundo, como fazíamos e se continua a fazer com os povos africanos. Cada vez mais, somos todos iguais, pela negativa...