O neurocientista António Damásio considera que não está a fazer nenhuma descoberta científica quando critica a forma como se aplica a austeridade em países como Portugal: "Basta olhar para factos que diversos economistas e políticos reconhecem."
António Damásio destaca esta situação na longa entrevista que dá a propósito da reedição revista e atualizada do seu livro "Ao Encontro de Espinosa". Ressalva que comenta a crise porque "toda a minha visão da biologia humana está centrada no problema da sobrevivência e da regulação de vida". Daí que refira sobre a economia: "É uma projeção da nossa própria biologia e todos os ajustes técnicos e morais que fazemos dentro de uma economia têm a ver com a forma como indivíduos poderão ou não sobreviver."
Para o cientista, que estuda as emoções e os sentimentos, está claro que os efeitos da "austeridade desenfreada" vão levar, inevitavelmente, a uma depressão social em países como Portugal, Grécia ou Espanha porque, explica, "têm servido de cobaias para uma experiência".
Na entrevista, António Damásio aborda também as questões da ética e afirma que "é possível continuar a ser ético mesmo em depressão económica". Dá como exemplo que durante a grande depressão dos anos 30 a ética não foi removida da sociedade mas, alerta, "que não é possível é manter situações de crise durante muito tempo sem que haja prejuízos para a prática da ética".
Também Damásio dá mais crédito aos críticos de renome, que recusam a austeridade do que aos politiqueiros cá do sítio, com base no seu próprio conceito alargado da vida, nas suas conclusões sobre as causas emocionais e os efeitos no comportamento humano e nas consequências sobre os Valores, como a Ética.
Mas vai mais longe, e opina sobre o valor a Educação e o futuro (mais rico) das nações, que empobrecem na relação direta do desinvestimento.
E nem a análise nem a crítica é feita por despeito ideológico, mas apenas por racionalidade…
“Qual é a razão por que aceitei, qual é a razão por que estou aqui? A razão é muito simples, é que a educação é um dos aspetos mais importantes do futuro da humanidade, neste país ou em qualquer outro país. E é por isso que se puder contribuir de alguma maneira para o sucesso de uma boa escola, tenho muito gosto de o fazer”, afirmou António Damásio.
Em palestra dirigida a alunos, professores e funcionários e na presença de Nuno Crato, Ministro da Educação e Ciência, António Damásio falou sobre ‘A neurociência da educação’.
Na intervenção, o neurocientista afirmou que a pobreza é uma forma de violência e “se é verdade que a solução para a pobreza passa pela saúde, pelas economias e pela inteligência dos programas políticos, também é verdade que não pode haver hoje em dia economias saudáveis ou programas políticos inteligentes sem níveis crescentes de educação”.
Num dia em que foram conhecidos alguns dos dados do relatório do FMI sobre a reforma do Estado, onde se propõe um corte de 50.000 professores nas escolas portuguesas, António Damásio afirmou que esses números apenas lhe indicam que “não é possível ter uma sociedade justa e com progresso se não houver excelente educação”.
Questionado sobre se a educação em Portugal está em risco, o neurocientista afirmou que “desde que haja cortes e que não seja possível ter boas escolas e bons professores é evidente que está em risco”, no entanto, acrescentou, “espero que nada disso se vá passar e que seja possível manter qualidade e não só manter, mas aumentar qualidade nas escolas”.
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