Portugal perdeu, no espaço de um ano, 197.400 trabalhadores por conta de outrem, mas 'só' há mais 129.471 inscritos nos centros de emprego. A explicação está no aumento da emigração, que levou para o estrangeiro 200.000 pessoas no último ano e meio. E os que ficam ganham cada vez menos. O número de trabalhadores que recebem menos de 310 euros líquidos mensais cresceu mais de 4% entre setembro de 2011 e igual mês de 2012. São já mais de 155.000 pessoas nesta situação. Os dados são do INE e mostram, ainda, que mais de 1/3 dos portugueses leva para casa, todos os meses, menos de 600 euros.
O aumento do número de pessoas com vencimentos inferiores ao salário mínimo nacional deve-se, segundo Luís Bento, economista e professor universitário, em parte ao crescimento do trabalho a tempo parcial, tendência que se vem acentuando nos últimos 2 anos. O especialista em Recursos Humanos, acredita também que uma boa parte dos casos se devam a um acréscimo "muito significativo do incumprimento dos mínimos salariais pelas empresas que se aproveitam de haver menos oferta do que procura". O problema, diz o economista, é que para um lugar de 600 euros, os empresários "têm hoje, se calhar, 150 pessoas dispostas a aceitá-lo por 400 euros e mais 200 ou 300 por 250 euros". Estes números provam, antes de mais, que "não há cruzamento de dados entre a Segurança Social, o INE e a Autoridade para as Condições do Trabalho" e, sobretudo, que esta entidade "não está a atuar".
Dos 3.644.000 de portugueses que são funcionários por conta de outrem, 1/3 leva para casa, todos os meses, menos de 600 euros. Esta "espiral de empobrecimento" deverá intensificar-se em 2013, com o incumprimento das metas da troika, admite. Luís Bento lembra que há, também, cada vez mais, "uma diminuição dos salários das pessoas que estão a trabalhar", numa tentativa de manterem os seus postos de trabalho.
E quanto à diferença, de quase 68.000 pessoas, entre a diminuição da população empregada e o aumento dos números de inscritos nos Centros de Emprego? A diferença é explicada por vários fatores, para além do desemprego: morte, reformas, emigração. "No último ano, com o crescimento da economia paralela e da emigração, o número de inscritos nos centros de emprego tem vindo a reduzir-se face à perda total da população empregada", diz.
Com Portugal a aproximar-se, a passos largos, de ser o país com os salários mais baixos da UE, o economista refuta a teoria oficial vigente, de que a competitividade das empresas se faz reduzindo o custo do trabalho. "Se o foco fosse esse, começava-se pelos custos energéticos e de transporte, porque os salários representam, apenas, 18% dos custos totais das empresas".
O número de casais em que ambos os cônjuges estavam desempregados, em novembro de 2011, quase duplicou face ao mesmo mês do ano anterior, segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), aumentando 95,5% em novembro de 2012, face ao período homólogo de 2011, totalizando 11.044 casais.
Comparando com o mês de outubro de 2012, o número de casais em que ambos os cônjuges estavam desempregados aumentou 5,2%.
Não há dúvidas de que a teoria da Lei da Oferta e da Procura, para além de incidir no preço das coisas, também se aplica no preço do trabalho das pessoas, com facilidade e sucesso, se quem está à frente das rédeas do poder a deixar cavalgar desenfreadamente…
Claro que até eu já estou cansado de me repetir e os leitores desistindo de me ler, mas perante tudo isto algo se tem que dizer, nem que seja nada, que é o que vou fazer…
Só repetirei a dúvida latente sobre o sucesso, que se diz que estamos a conseguir em avaliações externas (ad hoc), embora contrariadas intermitentemente pelas mesmas instituições que as fazem e por esta realidade deprimente e trituradora de vidas humanas…
E se a redução do “preço” do trabalho é humilhante e sufocante, o desemprego não o é menos, mas quando alargado a uma família, é assassínio em massa pelos “homens” da massa.
Em alguns lugares da China os salários já são menos baixos do que em Portugal, o que contraria o que dizia em tempos Jorge de Sena:
…
Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.
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