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sábado, 19 de janeiro de 2013

“Comissão Política Nacional” do PSD, à boca fechada

Sofia Galvão é uma ilustre jurista. Uma política inteligente. Uma mulher cheia de talentos e virtudes. Sinceramente, não consigo perceber os motivos pelos quais aceitou liderar a organização da (dita) conferência sobre a reforma do Estado, organizada pela ala PSD do Governo. Tenho a certeza de que caso Sofia Galvão fosse, de facto, a principal responsável pela concepção e execução da conferência, a iniciativa teria sido uma oportunidade soberana para o PSD (mais concretamente, o Governo) explicar os méritos da sua política. Explicar sem hesitações nem dúvidas metafísicas que Portugal ficará melhor se o Governo concretizar as reformas que vem pré-anunciando. Dialogar com os portugueses é um imperativo do Governo: explicar a reforma do Estado com transparência e sem segredinhos guardados secretamente com a cumplicidade (ou devo dizer autoria imediata?) do FMI. Se os tempos são difíceis (como são!), se o Estado exige uma reforma do seu peso na sociedade portuguesa (como exige!), Passos Coelho tem de esclarecer, de informar os cidadãos portugueses. Mas não: Passos Coelho tem medo dos portugueses, proibindo a presença de jornalistas na conferência que "encomendou". Senhor Passos Coelho, o PSD não é uma sociedade secreta - é um partido ao serviço de Portugal! Pelo menos, é assim que eu o entendo...
Pergunto: para que serve discutir a reforma do Estado com vários especialistas, com o escol vindo das universidades, que teoriza sobre as ideias políticas económicas e de finanças públicas - se depois essa conferência é realizada à porta fechada? Os portugueses ficam melhor informados? Não. Os portugueses ficaram a perceber os objectivos e as razões subjacentes às decisões políticas e económicas do Governo Passos Coelho? Nem pouco mais ou menos. Assim, só há uma conclusão possível: a conferência foi estrondosamente inútil! Não serviu nenhum objectivo do PSD; não trouxe nenhum efeito positivo para o Governo: nada! Os oradores foram escolhidos a dedo para dizer apenas aquilo que o Governo queria ouvir; a plateia presente na dita conferência era, na sua grande maioria, constituída por apoiantes, mais ou menos efusivos, do Governo Passos Coelho. Esta conferência, afinal de contas, não foi mais do que uma Comissão Política Nacional do PSD - só que ainda menos plural e representativa!
Passos Coelho: menorizar o PS e enganar os portugueses, eis os seus objectivos!
Posto isto, convém meter o dedo na ferida: quais as verdadeiras razões pelas quais o Governo realizou a conferência? São duas.
Primeiro, a conferência pretendeu ser uma manobra de diversão: o Governo pretendeu desviar as atenções das jornadas parlamentares do PS. Ao coincidir temporalmente as duas iniciativas, Passos Coelho revelou algum receio face á possibilidade de António José Seguro marcar a agenda política. Receio infundado, como se viu.
Segundo, Passos Coelho quis por esta via mostrar aos portugueses que a reforma do Estado está a ser discutida de forma alargada, ouvindo vários intervenientes da sociedade civil - e que não se limita a seguir o relatório do FMI. Isto é, a conferência serviu para o Governo tentar enganar (ou vá, se quiserem ser eufemísticos, tentar iludir!) os portugueses de que nada está combinado com a troika, de que só tomou conhecimento do relatório há poucas semanas - e que o mesmo é apenas mais uma base para a discussão. Pois...pois... As conclusões da conferência serão, com a excepção de um ou outro ponto, coincidentes com o relatório da troika. Vai uma aposta?
João Lemos Esteves

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