A intervenção da França no Mali é considerada uma guerra solitária por toda a Europa. Os fracos meios oferecidos pelos seus parceiros não indicam apenas uma falta de empenho: assinalam também o fim da Europa da defesa.
O exército dos rebeldes do Mali |
O facto de a única ajuda concedida a Paris pelos seus parceiros europeus ter sido umas felicitações cordiais e um número reduzido de aviões de transporte mostra claramente que algo não bate certo na União Europeia. É verdadeiramente do interesse da União Europeia impedir os islamitas e os terroristas de controlar o Mali. A UE tem conhecimento desta ameaça há mais de um ano. Se o Mali caísse nas mãos da Al-Qaeda e dos seus simpatizantes, o país transformar-se-ia num outro Afeganistão às portas da Europa, servindo tanto de ponto de partida, de zona de formação como de retaguarda para o terrorismo internacional.
A UE tem plena consciência deste perigo, mas nunca foi capaz de abordá-lo com uma resposta comum. A única coisa na qual concordou foi no envio de uma pequena missão de formação para ajudar o exército do Mali. A vontade comum europeia limitou-se a esta decisão, a UE não foi capaz de elaborar um plano de ação preventivo para reagir a uma urgência militar, ao contrário da França.
Teste decisivo na região do Sahel
O facto de quererem agora antecipar o calendário da missão de formação é no mínimo derrisório. Primeiro, porque esta missão não muda em nada o facto de os outros países europeus continuarem de braços cruzados a observar os franceses a empenhar-se para defender os interesses europeus. Depois, porque os soldados do Mali não terão muito provavelmente tempo para dedicar aos formadores europeus, enquanto travam uma guerra contra as milícias no centro e no Norte do país. A situação ultrapassa a União Europeia.
Atualmente, a UE deve sobretudo perguntar-se se pretende realmente ter uma política de segurança comum, que implicaria ajudar a iniciativa militar francesa no Mali. O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Hubert Védrine, fez uma breve declaração sobre a política de segurança e de defesa comum, na qual a UE tem concentrado todos os seus esforços nos últimos 20 anos.
Se os responsáveis políticos dos Estados-membros da UE não conseguirem muito rapidamente chegar a acordo sobre os fundamentos da sua cooperação, a aspiração europeia de se tornar uma potência mundial nunca se concretizará. Talvez nunca tenha passado pela cabeça de Hubert Védrine que a Europa seria colocada à prova tão rapidamente e que o teste decisivo se desenrolaria na região do Sahel.
Europa vai sair derrotada
Tudo indica que a Europa vai sair derrotada desta história, uma vez que, em matéria de política estrangeira e de segurança, os interesses dos países-membros da UE continuam muito afastados uns dos outros. O Mali é prova disso: os europeus concordam no facto de existir uma ameaça, mas discordam nos meios de a combater. Nem sequer concordam que, neste tipo de situação, devemos estar preparados para o pior, incluindo a guerra. A política de segurança da UE padece de uma falta de união, de aptidão e de vontade. E estas carências não desaparecerão tão cedo.
No entanto, é preciso que os outros países europeus apoiem militarmente a França. É uma questão de solidariedade, mas também de bom senso a longo prazo: se queremos deixar a porta aberta para uma política de segurança europeia digna desse nome, devemos evitar que Paris seja obrigado a pedir ajuda à NATO em caso de bloqueio da situação militar. De facto, esta seria a derradeira prova de que os europeus não estão à altura.
Reações em França e na Alemanha - Paris isolada na batalha do Mali
Depois de se lançar na operação militar no Mali, o Presidente francês François Hollande esperaria provavelmente que, à semelhança da Líbia, os seus parceiros europeus lhe dessem uma ajuda. Mas, 5 dias depois do início da guerra, não foi isso que aconteceu. “Daí que, na Europa, a diplomacia francesa e o Estado-Maior se arrisquem a encontrar apenas boas desculpas”, acrescenta Le Figaro. “A Alemanha, a última potência europeia a fazer crescer o seu orçamento militar, não pode mexer num único soldado, nem num único blindado sem o voto do Bundestag, um cenário em que Angela Merkel não confia em período eleitoral”, revelando o seu “apoio” a Hollande.
Os alemães querem fazer crer aos franceses e a si próprios que estão realmente ao lado do seu aliado europeu mais próximo. Porém, excluem tropa de combate e contentam-se com um apoio logístico. Se Hollande, em vez de ser inconstante, levasse a sério esta afronta, o eixo franco-alemão sofreria uma rude prova. Mas hoje em dia toda a gente faz de conta. Exceto os grupos jiadistas.
Quanto aos parceiros europeus, não há muito a esperar deles, adianta Le Figaro:
Itália, também ela em plena campanha eleitoral para as legislativas, e Espanha, financeiramente aniquilada pela crise, não mostram qualquer tipo de entusiasmo. A Norte, a Holanda e a Dinamarca, aguerridos elementos da NATO, revelam pouco interesse por África. A Leste, a Polónia relembra que se mantém envolvida no Afeganistão... Nem o debate lançado terça-feira no Parlamento Europeu, nem o encontro dos 27 ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, convocado quinta-feira para Bruxelas, poderão alterar a situação na frente do Mali. No máximo, os chefes da diplomacia poderão fazer um balanço dececionante de uma “Iniciativa para o Sahel”, lançada com grande estrondo em março de 2011 para o reforço de países como o Mali. Mesmo que Bruxelas tenha efetivamente feito dotações orçamentais, o plano militar e de segurança nunca se concretizou. Em todo o caso, a ausência de reforços da UE vem complicar os cálculos do Estado-Maior quanto à “segunda fase”, após vários dias de bombardeamentos que conseguiram impedir o avanço das forças jiadistas.
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