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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Olha o lóbi! Incitar à Guerra um Prémio Nobel da PAZ?

A intervenção da França no Mali é considerada uma guerra solitária por toda a Europa. Os fracos meios oferecidos pelos seus parceiros não indicam apenas uma falta de empenho: assinalam também o fim da Europa da defesa.
O exército dos rebeldes do Mali
Se o problema no Mali implicasse apenas o Mali, os militares franceses não se teriam muito provavelmente envolvido na guerra contra as milícias islâmicas, uma vez que os interesses da antiga potência colonial no continente africano não chegam para explicar uma intervenção tão arriscada. A intervenção da França deve-se ao facto de o Sahel poder tornar-se um perigo para a Europa. E é o único país europeu envolvido neste conflito porque os restantes preferiram fugir às suas obrigações. O que diz muito sobre o estado da política de segurança e de defesa comum. E não assinala nada de bom.
O facto de a única ajuda concedida a Paris pelos seus parceiros europeus ter sido umas felicitações cordiais e um número reduzido de aviões de transporte mostra claramente que algo não bate certo na União Europeia. É verdadeiramente do interesse da União Europeia impedir os islamitas e os terroristas de controlar o Mali. A UE tem conhecimento desta ameaça há mais de um ano. Se o Mali caísse nas mãos da Al-Qaeda e dos seus simpatizantes, o país transformar-se-ia num outro Afeganistão às portas da Europa, servindo tanto de ponto de partida, de zona de formação como de retaguarda para o terrorismo internacional.
A UE tem plena consciência deste perigo, mas nunca foi capaz de abordá-lo com uma resposta comum. A única coisa na qual concordou foi no envio de uma pequena missão de formação para ajudar o exército do Mali. A vontade comum europeia limitou-se a esta decisão, a UE não foi capaz de elaborar um plano de ação preventivo para reagir a uma urgência militar, ao contrário da França.
Teste decisivo na região do Sahel
O facto de quererem agora antecipar o calendário da missão de formação é no mínimo derrisório. Primeiro, porque esta missão não muda em nada o facto de os outros países europeus continuarem de braços cruzados a observar os franceses a empenhar-se para defender os interesses europeus. Depois, porque os soldados do Mali não terão muito provavelmente tempo para dedicar aos formadores europeus, enquanto travam uma guerra contra as milícias no centro e no Norte do país. A situação ultrapassa a União Europeia.
Atualmente, a UE deve sobretudo perguntar-se se pretende realmente ter uma política de segurança comum, que implicaria ajudar a iniciativa militar francesa no Mali. O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Hubert Védrine, fez uma breve declaração sobre a política de segurança e de defesa comum, na qual a UE tem concentrado todos os seus esforços nos últimos 20 anos.
Se os responsáveis políticos dos Estados-membros da UE não conseguirem muito rapidamente chegar a acordo sobre os fundamentos da sua cooperação, a aspiração europeia de se tornar uma potência mundial nunca se concretizará. Talvez nunca tenha passado pela cabeça de Hubert Védrine que a Europa seria colocada à prova tão rapidamente e que o teste decisivo se desenrolaria na região do Sahel.
Europa vai sair derrotada
Tudo indica que a Europa vai sair derrotada desta história, uma vez que, em matéria de política estrangeira e de segurança, os interesses dos países-membros da UE continuam muito afastados uns dos outros. O Mali é prova disso: os europeus concordam no facto de existir uma ameaça, mas discordam nos meios de a combater. Nem sequer concordam que, neste tipo de situação, devemos estar preparados para o pior, incluindo a guerra. A política de segurança da UE padece de uma falta de união, de aptidão e de vontade. E estas carências não desaparecerão tão cedo.
No entanto, é preciso que os outros países europeus apoiem militarmente a França. É uma questão de solidariedade, mas também de bom senso a longo prazo: se queremos deixar a porta aberta para uma política de segurança europeia digna desse nome, devemos evitar que Paris seja obrigado a pedir ajuda à NATO em caso de bloqueio da situação militar. De facto, esta seria a derradeira prova de que os europeus não estão à altura.
Reações em França e na Alemanha - Paris isolada na batalha do Mali
Depois de se lançar na operação militar no Mali, o Presidente francês François Hollande esperaria provavelmente que, à semelhança da Líbia, os seus parceiros europeus lhe dessem uma ajuda. Mas, 5 dias depois do início da guerra, não foi isso que aconteceu. “Daí que, na Europa, a diplomacia francesa e o Estado-Maior se arrisquem a encontrar apenas boas desculpas”, acrescenta Le Figaro. “A Alemanha, a última potência europeia a fazer crescer o seu orçamento militar, não pode mexer num único soldado, nem num único blindado sem o voto do Bundestag, um cenário em que Angela Merkel não confia em período eleitoral”, revelando o seu “apoio” a Hollande.
O berlinense Tagesspiegel critica igualmente a atitude alemã:
Os alemães querem fazer crer aos franceses e a si próprios que estão realmente ao lado do seu aliado europeu mais próximo. Porém, excluem tropa de combate e contentam-se com um apoio logístico. Se Hollande, em vez de ser inconstante, levasse a sério esta afronta, o eixo franco-alemão sofreria uma rude prova. Mas hoje em dia toda a gente faz de conta. Exceto os grupos jiadistas.
Quanto aos parceiros europeus, não há muito a esperar deles, adianta Le Figaro:
Itália, também ela em plena campanha eleitoral para as legislativas, e Espanha, financeiramente aniquilada pela crise, não mostram qualquer tipo de entusiasmo. A Norte, a Holanda e a Dinamarca, aguerridos elementos da NATO, revelam pouco interesse por África. A Leste, a Polónia relembra que se mantém envolvida no Afeganistão... Nem o debate lançado terça-feira no Parlamento Europeu, nem o encontro dos 27 ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, convocado quinta-feira para Bruxelas, poderão alterar a situação na frente do Mali. No máximo, os chefes da diplomacia poderão fazer um balanço dececionante de uma “Iniciativa para o Sahel”, lançada com grande estrondo em março de 2011 para o reforço de países como o Mali. Mesmo que Bruxelas tenha efetivamente feito dotações orçamentais, o plano militar e de segurança nunca se concretizou. Em todo o caso, a ausência de reforços da UE vem complicar os cálculos do Estado-Maior quanto à “segunda fase”, após vários dias de bombardeamentos que conseguiram impedir o avanço das forças jiadistas.

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