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quinta-feira, 1 de março de 2012

Cada vez mais podemos dizer: “Sabemos lá se é!”

Portugal fechou o ano de 2011 com uma alta taxa de desemprego e o Governo admitiu que os números deste ano vão ser piores - 14,5%. O novo chefe da missão do FMI para Portugal, Abebe Selassie, diz que o desemprego está em níveis inaceitáveis e que se a solução para o país entrar nos eixos for “cortes e mais cortes, não vai funcionar”.
Para conseguir um ajustamento no setor privado, só há duas alternativas, disse, e elas passam por aumentar a produtividade para níveis consistentes com os atuais salários ou então cortá-los.
“Os custos unitários de trabalho são cerca de 15% mais elevados do que deveriam ser. Mas o que se pretende não é esse ajustamento. Se a solução for só cortes e mais cortes, então não vai funcionar. A outra forma de o fazer, aquela que vai garantir crescimento sustentável, é melhorar a competitividade”.
Selassie acredita que Portugal vai regressar aos mercados em 2013, mas reconhece que não vai ser fácil.
O chefe da missão do FMI diz ainda que o ajustamento decorre “mais ou menos como o previsto”, mas alerta para as principais ameaças ao sucesso português: as “condições externas”, que podem vir a ser piores do que o previsto, e o “ajustamento orçamental”, que pode conduzir a uma contração da economia muito maior.
Abebe Selassie lembra também que o apoio do PS ao programa de ajustamento é crucial para Portugal ser bem sucedido. Numa altura em que o país se prepara para enfrentar mais uma greve geral, já no próximo dia 22 de Março, Selassie refere que “se houver muita contestação torna-se mais difícil implementar as reformas. E as reformas são a saída para esta crise”.
Sem por em causa a competência de Abebe Selassie e o estudo apurado que tenha feito da pasta “Portugal”, o facto é que qualquer bicho careta estrangeiro chega aqui e sabe mais do que os nossos “cabeças” sobre tudo e mais alguma coisa, sem qualquer adaptação ao território, à demografia, à sociologia e à história do país, baseando-se apenas na “chapa 3” dos manuais do FMI, que não devem incluir nenhum capítulo sobre estas minudências.
Acresce que se nota desde logo (tendo como fidedignas as ideias noticiadas), algumas contradições, imprecisões e desculpas, que não abonam em favor do rigor técnico que se espera de gente deste calibre.
Vejamos:
1. Começa por reconhecer que os níveis do desemprego são inaceitáveis, sem referir que o aumento crescente ainda o é mais;
2. Reconhece que a solução para o país arrebitar não pode ser apenas com cortes e mais cortes;
3. Em alternativa palpita que se aumente a produtividade (mesmo os desempregados, presentes e futuros?);
4. Mas se a coisa não funcionar, há que cortar os salários, presume-se que em 15%, que diz, sem qualquer prova, estão acima do que deveriam estar (embora no seu país e noutros na UE os salários sejam muito mais baixos e a concorrência não lhes pegue);
5. Assim, diz ele, Portugal vai garantir crescimento sustentável, sem dizer como e vai melhorar a competitividade, sem dizer com quem e com as empresas a fechar;
6. E numa de tarólogo, alvitra que vamos regressar aos mercados (municipais e feiras de gado) em 2013, mas vai dizendo que não vai ser fácil, que é o mesmo que dizer que vai ser impossível;
7. “Reconhece” que o cumprimento do memorando decorre mais ou menos como o previsto sem especificar coisa nenhuma (o que quer dizer que não tem a certeza);
8. E não vão os diabos tecê-las (e vão), como o nosso Ministro das Finanças lá se vai desculpando para eventuais “erros de avaliação” com as condições externas, que podem vir a ser piores do que o previsto (lá volta a tarologia);
9. E se assim for (e vai) o ajustamento orçamental pode conduzir a uma contração da economia muito maior e mais austeridade e mais cortes, mesmo dos salários (digo eu);
10. Partindo do paradigma de que as reformas (quais, como e que proveitos?) são a saída para esta crise (como se fossemos nós que a criassemos e o sucesso já não dependesse de fatores externos) e se houver muita contestação (nas ruas e na consciência política e social dos cidadãos) fica mais difícil impingirem-nos essas “reformas” milagrosas”;
11. Por isso dava-lhes muito jeito que o PS engrossasse o número de cordeirinhos e crentes, para conseguirem manter os tais 80% (dos votantes) que assinaram o contrato da dívida.
Tudo lido e relido, ficamos a saber o que já sabíamos e que vamos lendo nas entrelinhas do que diz Passos Coelho, nos “para já não” de Vítor Gaspar, no “dentro em breve apresentaremos medidas” de Santos Pereira e no “estamos a trabalhar” de Miguel Relvas…
Nada de novo, a não ser o chefe, com as mesmas e velhas artimanhas…
Entretanto, a realidade já é bem diferentes e poucos dias decorreram depois do números lançados pela troika e pelo governo, sabendo-se hoje que a coisa está pior do que os palpiteiros vão apregoando:

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