O Governo fala muito em exportações. Compreende-se. Não há quase nada de bom para falar, nem sequer a queda dos juros dos títulos da dívida é 100% recomendável: estão a cair, é verdade, é muito bom, é excelente, é promissor, mas podem voltar a disparar a qualquer momento. A Europa passou de crises de confiança agudas em 2012 para um mal-estar permanente. A Zona Euro sofre agora de uma moinha que arrelia como uma dor de dentes, provoca recessão, muito desemprego e um terrível medo e pobreza lá ao longe na Grécia e em Portugal, também na Irlanda e em Espanha, mas que não implica grandes mudanças de rumo político no centro da Europa.
A nuvem não desapareceu, anda por aqui. A procura interna está de rastos, cairá pelo menos 17% entre 2009 e 2013. No mesmo período, o investimento cairá 36%. Nunca na história recente de Portugal o investimento se despenhou tanto e tão depressa. O dinheiro sumiu-se, foi-se, desapareceu. Não há crédito, exceto para as grandes empresas - e mesmo esse, caríssimo. Não há consumo, não há expectativas, não há confiança, o desemprego vai loucamente a caminho dos 17%. Não há negócio que aguente ou que possa nascer neste ambiente de permanente hostilidade fiscal.
A palavra, empreendedor, deve aliás, ser retirada do dicionário. Caiu em desuso. É um conceito zombie. As estatísticas revelam que, depois do mergulho dos bens duradouros (casas, carros, eletrodomésticos...), nos últimos meses os bens essenciais também entraram em plano inclinado. Chama-se a isto colapso económico, já não é ajustamento nenhum. É por isso, dizia eu, que o Governo fala tanto no milagre das exportações e dos "bens transacionáveis". Na verdade, falava. Daqui para a frente terá de falar menos ou, pelo menos, com mais cuidado. O Banco de Portugal avisou anteontem: em 2012, a procura externa sobre os produtos portugueses estagnou (apenas mais 0,2% face a 2011) e este ano, na melhor das hipóteses, vai ser igual, já que a Zona Euro está tecnicamente em recessão, o que significa que Portugal enfrentará mais concorrência dos parceiros da UE para vender nos mercados extracomunitários.
Tecnicamente, portanto será assim. Aliás, será pior. Não é apenas no imediato que o país vai sofrer. A redução do investimento, os tais chocantes menos 36%, têm a prazo outra consequência profunda. Está escrito no relatório do Banco de Portugal: esta quebra terá implicações "sobre a capacidade de incorporação de progresso técnico e, em última análise, sobre o crescimento do produto potencial". Significa isto que sem dinheiro para investir - por exemplo, em tecnologia - as empresas não se modernizam, atrasam-se, tornam-se menos produtivas, menos competitivas e perdem mercado. Deixámos de ter PIB, agora temos pibinho.
André Macedo
E “para ajudar à missa”, diz quem sabe, que no imediato as coisas vão piorar (já pioraram para quem recebeu o ordenado de janeiro), com menos economia e mais desemprego. Ao mesmo tempo Portugal ficará a dever ainda mais do que deve, mas com a “esperança” de daqui a 20 anos (se tudo corresse tão bem como diz o PM), ainda estarmos a dever metade da dívida…
Entretanto, durante os próximos 20 anos, grande parte dos contribuintes e pagantes pelas fraudes e erros dos “cabeças”, deixarão de o ser e de fazer, naturalmente…
Mas o pior, é que, quando ELES puderem ir ao Mercado, vão continuar a pedir mais moedinhas, para continuarem a tirar as que tenhamos no mealheiro…
O vício quando entranha é uma doença, só se estranha que não se “mate o bicho”…
A Unidade Técnica de Apoio Orçamental afirma que, “no curto prazo, os efeitos decorrentes da consolidação orçamental e da fase de implementação dessas reformas poderão ser mais negativos do que aqueles que se encontram para já previstos”. E não se trata “apenas” de efeitos negativos para a economia: também o controlo da dívida pública poderá ver-se afectado por um comportamento da economia mais recessivo do que o admitido nas projecções do Governo.
Portugal vai ter de apresentar excedentes orçamentais (entre os 3% e os 4% até 2035) durante os próximos 20 anos, se quiser cumprir a regra de ouro definida pela União Europeia para as contas públicas. Manter a consolidação orçamental por mais 2 décadas será a única forma de a República pagar metade da sua dívida ao ritmo exigido pelo novo enquadramento legal europeu.
Abraço Miguel
ResponderEliminarContinuo a acompanhar-te.
Os canalhas querem derrear-nos pela fome e pela humilhação.
É na rua que está o poder do povo? Pois é na rua que estaremos!
Abraço maria!
EliminarContinua a "luta" e parece que o mau tempo nos impede de ir para a rua, nós e este governozinho...
Mas também falta arranjar outro, que seja mais do que menos...