Durante décadas, as escolas, lentamente, transformaram-se em instalações com aspecto de prisão, com salas iluminadas artificialmente e parques barricados. No entanto, a tendência está a começar a mudar. Com destaque para o design sustentável, um foco na segurança e um aumento da procura em ambientes de aprendizagem positivos, mais pessoas estão a prestar atenção à forma como projetamos as nossas escolas.
Fernanda Britto
Posto isto, a Universidade de Salford, em Manchester e os arquitetos de Nightingale Associates divulgaram os resultados de um estudo piloto de um ano de duração revelando o impacto significante que ambientes de aprendizagem projetados com qualidade têm no desempenho académico do aluno ao longo de um ano, o que foi comprovado ser de até 25%.
O professor Peter Barrett, School of the Built Environment, Universidade de Salford, disse: “Há muito tempo se sabe que vários aspectos do ambiente construído tem impacto sobre as pessoas nos edifícios, mas esta é a primeira vez que uma avaliação holística foi feita e liga diretamente o sucesso com o impacto global das taxas de aprendizagem nas escolas. O impacto identificado é de facto maior do que imaginávamos e a equipe de Salford está ansiosa para a construção destes resultados claros”.
No Reino Unido, os pesquisadores estudaram 751 alunos em 34 salas de aula em 7 escolas Blackpool LEA primárias, entre o início e o fim de um ano letivo, de Setembro de 2011 a Junho de 2012. Coletaram dados de alunos, incluindo o sexo, idade e nível de desempenho em matemática, leitura e escrita, juntamente com uma avaliação abrangente do ambiente de sala de aula, que avaliou a orientação da sala de aula, a flexibilidade, disposição, cor, luz natural, ruído, temperatura e qualidade do ar.
Descobriram que “73% da variação no desempenho dos alunos conduzido ao nível da sala de aulas pode ser explicada por fatores do ambiente do edifício, medidos neste estudo.” Isso significa que “colocar um aluno mediano numa sala menos eficaz em vez de no ambiente da sala de aula mais eficaz poderia afetar o seu progresso de aprendizagem tanto quanto a melhoria média num ano.”
Design Research Lead, Caroline Paradise do Nightingale Associates, disse: “Estamos muito animados com essas descobertas iniciais, que sugerem que a sala de aula tem um papel importante no desempenho dos alunos. Isto irá apoiar designers e educadores no direcionamento de investimentos em edifícios escolares para onde vai ter o maior impacto, seja em edifício novo ou na reforma da construção”.
O estudo vai continuar durante mais 18 meses e vai cobrir mais 20 escolas em diferentes áreas do Reino Unido. O trabalho está a ser financiado pelo Conselho de Pesquisa de Engenharia e Ciências Físicas (EPSRC) e encomendado pela THiNK.
Confira o estudo completo AQUI.
Para mais sobre o assunto, leia “Community-Oriented Architecture in Schools: How ‘Extroverted’ Design Can Impact Learning and Change the World” e percorra a nossa seção “Educacional” no Pinterest para uma seleção de ambientes de aprendizagem inspiradores.
Não só pela formação académica que adquiri (há uns aninhos) e pela experiência (larguinha) de vida (também como professor), que esta tese me suscitou sempre uma necessidade de comprovação, tendo mesmo feito um trabalho sobre o assunto, que se encontra perdido nos papéis do passado… Nesses anos de querer investigar a relação entre o ambiente físico e o bem estar conducente ao sucesso, muito pouca literatura havia e a disponibilidade não passava, como agora, pela internet.
No caso da Educação a que se reporta o estudo, não será por acaso que nas escolas mais degradadas os resultados académicos não sejam os melhores e que nas escolas mais “asseadas” esses resultados sejam mais “limpinhos”. A mesma crença pode ser direcionada para as escolas públicas e privadas, em que a diferença com a preocupação entre os dois ambientes seja refletido nos resultados diferenciados de ambas, não porque os privados tenham consciência deste efeito, mas apenas por razões de disciplina e asseio.
Acresce, que os diretores das escolas, públicas ou privadas, generalizadamente, não tem formação na área artística e por isso as suas preocupações pedagógicas não passam por aí…
Hoje em dia, depois das obras de requalificação das escolas (pondo de parte os excessos e a gestão da Parque Escolar) era tempo, se houvesse interessados, em fazer-se um estudo nas escolas intervencionadas, de modo a confirmar, ou não, esta tese, que tem pés para andar e poderia ser uma muleta para se conseguir melhores performances, por caminhos ainda não percorridos intencionalmente…
A Educação, num sentido lato e como se vê, deveria (terá que) passar pelo reforço das áreas artísticas nos currículos, até para a consciencialização do valor do espaço e do ambiente (re)criado, coisa que a matemática, a língua materna ou a ciência nunca oferecerão, porque não…
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