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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Todos padecemos de problemas menos a Alemanha…

Marcados pela preocupação do regresso ao equilíbrio, os orçamentos apresentados nos últimos dias por vários países anunciam tempos ainda mais duros e mesmo uma recessão. Para se sair do círculo vicioso défice/austeridade, é preciso atenuar os limites do défice, considera o diretor do sítio Slate.fr.
A França também acaba de apresentar um orçamento de austeridade. Um esforço de 37 mil milhões de euros para voltar a colocar o défice público abaixo do limite de 3%, a obrigação a que se fixaram os países-membros da zona euro. Apesar de a atividade económica já ter sofrido uma redução grave, os programas francês, italiano, espanhol e português, que implicam uma desaceleração simultânea, não têm outro remédio a não ser desembocar num ano de 2013 ainda mais difícil que 2012, com um recorde de desemprego. Reabsorver esse desemprego deveria ser a prioridade absoluta. As recentes manifestações em Espanha, o aparecimento de um partido autenticamente nazi na Grécia, o aumento de um sentimento antieuropeu em vastos setores da opinião pública europeia – tudo é em vão. No entanto, são cada vez mais os economistas, entre os quais o prémio Nobel e editorialista do jornal The New York Times, Paul Krugman, que garantem que acrescentar mais austeridade à austeridade só pode levar a que, em vez de arrancar, a Europa empobreça ainda mais. E talvez entre num ciclo que, desta vez sim, poderá assemelhar-se à grande depressão dos anos 1930.
Hoje, o mais difícil é encontrar o caminho certo, a dose correta entre o que é obrigatório para nos libertarmos das dívidas públicas paralisantes e as medidas de recuperação necessárias para reencontrar a via do crescimento e restabelecer a esperança.
Défice de competitividade
O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, explicou esta dificuldade em função da ditadura dos mercados. Para resolver o problema da dívida, disse, a França, tal como a Espanha, precisa de pedir emprestado aos mercados a um juro o mais baixo possível. É o que acontece hoje em França e o que tem vindo a acontecer desde a eleição de François Hollande. Se não for capaz de convencer que está a tomar todas as medidas necessárias para voltar ao limite de 3%, a França sofrerá um castigo imediato e suportará um tipo de juros que tornarão insuportável a carga da dívida. Sendo assim, muitos pensam que aquilo que um país não pode fazer por si próprio só pode ser tentado pela zona euro, se esta aliviar o limite de 3% e escalonar no tempo, país por país, a marcha inevitável para o regresso aos grandes equilíbrios.
Sejamos claros: o problema de que padecemos todos, exceto a Alemanha, é a falta de competitividade. Só isso já justifica uma grande parte dos esforços e sacrifícios que estão a ser exigidos. Mas isso não impede que pensemos que, para evitar que a Europa caia numa recessão prolongada, é necessário encontrar os meios para devolver flexibilidade ao sistema. O que é urgente, deste ponto de vista. Quanto ao resto, o novo tratado, que está presentemente a ser submetido a ratificação, abre uma brecha, ao distinguir os défices estruturais dos défices conjunturais. Os primeiros têm de ser reabsorvidos com vista a que se aproximem do zero; os segundos, determinados pelos ritmos da conjuntura, devem poder ser adaptados a esse ritmo. Ora, se existe uma brecha, aproveitemo-la.
Adotar uma resposta coletiva
Talvez devamos recordar as etapas anteriores da crise. Começou nos Estados Unidos. Sentiu-se que aquela crise norte-americana ia pôr em perigo o conjunto da economia e das finanças mundiais. E os países do G-20 reagiram, coordenando os seus pontos de vista e as suas atuações. Dado que, hoje, os Estados Unidos – cujas exportações para a Europa diminuíram quase 10% – a China – cujas exportações para a Europa baixaram cerca de 4% – e até o Brasil e outros países estão a sentir as consequências negativas da diminuição de atividade na Europa, por que não se reúnem e, dentro de um G-20 renovado, decidem adotar uma resposta coletiva? Ao fim e ao cabo, o que funcionou uma vez em benefício dos Estados Unidos deveria, em boa lógica e para sermos justos, funcionar em benefício da União Europeia.
Infelizmente, depois de ter passado já o pior da crise nos Estados Unidos, estamos a viver o regresso à defesa dos interesses nacionais, com intenções cada vez mais evidentes de protecionismo. Chegou a hora de inverter essa tendência e de gerar, no G-20, a coordenação que for necessária. Do mesmo modo que, na Europa, chegou a hora de pensar que nem todos podem lutar contra o défice ao mesmo ritmo e que, por conseguinte, é preciso ter a prudência de escalonar no tempo os esforços de uns e outros. Do mesmo modo que chegou a hora, também, de aplicar as decisões tomadas. François Hollande presume ter completado o tratado orçamental com um pacto de crescimento dotado de pelo menos 120 mil milhões de euros. De que estão à espera os nossos governos para mobilizarem essas somas ao serviço do crescimento?
Visto de Paris - Austeridade contra os cidadãos, o início da escalada
Cerca de 50.000 pessoas manifestaram-se a 30 de setembro, em Paris, contra o pacto orçamental europeu, na véspera do começo da sua discussão no parlamento. “Os opositores ao tratado europeu, estão pela primeira vez na rua desde a chegada dos socialistas ao poder para uma manifestação de dimensão nacional. Querem ser ouvidos no debate parlamentar”, refere La Croix, que volta a analisar “esta primeira manifestação de esquerda contra um governo de esquerda”, como é qualificada pelo editorialista do diário católico.
Embora assinalando que a manifestação juntou muito menos pessoas que os milhões que encheram as ruas de Atenas, Madrid ou Lisboa nas últimas semanas, o jornal francês lembra que
apesar de tudo, o pacto é, de facto, um passo essencial no sentido de mostrar a que ponto são os Europeus capazes de por em ordem as suas finanças e de devolver a confiança dos mercados na zona euro e na economia francesa. Só assim serão postos em prática os mecanismos de solidariedade de que tanto precisam os Estados mais vulneráveis.
Esta posição parece ser partilhada pela maioria dos franceses, isto segundo uma sondagem exclusiva publicada pelo Aujourd’hui en France – Le Parisien. Refere que “se o tratado europeu fosse submetido a referendo, 64% dos Franceses responderiam sim e 36% não”.

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