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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Depois venham queixar-se das TAXAS de abstenção…

Pedro Passos Coelho enviou para Bruxelas o documento de alterações à Taxa Social Única, sem dizer a António José Seguro que o fizera. Durão Barroso, de passagem por Lisboa fez a augusta revelação, adiantando que Bruxelas o aprovara sem reticências.
Baptista Bastos
Seguro soube da notícia pelos jornalistas, e não conseguiu ocultar a sua estupefacção. Direi, mesmo, que ficou espavorido de pasmo. Isto significa que, mais uma vez, o primeiro-ministro tem um solene desprezo por Seguro, e que possui da democracia e das suas liturgias um conceito de secundário.
Foi um espectáculo pungente, que as televisões, gravaram, assistir ao pesar de Seguro. Comentou: "É lamentável" e olhou, um a um, os presentes como se estivesse a viver um pesadelo sem remissão. Os jornalistas e os outros circunstantes expunham um ar compungido pela situação caricata. Havia qualquer coisa de piedoso nos sentimentos dos presentes, pela circunstância de um pobre homem ser tratado como um serviçal.
Mas Seguro não é criatura de bater com o punho na mesa. É responsável, com o interesse nacional sempre a bailar-lhe nas palavras e nos pensamentos. Ser enxovalhado desta maneira, e não é a primeira vez que tal acontece, seria caso de repulsa pública, com interjeições pelo meio, não fosse António José Seguro o António José Seguro que há.
O assunto não termina aqui. Na ocasião, estava já preparada a moção de censura ao Governo, apresentada pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda. O PS ameaçara, uma semana antes, que era em capaz de apresentar outra. Mas o PS, como Seguro não se cansa de afirmar, é "um partido muito responsável", e não deseja "causar embaraços ao Governo", sobretudo agora. Causa dó a estratégia da cegonha de que o Partido Socialista dá exuberantes provas. Aliás, não se sabe muito bem que estratégia é esta, debilitadora do partido e causadora da mais tenaz estranheza.
Percebe-se que o PS não queira ir para o Governo, com uma balbúrdia destas. Mas o País está a afundar-se diariamente, e as pessoas estão a perder a paciência e a compostura. Claro que o PS não vai salvar a pátria, e o conhecimento que todos temos dos seus fundamentos e acções é de molde a deixar-nos esvaziados e atónitos. Mas, assim, é de mais.
Passos, esse, faz o que quer e não dá cavaco (salvo seja!) a ninguém. Pela primeira vez na história da democracia, um primeiro-ministro não vai estar presente nas cerimónias do 5 de Outubro, efeméride que foi, aliás, banida do calendário nacional de comemorações. Com respeito à República, Passos Coelho demonstra o mesmo sentimento que acalenta por uma dor de cabeça. Vai viajar, o senhor, e não está para festas e romarias.
Temos, assim, que Portugal está a ir a pique, e tudo indica que as coisas irão agravar-se, parecendo que nada se faz para evitar o desastre. O PS "absteve-se" nas moções de censura dos partidos de Esquerda. A "abstenção", em certos casos, é como o adjectivo "interessante": quando alguém não quer comprometer-se com uma opinião, serve-se do "interessante", que não é carne, nem peixe, nem arenque vermelho. É, em mimosa análise, uma pequena cobardia.
Mas o PS é um "partido muito responsável", e prefere a companhia do CDS e do PSD, como já aconteceu inúmeras vezes, a estar ao lado do PCP e do Bloco. Francisco Assis, com aquele ar gélido de frigorífico que se lhe conhece, disse, à porta do partido, no Largo do Rato, que não estava inclinado a juntar-se, no propósito, à extrema esquerda neomarxista, um disparate que apenas serve para tapar o sol com a peneira de uma astúcia saloia. É esta, notoriamente, a "estratégia" deste PS, que recusa situar-se na área da esquerda, para abraçar o campo neoliberal. Não há que recear as palavras.
O mais de um milhão de portugueses na rua, no dia 15 de Setembro, e mais trezentos ou quatrocentos mil no Terreiro do paço e ruas adjacentes, na manifestação da CGTP, não comovem o PSD nem fazem estremecer o PS. Não sabemos o que quer esta gente. Sabemos, isso sim, que a pátria está mergulhada numa crise sem paralelo na nossa história, e que a orquestra continua a tocar.
Claro que esta passividade é aparente, e que "o país de costumes brandos e hábitos morigerados" não é o bovino manso que quase todos proclamam. Basta ter um módico conhecimento de História para se saber que as coisas não ficam por aqui. E que o esticar da corda não cabe no infinito: acaba por se partir. Então, as consequências serão imprevisíveis. As responsabilidades vão ser atribuídas a quem?

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