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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Os Europeus – 14

Uma discreta carta de um general prussiano ao rei Frederico Guilherme III marcou o início da libertação da Europa da hegemonia francesa. Uma vitória da coragem pessoal sobre a hierarquia.
Matthias von Hellfeld
General Ludwig Yorck
Na sua carta a Frederico Guilherme III (1779-1840), o general prussiano Ludwig Yorck (1759-1830) incitava o rei a aproveitar a sorte do momento para selar uma coligação contra o imperador francês Napoleão Bonaparte, que por sua vez acabava de passar, na Rússia, pela 1ª derrota militar da sua vida.
Antes, o general tinha-se negado, pela primeira vez na sua carreira, a cumprir ordens superiores. O seu 10° batalhão de soldados fora recrutado à força por Napoleão (1769-1821), para passar a fazer parte de um exército violento, com cujas forças a resistência da Rússia deveria ser dobrada.
Junto com o czar russo, Napoleão tinha decretado um "bloqueio continental" contra a Inglaterra, através do qual a ilha deveria ser exaurida economicamente. Quando Nicolau I precisou contornar esse bloqueio, pois a Rússia dependia urgentemente das importações inglesas, o imperador francês resolveu atacar o último Estado independente do continente europeu.
A derrota de Napoleão
A empreitada fracassou por completo, o seu exército de 600.000 soldados estava tão mal preparado para o rigoroso inverno na Rússia como para enfrentar as grandes distâncias e a tática militar russa. Às margens do rio Beresina, o Exército francês foi derrotado de forma aniquiladora. Napoleão fugiu para Paris, o seu exército desintegrou-se, e apenas 90.000 soldados conseguiram regressar à capital francesa.
Foi aí que chegou a hora do general prussiano Yorck. No dia 30 de dezembro de 1812, selou na pequena cidade de Tauragé, na Lituânia, um armistício de paz com os comandantes russos. Com isso, deixou de acatar ordens superiores, indo contra – mesmo sob pena de violência – as palavras do seu rei de que era preciso obedecer ao rei francês a qualquer custo.
Ludwig Yorck não apareceu em público após a assinatura da Convenção de Tauragé junto ao general russo Hans-Karl von Diebitsch-Sabalkanski (1785-1831). Contava ele que seria punido com drásticas sanções por parte do rei prussiano, conhecido pela sua política temerosa a Napoleão.
Sugestão de uma coligação europeia
O general temia que a sua decisão autónoma acarretaria a sua expulsão desonrosa do Exército. Apesar dessas preocupações, redigiu uma carta histórica, que acabaria, afinal, iniciando a aliança europeia contra Napoleão.
Nunca houvera oportunidade mais propícia do que aquela para encerrar o domínio francês sobre a Prússia e outras nações europeias, escreveu o general a Frederico Guilherme III. De acordo com a carta, o rei deveria, a partir de então, tentar mover outras potências para a formação de uma coligação contra o imperador francês.
O general Yorck enviou esta carta no dia 3 de janeiro de 1813. Frederico Guilherme III resolveu, relutante e a contragosto, unir-se às aspirações do general Yorck. No dia 17 de março de 1813, publicou sua resposta.
"Ao meu povo!"
No jornal Schlesische Privilegierte Zeitung, foi estampado o apelo real intitulado “Ao meu povo”, no qual Frederico Guilherme III pedia apoio para a guerra contra a França, declarada por ele um dia antes. Como ficou conhecido, ao mesmo tempo, que o rei dos prussianos tinha conseguido selar uma aliança com outras potências europeias, espalhou-se pela Prússia um clima de euforia.
Por todos os lados eram realizadas assembleias, nas quais se recolhiam objetos de valor e dinheiro para a guerra iminente. Casais especialmente patrióticos trocavam as suas alianças de ouro por alianças de ferro, nas quais estava gravado o adágio "Troquei o ouro pelo ferro – 1813".
O confronto decisivo entre a aliança europeia e Napoleão aconteceu em Leipzig, na Batalha das Nações. Entre 16 e 19 de outubro, o Exército francês lutou contra as forças da Áustria, Prússia, Rússia e Suécia. Por fim, venceu a aliança, o que pôs fim à hegemonia francesa na Europa.
Fim amargurado
As "guerras de libertação" acabaram no início de 1815, quando Napoleão retornou do exílio mais uma vez a Paris, arrogando para si o poder e querendo desafiar uma última vez os povos europeus. Na Batalha de Waterloo, ele foi novamente derrotado e de novo condenado ao exílio.
No dia 5 de maio de 1821, Napoleão morreria, amargurado e dizendo-se incompreendido, na ilha britânica de Santa Helena, localizada no Atlântico Sul.
O general Ludwig Yorck recebeu diversas condecorações, tendo sido promovido a conde. No dia 10 de abril de 1830, morreu com a patente de general-marechal-de-campo Yorck von Wartenburg.
À sua pessoa é associada à coragem de um homem que, apesar de um grande peso na consciência, tomou uma decisão que poder-lhe-ia ter custado a carreira, mas que, afinal, encerrou a hegemonia francesa sobre o continente europeu.

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