No Século IX, Luís, o Germânico, e Carlos, o Calvo, soberanos do Reino Franco Oriental (atual Alemanha) e do Reino Franco Ocidental (França) selaram os Juramentos de Estrasburgo.
Matthias von Hellfeld
“Juramentos de
Estrasburgo” - fragmento
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Lotário I já fora promovido a co-governante do império em 817, enquanto os seus irmãos Luís, o Germânico (806-876), e Carlos, o Calvo (823-877), tinham recebido, respetivamente, as coroas do Reino Franco Oriental e Ocidental. Isso ocasionou uma longa contenda entre os carolíngios, durante a qual as alianças variaram.
Pedra fundamental para a França e a Alemanha
Para por fim à disputa e ao mesmo tempo criar uma aliança contra Lotário, no dia 14 de fevereiro de 842 Luís e Carlos encontraram-se, com os respetivos exércitos, em Estrasburgo. Os juramentos selados na praça do mercado representaram não só uma viragem na disputa dos herdeiros pela sucessão carolíngia, mas também um marco na história europeia. Afinal, aqui documentou-se pela primeira vez que os habitantes das metades leste e oeste do antigo Reino Franco não conseguiam mais entender-se numa língua comum.
O texto do juramento, lido por Luís em toda prolixidade diante de ambos os exércitos, apontava o irmão comum Lotário como absolutamente inadequado para o alto posto de imperador. Também justificava que a supostamente indomável animosidade de Lotário estava esfacelando o grande Reino Franco, criando uma situação inaceitável. Nessa convicção, Luís e Carlos prestaram um juramento para se associar inseparavelmente contra Lotário I.
Luís, o Germânico, usou para tal a romana língua, da qual posteriormente se desenvolveu o francês. Carlos, o Calvo, optou pela teudisca lingua, o fundamento do idioma alemão. Isso significa que cada um prestou o juramento de Estrasburgo no seu respetivo dialeto, para que os guerreiros de ambos os lados pudessem entendê-lo.
A divisão da Europa Central
Esta rutura linguística foi registrada em documento pela primeira vez em 14 de fevereiro de 842. Nos anos seguintes, foram acertados outros tratados que selaram a divisão da Europa Central e deram ao continente as feições de hoje.
No Tratado de Verdun, de 843, Luís, o Germânico, adquiriu o Reino Franco Oriental, limitado ao oeste pelo curso do Reno, ao sul por uma linha entre Genebra e Chur e a leste por Regensburg, Magdeburg e Hamburgo. No centro da Europa, coube ao imperador Lotário I um território que se estendia da Frísia até a Itália, incluindo a Lorena, a Borgonha e a Lombardia. Carlos, o Calvo, recebeu o restante do reinado, que correspondia essencialmente à atual França.
Com o Tratado de Meersen, de 870, a parte central do continente, correspondente aos atuais Estados do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) até à antiga Borgonha, foi dividida em partes quase iguais entre o Reino Franco Oriental e o Ocidental. A Lotaríngia foi dissolvida após a morte de Lotário I, e a parte sul tornou-se o Reino da Itália, sob um rei longobardo.
As fronteiras definitivas entre os futuros territórios da França e da Alemanha foram estipuladas em 880, no Tratado de Ribemont. Com isto, a parte oeste da antiga Lotaríngia passou para o Reino Franco Oriental.
A atual parceria franco-alemã, considerada por muitos o motor do desenvolvimento europeu, tem as suas raízes no início do Século IX, quando um reino foi dividido em dois, que continuariam a desenvolver-se independentemente no decorrer dos séculos seguintes.
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